Após A sombra confia no vento, seu primeiro disco, lançado em 2011, Ricardo Machado nos chega agora com Vozvioletronicamente – Ricardo Machado canta Stevie Wonder (independente), um tributo ao trabalho deste músico extraordinário.
Como no álbum anterior, Ricardo optou por um caminho que nada tem de corriqueiro. No de 2011, cantou canções que não se imaginaria no repertório de um intérprete – de forma quase inusitada, regravou, por exemplo, A Casinha Pequenina (canção popular tradicional) e Se Essa Rua Fosse Minha (modinha tradicional). Mas o que poderia parecer num primeiro momento insólito era, na verdade, uma maneira audaciosa de ousar.
Neste, agora, Ricardo Machado continua trilhando caminhos que nem de longe se deve achar fácil de percorrer. Gravar Stevie Wonder cantando em inglês e dando às canções um toque de brasilidade musical denota um cantor para o qual o desafio da incerteza fala mais alto do que qualquer porto seguro.
A ideia inicial era gravar os grandes sucessos do genial cantor e compositor norte-americano num formato bem simples, tipo voz e violão, dando às canções um jeito brasileiro de ser com levadas e interpretações impregnadas da marca registrada que caracterizam Ricardo Machado como bom intérprete. Mas, quando as bases ficaram prontas, ele se tocou de que a inserção de algumas programações eletrônicas agregaria valor ao trabalho. E assim fez.
Os arranjos couberam a Ricardo e Heitor Brandão, o violão (belo intermezzo em All in Love Is Fair) está com este último e as programações são de Eric Brandão.
A seleção das músicas de Stevie Wonder(ful) ficou a cargo de Ricardo Machado – não é difícil imaginar quão prazerosa foi tal tarefa. São dez canções de autoria do mestre: Isn’t She Lovely, Lately, My Cherie Amour (parceria com Sylvia Moy e Henry Cosby), Overjoyed, You and I, Sir Duke, All in Love Is Fair, Ribbon in the Sky, You Are the Sunshine of My Life e Ngiculela – Es una Historia – I Am Singing.
Para entoá-las, com voz macia e delicada, Ricardo Machado entrega-se de corpo e alma. Um cantar com toques de delicada emoção e frescor, que faz os ouvintes perceberem os maravilhosos sucessos de Stevie Wonder de forma ainda não experimentada. Muitas vezes em falsete, mas sempre afinado, RM divide com finura as frases melódicas sem abusar do vibrato (excessivo no álbum anterior). Canta convicto da certeza de poder dividir encantos com seus ouvidores.
Contudo, a utilização de programações eletrônicas não surtiu o efeito esperado. Com participações irregulares, às vezes até colaboram com os arranjos (a exemplo de My Cherie Amour e Overjoyed), mas em outros momentos soam apenas estranhas e quase desconexas (Sir Duke). Melhor teria sido curtir apenas a simplicidade do voz e violão, a exemplo de You Are the Sunshine of My Life, em que RM entrega-se simplesmente ao que faz um crooner: reverenciar o ídolo que se dispôs a cantar.
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