Sobre Roma e os Estados Unidos

A questão que me parece relevante é a aquisição de ideologias [num sentido lato] externas que sejam incompatíveis com a manutenção da estrutura interna. Neste sentido, cabe primeiro entender quais são estas ideologias internas. A bem da verdade, os Estados Unidos surgiram por que uma elite em formação se recusou a pagar impostos e queria ter o direito de roubar terras. Assim os Estados Unidos, como Roma, são um Império fundamentalmente parasitário/predador.

Para sua formação os estadunidenses necessitaram, como já dito, primeiro roubar terras dos nativos, depois dos mexicanos, depois dos espanhóis.  Quando ingressaram no século XX, já tinham roubado para si uns 800.000.000 de hectares, sobre os quais erigiram seu império e sua riqueza. Assim fez Roma, que também foi erguida sobre terras roubadas e povos conquistados/destruídos.

Numa nova fase, quando a expansão física, militar não era mais possível, os imperadores em Roma deixaram de ser das antigas famílias romanas e passaram a ser filhos de bárbaros, normalmente militares. O próprio funcionamento do Império deixou de se basear na conquista militar para se basear na exploração, na imposição da Lei romana aos povos conquistados, com o auxílio de verdadeiras empresas. Era necessário também não mais conquistar, mas se defender dos inimigos externos, como germânicos e partas, o que conseguiam com enorme vantagem militar e superioridade tecnológica. Os Estados Unidos estavam nesta fase na maior parte do século XX, sobretudo no contexto da Guerra Fria.

Todavia, os “bárbaros” inevitavelmente teriam acesso a estas tecnologias e as velhas elites passaram a ser adversária das mudanças e a comandar e patrocinar o império que as sustentava. Internamente, a cidadania foi tornando-se  cada vez mais extensiva, e portanto menos vantajosa. O cristianismo vai se disseminando, o Estado torna-se excessivamente militarista. A pressão externa aumenta e novas tecnologias surgem, mas fora do império, que, imobilizado pelo conservadorismo parasitário de suas elites, surpreendentemente não faz largo uso delas. Os hunos só se tornaram uma ameaça por isso, e por que os chineses entenderam o recado. Filhos e netos de “bárbaros” tomaram o poder da antiga aristocracia romana.

Considerando que os EUA dependem cada vez mais das guerras para sustentar sua economia e que Obama é claramente um filho de “bárbaro”, suspeito que os Estados Unidos já entraram nesta fase. Na lista das maiores empresas do mundo há cada vez menos empresas estadunidenses, cada vez mais “bárbaras”. Os EUA estão lutando e guerreando por uma elite empresarial baseada no petróleo, não nas tecnologias que eles mesmos criaram. Brigam por petróleo, mas o petróleo é apenas um passado que está vivo. Insistem no petróleo como Roma na escravidão.  A insistência no gás de xisto ao invés de energia solar e eólica, neste sentido, é emblemática. 

Mais: o comentarista lembrou que a maquinaria ideológica está de pé. Ok, mas e os meios dela? Até quando mais pessoas verão cinema e TV do que vídeos no Youtube? Até quando as pessoas terão gosto [e até mesmo paciência] com a comunicação de massa, se a internet é tão mais atrativa? Até quando os grandes judeu-ianques imporão seu gosto ao mundo. vejam o Brasil, país que foi por muito tempo severamente influenciado. O que faz mais sucesso, TV ou internet? Da onde veio “Pra nossa Alegria” e  a “Luíza do Canadá”? One Direction é sucesso, ok. Mas o hit do ano não foi do Michel Teló? Arrocha, sertanejo universitário, funk carioca; são em português, linguagem brasileira. Tenho mais alunos fãs do Goku do que do Homem Aranha. Mais alunas adolescentes que ouvem música coreana que One Direction. A máquina ideológica, pois, está em declínio sim, e evidente, não pela diminuição do conteúdo, mas pela alteração dos meios.  Os Estados Unidos controlam o conteúdo sim, mas de um meio cada vez mais desimportante. menos relevante. Vejam os memes? São trademark? Surgiram na TV?

Voltemos a Roma: a cidadania romana era o equivalente ao Sonho Americano e conquistá-la era como adquirir um Green Card, um passaporte para um a vida melhor que poderia se conquistar, caso se adotasse a cultura, o modus vivendi e a defesa das armas romanas.  Todavia, o cristianismo (ideologia “externa”) adotada pelo próprio Estado Romano tirou-lhe as vantagens, uma vez que sua pregação não era “para este mundo”. Ora, quando a aquisição da cidadania deixou de ser vantajosa, deixou de ser desejada e a soma de uma nova ideologia incompatível com o Estado (por que a Igreja, acabou desvinculando-se do Estado e lhe sobrepondo) e a nova elite, religiosa, deixou de interessar por cidadãos e passou a querer fiéis, prescindindo pois da existência do Estado.

Então, o que vimos foi a elite religiosa descobrir muito rapidamente, depois que Constatino “cristianizou” o Império, que não precisava dele para conseguir o que lhe interessava: novos fiéis. Na verdade, o Império passou a lhe ser um entrave. E estas elites então, se desfizeram dele, para não terem que dividir o poder que lhes foi outorgado. Foi a última fase. Rápida e brutal, se lembrarmos que da morte de Constantino até a destituição de Rômulo Augústulo pelos insignificantes hérulos transcorreram-se apenas 119 anos (sendo que houve 1.100 anos antes disso).

A questão é se os Estados Unidos já entraram na quarta fase. Penso que sim. Por analogia, o equivalente da Igreja Católica para os Estados Unidos são os banqueiros. Por quanto tempo eles precisarão dos Estados Unidos?  Em que momento a existência do governo [e portando do país, do Estado] ao invés de ser um sustentáculo passará a ser uma ameaça aos banqueiros? Em algum momento, e não será com Obama, um presidente terá de enfrentá-los, visto que as políticas deles, por eles e para eles, estão levando cada vez mais o povo estadunidense à ruína. Só que o governo estadunidense imprimiu trilhões de dólares que não estão em suas mãos, mas na destes banqueiros, os quais não precisam mais do governo [os paraísos fiscais que o digam]. Assim, no tempo de nossa vida, talvez algum cubano destrua os Estados Unidos.

Redação

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