Sobre as águias e perus no Senado

As peripécias de Aécio Neves, José Serra, Aloysio Nunes e Renan Calheiros evocam a imagem do Visconde de São Lourenço e do Barão de Cotegipe, dois grandes personagens da história brasileira. O primeiro foi Senador do Império de 1851 a 1872, o segundo ocupou o mesmo cargo de 1856 a 1889.

Ninguém ousaria dizer que os quatro são bairristas, honestos, probos e fiéis ao governo como o Visconde de São Lourenço. Afinal, alguns deles cuidam mais dos interesses das petrolíferas norte-americanas do que dos seus Estados ou do Brasil. Todos eles sacrificaram sua reputação pessoal no altar dos escândalos de corrupção em que estão metidos (e dos quais tentam se desviar com ajuda da imprensa). É cediço que Aécio Neves, José Serra, Aloysio Nunes e Renan Calheiros fizeram vultoso cabedal predando o erário público e recebendo “contribuições” privadas e/ou privatizadas. Por fim, enquanto o Visconde de São Lourenço combateu a Sabinada os referidos Senadores corroem o progresso e conspiram contra a ordem com ajuda da mídia.

Cotegipe fez aprovar a Lei dos Sexagenários, que Aécio Neves provavelmente gostaria de revogar para que o Brasil voltasse a dar lucro. É bem verdade que ele votou contra a aprovação da Lei Áurea, algo que certamente o faz ser admirado por José Serra e Aloysio Nunes (dois neo-conservadores que não hesitariam em sacrificar direitos trabalhistas e  programas sociais para chegar à Presidência da República). Cotegipe, contudo, era monarquista e tinha tirocínio, tanto que quando a Lei Áurea foi aprovada ele disse à Princesa Isabel “A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono”!. Raramente alguém lembra que Renan Calheiros e João Maurício Wanderley foram Ministros da Justiça.

Existe uma pequena história envolvendo o Visconde de São Lourenço e o Barão de Cotegipe, provavelmente registrada nos empoeirados e pouco lidos anais do Senado, que tomo a liberdade de reproduzir aqui a partir da obra que cito:

Águias e perús

O Visconde de S. Lourenço e o Barão de Cotegipe, dois dos maiores espíritos do Senado do Império, viviam quasi sempre em divergência. Certo dia, historiava o primeiro, da tribuna, a sua atuação na política nacional, a sua preocupação em pôr em evidência os homens de real merecimento, quando Cotegipe começou a aparteá-lo.

-Eu também tenho feito o mesmo e, no entanto, só tenho colhido desilusões, – declarou o Barão.

– Mas há uma diferença, – replicou S. Lourenço.

E alteando a voz:

-É que eu tenho criado águias, e V. Excia. perús!

(O Brasil Anedótico, Obras Completas de Humberto de Campos, editora José Olympio, Rio de Janeiro, 1936, p. 200)

Aécio Neves, José Serra, Aloysio Nunes e Renan Calheiros ao Visconde de São Lourenço tramam abertamente a deposição de Dilma Rousseff. O tempo dirá se eles criaram águias na Esplanada dos Ministérios ou serão obrigados a alimentar perus na Papuda.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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