Appio se meteu em confusão desnecessária e pôs em risco a revisão dos desmandos da Lava Jato, diz Cláudio Couto

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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"Se Appio tem um procedimento errado neste momento, ele envenena o próprio processo que estava conduzindo", avalia cientista político

Em se comprovando que o juiz federal Eduardo Appio ligou para o filho do desembargador Marcelo Malucelli, do TRF-4, conforme decisão que resultou no seu afastamento da 13ª Vara Federal de Curitiba, isso significa que o trabalho de revisar os abusos praticados pela Lava Jato sob a batuta de Sergio Moro está em risco. É o que avalia o cientista Cláudio Couto.

“Appio se meteu em uma confusão desnecessária e imprudente, e pode por a perder todo o trabalho que vinha fazendo.”

– Cláudio Couto, cientista político e apresentador do podcast Fora Da Política Não Há Salvação

Durante o programa Política Na Veiatransmitido toda terça-feira, ao vivo, às 11 horas, na TVGGN – Couto disse que Appio estava tentando “passar a Lava Jato a limpo”, mas estaria cometendo o erro de “envenenar” sua própria atuação se realmente acessou dados sigilosos de Malucelli no sistema interno, e depois ligado para o filho do desembargador.

“O TRF-4 tende a tomar decisões a favor da Lava Jato e dos lavajatistas. Se o juiz Appio, que está tentando passar isso a limpo, comete um erro dessa magnitude, acho muito difícil que a situação fique boa para ele. Precisamos esperar [as investigações]”, apontou Couto.

Orientado por advogados a não comentar o assunto, Appio deve apresentar sua defesa nos próximos dias. O TRF-4 afastou o juiz na noite de segunda (22), alegando que ele cometeu infrações disciplinares ao acessar indevidamente dados sigilosos do desembargador Marcelo Malucelli (sogro da filha de Sergio Moro), e depois ligar para o filho, José Eduardo Malucelli (que também é sócio do casal Moro), a fim de supostamente “ameaçar” o desembargador.

O jornalista Luis Nassif – que constitui a bancada do Política na Veia, ao lado de Cláudio Couto e do jornalista Sergio Lirio, de CartaCapital – avaliou que Appio teria cometido uma “imprudência porque não é papel de juiz fazer isso”, ainda mais em um “terreno minado”, como é o TRF-4, que tem histórico de decisões em favor da Lava Jato.

“É uma pena porque Appio estava revisando e abrindo as gavetas da Lava Jato, e tem muita coisa ali.”

– Luis Nassif, jornalista da TVGGN

Em artigo no GGN, Nassif apontou que Appio teria feito a ligação para o filho de Malucelli na tentativa de confirmar a “filiação” entre o advogado e o desembargador, após a imprensa revelar a intimidade entre a família Malucelli e o casal Moro. Malucelli teve de se afastar do caso Tacla Duran por causa da suspeição.

“Quando vazou a informação sobre as ligações do filho de Malucelli com os Moro, era obrigação do juiz investigar a veracidade ou não dela, consultando dados cadastrais do Imposto de Renda. Appio, de fato, não se identificou na ligação. Quanto às supostas ameaças, soam inverossímeis e nem são comprovadas pela transcrição da ligação”, escreveu Nassif. Leia mais aqui.

Confusão desnecessária

Para Cláudio Couto, o expediente supostamente usado por Appio foi “completamente desnecessário”. “Se ele queria efetivamente checar que o celular é do filho do desembargador, bastaria ligar e dizer ‘aqui é o juiz Appio, eu só queria confirmar que esse telefone é do senhor’. Resolveria o problema. Ao inventar essa história, Appio acaba complicando tudo e pode por a perder o trabalho que ele estava fazendo, de corrigir os desmandos da Lava Jato”, pontuou.

Couto finalizou dizendo que o próprio Appio “esses dias lembrou da teoria da árvore envenenada. Se ele tem um procedimento errado neste momento, ele envenena o próprio processo que ele estava conduzindo. É realmente uma situação lamentável.”

Assista ao programa completo:

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. SE (e somente se) foi Juiz que fez o telefonema, realmente foi desnecessário e imprudente. Mas isto não deve ser motivo para removê-lo, quando muito alguma admoestação. O lamentável é que centenas de impropriedades e crimes graves cometidos por anos, por diversos lava-jatistas da PF, MPF, a supervara de Curitiba, o TRF-4 e até o STF (“in Fux we trust”, “o Fachin é nosso”) percamos a oportunidade de passar tudo a limpo por amendoins (como dizem os americanos). Os lavajatistas estão aterrorizados e jogando tudo que podem. Todos sabemos, inclusive a reposicionada Gabriella, que o verdadeiro motivo por trás disso (furaram até HD’s!) é dentre outras, Tá-Tá-Tá-cla Duran…

  2. Me causa espanto que a Lava Jato na 1ª instância e no TRF4) cometeu centenas senão milhares de fraudes em processos para proteger seus bandidos de estimação e incriminar inimigos políticos, e o prof. Cláudio Couto assim como o GGN deem uma gota de credibilidade a esta gente criminosa.
    Não podemos esquecer tbém que nem o Ministério Público, que tem histórico de atuação conjunta com o TRF4 foi ouvido, e pasmem, o Appio tbém não foi ouvido previamente ao afastamento, conforme destacou o prof. Lênio Streck.
    Não se pode garantir nada das ações do juiz Appio, mas até que se comprove de forma categórica e honesta a sua participação, vale a presunção da inocência, e para mim, pelo seu histórico para o TRF4 vale a presunção de CULPA.

  3. Essa quadrilha encrustada no poder judiciário e no ministério público (poder executivo) dos Pinhais é mais burra do que pilantrovskies. Eles não sabem a diferença entre autos e processo. Só falta um deles pedir vista(s) do processo

  4. Como já havia comentado anteriormente, inexplicavelmente não foi concedido o benefício da dúvida ou a presunção da inocência ao juiz Appio. Curiosamente este benefício é concedido a um grupo de bandidos comprovados que são os integrantes da Lava Jato (do passado e do presente).
    Atentem para a matéria abaixo:

    “Leonardo Attuch @AttuchLeonardo
    O jurista Pedro Serrano me disse agora há pouco por que o juiz Appio não negou imediatamente o áudio forjado que causou seu afastamento. “Eu o orientei”. Serrano traçou a estratégia jurídica e definiu que antes seria necessário obter a perícia.”

    https://www.brasil247.com/regionais/sul/voz-da-gravacao-que-moro-entregou-ao-trf4-nao-e-de-eduardo-appio

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