As provas usada pela juíza Gabriela Hardt no caso PCC contra Moro

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Mesmo com a PF pedindo sigilo absoluto, Hardt levantou o segredo de Justiça e exibiu as provas obtidas a partir de mensagens de WhatsApp

Em meio à politização em torno do plano do PCC para sequestrar o ex-juiz e atual senador Sergio Moro, a juíza Gabriela Hardt, da 9ª Vara Federal de Curitiba, decidiu levantar o sigilo da decisão que respaldou a Operação Sequaz, exibindo as provas que ela considerou ao decretar a prisão de ao menos sete pessoas envolvidas no caso.

A Polícia Federal, que investiga a quadrilha há alguns meses, havia solicitado “sigilo máximo” sobre a decisão. Deflagrada na última quarta-feira, a operação se estendeu por vários estados com mandados de busca e apreensão e de prisões preventivas.

Moro não seria o único alvo do PCC, mas certamente foi o que mais ganhou holofotes – com ajuda, inclusive, de declarações de Lula que causaram frisson nos últimos dias.

Liderados por Janerferson Aparecido Mariano Gomes, também conhecido como Nefo ou NF, a quadrilha ligada ao PCC teria deixado rastros do plano contra Moro principalmente em mensagens de WhatsApp, que foram obtidas pela polícia a partir da quebra de sigilo telemático dos investigados.

Pelo celular, eles trocaram códigos, listaram despesas relacionadas à logística do plano, além de compartilhar dados pessoais, fotos, vídeos e outros indícios de que estavam investigando e monitorando a família de Moro e suas propriedades em Curitiba, desde setembro de 2022, em meio às eleições gerais.

Trecho da decisão da juíza Gabriela Hardt, que autorizou a deflagração da Operação Sequaz, da Polícia Federal.

O delator misterioso

Tudo começou a partir da delação de uma testemunha protegida ao Ministério Público de São Paulo. Em 3 de fevereiro de 2023, o depoimento foi encaminhado pelos promotores do Gaeco ao setor de combate ao crime organizado da Polícia Federal. No dia seguinte, a PF instaurou o inquérito para apurar “possível plano de sequestro de Moro”.

O delator se apresentou ao Gaeco como um dissidente do PCC, “jurado de morte”. Disse que recebeu informações sobre estar na mira de “NF”. Os promotores mostraram uma foto de Janerferson ao delator, que o reconheceu como NF.

Janerferson seria o chefe da “restrita”, um setor dentro do PCC encarregado por matar ex-faccionados e planejar atentados contra autoridades e servidores públicos.

A identidade do delator não pode ser revelada por questões de segurança, mas sabe-se, pela decisão de Hardt, que não se trata de um faccionado qualquer. Isto porque o próprio delator disse que o setor da restrita “seria responsável por matar líderes e faccionados importantes, bem como por cometer atentados contra autoridades, sendo que caso se tratasse de um faccionado qualquer, não haveria atuação da ‘restrita’, mas sim do ‘tribunal do crime’.”

A prova-chave

O delator entregou ao Gaeco quatro números de telefone que seriam de pessoas associadas ao PCC. A partir da quebra de sigilo delas, chegou-se às provas que arrastaram Moro para o enredo.

Janeferson (NF ou Nefo) e a companheira Aline Paixão. De uma troca de mensagens do casal, a PF encontrou um dos indícios de que Moro seria alvo do PCC.

Na decisão de Hardt constam fotos de Janerferson com sua namorada, Aline Maria Paixão. De uma troca de mensagens entre o casal, a PF conseguiu o que a juíza classificou como a principal prova de que o senador Moro era mesmo citado nas conversas dos suspeitos: a associação da palavra “Moro” ao código “Tokio”.

Print de uma conversa entre Janeferson e sua companheira Aline Maria Paixão, em que o codinome “Tokio” é associado a “Moro”. A mensagem ainda apresenta código para “sequestro” e “ação”.

Para a juíza Gabriela Hardt, a imagem “permitiu descortinar o plano que está sendo articulado para a consecução de um atentado contra a incolumidade do senador” Sergio Moro.

Trecho da decisão da juíza Gabriela Hardt, em que a magistrada aponta a descoberta de uma imagem que associa a palavra “Moro” ao codinome “Tokio”, como a prova que “permitiu descortinar o plano”.

Em outra mensagem, enviada por “Alinen”, a PF verificou que os suspeitos fizeram um “relato detalhado de reconhecimento do local” em que Moro votou na eleição de 2022, no bairro Bacacheri, em Curitiba (PR), com “descrição dos acessos, câmeras existentes no local, segurança e rota de acesso.”

Para Hardt, a evidência deixou “claro que foi cogitada alguma ação contra ele [Moro] na data do segundo turno da eleição presidencial de 2022”.

Print de mensagem enviada à companheira de Nefo, o líder da quadrilha, mostra que o local de votação de Sergio Moro na eleição de 2022 foi estudado pelos suspeitos.


“Alinen” seria Aline Arndt Ferri, que fazia levantamentos sobre a família de Moro e enviava as informações à Aline Maria Paixão, a companheira de Nefo, que por sua vez foi apontado como o líder da quadrilha. Aline Ferri enviou para Aline Paixão, por exemplo, fotos com informações sobre a filha de Sergio Moro:

Aline Ferri, outra mulher que teve a prisão decretada por Gabriela Hardt, envia para Aline Paixão um levantamento com dados sobre a filha de Sergio Moro.

Outros suspeitos que tiveram a prisão decretada também foram pegos graças às mensagens de WhatsApp. Nelas, eles indicam que teriam transitado de carro pelo bairro em Curitiba onde está não apenas o local de votação de Moro, mas também a residência da família e o escritório de advocacia mantido pela esposa e atual deputada federal, Rosangela Moro.

Trecho da decisão da juíza Gabriela Hardt mostra que a casa e o escritório de Rosangelo Moro possivelmente também teriam sido vigiados pelos suspeitos.

Além de conversas nesse sentido, a autoridade policial encontrou também, no celular de um dos envolvidos, um vídeo da fachada do prédio onde supostamente Moro teria um apartamento em Curitiba. O vídeo foi gravado em 3 de fevereiro de 2022.

Em várias mensagens, os suspeitos listaram despesas com a operação, incluindo gastos com gasolina, viagens, alimentação, compra de veículos, armas, aluguel de casas e apartamento, e até mesmo o interesse por uma chácara mais afastada de Curitiba, que cogitou-se ser o local onde eles poderiam levar suas vítimas de sequestros.

As movimentações financeiras, no período investigado, teriam batido a casa do meio milhão de reais.

Acima, uma das imagens que fazem referência à lista de despesas com a operação da quadrilha no Paraná. Da imagem, a juíza destacou a expressão “gastos Tóquio”, que seriam despesas supostamente relativas ao plano contra Moro.

Hardt justifica interesse do PCC em Moro

A juíza Gabriela Hardt, ex-substituta de Sergio Moro a Lava Jato, e responsável pela condenação de Lula no caso Sítio de Atibaia.

Após apresentar as evidências levadas aos autos pela autoridade policial, Hardt usa o ato de deferir parcialmente os pedidos de prisão para justificar o interesse do PCC em Sergio Moro.

Para ela, o ex-juiz chamou atenção da quadrilha por combater a corrupção à frente da Operação Lava Jato.

Depois, no Ministério da Justiça, Moro teria criado animosidade ao ampliar, em 2019, a restrição a visitas íntimas em presídios federais – uma medida que atinge líderes de facções criminosas ao menos desde 2017, governo Temer.

Segundo Hardt, a privação de visitas íntimas cria dificuldades para a comunicação dos membros do PCC. Ela ainda afirmou que o fato de o Supremo Tribunal Federal ter recentemente julgado prejudicada a ação que questionava a portaria das visitas íntimas, provavelmente “acirrou” os ânimos do PCC contra o Estado.

Desta forma, “é possível aventar que um atentado contra a integridade do senador Sergio Moro está sendo preparado pelo PCC a fim de demonstrar poder e causar temor ao Estado”, justificou a juíza.

Juíza Gabriela Hardt usa trajetória de Moro na Lava Jato e no governo Bolsonaro para justificar interesse do PCC no senador

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Não caio nessa: como um bandido fica trocando informações de planos criminosos, por mensagem, com a “namorada”?
    Além disso que necessidade teria de mandar códigos para o celular dela? Não poderia estar no do próprio bandido e levá-lo consigo?
    Mensagem de whatsapp não são de confiança.
    Golpistas, hoje, estão conseguindo até mandar mensagem para celular utilizando o número oficial do BB.
    Para mim isso é uma farsa, igual a lava jato! Tem dedo da s.ia no meio?

  2. Concordo plenamente com o comentário de Maria Carvalho. Em vez de ouvir essa juíza, prefiro aguardar que a PF nos traga dados mais convincentes.

  3. Concordo plenamente com o comentário de Maria Carvalho. Em vez de ouvir essa juíza, carne e unha com Moro, prefiro aguardar detalhes mais convincentes a nos serem dados pela PF.

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