Capitalismo, Socialismo e Selvageria

Por jluizberg

Em sua natureza primitiva o homem era livre, assim como todos os outros animais. Nesse estado, não existem controles nem freios, e todos têm o direito de posse sobre tudo o que existe ao seu redor. Esse é o estado de liberdade natural, mas que só funciona para um indivíduo, pois uma vez que sejam criados grupos começam naturalmente a ser estabelecidas regras de convivência que variam de acordo com o tipo e o nível de racionalidade do grupo. A mais comum dessas regras é a lei do mais forte, onde um indivíduo disputa com os outros a primazia dentro do grupo, geralmente através de embates físicos. Uma vez estabelecida essa primazia, ele passa a ser o líder que possui direitos quase ilimitados, mas que normalmente também adquire deveres, sendo o mais comum o de cuidar do bem-estar de todo o grupo. Apesar de parecer injusto e selvagem, mesmo essa forma de organização é benéfica para os membros, que em grupo podem maximizar os pontos fortes de cada indivíduo e diluir os pontos fracos. O maior problema dessa forma de organização é que o líder é desafiado todo o tempo por outros indivíduos que se consideram mais fortes e buscam lhe tomar a primazia. Nas sociedades humanas contemporâneas, esse problema da definição do líder foi substituído pela constituição de governos, que agem como o líder forte, regulando e mediando o grupo, e regras foram estabelecidas para garantir que esse líder forte agisse de acordo com um padrão aceito e benéfico para a sociedade, ao invés da conveniência dos membros que o representam. Foram constituídas então as leis e diversas formas de escolha do líder, sejam elas democráticas, autocráticas ou teocráticas.

Então mesmo dentro de uma sociedade primitiva, regida pela lei do mais forte, existem regras e papéis, direitos e deveres. É exatamente isso o que caracteriza uma sociedade: um grupo de indivíduos onde são definidos papéis e as pessoas abrem mão de sua liberdade primitiva em prol de outros benefícios para si e para o grupo. Fica então estabelecido o que chamamos de Contrato Social. Esse é um contrato tácito, “assinado” quando você decide viver em uma sociedade, onde você abre mão de sua liberdade natural para obter os benefícios oferecidos pela vida em sociedade. Não é uma exclusividade da espécie humana, pois diversos outras espécies também possuem formas até bastante elaboradas de organização social. Mas todas partem do pressuposto de que a vida em sociedade traria vantagens para seus membros que justificariam o abandono de suas liberdades naturais.

As sociedades humanas foram então evoluindo ao longo do tempo, e se distinguindo por características relativas a sua forma de organização. Vamos então examinar brevemente duas delas, bastante relevantes para esta análise: capitalismo e socialismo.

O capitalismo é na realidade um sistema econômico, caracterizado pela relativa liberdade na utilização do capital para gerar riqueza, que então é distribuída à sociedade na forma de salários, bens e serviços. Surgiu na Europa entre os séculos XII e XIII, e sucedeu o mercantilismo, permitindo que as riquezas geradas nessa última etapa pudessem ser aplicadas no contexto das sociedades, viabilizando a criação e o crescimento exponencial das cidades e a posterior revolução industrial, alicerçada pela liberdade de utilização do poder econômico, mão de obra humana e inovações tecnológicas para produzir mais riquezas, com pouca ou nenhuma interferência dos estados. Sem ninguém para regular sua atuação, o capital reinou absoluto em um primeiro momento, obrigando os trabalhadores a jornadas desumanas em troca de salários irrisórios, e com a exploração livre de mulheres e crianças para todas as atividades viáveis, sem equipamentos de segurança ou quaisquer benefícios sociais ou trabalhistas.

Desde então ficou evidente que o peso do capital versus a mão de obra faria a balança pender sempre para o capital. Com esse desequilíbrio e a intenção de também participar de toda essa riqueza, é claro que os estados não demoraram a entrar no circuito e começaram a atuar como reguladores do capitalismo, que passou a ter de obedecer a leis cada vez mais complexas de proteção social, e a recolher impostos sobre os lucros auferidos. Se o estado fazia o papel do líder forte que tinha o dever de defender o grupo, atuar como regulador do capitalismo seria sua atribuição natural. Com isso chegamos praticamente ao modelo de capitalismo de hoje, onde existe liberdade de atuação do mercado privado, mas porém com o estado atuando como regulador e defensor da sociedade contra a supremacia do capital.

Porém, um outro efeito colateral do abuso do capital sobre a sociedade foi a criação de uma nova linha de pensamento, principalmente na Europa do século XVIII, que advogava que se os recursos naturais eram de todos, então todas as riquezas geradas por eles deveriam ser divididas igualitariamente pela sociedade, ao invés de concentradas em alguns membros. Essa foi a semente que germinou na criação do socialismo. Existem várias formas e correntes de pensamento socialista, mas em geral podemos assumir que é um regime em que toda a riqueza é concentrada no estado, que tem a função de dividi-la igualmente por toda a sociedade. O socialismo teve o seu auge na antiga União Soviética, e com o seu declínio, principalmente no ocidente, foi declarada a vitória do capitalismo como filosofia antagônica, que passou a ser considerado como único modelo viável existente.

Por volta da década de 1980, foi idealizado um novo sistema, baseado no capitalismo, que foi o neoliberalismo. Esse sistema prega a liberalização e desregulação completa do mercado, a redução do estado a um tamanho mínimo, a redução dos impostos, a liberdade dos fluxos de capital e a privatização de todas as empresas estatais. Com essa liberdade de atuação, as empresas poderiam utilizar todo o seu potencial produtivo e maximizar os resultados. Apesar de à princípio isso ser bom somente para as empresas, o seu crescimento geraria mais empregos, os custos dos produtos cairiam, e a longo prazo, esse maior lucro obtido pelas empresas acabaria sendo distribuído por toda a sociedade.

Porém, com a evolução tecnológica propiciando a melhoria nos sistemas de transporte e comunicação, ocorreu a chamada “globalização”, ou seja, a integração social e econômica de sistemas que antes eram fechados, que passaram a ser abertos e suscetíveis a interferências externas e a variáveis muitas vezes desconhecidas e quase sempre incontroláveis. A globalização afetou fundamentalmente o neoliberalismo em um ponto chave: com um mundo globalizado e a liberdade no fluxo de capitais, o lucro auferido pelas empresas pode ser empregado em qualquer outra parte do mundo, então a redução nos impostos e liberalização feitos em um país podem não trazer nenhum benefício, dependendo de como e onde os lucros das empresas forem utilizados. Com isso o neoliberalismo se tornou um sistema com uma característica muito forte de concentração de renda, e até hoje a advogada distribuição de riquezas posterior ainda não foi plenamente verificada em nenhum país que o adotou.

Voltando então à questão inicial da organização das sociedades, podemos agora fazer algumas comparações interessantes:

  • Em um regime socialista, as empresas não possuem nenhuma liberdade, e o estado é o líder absoluto, controlando todo o funcionamento das empresas e a distribuição das riquezas pela sociedade. Com isso a liberdade individual também é tolhida, pois os indivíduos dependem do estado para receber a sua parte nas riquezas. Então considero esse um regime extremista à esquerda, onde o estado controla todos os aspectos da sociedade. Podemos comparar esse regime a um grupo que possui um líder muito forte, mas que tenta controlar todas as atividades do grupo, e centraliza todas as decisões sobre o que vai ser feito e quem vai ser beneficiado ou punido. Com isso, o grupo perde a oportunidade de somar seus potenciais individuais e maximizar suas atividades e ganhos, reduzindo os benefícios advindos da vida em grupo e gerando um desequilíbrio no contrato social, pois com o tempo o custo de permanecer no grupo aumentará e superará os benefícios.
  • Em um regime neoliberal, temos a situação exatamente oposta, onde o estado tem pouco ou nenhum controle e as empresas atuam cada uma de acordo com os seus objetivos, ou seja, não existe ninguém atuando como líder forte para garantir os benefícios para a sociedade. Considero esse regime extremista à direita. Nesse regime, como o objetivo declarado das empresas é aumentar seus próprios lucros sem dar nenhum retorno ao grupo, o contrato social é desequilibrado e começa a ficar evidente para os membros que as vantagens auferidas são menores do que as liberdades individuais. Voltamos então a uma situação onde todos (empresas e indivíduos) tendem a lutar somente por si mesmos e as regras sociais acabam sendo deixadas de lado, em uma situação bastante similar à selvageria inicial, com a diferença de que a força não é mais física, mas de quem detém o capital.

Nesse contexto, considero que o regime capitalista puro onde as empresas atuam com certa liberdade, assim como os indivíduos, e o estado atua como líder forte regulando e equilibrando as forças para que nenhum dos lados seja privilegiado temos um regime neutro. Porém essa neutralidade não é evidente e homogênea, e o quanto de intervenção ou liberdade serão necessárias depende muito de como cada sociedade é organizada. Recentemente em uma entrevista no Brasil, o presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica fez uma declaração que me chamou atenção e de certa forma inspirou esse artigo: ele disse que os dois países mais socialistas do mundo hoje são a Suécia e a Noruega. Não concordo completamente com ele, pois não considero que sejam regimes socialistas, mas são sim democracias com alto nível de intervenção estatal e distribuição de renda, onde os serviços básicos (educação, saúde e segurança) são de alto nível e providos quase que totalmente pelo estado, que também regula diversos outros fatores, principalmente no que diz respeito à distribuição de renda. Então esses dois países seriam bons exemplos de capitalismo com tendências mais à esquerda, e são grandes exemplos de sociedade igualitárias e desenvolvidas.

Outros dois exemplos que considero como novos modelos em experimentação são a China e o Brasil: na China temos um regime com viés completamente socialista (na verdade comunista), ou seja, na extrema esquerda, que começou lentamente a liberalizar sua economia e mover-se para a direita; e o Brasil, que há cerca de 12 anos era completamente neoliberal, ou seja, na extrema direita, e começou a mover-se para a esquerda, implementando políticas sociais e de melhoria na distribuição de renda.

O grande desafio desses países é equalizar o nível de controle e intervenção do governo nas sociedades: se for pequeno demais, a economia do país poderá até crescer, mas a distribuição de renda irá piorar e os benefícios recebidos pelos indivíduos serão degradados (o que acontece hoje nos EUA e em alguns países da Europa), e se a intervenção for grande demais, os benefícios serão maiores para a sociedade, mas o país não conseguirá gerar riqueza suficiente para sustentar os benefícios e entrará em recessão. Esse equilíbrio na atuação do estado é a chave para o sucesso, e a tendência em radicalizar para os extremos por questões ideológicas é muito perigosa, pois ao violar o contrato social, a consequência natural é o retorno à selvageria.

10 Comentários

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  1. Socialismo democrata

    Entendo o que quis dizer Mujica, é obvio que o socialismo foi praticado de forma errônea pela União Soviética e o comunismo Chinês foi contaminado pela corrupção, onde sempre houve uma elite que enriqueceu e não elevou sua população intelectualmente. Tal qual na União Soviética, com seus oligarcas. Mas o que a Noruega e a Suécia têm praticado hoje enquanto poder politico é o que talvez mais se aproxime de um regime egualitario, que é o que prezam os grande socialistas e comunistas que sempre defenderam esses sistemas de governo, por serem menos nocivos que o capitalismo que para mim desembocou no que temos hoje no mundo, um neoliberalismo transvestido de capitalismo, onde os financistas dão as cartas. 

    Sem extremismos, mas sem um governo deliberadamente social, ainda ficaremos amarrados ao atraso social e intelectual em muitas décadas. Esse é o pior dos contratos. 

    1. Na verdade, eu considero que

      Na verdade, eu considero que a grande diferença entre o “socialismo” dos paises Nórdicos e a União Soviética ou a China, é que lá ele foi endógeno, ou seja partiu de uma conscientização da sociedade, que entendeu que essa seria a melhor solução para seus problemas, enquanto nos outros, partiu de revoluções populares, mas o seu funcionamento foi determinado pelos governantes. Acredito que o melhor regime seria uma democracia o mais social possível, desde que compatível com o nível de conscientização da sociedade.

  2. Bom texto, mas quero

    Bom texto, mas quero apresentar alguns pontos.

    Os países escandinavos são chamados de “estado de bem-estar social” ou somente “estado social” e seriam a esquerda da direita, por assim dizer. Nele se entende que o Estado deve intervir na sociedade como forma de torná-la mais justa. Como os meios de produção ainda são privados, é um espectro do capitalismo.

    Discordo que há 12 anos o Brasil era “completamente neoliberal”, até por que a constituição pátria não o permite. É fato que houve adoção de políticas neoliberais (como a privatização) mas houve também adoção de políticas consideradas de Estado Social, como a criação de bolsas que posteriormente foram unificadas no Bolsa Família. É claro que esse viéis de Estado Social foi ampliado pelo governo do PT, mas não chega a ser uma ruptura com o que se vinha fazendo anteriormente.

    Por fim, acho importante lembrar que liberalismo econômico não é garantia de liberdade individual. Governos de extrema direita foram tão autoritários quanto os de extrema esquerda, devendo assim a liberdade individual ser analisada em outro espectro.

  3. a absurda negação do Estado

    A invenção do Estado se confunde com a criação da civilização. O que ainda não é claro é se se trata de um processo atávico, inerente à sociedade humana ou se trata de um processo cultural . Não há noticias de estruturas civilizadas que prescindam do Estado. Há duas ideologias conhecidas que negam ao Estado seu caráter indispensável : o anarquismo e o neoliberalismo. O primeiro prega um individualismo impraticável numa sociedade de massas. Mas há o oportunismo neoliberal que prega que o Estado é a raiz de todos os males. É esta nociva ideologia neoliberal que impregna o imaginário popular e é explorada pelas elites financeiras com o intuito de elevar rendimentos. É este o dilema das eleições correntes. 

  4. Colapso do consumo

    Há um pensador norte-americano chamado Jacque Fresco, criador do The Venus Project (www.thevenusproject.com) que vislumbra um colapso do consumo e a consequente inviabilização do sistema produtivo capitalista contemporâneo.

    Ele produziu um documentário muito interessante, intitulado “Paradise or Oblivion” (Paraíso ou Esquecimento).

    Sei que dito desta forma parece simplório, porém é fato que várias atividades e segmentos econômicos entraram em declínio.

    Se a isto somarmos iniciativas como o surgimento da “economia de compartilhamento”, poderemos vislumbrar um cenário semelhante.

  5. O trabalho de desocultação da realidade

    Penso que é necessário, como diria Marx, desolcultar a realidade e, em minha concepção, esta abordagem contratualista mais a oculta do que a desoculta. Não entendo a sociedade como um contrato, mas como um sistema estruturado de relações, de dominações, de interesses e de poder. Deste modo, as próprias instituições sociais, como o Direito ou o tal Contrato Social, nada mais são do que reflexo deste sistema de interesses, dominação, força e poder consolidado na sociedade. O tema é ainda mais importante neste momento em que as elites coloniais e entreguistas estão prestes a retomar o executivo nacional com base em outra abstração que oculta a realidade: a moral. Nunca o conceito de luta de classes foi tão importante para analisar, explicar e elaborar estratégias de enfrentamento deste processo de ocultação que vem em benefício das forças mais obscurantistas da sociedade brasileira.

    A estratégia das elites coloniais de vencer com base num discurso moralista consiste no seguinte: é preciso colar no PT e na Dilma 13 o rótulo de corruptos. A corrupção é uma imoralidade e um crime. Logo, PT e Dilma 13 são imorais e criminosos. Nós somos a salvação, porque não somos corruptos, logo nem imorais nem criminosos. A tentativa do PT de se defender apontando as corrupções do PSDB e Aécio surtem apenas efeito inverso: o PT é tão imoral que tenta justificar a sua corrupção por meio da corrupção alheia. Ou, como tenho lido à baciada no facebook: “corrupção é corrupção e pronto”. Sem conversa, sem debate, sem qualquer outro tipo de reflexão que possibilite um tratamento mais profundo do que está acontecendo de concreto no momento histórico atual.

    Pois bem, vou pegar este exemplo para prosseguir. A análise simplista da corrupção por meio de um moralismo simplista leva ao ocultamento da realidade e das estruturas de poder, mais enraizadas e com consequências mais profundas na sociedade. O moralismo abstrato, isto é, vazio -porque destituído de conteúdo empírico- e acrítico -porque não leva em conta a história e a divisão de interesses de classe nas sociedades- sempre foi um instrumento ideológico que as elites utilizam para colonizar e escravizar a subjetividade humana e ocultar a realidade concreta.

    Como diriam os frankfurtianos: a indústria cultural é um exército ideológico que escraviza e coloniza aquele território que nenhum exército consegue colonizar e escravizar: o território da subjetividade humana. Esta dominação e escravidão consiste exatamente na ocultação da realidade que se dá por meio da destituição do conteúdo crítico e político da mesma, através de conceitos, imagens e visões de mundo universalizantes e abstratos.

    O único conceito que nos desvenda o enigma das relações de dominação, força, interesses e poder nas sociedades complexas é o de classes e luta de classes. A luta de classes se trava nos vários níveis da existência coletiva: econômico, político, jurídico, ideológico. Desocultar a realidade significa, antes de tudo, que, ao contrário do espírito que se aventura pelas linearidades dos conceitos, a materialidade da vida não é perfeita, portanto, não podemos subjugar a sua dinâmica à perfeição dos conceitos. Antes, os conceitos precisam apreender as contradições do real, e estas contradições refletem conflitos entre interesses coletivos, de classes, bem definidos. O importante é saber quais são os interesses por trás de um e de outro para se posicionar politicamente, e não que corrupção é corrupção e acabou-se.

    Subjugar a política à moral é, simplesmente, manter-se prisioneiro das armadilhas da dominação ideológica. Depois de Maquiavel e Marx, as sociedades hoje desenvolvidas compreenderam muito bem a necessidade de separar a moral da política. Com base no desvendamento do real possibilitado por estes pensadores, reinventaram as suas instituições para garantir que elas atendessem aos interesses materiais concretos de cada classe, e não a interesses morais supostamente universais. A moral é questão de foro íntimo, serve para a vida privada e outras questões de ordem existenciais, não para agir e avaliar a vida pública.

    Então, é disso que eu estou falando. Estes conceitos genéricos e universalizantes: moral, nação, contrato social etc. somente ocultam as relações concretas que produzem a dominação de classes, as desigualdades e as injustiças dentro do sistema social.  Aécio e companhia, sempre que estiveram no poder, fragilizaram o Estado, aprofundaramas injustiças e desigualdades sociais, dilapidaram as riquezas públicas, e tudo em nome dos interesses exclusivos de sua classe social. Foi assim com o Brasil nos anos 90; foi assim com Minas Gerais do Aécio; está sendo assim com São Paulo; no Pará, outro reduto do poder do PSDB, todos os índices de desenvolvimento recuaram; destruíram com a classe média e com os trabalhadores em geral, mas continuaram cada vez mais ricos. Este é o problema dos governos desta gente: os trabalhadores só perdem, enquanto os endinheirados alinhados com eles só ganham.

    Não votamos em morais ou outros tipos de conceitos universais bonitinhos e supostamente integradores e civilizadores. A civilidade começa, e apenas nisso eu concordo com o contratualista Rousseau, com a civilização dos instintos humanos, para o que concorre decididamente a satisfação dos interesses materiais que alimentam o corpo e a vida. Ao Estado cabe criar as condições para garantir a satisfação destes interesses, conformando instituições e políticas que distribuem os benefícios que a propriedade privada viola e concentra nas mãos de poucos. 

    O Brasil é uma sociedade de classes e precisa ser analisado e decifrado como tal. O voto em Dilma é um voto crítico porque este é o governo que melhor atende aos interesses de todas as classes constituídas em nosso sistema social. 

    1. A grande questão oculta desta

      A grande questão oculta desta eleição é exatamente essa: são dois modelos completamente diferentes de desenvolvimento, um alinhado á filosofia neoliberal, que não é apoiada somente por grandes investidores sem escrúpulos, mas também por intelectuais que realmente acreditam qiue a acumulação de riquezas, mesmo concentrada em alguns poucos, pode trazer o desenvolvimento para todos. Do outro lado, o modelo que prega que o próprio crescimento já precisa ser baseado na distribuição de renda, que pessoalmente acredito que seja muito superior, além de já ter sido provado no passado.

       

  6. Sim, mas com ressalvas…

    Caro JL Berg,

    se você tentou  passar uma  noção para aqueles que estao engatinhando no assunto , tudo bem,  já é um começo.

    Mas, reforça-se,  é apenas um começo.

    Depois deste começo o leitor atento pode querer conhecer mais a respeito do tema. Ai então vai entrar em um mundo de correntes de  pensamentos dos mais variados. 

    Há teses que vão totalmente de encontro à sua.

    Outras, nem tanto. Outras que não se consegue compreendê-las  rapidamente. Ou nunca se compreenda.  É preciso muito esforço e estudo para chegar perto daquilo que , talvez, tenha sido a intenção do autor ( ex. hegel).

    Há ainda outras “culturas” espalhadas pelo mundo que não transitam nesse binômio, capitalismo versus socialismo.

    Há um comunismo que passa longe de outros comunismos. Ex. índio no brasil.

    Essas definições de Rousseau, Hobbes, Locke, Montesquieu, Maquiavel etc,  são “preferidas” dos intelectuais ocidentais enviesados até a alma!

    Aliás, teriamos de falar de bíblia, alcorão, buda, judaísmo e o subconjunto mais recente “cristianismo”, com o seu grande representante “Jesus Cristo” e por vai. Mas vai mesmo!

    A sensação é de inesgotabilidade do tema.

    Por isso é preciso muito cuidado com os diversos vieses.  Se pegar um autor liberal e  ortodoxo para falar de produção em massa ( estou retirando o vocábulo de Marx, “capital”) é claro que a tendência  será a de  lhe convencer que o homem é natural , o direito é natural  e a “liberdade” é o que interessa. O resto fica por conta do mercado. ( mais ou menos por ai lá no fundo da tese). Vale mesmo é o estado “constitucional” para defender direitos civis e políticos e ponto final. Say explica!

    Se vc. pinça  um “marxista” –  das duzentas mil correntes marxistas que se tem por ai – então , aperta daqui, solta dali, e chegamos à  “igualdade”. Talvez, nem Marx reconheceria a tal “corrente” marxista.

    E pra uns a igualdade, ao contrário do que parece ser, é desigual. Incrível com o vocábulo parece ser uma coisa mas  é outra coisa. O igual é igual , mas o desigual é desigual, na medida da BABOSEIRA que se desigualam… ( a baboseira que me refiro é o viés)

    Existem aqueles “marcos” históricos favoritos de todos os “ocidentais”  para tentar explicar um ou outro modelo de organização social. Mas veja bem hein,  tem marco histórico pra tudo quanto é gosto.

    Alías, nesses “marcos” históricos não podemos nos esquecer das “guerrinhas”. Dando apenas dois exemplos: a primeira e a segunda do século passado. Pouca coisa não?…

    Por essas e por outras, é quase um salto mortal  seguido de morte, tentar debater esse tema “no mundo”. Principalmente, comparando-se regiões do planeta  sem se  preocupar com as diferenças antropológicas, culturais, sociais etc.

    Assim, a proposta que me parece mais razoável é compreender o Brasil nesse contexto.

    Por exemplo:  onde estão  o “capitalismo” , o “socialismo” e a selvageria NO BRASIL?

    Onde estavam nossas “corporações de ofício” nos primeiros 500 anos? E antes? Estreito de Bering ou , do atlántico?

    O ameríndio , no mato, com o seu  pajé ( líder)  se enquadra onde nisso daí que você disse?

    E os maiais? Os Astecas? Os Incas? Civilização ou não? Evoluídos para épca antes do mercantilismo? Antes de simon bolivar hein…( para aqueles que adoram falar de brasil bolivariano”. Moçada estúpida que, como marionetes nem respeitam nossos papagaios) Tambem pudera, depois da nacionalização da PDVSA o bicho vem pegando…até golpe de estado rola…

    Gostaria muito de saber onde foi parar o “feudalismo” no brasil. Onde?

    Enfim, o tema é complexo e a meu juizo não deve ser tratado na superfície. Corre-se o tremendo risco de enviesá-lo demais , e, sem querer, gerar aquela imbecilidade  que se percebe por ai ao debatermos sobre assunto.

    Muitos já tentaram sair dessa mas , logo logo, foram vencidos.

    Celso furtado não me deixa mentir.

    Saudações

    “Ai barracão, pendurado no morro, e pedindo socorro à cidade a seus pés…”

    “A mesma porta sem trinco, o mesmo teto; e a mesma lua a furar nosso zinco”…

  7. A realidade paralela

    Ponto a ponto em concordância com o comentarista Válber, só a ação escandalosamente ativa do aparato midiático mantém de pé o edifício do capital, permitindo-lhe os sucessivos e variados disfarces que ocultam a luta de classes.

    O esquematismo de Rosseau, malgrado sua importância à época em que lançado, não explica minimamente o massacre histórico e diuturno promovido contra as imensas maiorias pelos interesses e vocação do capital concentrado, agora no Brasil, facilmente detectado nas cercaniaas da candidatura de Aécio. 

    Sem levantarmos a questão sempre presente da luta de classes, de nada servirá análises como a do texto principal, bem intencionada, talvez, mas limitada e frágil para uma avaliação do desastre anunciado. 

    Voto Dilma. E há que avançar, mesmo com todas as dificuldades. 

     

     

     

     

  8. e é o que poderá ocorrer com

    e é o que poderá ocorrer com aécio

    e os tucanos direitistas.

    a radicalização no modelo de concentração de renda

    e de exclusão social levará ou retomará a

    selvageria de década de 90 a 2002, até fhc ser escorraçado do poder por lula…

    é a selvageria economica neonlibeal, o salve-se quem puder!!!!

    e quem sempre mais pode é o capital!

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