Como a Venezuela transforma a sua moeda desvalorizada em ouro

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Crise econômica e sanções dos EUA geraram uma corrida ao ouro, que é comprado pelo governo de Maduro com a moeda desvalorizada e usado para pagar a importação de bens

Do Público

As operações financeiras mais bem-sucedidas da Venezuela nos últimos anos não ocorreram em Wall Street, mas em campos primitivos de mineração de ouro no Sul do país. É assim que começa um trabalho da Reuters sobre o elevado número de “caçadores de fortunas”, estima-se que cerca de 300 mil, que se dirigiram à área rica em minerais da floresta, criando “minas improvisadas”.

“As suas pás e picaretas estão ajudando a sustentar o governo esquerdista do presidente Nicolás Maduro”, afirma a agência, referindo que, desde 2016, e de acordo com os dados mais recentes do banco central do país, o Estado já comprou 17 toneladas do metal, no valor de cerca de 650 milhões de dólares (573 milhões de euros) aos chamados mineiros artesanais.

O ouro comprado aos novos mineiros é pago na moeda nacional, o bolívar, fortemente desvalorizado, e é depois utilizado como moeda “forte” para pagar a importação de alimentos e produtos de higiene, conseguindo, dessa forma, contornar as sanções e o bloqueio comercial [impostas principalmente pelos EUA] que pretendem forçar a marcação de eleições livres.

Ainda recentemente, John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, lançou um aviso no Twitter “aos banqueiros, negociantes e facilitadores”, apelando a que “não negociem em ouro, petróleo ou outros recursos naturais roubados do povo venezuelano pela máfia de Maduro”.

“A existência do programa de ouro de Maduro é bem conhecida”, lembra a Reuters, que optou por fazer um levantamento do circuito do metal precioso, desde a exploração – em condições humanas difíceis, e onde frequentemente há homicídios e roubos, incluindo de militares oficiais – até à sua utilização final para pagar “a massa e o leite em pó” importado da Turquia, país aliado de Nicolás Maduro.

Em La Culebra, uma área de selva isolada no Sul da Venezuela, a agência encontrou centenas de mineiros que escavam túneis à mão, “destruindo ecossistemas florestais frágeis e disseminando doenças transmitidas por mosquitos”. Os mineiros queixam-se de extorsão por forças militares enviadas para proteger a região, cuja taxa de homicídios é sete vezes maior do que a média nacional. Os ministérios de Defesa e Informação da Venezuela não responderam aos pedidos de esclarecimento da Reuters.

Depois de percorrer um circuito de pequenos comerciantes, o ouro acaba por ser comprado pelo governo e transportado para os cofres do banco central na capital Caracas. Segundo dois altos funcionários da instituição, o ouro é vendido posteriormente, sendo “o principal comprador a Turquia”.

“Até mesmo os críticos de Maduro reconhecem que ele conseguiu um truque de alquimia: ao compensar os mineiros mais pressionados com bolívares desvalorizados pela inflação e obter metais preciosos em troca, ele encontrou uma maneira de transformar palha em ouro”, escreve a Reuters.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Os “humanitários” apostam no quanto pior melhor……

    Pioram as condições de vida da população ao extremo e depois se apresentam como salvadores da pátria…..assim, sem nenhuma segunda intenção…….

  2. “não negociem em ouro, petróleo ou outros recursos naturais roubados do povo venezuelano pela máfia de Maduro”.

    Só quem pode roubar os recursos do povo venezuelano é a máfia dos EUA e cúmplices.

  3. É uma história comovente mas sem credibilidade por não ter provas, somente palavras.

    Se o ser humano começar a acreditar somente em palavras, vai virar ser pré histórico novamente, agora com Internet e redes sociais pra o impedir de evoluir para um ser com raciocínio e opiniões próprias.

    Esta é o tipo de notícia que se deve apresentar. como documentário.

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