Como o Brasil, com favelas e desigualdade social, deveria responder ao coronavírus

"Não dá para entender porque ainda não estamos fazendo um planejamento para usar a atenção básica nessa resposta", diz especialista

Jornal GGN – Márcia Castro, professora de Demografia e Chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard, explicou em entrevista ao virologista Átila Iamarino, o que o Brasil poderia ter feito para enfrentar o coronavírus desde o começo da pandemia, em vez de apenas copiar medidas adotadas em países europeus e asiáticos que têm condições socioeconômicas diversas da realidade brasileira.

Para a especialista em doenças infecciosas, o Brasil vacila em não usar as equipes de saúde da família como “detetives”, para mapear e rastrear os casos de coronavírus e, assim, viabilizar o monitoramento da quarentena de quem precisa, freando a propagação da doença.

“O benefício, ele é tão amplo que não dá para entender porque ainda não estamos fazendo um planejamento para usar a atenção básica nessa resposta”, disse.

Associada a essa medida, nas regiões de alta densidade populacional e condições precárias de moradia, ela propôs que os governos locais firmem parcerias com o setor privado para alugar quartos de hotéis ociosos, e hospedar temporariamente as pessoas com suspeita ou confirmação de COVID-19 que dividem a casa com muitos outros familiares. Seria uma forma de viabilizar o distanciamento social nas favelas, bolsões de pobrezas que não conferem com a realidade de países europeus que optaram pelo lockdown.

“O Brasil teoricamente tinha a chance de dar uma das melhores respostas durante a pandemia. O País conta com um sistema universal de saúde, tem um dos maiores programas de atenção básica do mundo – o programa Saúde da Família atende 75% da população brasileira”, comentou Castro, para quem o País “está deixando passar a oportunidade de usar os programas que já têm.”

O papel dos agentes comunitários tem sido “mínimo”. “Não há prevenção em campo. O foco do Ministério da Saúde foi no atendimento clínico”, avaliou. “A gente tem alguns times de saúde trabalhando que dependem das lideranças locais, e não de uma diretriz nacional”, criticou.

Para ela, o Brasil não só perdeu a oportunidade de fazer uso da rede de atenção básica que já dispunha, como ainda vem pecando por causa do discurso desajustado de Jair Bolsonaro, que leva parte da população a duvidar da ciência e não obedecer às recomendações sanitárias.

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Redação

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