De rachadinha a “Abin paralela”, os esquemas e escândalos envolvendo Carlos Bolsonaro

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Carlos Bolsonaro é alvo de inquéritos que apuram desde articulação no "gabinete do ódio" até desvio de salários

Carlos Bolsonaro de terno e gravata, sentado na mesa da Câmara do Rio
Foto: Câmara Municipal do Rio de Janeiro

Carlos Bolsonaro voltou aos holofotes da mídia nesta semana, após a Polícia Federal bater em sua porta atrás de evidências de que ele era o receptor de informações privilegiadas obtidas através do esquema ilegal de espionagem implementado no seio da Abin (Agência Brasil de Inteligência) durante o governo de Jair Bolsonaro.

Em 2020, durante uma entrevista ao Roda Viva, o ex-secretário de governo de Bolsonaro, Gustavo Bebianno, revelou que foi Carlos quem lhe apresentou à “Abin paralela”. Para a Procuradoria-Geral da República, que investiga o caso, Carlos era integrante do “núcleo político” que demandava consultas à “organização criminosa” coordenada por Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin e amigo pessoal de Carlos.

Mas este não é o único escândalo envolvendo o filho do ex-presidente da República. Em seu sexto mandato na Câmara Municipal do Rio, Carlos exerceu bastante influência nos primeiros anos de governo de Jair Bolsonaro, a ponto de conseguir derrubar quem lhe contrariava. O filho “02” administra os perfis de Jair nas redes sociais, tendo sido coordenador da campanha digital em 2018 e 2022. Sua articulação na internet lhe rendeu ao menos dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal.

Relembre, abaixo, as investigações e episódios controversos envolvendo Carlos Bolsonaro:

  • Rachadinha no Rio de Janeiro

Assim como o irmão Flávio Bolsonaro, Carlos Bolsonaro também foi alvo do Ministério Público do Rio de Janeiro por causa de rachadinha em gabinete. O esquema consiste em receber de volta parte do salário dos assessores, geralmente para enriquecimento ilícito ou outras vantagens pessoais. No caso de Flávio, que tinha Fabrício de Queiroz como operador, há provas mais robustas, mas a operação patinou em instância superior por questões técnicas. Já no caso de Carlos, ainda não há provas acima da dúvida razoável de que ele teria se beneficiado pessoalmente da rachadinha, mas sim seu chefe de gabinete. Segundo o site Valor Econômico, o MP espera que a operação contra Carlos no esquema da “Abin paralela” funcione como um “último suspiro” para a investigação da rachadinha, por meio do possível compartilhamento de provas. Segundo a promotoria, Carlos teria recebido cerca de R$ 91 mil em depósitos sem origem, enquanto o chefe de seu gabinete, Jorge Luiz Fernandes, recebeu mais de R$ 2 milhões em repasses feitos por outros seis servidores do vereador.

  • Gabinete do ódio

Mentor do chamado “gabinete do ódio”, Carlos Bolsonaro é alvo de dois inquéritos no Supremo, um que investiga fake news propagadas pelo bolsonarismo, sobretudo durante a pandemia, e outro que apura a atuação de milícias digitais da ultradireta. Ambos os inquéritos são relatados pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. O magistrado foi quem autorizou a operação da PF contra Carlos no âmbito da investigação sobre a Abin paralela. Em sua decisão, Moraes acolheu a posição da PGR, que afirma que Carlos fazia parte do “núcleo” político que usufruiu da “Abin paralela”. A PGR encontrou uma prova de que a assessoria de Carlos Bolsonaro demandava informações da assessoria de Alexandre Ramagem.

  • Abin paralela

Em 2020, Gustavo Bebianno, ex-secretário-geral da Presidência do governo Bolsonaro, afirmou em entrevista ao Roda Viva que Carlos Bolsonaro havia lhe apresentado a ideia de criar a “Abin paralela” para obter informações à margem dos canais oficiais do governo. Bebianno disse que os generais Santos Cruz e Augusto Heleno ficaram cientes do plano, assim como Jair Bolsonaro, aconselhado a não seguir com o projeto de espionagem ilegal, sob o custo de possivelmente gerar motivos para sofrer um impeachment. Quatro anos depois, nesta segunda (29), a Polícia Federal deflagrou operação que investiga se Carlos participou do “núcleo político” da “organização criminosa” que usou a Abin para monitorar políticos e obter informações privilegiadas sobre inquéritos.

  • Caso Marielle

Quando da morte da vereadora Marilene Franco, executada por milicianos do Escritório do Crime, no Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro agiu para obter imagens de câmeras de segurança do condomínio Vivendas da Barra, onde Jair Bolsonaro tem uma casa. O ex-presidente da República é vizinho de Ronnie Lessa, um dos presos pelo assassinato de Marielle. No dia da execução, o segundo acusado pelo crime, Elcio de Queiroz, entrou no condomínio para buscar Ronnie Lessa. O porteiro teria alegado à polícia que Élcio pediu para ir à casa 58 (de Jair Bolsonaro), e que “Jair” teria autorizado por telefone. Depois da repercussão, Carlos acessou os registros da portaria e depois veio a público alegando que não havia provas de qualquer ligação para Jair Bolsonaro. Sob pressão, o porteiro recuou do depoimento. Jair e Carlos afirmaram que acessar as imagens foi fundamental para evitar qualquer “adulteração” do sistema. Sequer foram enquadrados por tentativa de obstrução de justiça.

Leia também:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador