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O economista Santiago Peña, 44, foi eleito presidente do Paraguai no pleito realizado no domingo (30). Ele pertence ao Partido Colorado, que foi o grande vitorioso das eleições gerais no País contra a Concertación. O sociólogo e jornalista Lautaro Rivara, que escreve para a Telesur, avaliou que o resultado do Partido Colorado não foi previsto por nenhum analista ou veículo de imprensa. Ele também comentou a situação da esquerda paraguaia e como ficam as relações internacionais com a ascensão de Peña.
Por Lautaro Rivara*
1) Nenhum analista, nenhum jornalista, nenhuma força política previu um resultado desta natureza, com uma distância tão avassaladora entre o Partido Colorado e a Concertación.
2) Estamos falando de uma diferença de 15 pontos, quando a previsão era de dois ou três a favor de Peña ou a favor de Alegre. Nem mesmo os vencedores do tradicional partido colorado esperavam um resultado tão favorável.
3) A nível de candidaturas, importa referir que Peña conseguiu exprimir uma boa síntese entre “tradição” e “modernização” no seio do antigo partido, enquanto Alegre foi resistido por si e por outros até esta, a sua terceira derrota consecutiva.
4) Em relação aos colorados, é claro que eles conseguiram compensar as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos com uma das máquinas eleitorais mais perversas (mas também bem lubrificadas) de todo o hemisfério.
5) Mas nem tudo é clientela, coerção e prebendarismo. O continente tende a esquecer que este partido, embora neoliberal e conservador, também soube monopolizar o sentido do nacional. Além disso, não tente entender o Paraguai a partir da ideia de sociedade civil/sociedade política.
6) O resultado de “Payo” Cubas é o dado mais preocupante, mas não o mais inesperado. Sua figura grotesca conseguiu capitalizar definitivamente a posição de oposição, conseguindo transferir sua visibilidade nas redes sociais para as urnas, mesmo sem dispor de grandes recursos ou dispositivos.
7) A situação da Grande Frente é particularmente desesperadora: depois de se dividir em função de duas estratégias e candidaturas diferenciadas, suas duas facções saem igualmente derrotadas. Nem a aliança com os liberais nem a aposta em Euclides Acevedo deram frutos.
8) Chama a atenção que a ex-ministra da saúde de Lugo, Esperanza Martínez, tenha derrotado o ex-presidente no voto preferencial para as candidaturas ao Senado. Isso implicará uma mudança de liderança ou acabará se dispersando no espaço?
9) Com seu líder natural gravemente enfermo, com um abismo entre as bases agrárias e urbanas do espaço, relegado à quarta força e quase sem representação parlamentar, a mais importante experiência da história da esquerda paraguaia enfrenta seu momento mais difícil.
10) Sem pretender subscrever a tese do “excepcionalismo paraguaio” (tão caro à direita indígena) é preciso dizer que este país expressa, devido ao seu secular isolamento, condições particulares, difíceis de compreender para uma região que pouco pagou atenção ao país.
11) Quem não deu atenção a isso são os grandes atores globais: dos Estados Unidos, que apesar de apoiar a Concertação, renegociará suas relações com os colorados e o cartismo, e a China, que buscará minar o vínculo Paraguai-Taiwan.
12) Por fim, diga que com esse resultado serão os colorados que renegociarão o delicado acordo com o Brasil para a barragem de Itaipu, enquanto tentam conseguir que engenheiros das Forças Armadas dos Estados Unidos iniciem a dragagem da hidrovia Paraguai-Paraná.
13) O Paraguai é mais uma vez instrumentalizado como um “estado tampão”, neste caso para impedir que os interesses chineses entrem na América por suas artérias fluviais. Esse domínio também impedirá o desenvolvimento de políticas soberanas por parte de seus vizinhos.
Lautaro Rivaro é sociólogo e jornalista e escreve para ALAI e Telesur
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