Genil da Mata Cruz, um drone de combate programado pela mídia

É trágica e preocupante a morte do prefeito de Central de Minas- MG http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/07/15/aviao-de-prefeito-cai-em-ocupacao-do-mst-matando-duas-pessoas-em-mg.htm. Trágica porque Genil da Mata Cruz  morreu na flor da idade e, segundo depoimentos das pessoas que viram o acidente, fazendo algo indigno (atentando contra a vida de pessoas miseráveis desarmadas). Preocupante porque ele pode ter se deixado dominar pelo ódio se esquecendo que, em razão do cargo que ocupava, deveria se limitar a agir de maneira legal, impessoal e moral como preconiza o art. 37, da CF/88.

Há quase seis anos denunciei no Observatório da Imprensa a sistemática difusão do ódio contra o MST http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/o-mst-e-o-jornalismo-homicida/. Portanto, me sinto a vontade para colocar a morte do referido prefeito na conta da imprensa (especialmente no da imprensa televisada que temia em retratar o MST como se fosse um grupo terrorista levando as pessoas a acreditar é legítima toda e qualquer violência praticada contra os sem terra). O falecido poderia ter invocado seus direitos no Poder Judiciário, mas preferiu agir sozinho como se fosse um teleguiado. A conduta dele evoca, de certa maneira, a dos drones de utilizados pelos EUA.

“Um robô comete um crime de guerra. Quem é o responsável? O general que o enviou? O Estado que é seu proprietário? O industrial que o produziu? Os analistas de sistemas que o programaram? Há um grande risco de que todo esse pequeno mundo passe a jogar a responsabilidade de um para o outro. O chefe militar poderá sempre alegar que não deu a ordem ao robô e que, de toda maneira, não o controlava mais. O Estado proprietário da máquina, em sua qualidade jurídica de ‘guardião da coisa’, veria sem dúvida sua responsabilidade envolvida, mas poderia, alegando que o dano ocasionado vem de um vício de fabricação, voltar-se contra o industrial, que, por sua vez, poderia tentar descontar nos programadores, acusando-os de riscos causados a outrem. Restaria o próprio robô: nessa última hipótese, a única coisa a fazer seria prender a maquia, vesti-a com roupas de gente para seu processo e executá-lo em praça pública, tal como ocorreu com uma porca criminosa condenada em 1368 por infanticídio em vilarejo do Calvados. O que, sem dúvida, faria quase tanto sentido e teria quase tanta eficácia quanto bater em um móvel no qual se tropeçou, ou insultá-lo, para que ele não tenha vontade de recomeçar.

Em suma, teríamos todo um coletivo de responsáveis irresponsáveis ao qual seria muito difícil atribuir a paternidade de um crime. Como não haveria mais ninguém apertando o botão, seria preciso empenhar-se em encontrar, nos meandros das linhas do código – jurídico, bem como informático – a pista de um sujeito em fuga.

O paradoxo é que, em rigor, com tal automatização da decisão letal, o único agente humano diretamente identificável como sendo a causa eficiente da morte seria a própria vítima, que teria tido a infelicidade, pelos movimentos inapropriados de seu corpo, como já é o caso com as minas antipessoais, de detonar  sozinha o mecanismo automático de sua própria eliminação.”  (Teoria do Drone, Grégoire Chamayou, editora Cosacnaify, 2015, São Paulo, p. 232/233)

Genil da Mata Cruz não era um robô, mas a semelhança dos drones “made in USA” ele agiu como se tivesse sido programado pelo ódio difundido contra o MST. Ele será o único culpado pelos seus atos? Sim e não. Sim, porque sua morte foi acidental. Não, porque a campanha de ódio midiático se alimentará da tragédia para continuar programando semelhantes drones humanos “anti-MST”.

O prefeito Central de Minas- MG faleceu no episódio. O que ocorreria se ele tivesse sobrevivido e conseguido incinerar alguns sem terra com os coquetéis molotov que supostamente estava jogando no acampamento? A conduta dele provavelmente seria considerada criminosa. Mas neste caso, a imprensa certamente jogaria a culpa nas vítimas como se elas mesmas fossem drones programados pelo MST para invadir propriedades alheias com risco de vida.

Ao espalhar o ódio irracional contra os sem terra e seu movimento a imprensa age de maneira escandalosa e impiedosa. Os jornalistas estão fomentando a barbárie, quer ela produza vítimas entre os fazendeiros quer acarrete a morte de sem terra. Para se proteger de qualquer responsabilização, a imprensa será agora obrigada a dronizar o atacante vitimado ou a desumanizar as vítimas como se elas pudessem ser por ele exterminadas. Esta dupla negação do direito à vida (garantido pela CF/88, pela Convenção Americana dos Direitos Humanos e pela Declaração Universal dos Direitos do Homem) é extremamente perigosa. Não somos drones de combate “made in USA”, não precisamos nos odiar uns aos outros. Quem lucrará com esta campanha de ódio que já fez várias vítimas?

Fábio de Oliveira Ribeiro

3 Comentários

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  1. Olha só não sei quem é você

    Olha só não sei quem é você eu sou apenas uma moradora, amiga de infância e admiradora do prefeito Genil,com olha bem suas palavras você não está contando a história certa, essas pessoas que dizem ser do mst estavam se alimentando do gado de corte do Genil e ainda tirando sarro, e o Genil só queria assustar eles não jogou molotov ainda não foi provado e só pra saber vc por acaso viu um vídeo onde os manifestantes estavam atirando no avião? Procura na internet vc vai ver!

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