Governo Temer – onde os fracos não tem vez

As diferenças de propostas, ações e público alvo entre Dilma e Temer explicam porque a primeira será irremediavelmente cassada e o segundo terá a sustentação necessária. Mas colocam 2018 em risco.

Dilma e Temer

O governo Temer está para completar seu primeiro trimestre, sonha com alguma legitimidade popular. Não a obterá, pois não há legitimidade possível sem a sagração das urnas. Porém, tendo obtido a sustentação do poder não democrático, tampouco dela necessita, pelo menos neste momento.

Propondo-se a cortar na carne dos outros e cantando aos ouvidos de quem interessa, Temer tem obtido sucesso indiscutível.

Vejamos as razões em uma breve viagem por manchetes de jornais dos últimos três meses.

A incoerência do Robin Hood ao contrário

24/05 – Temer e o controle das contas públicas I– Temer propõe limitar gastos em saúde e educação para deter rombo. Presidente interino e Meirelles querem fórmula para que alta do gasto público não supere inflação.

25/05 – Temer e o controle das contas públicas II – o Congresso aprovou, em votação simbólica, a revisão da meta fiscal com a elevação do déficit primário para R$ 170,5 bilhões.

 Com dinheiro na mão, quem ganha com Temer

24/05 – Temer e os investidores estrangeiros – segundo Temer, o governo irá priorizar um projeto, já aprovado pelo Senado, que desobriga a Petrobras de ser a operadora única e de ter participação mínima de 30% nos grupos formados para explorar petróleo no pré-sal.

20/06 – Temer e os governadores – Temer anuncia acordo que suspende dívida dos estados até o fim do ano. Parcela voltará a ser paga a partir de 2017, mas com descontos regressivos.

20/06 – Temer e os empresários – Temer quer terceirização aprovada em 2016. Governo interino promete aprovação de projeto que flexibiliza contratação de terceirizados e anima empresários. Pelo projeto, qualquer atividade poderá ser terceirizada.

22/06 – Temer e os patrões – a flexibilização da CLT entra na pauta do governo Temer. Proposta prevê que acordos coletivos se sobreponham a leis trabalhistas.

27/06 – Temer e os investidores – Temer manda privatizar geral. A frase literal do presidente interino foi a seguinte: “Senhores, tudo que puder ser transferido à iniciativa privada, façam. Não temos preconceitos!”.

28/06 – Temer e os servidores do Senado – O presidente em exercício, Michel Temer, sancionou com vetos lei que reajusta em 21,3% a remuneração dos servidores do Senado Federal.

03/07 – Temer e os Deputados e Senadores – Temer acelera liberação de verba para emendas de parlamentares – Michel Temer decidiu acelerar o desembolso de verbas de interesse direto de congressistas.

21/07 – Temer, o Ministério Público e Poder Judiciário – Temer sanciona sem vetos reajuste de 41,5% para Poder Judiciário – Michel Temer sancionou propostas que concedem reajuste salarial de 41,5% para servidores do Poder Judiciário e de 12% para funcionário do Ministério Público.

28/07 – Temer, TCU e Foças Armadas – o “Diário Oficial” trouxe a sanção das leis que aumentam os salários do quadro de pessoal do Tribunal de Contas da União (TCU) e dos militares das Forças Armadas.

29/07 – Temer e os servidores da Câmara dos Deputados – Temer sanciona reajuste de salário dos servidores da Câmara – O aumento também será aplicado aos proventos de aposentadoria e às pensões sujeitos a reajustes com base na remuneração do servidor ativo.

02/08 – Temer e o Judiciário Estadual – Michel Temer, cedeu a pressões de juízes, procuradores e outros grupos de funcionários públicos e concordou em livrar parte dos benefícios que eles recebem dos limites impostos pela legislação aos gastos com pessoal dos Estados.

O sucesso da estratégia

04/08 – Editorial da Folha “Falta pouco” em que comemora o iminente impeachment da presidente Dilma e se desdiz de anteriormente ter sugerido a renúncia de Temer, afinal a história não anda para trás”:

“com hesitações e tropeços, a Presidência interina de Michel Temer (PMDB) logrou recuperar certa estabilidade… Um mesmo compasso de espera, embalado por expectativas mais otimistas na sociedade, caracteriza o ambiente econômico.”

Fodido e mal pago – quem paga o pato e a festa

Temer e os trabalhadores – da mesma Folha em 29/07 – O desemprego do país avançou para 11,3% no segundo trimestre, informou o IBGE… O rendimento real (descontada a inflação) dos trabalhadores foi de R$ 1.972 no trimestre, queda de 1,5% em relação aos três meses anteriores (R$ 2.002) e recuo de 4,2% ante o mesmo período de 2015 (R$ 2.058).

FHC, o general Geisel e o risco de 2018 não acontecer

Também são dadas como certas, após a deposição de Dilma, a reforma da previdência estabelecendo idade mínima, a mudança nas regras para o salário mínimo e a desvinculação de benefícios, tais como a aposentadoria dos trabalhadores da iniciativa privada.

Nada disso é exatamente novidade. Isso era o governo FHC. E foi justamente esse tipo de governo que levou Lula ao poder.

E aqui mora o risco de 2018. Pouco adiantaria prender ou inviabilizar Lula. Pouco adiantaria a criminalização de movimentos sociais. Pouco adiantaria culpabilizar Dilma. Pouco adiantaria uma proteção midiática a Temer.

Seria inevitável a comparação do momento atual com os anos Lula e o desejo de volta àquele modelo de governo. Ainda que com um nome que não Lula, mas com seu apoio.

Com eleições, é um homem, um voto. E, pelo que se nota das manchetes acima, no governo Temer, os fracos não tem vez. Mas os fracos são a maioria.

Quem investiu tanto esforço, deu a cara a conhecer como golpista e está ganhando com isso, não o fez para apenas dois anos. Para manterem-se no poder, será necessário retirar dos fracos até o voto e instituir à força algum tipo de “democracia sem povo”.

Uma “democracia relativa” também não seria novidade, voltaríamos aos anos Geisel.

 

PS: este fim de semana, na Oficina de Concertos Gerais e Poesia, seminário sobre o conceito de “Eterno Regresso” e promoção especial do livro “Não verás país nenhum”.

Redação

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