Indústria e sindicatos contra a invasão dos importados

Do Estadão

Empresas e centrais cobram ação do novo governo contra importações

20 de dezembro de 2010 | 0h 00

Marcelo Rehder – O Estado de S.Paulo

Sob ameaça da invasão de importados, capital e trabalho deixaram as diferenças de lado para juntar forças numa cruzada em defesa do produto brasileiro. A aliança entre representantes das indústrias e das centrais sindicais começou a ser articulada nas mesas de negociação salarial, avançou em reuniões setoriais conjuntas e deve ganhar força no início de 2011, com a posse do governo Dilma Rousseff.

Empresários e sindicalistas pretendem convencer o novo governo a adotar medidas de proteção contra as importações e de incentivo fiscal e tributário a setores afetados pelo avanço do processo de substituição da produção local por estrangeiros. Entre eles, estão a cadeia de abastecimento do setor automotivo, bens de capital, eletroeletrônicos, calçados e têxteis.

“Queremos falar com a presidente Dilma, a equipe econômica e os parlamentares para mostrar o mal que isso está causando à economia “, diz o presidente da Força Sindical e deputado federal, Paulo Pereira da Silva.

A ideia é ter um diagnóstico sobre a situação e identificar os setores afetados, além da apresentação de propostas. Nesse sentido, os presidentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, e da categoria em São Paulo, Mogi das Cruzes e Região, Miguel Torres, vão propor hoje ao presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, eventos para debater a competitividade da indústria nacional.

“Estamos pensando em promover, entre janeiro e fevereiro, um debate com esse tema reunindo a visão dos trabalhadores, dos empresários e do governo”, conta Nobre. “Num momento como este, não dá para cada um ter a sua agenda. É necessário ter uma agenda única, um diagnóstico comum das medidas importantes para reverter o quadro.”

A atuação conjunta do capital e do trabalho faz sentido. Nas negociações salariais deste ano, os trabalhadores chegaram a conquistar aumentos superiores a 6% além da inflação. Mas o ganho poderia ter sido maior. “As empresas alegam que perdem competitividade com o aumento dos salários”, afirma Torres.

Os sindicalistas temem que, no caso de uma eventual reviravolta no mercado interno, as empresas, além de importar, passem a demitir. Há preocupação ainda sobre os novos investimentos e a criação de empregos.

Um exemplo é o da Usiminas, que desistiu de construir uma usina no Vale do Aço, em Minas Gerais. A unidade, que estava embargada desde a crise internacional, teria capacidade para produzir 5 milhões de toneladas por ano e exigiria investimentos de US$ 6 bilhões. “Se somar a importação direta e indireta de aço este ano, estamos falando de 10 milhões de toneladas, o que representa quase duas Usiminas”, afirma o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes. 

Mais emprego entra como contrapartida

Centrais querem em troca do apoio ao movimento contra importações que empresas contraem mais e ofereçam garantias trabalhistas

20 de dezembro de 2010 | 0h 00

Marcelo Rehder – O Estado de S.Paulo

As centrais sindicais querem metas de emprego como contrapartida de empresas e setores industriais aos benefícios tributários e medidas de retenção de importações que possam ser adotadas pelo governo. “Queremos garantias de geração de empregos decentes, como carteira assinada, além do compromisso de combate à precarização do mercado de trabalho”, afirma o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique.

O sindicalista ressalta que, desde o início do primeiro mandato do governo Lula, a CUT tem cobrado a exigência de contrapartidas sociais em todos os financiamentos, investimentos e pacotes de incentivo mantidos com verbas públicas. “É um erro usar dinheiro público para ajudar empresários que demitem e que recorrem, por exemplo, ao trabalho escravo ou infantil.”

Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Mogi das Cruzes e Região, entidade ligada à Força Sindical, acrescenta a necessidade de se garantir os investimentos em qualificação profissional e manutenção do nível de emprego. “A qualificação agrega valor na mão de obra”, diz Torres.

Centrais sindicais e representantes da indústria resolveram juntar forças para pressionar o governo da presidente eleita Dilma Rousseff a tomar medidas para frear o processo de substituição de produção local por produtos importados. As conversas ainda não chegaram à definição de propostas concretas para atacar o problema.

“O comportamento das importações este ano demonstra um forte desequilíbrio que tem prejudicado a indústria nacional e a geração de empregos no País”, observa Torres. “O agravamento desse quadro poderá, no curto prazo, gerar desemprego.”

Invasão de veículos. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sergio Nobre, ressalta que as importações de veículos devem passar de 600 mil unidades este ano. O volume, segundo ele, equivale à produção de uma fábrica de grande porte.

Segundo informações do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos (Dieese), se esses veículos fossem produzidos no País, seriam gerados mais de 15 mil empregos diretos na montadoras e 75 mil indiretos em toda a cadeia produtiva.

Calçados. A indústria calçadista fechou 5 mil vagas no mês passado, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso, essa queda está diretamente ligada ao aumento das importações de países como Malásia, Indonésia e Vietnã, que foi de 26% de janeiro a novembro deste ano.

“Embora os dados mostrem redução na importação de pares, a compra de cabedais e outras partes de calçados disparou neste ano nos países que estão sendo monitorados”, diz Cardoso.

Para o presidente da Abicalçados, isso é indício de triangulação, com a compra de componentes para montagem dos calçados em solo brasileiro.

“As empresas asiáticas que exportam grandes volumes para o Brasil se utilizam da venda de calçados desmontados para driblar a aplicação do direito antidumping, que atualmente vale somente para calçado pronto.” 

Luis Nassif

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