Janja e Michelle Bolsonaro, a sabida e a esperta, por Luis Nassif

Janja tem pique e conhecimento para deixar uma obra de peso. Mas tem que ser mais esperta. E ser mais esperta significa, acima de tudo, mais discreta.

Janja é formada em sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem especialização em história e MBA em gestão social e sustentabilidade pela Universidade Positivo. É sabida, mas não é esperta.

Michelle Bolsonaro tem ensino médio, mas formou-se em política na melhor escola técnica do país, o Congresso. Não é sabida, mas é esperta.

Como esposas de presidentes, cada qual cumpriu um papel diferente na campanha.

Michelle comportou-se como a esposa discreta, ajudando a humanizar o ogro. Não se envolveu em atos de governo, não se comprometeu com os desatinos do marido. Vestiu o figurino da evangélica fervorosa, da esposa bela e recatada, soube delimitar seu público, os mais críticos perceberam que seu fervor era encenação, não se expôs junto à mídia. Ficou mal vista pelas feministas e mulheres modernas, mas tornou-se uma referência para seu público eleitor. Vários candidatos eleitos – como Damares Alves – devem sua vitória ao papel central de Michelle.

Janja se comporta com a esposa moderna. Em um primeiro momento, representa o grito de libertação da mulher, em uma quadra da história dominada pelo machismo mais entranhado, emanado do ogro que habitava o Planalto. Também, tem o grande mérito de fazer Lula muito feliz, e o estado de espírito de um presidente da República é essencial para enfrentar os problemas gigantescos de reconstruir o país.

Dir-se-á que, nos tempos atuais, não é papel da esposa apenas servir de apoio moral ao marido. Plenamente de acordo! O detalhe essencial é que se trata do presidente da República. Se Dilma Rousseff ainda estivesse casada, quando na Presidência, esse mesmo comportamento se cobraria do marido. Primeiras esposas e primeiros maridos não foram eleitos pelo voto popular.

Significa que tem que ser uma esposa passiva? Longe disso. Se Lula não fosse o presidente, seria o casal dos sonhos, com homem e mulher atuantes, de um lado o marido, com a sabedoria e o peso da idade, do outro a jovem esposa, com a energia e a vontade de realizar dos mais jovens, empurrando o marido para a frente e para a contemporaneidade.

No poder, pode cumprir a mesma função, mas de forma diferente. Tem que ser uma esposa discreta, que saiba delimitar sua área de atuação, sem buscar os holofotes e sem se intrometer publicamente nas questões de Estado. Na intimidade do Palácio, terá todas as condições de conversar de igual para igual e até influenciar Lula.

Em menos de uma semana de poder, Janja apareceu na Globonews, no Fantástico, no Altas Horas, tem um Instagran “espelho, espelho meu”. Enquanto inunda os Palácios com seu pique e jovialidade, sem perceber está sendo cozinhada em fogo brando.

  1. Há uma tradição de várias eleições, do Itamarati enviar convites às redações, permitindo um certo número de jornalistas na recepção, circulando entre e como convidado. Janja conseguiu se indispor com quase toda a imprensa ao se intrometer na recepção do Itamarati, comandar a lista de convidados e proibir jornalistas fora do cercadinho. Na verdade, a decisão de aceitar apenas jornalistas credenciados, e não convidados, foi de José Crispiniano, assessor particular de Lula, conforme ele me informa. Mas a conta foi para Janja.
  2. Também quis comandar a lista de convidados. Entre outros, ficaram de fora o ex-Ministro Sepúlveda Pertence, o ex-presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. São apenas dois, de uma lista enorme de esquecidos. Culpa dela? Segundo Crispiniano, não. Mas a conta foi para ela.
  3. Ao compor a lista, vetou a participação de alguns jornalistas, sob o argumento de terem feito reportagens depreciativas contra ela.
  4. Seus modos, um tanto autoritários, já criaram resistência em vários setores internos do PT.

Por enquanto, esse mal-estar é varrido para baixo do tapete, com receio dos jornalistas e assessores de entrarem na alça de mira e atrapalhar seus contatos com autoridades. Mas é questão de tempo para a panela ferver.

Por não ter chegado, ainda, no ponto de fervura, é um bom momento para que algum conselheiro sabido e esperto acorde Janja para os riscos políticos em que está incorrendo. Em breve, qualquer problema, mal entendido ou erro de Lula serão atribuídos a ela, como ocorreu com a recepção do Itamaraty.

O Brasil tem dois grandes exemplos de mulheres modernas, atuantes e que deixaram sua marca: Ruth Cardoso e Ana Estela Haddad. Poucas pessoas sabem que Ana Estela foi a principal responsável pelo programa Brasil Sorriso, de atenção dental às crianças. Tem também exemplo de uma grande mulher que se comportou como apoio moral do marido, à moda antiga: dona Marisa.

Janja tem pique e conhecimento para deixar uma obra de peso. Mas tem que ser mais esperta. E ser mais esperta significa, acima de tudo, mais discreta.

@janjalulaoficial

Não importa se você afina ou desafina. Ontem, milhares de pessoas soltaram a voz, sem medo de ser feliz, na Cinelândia. Foi lindo, Rio de Janeiro! Até a próxima. #lula #lulaejanja #semmedodeserfeliz #DuetoComJanja #dueto

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Você nunca me abandonou, isso é prova de amor! 🎥Ricardo Stuckert #lulaejanja #lulaejanja♥️⭐️ #provadeamor @lulaoficial

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Luis Nassif

39 Comentários

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  1. Artigo super machista , querendo ditar comportamentos baseado no passado. Eu, po exemplo, acho péssimo que não se tenha conhecimento que a Ana Stella esteja por trás de um programa desse porte sem ser valorizada por isso..

  2. Saudações, querido Nassif. Brilhante, como sempre. Pois é, a vaidade é uma péssima conselheira. Não é a toa que Ela (vaidade) consta nas lista dos sete pecados capitais.

  3. Foi constrangedora a cena da Janja na primeira reunião ministerial do novo governo, circulando pela sala, conversando com as autoridades do país. Ela não foi eleita para nada e não tem cargo nenhum no governo. Se manca Janja, o governo não é seu. Daqui a pouco ela vai demitir ministros. Isso vai acabar mal, muito mal.

  4. O conselho já foi dado. Estão (Globo principalmente) dando corda pra depois enforcar. Quem conhece o poder sabe explorar as vaidades pessoais. Elogios desmedidos, tapinhas nas costas, beijinhos falsos para agradar. Se a pessoa gosta de holofotes vão expor e depois puxar o tapete vermelho. Na cerimônia de posse, a Globo sabia apenas o nome de Raoni e perceberam quem manteve corretamente manteve em segredo a informação. Como dizia Tom Jobim, o Brasil não é para amadores.

  5. Sou mulher e tenho muitas décadas de vida. A hybris grega alerta sobre determinadas ações, faz bem conhecer e re-conhecer ou revisitar. Desde os primeiros momentos, venho observando Janja, mais por suas falas e ações do que pelo que escrevem dela. Concordo com tudo isso que Nassif escreveu. E Janja tem méritos individuais para não se “deixar perder” por gente interesseira, sejam artistas, canais de TV etc.Lula, experiente político, deve estar lhe fazendo enxergar a roda da política e, quem sabe, Janja refletirá mais sobre isso.

  6. Pensava que bastava uma vez ao dia mas, pelo que tenho visto, seria bom que ela tomasse um chá se Simancol 3 (três) vezes ao dia. Enquanto é tempo.

  7. Até pode estar tudo correto o que escreves, mas me incomoda a questão de fundo: discutir o papel “adequado” para a esposa do Presidente. E isso é extremamente machista.

  8. Desculpa mas, tá parecendo coisa de jeca. Como disse alguém aí: Deslumbrada com o poder só porque dorme com o poder.

    Só faltará estar no BBBBB25 ou auxiliando Ana Maria a fazer bolo … que resista a tentação …

  9. Que vergonha um homem escrever sobre como uma mulher deve ou não se comportar e pior, compara-la a outra mulher. Quem ainda se coloca nesse posto de alertar as mulheres mostra um machismo estrutural de uma sociedade velha que não quer mudar. Sinto muito!

  10. Creio que no caso de Janja há uma junção entre ego e deslumbramento que com o tempo só pode ter como resultado a queda da ególatra deslumbrada…

  11. Esse pessoal tem que saber que não existe meio de comunicação, existe empresa (lucrativa) de comunicação.
    E essa empresa ganha na alta (criando fama) e na baixa (jogando na lama).
    As empresas (lucrativas) de comunicação ganharam audiência colocando o Lula na prisão e agora ganham audiência expondo sua esposa. Amanhã, continuarão correndo atrás de audiência para ganhar dinheiro, seja incensando ou execrando a bola da vez.
    É do jogo. Só não pode achar que a chamada grande imprensa é meio de comunicação, ela é meio de fazer dinheiro – e isso também se faz com o poder de levantar e derrubar pessoas.
    Tem que saber jogar, ou seja, usar o meio sem ser usado por ele.
    E, concordo com o Nassif, excesso de exposição abre enormes flancos.

  12. Janja tem que ter muito cuidado com a superexposição. Foi corretíssimo usar o jornalismo da Globo para denunciar o estado deplorável que os Bozos deixaram o Palácio do Alvorada. Mas, para que aparecer em programas de entretenimento, como Altas Horas? Janja, a Globo não merece confiança. Nenhum órgão da mídia empresarial. Já não basta o que fizeram com Lula?

  13. Parece que o grande problema não é ser mulher do presidente. O problema é ser mulher.
    Se o presdente Lula fosse homossexual será que os conselhos seriam os mesmos para o seu parceiro?

  14. Com todo respeito ao Nassif, o artigo parece orientador, porém demonstra um teor machista, a começar pelo título. Não há comparação. Penso que, se necessário, deverá ter adequação de papéis. No entanto, não na linha “a primeira-dama não deve criar problemas ao marido presidente” (aspas minhas). Ademais, o “primeirodamismo” da Michele, não deve ser exemplo para nenhuma mulher. O desempenho de Janja será discutível e, talvez, signifique incômodos. Mas, sigamos democraticamente. Gracias!

  15. Li e concordei com as argutas observações.
    Por outro lado li também os comentários.
    Acusações feministas mil… Gente que não sabe do que e sobre o que está se falando.
    …A pauta identitária “és una mierda”.

  16. Os alertas são pertinentes: cuidado com o excesso de sabedoria e esperteza. As armadilhas estão soltas e nesse meio, então. Vejo q esses conselhos servem para nós, também, inclusive, para o autor.

  17. Considero o título e o conteúdo do artigo sobre Janja um tanto quanto machista. Sabida versus esperta? Os homens nunca são questionados pelo seu jeito de ser, mas as mulheres sempre. São questionadas pela sua aparência, e sempre convidadas a se retirar da cena pública, porque incomodam… Janja encontrará certamente a sua forma de contribuir com o momento histórico atual, e não é o caso de querer confiná-la à alcova e à discrição do lar. Cada qual com o seu estilo… Mais respeito e consideração com as mulheres, é o que todas queremos!

  18. Parabéns Nassif. De fato, este primeiro damismo execrado pé Janja não apresenta renhiam contribuição para o campo progressista. Brasília, adora quem aparece mais do que deve e se quer foi eleito(a) pelo voto. Saudade da Dona Marisa.

  19. Também tenho a incômoda impressão do deslumbramento. E sabemos que uma coisa que é sempre certa nos meios palacianos é a intriga que sempre acompanha a lisonja. É importante sempre ter comedimento e ter um olho no peixe e outro no gato.

  20. A comparação é descabida. São estilos e visões de mundo antagônicas. Afirmar que a ex primeira dama teve papel político relevante é forçar a barra. A Damaris seria eleita com ou sem a ajuda da ex primeira dama. Não é a primeira vez que o Nassif escreve sobre a Janja. Ele me parece visivelmente incomodado com o protagonismo da Janja.

  21. Katia Gonçalves, o Nassif já usou a dicotomia “sabido” versus “esperto” para homens também. Foi num artigo antigo aqui no blog, não me lembro qual. E fora alguns escorregões machistas, o teor do artigo está perfeito. Em suma: olho vivo, sabedoria e cuidado com o deslumbramento. Estamos lidando com inimigos de classe (grande mídia).

  22. A Janja é a esposa do Presidente da República. Não foi candidata ou eleita a nada. O candidato foi Lula e nele é em quem votamos. A esposa pode ser um apoio, jamais sobrepujar ou avançar os limites. Afinal, não é autoridade constitucional. Creio que logo ela vai entender como deve se comportar, afinal é uma pessoa com excelente formação acadêmica e não pode deixar-se levar pelas vaidades e soberbas do mundo político.

  23. Pelo andasr da carruagem, a Janja está para Carluxo no governo do Bozo.
    Carluxo cabeção era inconveniente em público e em particular, exercendo poder atrás do trono e conspirando contra o povo dia e noite. Governou pelo pai. Janja não chegará a tanto. A globo vai desiludi-la “neshtante”. Corroboro o comentário do Rafael, tão verdadeiro que copiei como citação:”….não existe meio de comunicação, existe empresa (lucrativa) de comunicação. E essa empresa ganha na alta (criando fama) e na baixa (jogando na lama). As empresas (lucrativas) de comunicação ganharam audiência colocando o Lula na prisão e agora ganham audiência expondo sua esposa.” Que a Janja aproveite bem essa janela de fama antes que vire lama.

  24. Artigo com ranço insuportável de machismo.

    Lugar de mulher é onde ela quer.

    Cara, cada um tem um estilo. Cada um deixa sua marca. Não tem essa de “modelo” de mulher, nem de primeira-dama.

    Alguns podem pensar que você, como jornalista, deve opinar menos do que ela como esposa do presidente eleito.

    Viva o protagonismo de Janja.

  25. E, só mais um lembrete: antes de ser esposa do presidente, Janja é cidadã brasileira. Por que deveria circunscrever sua atuação e opinião à “intimidade do Palácio”?

  26. A Janja tem um marido e ele é o presidente da república. Aliás, presidente pelo seu terceiro mandato. Isso significa que é um homem experiente no que se refere “primeira dama”, por tanto cabe a ele, Lula, “cortar” os excessos da Janja, caso entenda assim. Quanto ao protagonismo dela, tenho uma opinião particular. Minha impressão é dela achar na obrigação de ajudar o Lula, dado que ele não tem mais tanta vitalidade como no mandato anterior. Não devemos esquecer que Janja está só na primeira semana. Entendo perfeitamente o que Nassif quis alertar. Nem daria o nome disso de machismo, dado que ele é rodeado de mulheres fortes e não cairia nesta esparrela. Apenas fez um alerta a respeito de como a direita consegue transformar qualquer coisa, mesmo as mais positivas, a seu favor.

  27. Não vi nada de machismo no texto de Nassif, mas cuidado. Como já disse na minha página no face “Fique bem informado” eu acho Janja uma adorável mulher, no entanto, ela não é a protagonista do Governo ela é apoio. O protagonista em questão é o Lula.

    Penso que ela pode continuar sim fazendo as coisas que faz, mas com mais discrição, pois a mídia qdo quiser atacá-la vão fazer isso sem dó e piedade e não somente a mídia,mas dentro da política vinda principalmente da oposição.

  28. Nassif, admiro seu trabalho como jornalista, mas achei estranho você repetir os mesmos preconceitos da Eliane Cantanhêde sobre a Janja. Você precisa superar o fato dos blogueiros e jornalistas progressistas não terem sido lembrados para a recepção no Itamaraty.

  29. Obrigada Nassif. Esta senhora já rompeu todos os protocolos com sua egocentrica presença em eventos e reuniões de estado q não competem ás suas atribuições já q claramente não é parlamentar ou fincionária do governo federal. Passar folha de discursos para um presidente dá a idéia de q ele/a tenha perdido sua agilidade física. Caminhar de braços dados com um ministro da Suprema Corte após uma crise de estado é quebrar todos os protocolos. È um caso de competição pelos holofotes. Comparações com casos similares seriam muito inapropriadas para se fazer agora. E, que seu nome seja usado em vez de um apelido cuja informalidade é incompatível com a função. É importante q apaguemos a herança de Evitas e Isabelistas. O populismo é um permanente desafio para a América Latina.

  30. Janja é alegre, comunicativa e acima de tudo é sensível e tem um imenso coração. Ela já é quase uma pessoa idosa, acho que tem pouco mais que a idade de D. Marisa no primeiro mandato de Lula. Por que criticá-la ? Ela é espontânea. Ela me alegra também, O Brasil precisa de alegria. O mundo precisa de alegria. Claro que ela comete seus erros, que nem eu, que nem todos nós cometemos. Mas por que não se dirigir diretamente a ela em vez de comentá-los assim em público ? Ela merece todo nosso apreço porque é a esposa do nosso querido, o maior de todos, o nosso herói, o grande LULA.

  31. Ninguém vai criticar a Janja pela “quebra de protocolo” do Biden ao entrar de mãos dadas com ela, na Casa Branca?!!!!
    São tantas as críticas sobre “quebra de protocolo” que imaginei que essa fosse entrar aqui também, na conta da Janja.

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