Javier Milei emula Trump e Bolsonaro para tentar vencer 2º turno na Argentina

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Enxurrada de notícias falsas, apoio midiático e comportamento oscilante de Milei marcam campanha para o 2º turno no país

O economista Javier Milei apela para notícias falsas, comportamento extravagante e menos violência para tentar reverter derrota no primeiro turno. Foto: Reprodução/programa de Esteban Trebucq
O discurso do presidente eleito seguiu no mesmo tom com relação ao que vinha defendendo em sua campanha. Foto: Reprodução/programa de Esteban Trebucq

Uma semana depois do primeiro turno ser vencido por Sergio Massa (União pela Pátria), a Argentina passou a conviver com a campanha do ultraliberal Javier Milei (A liberdade Avança) para o segundo turno, marcado para o dia 19 de novembro, emulando Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, no Brasil: ‘fake news’ sobre fraude eleitoral, convocação para marchas patrióticas e o comportamento 

No fim de semana, usando uma conta falsa de um canal de televisão, a campanha de Milei, com o apoio do ex-presidente Maurício Macri, alegou que o candidato a vice-presidente de Massa, Agustín Rossi, havia pedido para bater em Milei. 

Uma outra postagem dava conta de que uma empresa chinesa interveio nas eleições. Como não poderia deixar de ser, que Massa queria dar um bônus “à comunidade LGTBI” e que o jogador de futebol Lionel Messi criticou o atual governo do qual pertence Massa.

https://twitter.com/lgalup/status/1718831208857997527?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1718831208857997527%7Ctwgr%5E734cf8ebb9945cd11609f32ea709a03e052d8351%7Ctwcon%5Es1_c10&ref_url=https%3A%2F%2Factualidad.rt.com%2Factualidad%2F486069-cambio-campana-milei-influjo-macri

Associado a essa enxurrada de notícias falsas, Milei passou a dar entrevistas em que se mostra mais vulnerável, menos agressivo, até mesmo errático, muito diferente da imagem do homem descontrolado com uma motosserra.  

O candidato de extrema-direita concedeu entrevista ao jornalista Esteban Trebucq, no final da semana passada, e diante das reações de Milei, que chegou a dizer que estava escutando vozes e até chorou, os argentinos chegaram a especular sobre a saúde mental do presidenciável.  

Donald Trump e Jair Bolsonaro acumularam atuações do gênero em debates presidenciais e presenças em programas de entrevistas, incluindo choros inesperados e oscilações de humor, partindo de uma postura de vítima dos opositores para ataques generalizados.

Nova estratégia

A estratégia, conforme comentários no jornal Página 12, sobretudo após Macri declarar apoio a Milei, tem sido a de mostrar um candidato mais sereno, longe das atitudes violentas que o tornaram famoso e que prejudicaram seus votos. Um Milei menos virulento, mais vulnerável e quase uma vítima do “sistema”. 

Neste domingo (29), seguidores de Milei convocaram uma marcha no centro de Buenos Aires para denunciar uma suposta “fraude” no primeiro turno, pedir para que observadores internacionais estejam no país durante o segundo turno  e exigir a renúncia de Massa do cargo de ministro da Economia.

A mobilização foi um fiasco e aconteceu no mesmo horário e no mesmo local onde milhares de pessoas se fantasiaram de Homem-Aranha para quebrar um recorde mundial. “O Homem-Aranha trouxe mais gente que Milei”, escreveram nas redes sociais. 

Mídia antiperonista 

A mídia antiperonista tem se esforçado para ajudar Milei. Na noite deste domingo (29), o jornalista Luis Majul entrevistou Milei no La Nación +. Na aparente vontade de ajudar o presidenciável, o comunicador perguntava e respondia ao mesmo tempo, ou completava as declarações do seu convidado. As redes sociais não perdoaram. 

“[Milei] parece estar aprendendo, depois do golpe de domingo (primeiro turno). Parece mais disposto a ouvir. Recuperou o eixo da conversa: continuidade ou mudança”, escreveu o jornalista ao elogiar o candidato após a entrevista. 

Embora parte da imprensa antiperonista ajude Milei, Macri optou por aderir à campanha com uma série de entrevistas nas quais insiste que a extrema-direita é a única opção para “acabar com o Kirchnerismo”.

No entanto, suas declarações causaram polêmica porque ele reconhece que votar em Milei “é como pular de um carro em movimento sem saber se será salvo”. Ele também culpou sua filha de 11 anos por sua decisão. “Antonia me disse: pai, não tem alternativa, você tem que apoiar Milei”, disse ele.

Pacto entre Macri e Milei 

O pacto entre Macri e Milei foi selado na última terça-feira (24), apenas dois dias após o primeiro turno, na casa do ex-presidente, embora já tivessem mantido uma série de contatos anteriores.

Participaram do encontro Patricia Bullrich, ex-candidata presidencial do Juntos pela Mudança, coalizão da qual participou Macri e que, pela decisão de apoiar Milei, estava à beira de se desintegrar.

Vários dos líderes do Juntos pela Mudança criticaram duramente Macri e Bullrich, mas os seguidores mais leais juntaram-se no apoio a Milei, apesar de até poucos dias atrás o terem descrito como “louco”, “antidemocrático” e “violento”. 

Mas todas essas reclamações foram deixadas para trás. 

Agora os macristas repetem que “Milei pode ser controlado”, que “não há possibilidade de ele controlar os Três Poderes”, que ele não tem capacidade de impor a sua agenda. Algo muito semelhante ao que a direita e os liberais achavam a respeito de Jair Bolsonaro, nas eleições brasileiras de 2018.

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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