Joaquim Levy vale quanto pesa?

 
Por Victor Hugo Agudo Romão
 
A nomeação de Joaquim Levy como Ministro da Fazenda ainda em 2014 teve o intuito de reduzir a radicalização e polarização política que o país viveu durante as eleições presidenciais. No cálculo político, um nome do mercado, com formação na meca mercadista Universidade de Chicago, selaria a paz com o mercado financeiro e a reboque com seguimentos importantes da mídia.
 
Ademais, a deterioração fiscal no último quadrimestre de 2014, fruto muito mais da queda e investimento da Petrobras e dos preços das commodities do que de gastança pública, ameaçava o país com a perda do “investment grade”, o que poderia elevar os custos de captação das empresas no exterior. Joaquim Levy no Ministério da Fazenda era visto como uma forma de evitar a perda do grau de investimento.
 
As desonerações não haviam alavancados os investimentos das empresas não-financeiras do país, levando a níveis inéditos de liquidez. A ideia seria que um ministro pró-mercado poderia trazer as condições subjetivas para o investimento.
 
Os primeiros 10 meses de Levy como ministro mostraram como eram ingênuos os cálculos políticos e econômicos da Presidenta da República.

 
O mercado financeiro apoia a permanência de Levy como ministro e tardiamente também esboçou alguma contrariedade ao golpe paraguaio do impeachment. Mas nada próximo de permitir um pacto de governabilidade ou de compensar a perda de eleitores progressistas que deixaram de apoiar Dilma. Enquanto isso, a mídia não só reduziu as críticas ao governo, como passou a atuar de forma raivosa e golpista.
 
Mais grave do que isso tem sido a participação do Coaf e Receita Federal no estado policial que vem afetando a estabilidade política do país. Não é possível afirmar que os vazamentos do Coaf contra o ex-presidente Lula foram retaliações de Levy às críticas do ex-presidente ou se perdeu o controle sobre o Ministério da Fazenda. Pouco importa, se por revanche política ou por incompetência, o fato é que o Ministério da Fazenda passou ser um ator de instabilidade política com vazamentos nada republicanos.
 
Joaquim Levy também fracassou em evitar a perda do grau de investimento pela S&P e do ratings das demais agencias. Na prática, o país já paga juros muito mais altos que países que não possuem o tal “selo de bom pagador”. O Brasil paga hoje juros de 15,8% nos títulos de 10 anos, acima da Argentina (4,8%), Bulgária (2,79%), Croácia (4,23%), Egito (15,41%), Hungria (3,45%), Paquistão (8,85%), Portugal (2,57%) e até mesmo a Grécia (7,91%), todos países com ratings piores do que os brasileiros.
 
A quinta maior recessão da história brasileira e a desastrada política de juros do Banco Central tem produzidos estragos muito maiores do que a perda do grau de investimento.
 
Joaquim Levy perde de Guido Mantega e Arno até mesmo quando olhamos para as contas públicas. O déficit primário de 2015 chegará a 0,8% do PIB, quase o dobro daquilo que recebeu de Arno Augustin.
 
Joaquim Levy certamente justifica os seus inúmeros fracassos pela difícil situação fiscal que recebeu. Mas é bom lembrar que dos 182 países que o FMI disponibiliza estatísticas fiscais, 114 deles tiveram déficits primários maiores do que o Brasil (-0,58%), incluindo a própria China (-0,595%), Uruguai (-0,615%), África do Sul (-0,675%), Rússia (-0,749%), Indonésia (-0,827%), Argentina (-1,01%), Holanda (-1,12%), Canadá (-1,27%), Chile (-1,37%), Austrália (-1,87%), França (-1,92%), México (-1,94%) e Estados Unidos (-2,035%).
 
Desses 114 países que tiveram déficits primários maiores que o Brasil, quantos deles registrarão uma recessão de mais de 3% em 2015?
 
Se a ideia com a nomeação de Joaquim Levy era recuperar as condições subjetivas para o investimento, os desastrados arrochos fiscais e monetários destruíam as condições objetivas para o investimento ao aniquilar com qualquer vigor da demanda. No 2º trimestre de 2015, a formação bruta de capital fixo desabou 11,9% na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.
 
Diante dos dados, é possível dizer que Joaquim Levy vale o quanto pesa? Ainda é justificada sua escolha como ministro?
Redação

13 Comentários

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  1. Bom texto, mas e as opções?

    Acho que no momento atual, retirar Levy seria usar gasolina para apagar a fogueira. Talvez o mais sensato seria trocar o comando do BC por alguém com uma cabeça menos monetarista, com visão de macro, dando uma pseudo-independência. Tombini não mostrou serviço e tem trabalhado para aumentar esse déficit e a recessão.

  2. Quem colocou o “Cavalo de Tróia” Lá????

    Não acredito que seja o Governo, PT ou e aliados, pois um erro inocente destes é de dar raiva.

    “Ademais, a deterioração fiscal no último quadrimestre de 2014, fruto muito mais da queda e investimento da Petrobras e dos preços das commodities do que de gastança pública, ameaçava o país com a perda do “investment grade”, o que poderia elevar os custos de captação das empresas no exterior. Joaquim Levy no Ministério da Fazenda era visto como uma forma de evitar a perda do grau de investimento.”

    Esta avaliação está certa mas com resoluções para o problema equivocados. Vejo que aprovar a CPMF num modelo desenvolvimentista mais fácil do que num modelo de crise.

    O modelo a ser seguido pelo Brasil é o modelo americano. Os EUA fabricam dinheiro o Brasil tem juros elevados para reduzir e uma demanda interna grande e reprimida.

  3. Meu deus! Se o mercado tivese

    Meu deus! Se o mercado tivese ficado um tantinho só mais “nervoso” nesse período alguém acredita que esse goveno ainda estaria de pé?!

    Além do mais – já que virou chateação mesmo – não me canso de lembrar que o ano de 2014 terminou com emprego recorde, emprego recorde e inflação dentro do combinado.

    Se medidas simples de recomposição de receitas tivessem sido tomadas no primeiro trimestre hoje a vida estaria seguindo em frente. Não o foram por causa da chacrinha política; por causa de uma oposição e uma imprensa que não aceitam resultado de eleições e de vacas togadas que propositamlmente tumultuam a estabilidade política.

    Sem falar, é claro, na mobilização de um dos maiores escroques da política nacional pra derrubar um governo eleito “em nome da moral” e contra a “doutrinação marxista”…

    … É o “suguem, suguem o que puderem e depois venham pro nosso lado” que pesa e vale. É esse o arranjo da Nova República. O estamento financeiro está com o “burro na sombra”. Se não estivesse…

  4. Concordo inteiramente. Esse

    Concordo inteiramente. Esse ministro já deu. Temos que abaixar a Selic para patamares aceitáveis imediatamente e fixar uma taxa de câmbio na faixa dos 2,90 a 3,30, de modo a combater inflação ao mesmo tempo que garantimos alguma competitividade cambial a indústria. 

      1. Estabelecer um sistema de

        Estabelecer um sistema de controle do câmbio semelhante ao Chinês. http://economia.uol.com.br/noticias/efe/2015/08/12/banco-central-da-china-volta-a-diminuir-taxa-de-cambio-de-referencia-do-iuane.htm

        Inclusive instituindo barreiras ao capital especulativo, e controles em relação a saída de capitais, como é feito em qualquer lugar do mundo. As medidas acima já foram discutidas no blog do Nassif, onde se mostrou que a combinação de câmbio flutuante e liberação total do fluxo de capitais não é interessante para o país. O maior exemplo disso é a China. 

        1. Okay
           
          Mas tome mais cuidado

          Okay

           

          Mas tome mais cuidado proque há diferenças entre “controle de capitais” e “fixação de câmbio”.

          Me parece que vc disse fixar câmbio o que eu acho contraproducente. O ideal seria flutuante com controle de fluxos.

          1. Eu sei perfeitamente a

            Eu sei perfeitamente a diferença entre as duas coisas.São completamente diferentes. E deveriamos adotar ambas. Controlar o câmbio sim, de maneira semelhante ao que a China, e todos os Brics, fazem… E controla também o fluxo de capitais, através de taxas. 

          2. sei que vc sabe.
             
            O que eu

            sei que vc sabe.

             

            O que eu acho é que a China não controla o câmbio. Ela influi pesadamente mas esta influência é diferente de controle. O cambio é livre, até certo ponto.

            Acho esta diferença conceitual fundamental.

  5. Questão de ponto de vista. A vilania travestida de incompetência

     

    Levy fez e faz a lição de casa encomendada , direitinho. Bradesco, Itaú  um monte de sangue-sugas, improdutivos,  do mercado financeiro estão lavando a égua com ganhos financeiros exorbitantes.  Bandidos, Fed, BCE, FMI, Obama, Padrinho Trabuco, Brilhantes colegas do governo tucano, Todos felizes com a dupla Levy e Tombini

    Vilania travestida de incompetência. Conta de juros não tem limites no orçamento. Não existe lei de responsabilidade financeira. Improbidade administrativa sem riscos. O crime perfeito.  R$ 400Bi / ano, secretamente multiplicado para ser trocado por privatização. Mentes brilhantes. 

    Se depender deles próprios, ou dos seus QI,  Levy e Tombini continuam até a fonte secar. 

    A maneira da entrega da cabeça e Guido,  Ministro das Finanças do primeiro mandado, foi vergonhosa, desmoralizou Lula e para o programa do PT

    Quem iniciou a queda sem para-quedas do PT, foi a nossa Presidenta Dilma, sim foi ela mesma, “trapalhona”, se faz parecer semi-analfabeta em economia, e se porta como “dona-de-casa” preocupação com sua “historia” e com seu netinho, envergonha por certo seus Mestres.

    Ridículo ! Engenheiro, empregado do Bradesco, bom de matemática de juros com foco no interesse do cara do outro lado de ele veio, com as chaves do cofres públicos, feito raposa no galinheiro.

    CPMF – Confisco da conta bancaria ou Comissão Para o Ministro da Fazenda ? Tributo não é. Trabuco pode ser.

    Dilma deveria doravante abrir a boca só quando tiver certeza. Chega de acho isso acho aquilo. Chega de falha de planejamento. Repito quem falha do planejamento na verdade planeja falhar.

    Dilma, tal qual FHC, omissa, geniosa e irresponsável. Banco Central é responsabilidade da Presidente da Republica. Tá funcionando do jeito desenhado por Roberto Campos , a serviço de proteger a aumentar a riqueza da elite e dos magnatas, e só.

    O que FHC e a Ditadura  fez. Dilma não muda. Não cria, não rompe barreiras.

    Dilma parece que tinha função de servir suco de laranja para guerrilheiro. 

    E as finanças do país ladeira abaixo.

     

     

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