A questão do alinhamento dos militares no dia seguinte a eventual impeachment de Dilma e posse de Temer me intriga bastante. Pouquíssimas pessoas têm analisado essa variável. Registro a coluna de Jânio de Freitas há algumas semanas (link aqui), da qual debochou de forma bastante arrogante a Ombudsman da Folha, sobre o mal explicado episódio da condução coercitiva de Lula e a intervenção da Aeronáutica para frustrar o dia de glória do juiz Sérgio Moro.
Quando falo do alinhamento dos militares, não penso nos soldados rasos – decerto com grande contingente de “bolsonaretes” – mas no alto comando das FFAA.
Estão ressabiados com a Lavajato desde o episodio da prisão do Alm. Otto e da aliança DoJ/EUA + MPF/BR para derrubar o programa nuclear brasileiro – civil e militar. Decerto não lhes escapa o garrote que essa aliança aperta sobre o pescoço da Odebrecht, empresa que constrói o estaleiro dos submarinos com propulsão nuclear, além de grande ativo nacional enquanto empresa de engenharia de excelência.
Com certeza também tomaram nota de como a Presidente Dilma Roussef lutou o quanto pode pela manutenção da Petrobras operadora do Pre-Sal. Até capitular frente à chantagem de Renan Calheiros/Serra. Bem sabem que a lei do pré-sal é o mais caro “bebê” da ex-Ministra de Minas e Energia de Lula e atual Presidente da República. Cortar ao bebé um braço certamente doeu mais no coração da mãe do que nos nossos, também violentados. Mas foi o preço que ela aceitou pagar para não ver o bebê roubado e entregue a pais adotivos estrangeiros. Paciência…
Como autoridades incontornáveis em temas de estratégia e geo-política, não escapa aos Comandantes das FFAA o que significa abrir mão de ser a Petrobras a operadora exclusiva.
*********
Para as pessoas que não são da área abro agora uma pequena digressão no post, explicando mais detidamente essa questão. Extraio comentário meu nas redes sociais no dia 24/2/2016, quando a Presidente Dilma Roussef capitulou diante das forças combinadas de: (1) oligarquias políticas locais tentando comprar passe livre da Lavajato + (2) lobistas das empresas internacionais do petróleo (cujo despudor lhes permitiu mesmo acompanhar – no plenário do Senado! – a votação, para revolta do Sen. Requião) + (3) retaguarda oferecida por interesses estratégicos de seus países de origem.
Segue:
“Desculpem o post longo, mas é o assunto mais importante para o Brasil hoje e amanhã. Talvez desde 1822. Ontem Getúlio Vargas levou o segundo tiro no peito. Dia sinistro. Somente se salvaram os 26 senadores que votaram pela manutenção da Petrobras como operadora. Roberto Requião A FRENTE E TODA A BANCADA DO PT ATRAS – votando contra o governo!
– Nesse vídeo Requião da nome aos bois e fala – da tribuna – da promessa de Serra a Chevron de entregar o pre-sal ainda em 2010. Fala das manobras regimentais de Renan para aprovar o projeto por caminhos obscuros (esse, Renan, parece estar pagando antecipadamente o salva-conduto frente à Lava Jato. É uma nova modalidade: a “votação premiada”).
– No vídeo Requião destrói todas as falácias da dupla Serra-Renan. “Urgência”. Oi?! Num momento em que ha excesso de produção de petróleo no mundo e em que as petroleiras internacionais estão no vermelho sem poder investir? Logico que não! Usam os números negativos da conjuntura pra mudar a estrutura e entregar la na frente, quando o petróleo subir e as petroleiras internacionais tiverem de novo bala na agulha para comprar o patrimônio nacional. Ai basta só combinar na véspera com as agencias de rating e fazer o risco pais subir e o real desabar, para comprar bem baratinho. Onde foi que vi esse filme antes? Ah sim… na Privataria tucana. Disso o Serra entende.
PARTE TÉCNICA sobre o que estava em jogo na votação (leiam também para poderem argumentar e saberem do que estão falando… vou mastigar aí embaixo, prometo!):
Qualquer pessoa que conheça minimamente a industria do petróleo sabe o que significa abrir mão de ser operador em um bloco de exploração:
– Aspecto financeiro-fiscal: em um sistema de partilha de produção de petróleo, como o que o Brasil adotou para o pre-sal, os custos dos sub-contratados (quem investiga o solo, quem fura, quem faz a logística…) são repassados proporcionalmente à União, através do desconto do montante de petróleo que a União terá a receber. A operadora é quem faz as contratações. Os subcontratados que existem hoje são todos gigantes transnacionais também (Halliburton, Schlumberger…). Elas podem superfaturar os custos no Brasil em dobradinha com uma operadora estrangeira que não seja a Petrobras e assim sangrar o montante de petróleo que a União tem a receber. Depois dividem esse “lucro” em alguma outra operação fora do pais (elas sempre atuam juntas em toda parte) com subfaturamento, superfaturamento, simulação, troca de ativos, etc.
– Aspecto econômico estratégico: é a operadora quem toca o dia a dia da operação do bloco de petróleo. As outras só vão em reuniões de escritório de tempos em tempos para aprovar pautas apresentadas pela operadora e depois receberem a sua parte no resultado da venda do petróleo. Mal comparando são como meros “acionistas” de uma empresa… não são parte da “diretoria”. É quem opera quem lida com os subcontratados e com os clientes, quem desenvolve e assimila o know-how, quem pode integrar as suas diferentes operações e fazer sinergias… ou seja, atuar estrategicamente e construir valor agregado e capacitação que a cacifem para ganhar mais projetos – mesmo em outros países – e crescer, ganhar cada vez mais importância. Quem cresce tecnicamente é a operadora. As outras só ganham o “dinheirinho”.
– Em resumo: a Petrobras é a soberania do Brasil na industria do Petróleo – dentro e fora do pais. Petrobras não ser operadora enfraquece a empresa hoje e amanha. Abre espaço ainda para os estrangeiros superfaturarem a rodo – sem o olho do dono em cima – dilapidando a parte do petróleo que cabe a União pela partilha.
TEMOS QUE DERRUBAR ESSE PROJETO. Sim ou com certeza?”
*********
O comando militar – conservador mas nacionalista – sabe que a agenda econômica é a de desnacionalização dos ativos estratégicos (como o pré-sal), com lesa ao patrimônio da União (com deságio artificial pelo baixo preço do petróleo por articulação EUA-Arábia Saudita), bem como nova hibernação dos programas militares civil e militar (submarinos e enriquecimento de urânio). Se há ademais ameaça de vazamento da tecnologia autóctone de enriquecimento de urânio às mui interessadas potências nucleares estrangeiras eu não sei. Não sei como funcionam as “muralhas chinesas” para compartimentação do acesso a esse conhecimento chave ao longo da cadeia de comando, até chegar ao comandante-em-chefe, o Presidente da República.
Dá-me esperança pensar que o segredo aparentemente sobreviveu ao período FHC.
O “pé atrás” dos militares com o que ocorre na política nacional ficou evidente com a intervenção da Aeronáutica na tentativa de embarque (e prisão?) de Lula, no MUITO mal explicado episódio da “condução coercitiva” em Congonhas. Como disse na abertura do post, a intervenção da Aeronáutica frustrou o projeto de dia de glória do juiz Sérgio Moro. Aliás, o abatimento do juiz naquele dia era evidente e foi registrado até por veículos da imprensa familiar, seus aliados de ocasião. Terá sido motivado por semblantes franzidos de senhores uniformizados e estrelados? Algum efeito tais semblantes causaram. Tanto assim que o arrogante juiz, em atitude raríssima, veio a público tempos depois declarar que a prisão do Alm. Otto fora “um erro”. Acredite quem quiser na sinceridade do rapaz.
Até que ponto o juramento à Constituição e o apego ao interesse nacional e à visão estratégica de uma ESG (cujas discussões já tive o privilégio de presenciar), por exemplo, influenciarão os Comandantes das FFAA no dia seguinte ao impeachment? Com quem – e como – se alinharão?
Comandantes são precavidos. É certo que já avaliaram as opções.
Decerto não gostam particularmente do PT e da esquerda. Certo também é que não engoliram a Comissão da Verdade. Mas gostam menos ainda de alinhamento automático da política externa – e das disciplinas internas que regem a economia também! – a interesses estranhos à nacionalidade.
Essa é a esperança que resta para quem o verdade e amarelo corre nas veias (talvez junto ao vermelho, por que não?). E não se limita a usar a camisa da CBF em passeatas na praia e na Paulista.
Atualização:
Após discutir o post com alguns companheiros no Twitter, lembrei-me de fato muito relevante para essa discussão. Segue reprodução dos meus tweets aos companheiros:
2-q a MARINHA teve recursos p/mapear td plataforma continental dentro do periodo permitido pela
5-Amazonia Azul é p/monitorar justamente td a plataforma continental q Marinha+Petrobras nos deram!!“
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Acrescento que a turma de
Acrescento que a turma de Curitiba deu início a invetigações, colocando em cheque a escolha e a compra dos caças suecos.
O processo de escolha e contratação dos caças foi todo ele conduzido pela FAB e pelo comando da Aeronáutica.
Não preciso dizer que os comandantes da Aeronáutica não ficaram nem um pouco satisfeitos com as insunuações feitas por integrantes da vaza jato e pelo juiz Moro.
Outro fato marcante foi a forma como os comandantes das FFAA se comportaram na posse de Aldo Rabelo no Ministério da Defesa. Foram fortes as referências e os apoios ao Ministro.
Não creio em intervenção militar, mas caso o golpe se concretize, os comandantes militares não vão aceitar qualquer ministro indicado para defesa.
CURIOSIDADE
Na época, antes do julgamento do mensalão, esses militares colegas elogiaram muito o Genoíno, que era cotado até como ministro da defesa e visitava instalações militares. Eu, ainda surpreso:
– Mas o cara foi guerrilheiro, pô!
E um deles, da aeronáutica.
– Iiii… Isso já passou. Nessa época eu brincava com pipas.
NÃO É O QUE MUITOS PENSAM
Excelente texto, que vem de encontro a muito do que acredito. Já lecionei com oficiais e eles elogiam o nacionalismo do PT enquanto renegam o entreguismo de FHC. Quando ouvi, aliás, caiu-me o queixo.
Dilma iniciou a construção de 4 submarinos furtivos, sendo um nuclear. Comprou 2 mil blindados e 36 caças, com transferência de tecnologia.
Obrigado pela contribuição.
Obrigado pela contribuição. Esperemos que o interesse nacional, na voz dos comandantes e da oficialidade, influencie votos no Congresso e as consciências do nosso STF.
Esse post circulou bastante no twitter e já chegou ao “outro lado”. Acusaram “petistas” (oi? Nunca fui filiado a partido algum) de estar insuflando um golpe militar.
Deficit cognitivo ou má fé de quem fez essa leitura. Onde no texto eu prego intervenção militar? Aliás, quem a prega é parcela do outro campo, não é mesmo?
Romulus, excelente.
Em uma
Romulus, excelente.
Em uma frase, o que resume o golpe é: “It´s all about oil…”
Olha, parabéns pela
Olha, parabéns pela compilação. Especialmente os 5 tweets finais. Juntando pedaço aqui e ali, se vai montando o cenário real.
Eu realmente achei estranho a 4a frota presente na costa brasileira àquela época. Agora faz todo o sentido.
É tudo nos bastidores. O interesse é financeiro.
Obrigado. De fato, como o
Obrigado. De fato, como o Nassif apontou ontem, o aspecto econômico mais forte de impulso para o golpe é o grande balcão de negócios. E a joia da coroa é o pré-sal, cujas reservas serão subavaliadas em função de um preço do barril artificialmente baixo.
Aí pode entrar ainda o “know how” tucano da privataria: pagamento com créditos podres, financiamento do BNDES para vender o proprio patrimônio, trocas de ativos suspeitas, tabelinha com agências de risco, insider trading e especulação comendo soltos nos meses anteriores… e por aí vai.
Vc tb é advogado?
Não, sou engenheiro, mas
Não, sou engenheiro, mas muito atento e curioso.
Ah, curioso mesmo… Vários
Ah, curioso mesmo… Vários posts sobre o Judiciário e a Lavajato.
Aliás, vc pode dar seu testemunho, né? O que era a perspectiva profissional de um engenheiro antes e depois do governo Lula. Por experiencia profissional vi o aumento exponencial da busca por – e remuneração de – engenheiros do petróleo.
Vamos ficar de olho nos desdobramentos. Qqr coisa fácil me achar no twitter.
A impresa corporativa
A impresa corporativa corrupta gosta de explorar as declarações feitas pelo tal clube dos militares de pijamas. Criaturas envelhecidas do século passado e que há muito perderam sua funções na atualidade.
Muita gente os confunde com os militares da ativa; Nada a ver.
Nunca as Forças Armadas estiveram tão bem quanto na era petista. A modernização efetivada e que ainda está sendo realizada é sem parametros na história militar brasileira.
Essa tentativa de golpe juridico-midiático civil que estamos passando não tem a simpatia de ninguém no alto comando.
Nenhum militar da ativa vai querer bater continência para um ladrão escroque como Cunha ou um traidor golpista como Temer.
Não vai rolar.
espero que esse sorriso de
espero que esse sorriso de monalisa seja diriido a todos os aspetos da qustão
para contxtualiza-los segundo interesses nacionais e não para escollha do lado do golpe….
monalida não perdoaria e seguiria olhando para possíveis golpistas
que já querem pelo jeito assenhorear-se do poder pelo lado da direita nos postos militares…