Mourão equipara Bolsonaro a George Washington e terceiriza a culpa pelo seu descontrole

Mourão pratica um exercício fútil de transferência de responsabilidade. Falha em não controlar os arroubos de Bolsonaro e tenta transferir a culpa para quem não se conforma com suas loucuras.

No Estadão de hoje, no artigo “Limites e Responsabilidades“, o vice-presidente Hamiltom Mourão faz o diagnóstico da crise vista do Palácio. Se alguém ainda alimentava alguma ilusão sobre resíduos de racionalidade no governo, desista.

O artigo é um apanhado de conceitos competentes sobre as instituições em um país federalista. Traça paralelo com a criação das instituições norte-americanas, quando se definiram claramente os poderes dos Estados e da União – tratada, corretamente, como o ente agregador do chamado interesse nacional.

A partir daí, coloca no mesmo nível George Washington e Jair Bolsonaro, independentemente das circunstâncias de cada tempo, ao definir a crise brasileira em quatro pontos:

  1. A polarização que faz com que todas as opiniões recebam o mesmo tratamento, tornando o país incapaz do essencial para resolver problemas: sentar à mesa, conversar e debater.

Contexto – Presidente da República que não consegue ouvir sequer as vozes de dentro do Palácio, como demonstra o tratamento ao ex-Ministro da Saúde Henrique Mandetta e ao atual, Nelson Teich. Para Mourão, a culpa da polarização é dos que estão foram do poder.

  1. Degradação do conhecimento político por quem deveria usá-lo de maneira responsável. Inclui nessa classificação governadores, magistrados e legisladores que se esquecem que o governo central não é um agente dos Estados. E traz, em apoio à tese, afirmações do federalista norte-americano John Jay, para quem, “administração, os conselhos políticos e as decisões judiciais do governo nacional serão mais sensatos, sistemáticos e judiciosos do que os Estados isoladamente”, simplesmente por que esse sistema permite somar esforços e concentrar os talentos de forma a solucionar os problemas de forma mais eficaz.

Contexto – Na época de Jay, o presidente norte-americano era George Washington. Agora, o presidente brasileiro é Jair Bolsonaro. Para Mourão, independentemente do presidente, as decisões federais sempre serão sempre mais sensatas e judiciosas que as estaduais.

Nem mesmo nos momentos mais cambaleantes dos governos de José Sarney, Fernando Collor e Dilma Rousseff houve essa explosão de autonomia estadual porque, em nenhum desses casos anteriores, havia a impressão de um louco alucinado conduzindo os destinos do país ante uma ameaça fatal.

  1. As prerrogativas do Poder Executivo. Critica a praga nacional de toda decisão ser judicializada por juízes e procuradores.

Contexto – um comandante que, no campo de batalha, leva sua tropa para a derrota certa, será questionado por seus auxiliares diretos. E, se não for demovido, responderá pelas consequências de seus atos para uma corte marcial. No Brasil se tem um Presidente alucinado que não consegue ser controlado sequer por seu círculo próximo de assessores – incluindo o vice-presidente da República.

  1. Prejuízo à imagem do Brasil no exterior decorrentes  de personalidades em administrações anteriores que, “por se sentirem desprestigiados ou simplesmente inconformados com o governo democraticamente eleito em outubro de 2018”, usam seu prestígio para fazer apressadas ilações sobre Amazonia e meio-ambiente.

Contexto – presidente que se tornou ameaça mundial pelo descaso com que tratou a pandemia, a Amazônia e a ciência; que estimula ataques contra o principal parceiro comercial do país; que se submete a qualquer ordem emanada do presidente de uma potência estrangeira. A vergonha nacional é quem pratica os atos, não quem os denuncia.

Mourão pratica um exercício fútil de transferência de responsabilidade. Falha em não controlar os arroubos de Bolsonaro e tenta transferir a culpa para quem não se conforma com suas loucuras.

Luis Nassif

15 Comentários

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  1. Ele só fala isso porque o coitado do George Washington não está aqui pra retrucar.
    Ninguém pode negar, no entanto, q as colocações atuais de George Washington são muito mais coerentes do q as do Jair.

  2. Precisamos lembrar que qualquer que vai substituir um presidente afastado, não pode assustar .

    Uma vez no poder, qualquer um sabe que precisará fazer tudo diferente, além do que não há muito tempo, as próximas eleições estão logo ali, ou seja terá apenas um tiro, não mais do que isso.

    E se não der certo. não sobrará muito para governar, o pais estará arrasado, 50% de queda do PIB em dois será pouco. E ainda teremos quase 200 milhões de famintos. mesmo que a perversidade do governo eleito leve mais de milhões de vidas, até agora já se foram quase 14 mil, isto sem considerar os casos SRAG Síndrome Respiratória Aguda Grave.

  3. Afora a isenção de CULPA por não debitar ao EXECUTIVO FEDERAL muito dos males que nos aflige (como a crise política e ética que parte da familícia), interessante notar que a degradação INSTITUCIONAL a que Mourão aduz teria surgido só a partir de 2019 com a ingerência indevida entre os Poderes e Instâncias pelo Brasil.
    PIOR ainda é a conclusão do VICE que enumera como maior dos nossos desafios os cuidados pra com a saúde, produção e consumo, SE ESQUECENDO de falar da RENDA (assistência) e do EMPREGO pra população, coisas estranhas a quem vem da CASERNA e que NUNCA teve que se preocupar com a falta desses elementos essenciais à sobrevivência social humana.
    Vai vendo o que o destino pode estar nos reservando após a BOZOLÂNDIA

  4. Se até o Collor pode se redimir, supus ser esse o motivo da entrevista light (tardiamente?), vamos torcer que o Mourão seja mais ligeiro.

  5. Ah! A submissão de um general a um capitão bunda suja. Ah! Sua formação intelectual distorcida da Escola das Américas. Ah! Seu desrespeito a nação brasileira que o sustenta e que ele tinha obrigação ética de defender. Ah! Sua campanha golpista no governo Dilma Roussef. Se os olhos são espelhos da alma, é só olhar os olhos de Mourão e entender o porque dele comparar Bolsonaro com George Washington. São olhos de suino elevando os olhos alucinados de um ignorante a um dos fundadores do estado americano. É muita distorção e disparate.

  6. Com todo respeito ao povo Judeu, mas eu avalio que Mourão não pesquisou o que George Washington pensava, o que ele alertou e o que falou sobre os Judeus, caso contrário acredito que ele não pagaria um mico desse tamanho. Onde já se viu comparar Bolsonaro com George Washington? Parece que o presidente tá contaminando geral.

  7. eu fico pensando…
    o mourão tomou algumas atitudes no passado recente bem mais racionais que as do bolsonaro. o nassif mesmo citou algumas: no caso das queimadas da amazonia, na relação com a china.
    agora ele vem com esse discurso totalmente alinhado com as maluquices do bolsonaro.
    será que ele não está fazendo um jogo de cena ? para mostrar que está do lado do bolsonaro. para que não seja acusado, agora ou futuramente, de apoiar o impeachment ?

  8. Totalmente desvirtuado o paralelo que tentou traçar, os EUA tem uma constituição enxuta, ficando o grosso da administração a cargo dos Estados, vide a legislação do aborto, maconha, leis de trânsito etc., incluindo as polícias que são municipalizadas, cabendo a estadual o trânsito nas estradas e eventuais ações de apoio. Cabe ao governo central as FFAA, Cia e FBI, assim como, as políticas de estado. Portanto o raciocínio do Morão é 1/X, ou seja, inverso do real e totalmente inadequado.

  9. Pra mim o que ele fez foi lançar a plataforma dele. Não é uma avaliação do mandato do bozo, mas uma proposta pro mandato dele. Traiçoeiro o cara!

  10. Acabo de ler o artigo dele no “Congresso em Foco”. Em momento algum Mourão faz literalmente a comparação entre o genocida e G. W., que fique claro.
    Também não é difícil inferir que ele tenta, sofrivelmente comparar os dois sistemas de governo e imputar aos outros as responsabilidades e iniciativas de governação, que sempre deve partir, a meu ver, de que está no comando. Quem está no comando agora cancelou atá a reuniões minsteriais, que dirá com as outras forças, seja da situação, oposição ou poderes horizontais como judiciário.

    A pergunta que devemos nos fazer é; Para quem ele escreveu?

    Para a caserna, qual? O alto comando ou baixo oficialato, território bolsonarista? Pois são dois mundos opostos e que estão juntando forças antes medi-las.

    Para o mercado? Não me parece, pois todo o artigo é a reprodução do discurso bolsonarista que está levando muitos investidores a abandonar o mercado brasileiro.

    O importante é que ele falou, a incógnita se revelou e isso é bom, para o bem e para o mal. Seu artigo diz de forma clara ou sub-reptícia que ele tem estofo e que está pronto para assumir.

  11. 9 CENSURADO [1999]

    Sabendo que a censura não me trava,
    pediram-me um soneto sem calão
    p’ra pôr na antologia de salão
    que o tal do [censurado] organizava.

    Queriam até tônica na oitava,
    mas nada de recurso ao palavrão.
    Usei o ingrediente mais à mão,
    porém sem [censurado] não passava.

    Desisto. Quanto mais remendos meto,
    mais roto vai ficando o [censurado].
    Poema não é texto de panfleto

    p’ra ter que se estampar todo truncado!
    Pois esta [censurado] de soneto
    que vá p’ra [censurado] [censurado]!

  12. 9 CENSURADO [1999]

    Sabendo que a censura não me trava,
    pediram-me um soneto sem calão
    p’ra pôr na antologia de salão
    que o tal do [censurado] organizava.

    Queriam até tônica na oitava,
    mas nada de recurso ao palavrão.
    Usei o ingrediente mais à mão,
    porém sem [censurado] não passava.

    Desisto. Quanto mais remendos meto,
    mais roto vai ficando o [censurado].
    Poema não é texto de panfleto

    p’ra ter que se estampar todo truncado!
    Pois esta [censurado] de soneto
    que vá p’ra [censurado] [censurado]!

    Glauco Mattoso

    aliás, antes hospedado http://sonetodos.sites.uol.com.br {censurado}, havia uma parte dos seus sonetos destinados à malfadada caserna. diga-se, ainda, que é o maior sonetista da História da humanidade, sendo o segundo o seu inspirador, o italiano https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Petrarca. ou seja, a imprensa à brasileira foi o vetor da ditaburra, digo, ditadura.

    à dita branda folha de sã (?) pablo… http://seguinte.inf.br/noticias/3–neuronio/637_Nunca-ninguem-fez-tantos-sonetos-quanto-Glauco-Mattoso

  13. Boa noite.
    Pergunto-me quando a sociedade brasileira deixará de ser tutelada por esses generais de vídeo game.
    A tradição do glorioso exército, exceto pela campanha da FEB, sempre foi massacrar o seu próprio povo, dar golpes, prender, censurar, torturar e assassinar pessoas. E em pleno século XXI estamos novamente assistindo esse filme sinistro. Milhares de militares em cargos do executiva, muitos sem qualquer capacitação, apenas para ganhar mais dinheiro, mandar, apadrinhar parentes etc.
    Triste país.
    E esse vice-presidente, apologista de um torturador e assassino, deve se considerar uma espécie de Thomas Jefferson tropical. Sustentado desde jovem pelos impostos da cidadania, chega ao limiar da velhice sem ter arejado suas ideias reacionárias.
    Na verdade, esse artigo já é a justificação do golpe que em breve será efetivado.

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