Na Espanha, extrema direita e ultras escalam violência contra Pedro Sánchez e o PSOE

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Vox, partido de extrema direita, que agora conta com a ajuda dos ultras, se opõe à proposta de anistia de Sánchez ao movimento separatista

Vox e ultras têm promovido manifestações violentas na frente da sede do PSOE, na Rua Ferraz, em Madrid. Foto: Sergio Baleña/El Confidencial

O Vox, partido de extrema direita espanhol, não diminuirá a pressão nas ruas e manterá sua ofensiva na Rua Ferraz, na capital Madrid, onde fica a sede do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), contra a anistia e o pacto de Pedro Sánchez com o movimento independentista, que visa garantir ao político maioria para a formação de um novo governo. 

Apesar do aumento da violência na noite de terça-feira (7), com novas acusações policiais, seis detidos e vários feridos, o partido de Santiago Abascal voltou a enviar nesta quarta-feira (8) representações à sede do PSOE, em Madrid, para protestos, conforme o jornal El Confidencial. 

Ainda de acordo com o periódico, o sindicato Solidariedade, ligado à formação ultraconservadora do Vox, apelou à mobilização nas redes sociais apesar de não haver autorização da Delegação do Governo, enquanto diferentes responsáveis ​​incentivam protestos para “travar o golpe de Sánchez”.

A tensão aumenta e o Vox não cede um centímetro, segue a notícia do El Confidencial. Abascal já incitou o desprezo às polícias na terça-feira (7), com a mensagem de que os protestantes de extrema direita não deveriam obedecer a “ordens ilegais”, e 24 horas depois a ofensiva continua. 

O vice-presidente de Castela e Leão, Juan García-Gallardo, elevou o tom ao extremo e alimentou a teoria de que o governo em exercício é o único responsável pela agitação. “No passado, os socialistas mataram o líder da oposição”, escreveu nas redes sociais. 

“Agora vocês estão contentes em anistiar terroristas, governar apoiados pelo braço político da ETA, destruir o Estado de Direito e gasear e espancar manifestantes pacíficos na segunda-feira (6)”, acrescentou, sem uma única alusão aos ultras que dispersaram a manifestação.

Os ultras: Vox silencia 

A Vox não fez nenhuma referência expressa aos ultras até o momento. Sequer uma condenação. Nem na terça-feira (7), com as primeiras altercações, nem na quarta-feira (8), depois do recrudescimento da violência. Os ultras são grupos nascidos nas arquibancadas dos estádios de futebol da Espanha de orientação fascista. Estão por trás, por exemplo, dos ataques ao jogador brasileiro do Real Madrid, Vinicius Jr.  

Nas manifestações, os ultras começaram a participar com extrema violência e discurso racista. Conforme o El Confidencial, o Vox tem-se movido numa espécie de ambiguidade desde o início dos motins, posicionando-se ao lado das “manifestações pacíficas” e censurando o PSOE por não estar em condições de criticar nada por “anistiar a violência nas ruas e o terrorismo”. 

Abascal, aliás, responsabiliza o Executivo em exercício pelo sucedido. “A violência é responsabilidade de (Fernando Grande) Marlaska (ministro do Interior do governo espanhol). Em primeiro lugar porque é isso que ele e Sánchez pretendiam, com as ordens políticas para acusar e gasear manifestantes pacíficos na segunda-feira. E em segundo lugar porque pretendem anistiar o terrorismo de rua”, disse Abascal.

Porta-voz endossa Vox  

A porta-voz do Congresso, Pepa Millán, disse sobre Sánchez que “podemos condená-lo e podemos pedir para condená-lo porque estamos onde sempre estivemos, ao lado das forças e órgãos de segurança do Estado e ao lado dos espanhóis honestos que têm todo o direito de se manifestar”. 

Millán disse que Sánchez é “herdeiro do ETA e dos separatistas que pretendem dar um golpe de Estado e liquidar a unidade nacional. Esse é Sánchez”, declarou.

A posição da formação ultraconservadora está longe daquela expressada pelo PP. O partido de Alberto Núñez Feijóo, que não conseguiu maioria para formar um governo, demorou 24 horas para condenar a violência na Rua Ferraz, mas nesta quarta-feira (8) o partido saiu às pressas para censurar a atitude dos violentos.

O próprio Feijóo, que ainda não havia divulgado nenhuma mensagem nesse sentido na noite passada, foi contundente no início do dia. “A violência não tem lugar na democracia e a impunidade também não”, disse ele.

Nova chamada

Para esta quarta-feira (8) está prevista uma nova marcha em Ferraz, embora os socialistas mantenham fechadas as suas sedes em Madrid e outras cidades de Espanha, de acordo com o El Confidencial.

O Vox ainda não confirmou a presença de nenhum de seus dirigentes fora do sindicato Solidaridade, mas a mensagem de sair às ruas não mudou. Vários dirigentes do Vox incentivaram as pessoas a irem também nesta noite de quarta à sede dos socialistas. 

Circulam nas redes sociais um apelo ligado ao Vox para protestar contra Sánchez e a anistia, mas no caso os manifestantes estão sendo convocados para o estacionamento da Faculdade de Estatística, que é um dos pontos mais próximos do Palácio da Moncloa. 

A nova manifestação, porém, poderia ser mais tranquila. Fontes policiais consultadas pelo El Confidencial não prevêem presença massiva de ultras nesta noite em Ferraz. Os responsáveis ​​pela monitorização dos violentos grupos radicais de extrema direita em Madrid não detectaram movimentos significativos, algo que aconteceu na terça-feira (7), relata Alejandro Requeijo. 

O comparecimento, no entanto, aumentou nas quatro convocatórias realizadas, atingindo um total de 7 mil pessoas reunidas no centro da capital, segundo dados fornecidos pela Delegação do Governo em Madrid.

Com informações do El Confidencial

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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