O salto de Eduardo Cunha sobre a governabilidade de Dilma

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Principal desafeto do Planalto, Cunha dá sinais de trabalhar em conciliação, com o devido custo. Destacou: “não seremos submissos”

Jornal GGN – A vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara mostrou a fragilidade de articulação do Palácio do Planalto e do PT com o Congresso. O PT nos próximos dois anos não terá nenhum cargo na mesa diretora. Principal desafeto de Dilma, Cunha vence sem apoio da presidente, após todas as tratativas do partido de alçar apoio do PP e PRB (que tiveram cargos assegurados nos ministérios) à candidatura de seu indicado, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Eduardo Cunha foi o deputado que nos últimos anos liderou a oposição contra Dilma Rousseff, em diversos episódios chegando à contramão, inclusive, do posicionamento consensual de seu partido, como quando fez frente ao Blocão parlamentar, em 2014, paralisando diversas votações para que fossem cedidas decisões a seu gosto.

Com grande capacidade de articulação, convocou e consolidou a reunião de partidos não alinhados, ainda que lhes dando pouco espaço ou voz, muitas vezes abafadas pelos próprios parlamentares do PMDB. Na Câmara, não gerou dúvidas: venceu, em primeiro turno, com 267 votos de 513 deputados, derrotando o petista Chinaglia, que teve 136 apoios, Júlio Delgado (PSB-MG) com 100 votos, e Chico Alencar (PSOL-RJ), que angariou apenas 8.

Amenizando o temor do PT, Eduardo Cunha deu sinal verde para a conciliação, sem excluir o seu custo. “Não há de nossa parte nenhum julgo de retaliação ou qualquer coisa dessa natureza (…). Passada a disputa, isso é um episódio virado. Não temos que fazer disso nenhum tipo de batalha, nem qualquer tipo de sequela por esse tipo de atitude”, disse, inicialmente, no seu discurso de presidente da Casa.

Mas alertou: “não seremos submissos”.

Apesar do apoio anunciado do vice Michel Temer, do mesmo partido, durante a campanha à candidatura, o tom de Cunha em oposição ao Planalto foi ainda mais explícito durante a corrida eleitoral. Deixou claro que, se dependesse dele, a relação da presidente com a base aliada não seria fácil durante o segundo mandato de Dilma; atacou Chinaglia, afirmando que sua gestão como presidente da Casa, entre 2007 e 2009, foi “medíocre”; e chegou a afirmar que, se o governo interferisse contra a sua candidatura na Câmara, as “sequelas seriam graves”.

Um dos caminhos traçados, inicialmente, pelos petistas era apoiar o PMDB, mas arriscaram, acreditando nas trocas e apoios consecutivos. Dilma cedeu Ministérios ao PP e PRB. Mas, ao contrário, as siglas aderiram formalmente a Cunha. O PP justificou que o Ministério da Integração atende principalmente a região Nordeste, tendo os deputados do sul e sudeste sentindo-se excluídos. Encurralada, a presidente não deve tirar o espaço dos partidos nas pastas.

O Planalto já cogitava a derrota. Agora confirmada, a análise é de que a presidente cederá, ainda mais. Ao lado dos parlamentares petistas, esperam que Cunha não aja como inimigo. Para isso, cargos de segundo e terceiro escalões já estão sendo cotados para o PMDB, visando ainda maior ampliação de espaço do deputado. Dilma acionou o vice Michel Temer (PMDB) para a aproximação.

“Não acredito que Eduardo Cunha vá agir como inimigo. Durante o processo eleitoral, ele rompeu alguns cercadinhos que eu não rompi, mas ninguém pode sentar na cadeira de presidente da Câmara e virar oposição”, acreditou o deputado Arlindo Chinaglia, sabendo que o momento é o “limite da instabilidade”.

A preocupação maior do PT, entre as pautas que devem ser apostadas por Cunha nos próximos meses, é a do Orçamento Impositivo,  aumentando as despesas do governo com mais recursos para as emendas dos parlamentares, e uma nova CPI sobre a Petrobrás. Ainda que o seu próprio nome esteja incluído nas investigações, Cunha deverá realocar, novamente, o foco com força exclusiva ao partido da presidente.

O PMDB tem a frente 218 parlamentares na mão, com a maior bancada formada pelos partidos PP, PTB, DEM, PRB, SD, PSC, PHS, PTN, PMN, PRP, PSDC, PEN, PRTB.

Apesar de a maioria dos parlamentares diminuírem o impacto do novo comando da Casa, a deputada federal Érika Kokay (PT-DF) expressou o sentimento do partido: eleição de Cunha representou, na sua visão, o “obscurantismo” e “retrocesso”. Assista:

 

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

22 Comentários

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  1. Ora, se esses partidos

    Ora, se esses partidos aderiram a Cunha o jogo é tirar o ministério deles e passar para outros mais maleáveis. Tenha a santa paciênia, oferecer o Ministério dos Esportes (tão importante para encaminhar a juventude brasileira) para um inexpressivo ministro e ser traído pelo partido é gostar de apanhar.

    Já que o governo é incompetente politicamente então que nomeie ministros responsáveis e competentes. Mais administração e menos baixa política é o que sobra agora ao governo para ao menos cair de pé.

    1. Minha querida

      Deveriam ter pensado nisso antes de compor com esses partidos em trocas de segundos a mais na propagando política para o executivo.

      Não é nenhum “favor” distribuir os cargos entre os partidos com os quais se compôs na eleição, queira você ou não, queiram os petistas ou não, um pouco desse poder executivo é desses pártidos, pois se o apoio e os minutos da TV tivessem ido para o outro candidato, com certeza o resultado da eleição seria outro.

      Não me diga que você, tão politizada, não sabia que votando na Dilma estava votando em todos os partido da coligação na majoritária para a presidência ?

      A saber, PT / PMDB / PSD / PP / PR / PROS / PDT / PC do B / PRB , são os partidos que ganharam as eleições para formar o executivo.

      1. Seu  comentario tem o que a

        Seu  comentario tem o que a ver com oela mesmo?

        Voce vai fazer carreira de inventar assunto em torno de comentarios alheios?

  2. Baixo Clero

    Até o Lula teve o seu “Cunha” próprio: o Severino Cavalcante, que ganhou de lavada a presidência da câmara, por conta da sua clara apresentação como uma espécie de líder sindical dos deputados, 

    Olha que Lula estava forte, etc.

    Ou seja, não é Dilma a responsável por negociar mal com essa turma, mas sim aqueles políticos profissionais que tomam por assalto o estado brasileiro a cada quatro anos. A reforma política (haverá?) deveria considerar isso.

  3. Ao PT o que é do PT

    A verdade que o PT nunca engoliu a Dilma, o PT de hoje prefere o José Dirceu, aquele do Mensalão. Diga-se de passagem, já apareceu no Petrolão. Com certeza, a turma do PT do José Dirceu, da Marta Suplicy, do Ministro Toffoli desembarcaram na tchiurminha paulistana, capitaneada pelo FHC e o Lula. Sou Petista, não do PT do José Dirceu, uma pena é o Lula, ele é um cara que sabe ouvir e ceder, “ceder” é um defeito que na Dilma é uma virtude, não cede para faroleiro.  Se o PT do José Dirceu estive no comando, a coisa na Petrobrás continuaria igualzinha, e o Lula seria o “Cara”. Dilma, tudo não tem competência para enfrentar o PT do José Dirceu e seus asseclas, vê o que aconteceu ontem, o PT do José Dirceu e da Marta tão se esborrachando de tanto ri.

  4. Dilma não é culpada da eleição de cunha.

    até porque explicitou sua preferência por Chinaglia.A câmara elegeu cunha com a mesma motivação que a ocorrida com severino cavalcante.Ela perdeu, o povo perde, a própria Camara perde e muito. So o baixo clero poderá considerar-se vitorioso.

  5. O novo presidente da Camara

    O novo presidente da é uma espécie de Rodrigo Silveirinha + Severino Cavalcante. Quantos meses até ele ser chutado do cargo?

     

    O PMDB colocou um bode sujo e descartável na sala de Dilma Rousseff. Pague o preço em Ministérios que nos livramos deste cabra safado em dois minutos. Este foi o recado que o maior partido deu à Presidenta.

  6. Irrelevante se Eduardo Cunha

    Irrelevante se Eduardo Cunha é desafeto do presidente da república ou do PT. O momento exige do eleitor/contribuinte atenção redobrada com o congresso pois os aventureiros, golpistas, oportunistas, irresponsáveis e salvadores da pátria, os tradicionais inimigos viscerais da democracia, perderam em definitivo a vergonha na cara ao eleger o deputado fluminense para presidir a camara em 2015-2016. Eduardo Cunha, por seu  passado, é ameaça ao congresso e à democracia no país. O antipetismo raso nunca esteve tão forte e lamentavemente  Dilma  Roussef, a presidente da república democraticamente eleita, não gosta de política. Gostar de politica não significa dar tapinha nas costas nos membros da “base aliada” ou fazer bico para “desafetos”. Assustadora, neste momento delicado e como redes sociais disponíveis, é a incapacidade do executivo de comunicar-se com a sociedade civil que é a responsável direta pelo equilibrio das instituições no estado democrático de direito.

  7. Talvez não…

    Se esse cidadão conseguir impedir o esquerdismo irresponsável que atrapalhou Dilma e o pais nos últimos anos a presidenta só terá que agradecer!

    No mais é jogo politico planalto/congresso e aí levo medo!

    Que tal Ciro Gomes na coordenação politica? Ou em caso de desespero o proprio Lula!

    Presidenta sai desse ninho de instabilidade e assuma seu lado eminentemente trabalhista! Brizola agradeceria!

    Acorda Presidenta….

     

    1. Lula foi criado para que os

      Lula foi criado para que os demias esquerdistas, especialmente Brizola, virassem pior do lixo da história, vermes de uma politicagem de safados

    2. “esquerdismo irresponsável que atrapalhou Dilma”

      Onde é que você arrumou um bagulho desse pra fumar nessa seca do verão? Mundo da lua é pouco, sua cabeça está orbitando em algum ponto além de Plutão.

    3. Afasta este calice!

      Te afasta desses ‘progressistas’ Dilma, ainda há tempo, senão teus dias como presidente estarão contados!

      Essa turma quase levou Lula ao impedimento! Como diz Ciro Gomes – É um bando de loucos!

      Essa esquerda não é só irresponsável, é infantil e acha que o estado deve dar tudo, votarão em ti por isso. São partidarios da ‘coitadização’ das pessoas. Todos devem ser coitados para receber algum tipo de benesse e dependerem de algo!

      Esta sendo parida uma geração de dependentes…de tudo!

  8. Agora só falta o Presidente

    Agora só falta o Presidente da Câmara Eduardo Cunha definir se Michel Temer vai assumir a Presidência em definitivo no primeiro ou no segundo semestre !

  9. Não mudou nada apenas se

    Não mudou nada apenas se escancarou uma parte que já é conhecida ha décadas. O PT nunca teve apoio da “maioria” que erronaemente chamam de “minoria”.

    1. Não mudou nada apenas se

      Não mudou nada apenas se escancarou uma parte que já é conhecida ha décadas. O PT nunca teve apoio da “maioria” que erronaemente chamam de “minoria”.

      Não mudou nada, apenas se escancarou uma parte que já é conhecida hão décadas.

      O PT nunca teve apoio da “maioria” no parlamento que, eroneamente, chamam de “minoria”.

  10. Dá tudo na mesma.

    É perda de tempo ficar analisando detalhismos de governança. O que o povo precisa tomar conciência e se nortear é o fato de que o País está sempre em dívida com o sistema da agiotagem internacional. Seja o PT, Dilma, seja a oposição quem governa ou desgoverna, no fim, dá tudo na mesma. Metade de tudo que o povo brasileiro produz vai parar nas mãos dos banqueiros, dando substância ao seu capital especulativo e aumentando o seu poder, permitindo a consolidação da “Nova Ordem Mundial”.  

  11. O importante é a reforma política!

    A Dilma continua no comando, e é bom que saiba dividir o poder. O importante é receber apoio para uma profunda reforma política: 

     

    https://www.facebook.com/democracia.direta.brasileira/photos/a.300951956707140.1073741826.300330306769305/536038699865130/?type=3&theater  

     

    Os cargos que distribuiu, tem um preço incalculável agora no início de seu mandato. Isso garante o apoio à reforma política, que dessa vez só não sairá, se ela não quiser. Pois se não sair, melhor seria romper com quem não apoiar, e governar o país só com os apoiadores, fortalecendo-os para as próximas eleições, deixando bem claro quem quer mais democracia no Brasil, e desgastando seus opositores. Porque senão, quem receberia a culpa por tudo, seria o próprio governo.  

  12. O mais intrigante  foi  ver o

    O mais intrigante  foi  ver o abraço exultante e comovido do “ínclito ” Miro  Teixeira,  eis chaguista, brizolista, pedetista, e hoje simples defensor dos direitos do sistema globo,  no não mesnos “ínclito ” Eduardo ( o Dudu ) Cunha. Triste apodrecimento dos costumes….

     

     

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