Para entender os paradoxos entre o jornalismo do The Intercept e o de Glenn Greenwald

O editor-chefe Leandro Demori tripudiou sobre Manuel no Twitter, com uma virulência e um viés ideológico que lembra seu arquirival, O Antagonista.

Até agora causava dúvidas algumas posturas do The Intercept, em colisão com os princípios propagados por seu fundador, Glenn Greenwald. O site tem publicado matérias relevantes, mas incorre, várias vezes, em assomos de prepotência. Como no dia em que recusou direito de resposta ao historiador Jones Manoel. Mais que isso, o editor-chefe Leandro Demori tripudiou sobre Manuel no Twitter, com uma virulência e um viés ideológico que lembra seu arquirival, O Antagonista:

Segundo seu relato,

Nesse meio tempo, Leandro Demori, editor executivo do TIB, passou 48h seguidas no seu Twitter debochando, sendo grosso, bloqueando pessoas e tripudiando da esquerda radical do país. O sujeito me soltou várias e várias provocações esperando uma reação agressiva para ter um material para usar. Ele foi questionado publicamente e com um cinismo ímpar, falou de direito de resposta nos termos da lei, sugeriu processo e afins. A própria Tatiana afirmou que o direito de resposta seria, no máximo, de algumas linhas acima da matéria. E só. Ainda, no estilo dos personagens machadianos, perguntou se tinha um erro factual no que ele escreveu na matéria que daria o direito legal de resposta. Minha resposta, no Email, foi essa (elemento que no Email seguinte, ela não comentou mais):

“Destacaram o trecho de um twitte onde eu falo que numa revolução pessoas morrem, é uma contingência (um simples truísmo histórico), mas excluíram, é claro, a afirmação seguinte onde eu digo que os bolcheviques não venceram a guerra civil com flores. A frase seguinte, especialmente considerando que todo mundo sabe que não foram os bolcheviques que começaram a guerra, deixa claro o contexto da frase anterior. A seleção de que trecho destacar diz muito. Segundo, em seguida ao postar minha frase, vocês escreveram isso: ” Fuzilar uma família aqui, matar outros tantos milhões de fome ali, torturar e assassinar indiscriminadamente e promover o terror entre os dissidentes. Assim mesmo. É normal, efeito colateral”. Deixam o leitor pensando que eu defendo e falo isso. Estou falando aqui com jornalistas profissionais e não com crianças. Você, Tatiana, sabe que poderia ter escrito a frase diferente para não parecer que eu defendo isso. Caso você tivesse escrito “Será que dentro dessa contingência cabe fuzilar uma família aqui, matar outros tantos milhões… Jones defende isso?” Pronto. Eu não estaria reclamando. Não tem caráter de pergunta, questionamento, mas de afirmação. E como se a afirmação fosse minha.”

Durante toda conversa, entre a arrogância e deboche do Demori, ficava claro que o TIB estava adorando toda aquela zorra como forma de gerar mais publicidade, visualizações, dinheiro, comentários. Ontem, no Google, ao colocar meu nome, a primeira coisa que aparece é o panfleto anticomunista do TIB.

Destaco também a postura de insinuar o tempo todo que se eu não estava contente com o encaminhamento da questão, que procurasse a justiça. Postura lamentável ao recomendar em um cenário de extrema-direita no governo que um comunista pobre entre com um processo contra um dos maiores sites jornalísticos no país pedindo direito de resposta por ter sido chamado de genocida em potencial.

Hoje no Twitter, Glenn esclareceu o paradoxo:

Luis Nassif

13 Comentários

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  1. Era um frequente leitor do site muito antes da vazajato.
    Compartilhava várias de suas matérias.
    Sempre soube quem financiava o projeto, acho positiva uma frente poderosa de contrainformação.
    A ALL Jaazira é isso um mídia estatal bancada pelos petrodolares.
    Parei de circular por lá quando eles pararam de publicar matérias sobre a vazajato, quase que imediatamente após Glen ser ameaçado de ser deportado.
    Agora isso, o Glen para mim sempre foi a cara do projeto, agora ele tira da reta?
    É como se o Nassif ao ser cobrado por alguma publicação em seu espaço respondesse que não é responsável por ele, “Fale coma Lourdes” eu só respondo pelo que escrevo.
    Orgulho do Assange, esse nunca arregou!

    O saite tá pesadão para entrar e movimentar. Ainda às voltas com a migração?

  2. Alceu Castilho, editor do De olho nos ruralistas

    Alceu Castilho
    22 de fevereiro às 09:07 ·

    Não tinha lido a matéria do Intercept Brasil sobre os despejos na comunidade do Cajueiro, em São Luís, publicada no dia 17. Diante de alguns posts que desqualificam o veículo, em defesa de Flávio Dino e até dos chineses (como se tratasse de uma peça anticomunista), finalmente li a reportagem de Sabrina Felipe.

    E fiquei muito satisfeito com o que li. Publicaria, com prazer, no De Olho nos Ruralistas.

    Primeiro, porque é uma reportagem. Não é um “discurso anticomunista”. Talvez quem tenha lido apenas o título e a outra chamada prefira desqualificar o trabalho da repórter com esse reducionismo. Vamos lá: eu também faria outro título. O estilo de revista dos títulos do Intercept nem sempre dá conta do que vem abaixo. Mas insisto: a reportagem é muito bem feita.

    Para que ela seja contestada, é necessário que contestem as informações nelas contidas. E são muitas. Com inúmeras fontes. Existe um viés ali? Sim, o da defesa dos direitos dos povos tradicionais. Independente do governo de plantão. Algum problema no campo da resistência com isso?

    ***
    Não conheço Sabrina Felipe (apaga-se o nome de Sabrina Felipe, por que se apaga o nome de Sabrina Felipe?), mas pelo que li nesse texto eu a convidaria, tranquilamente, para escrever no observatório que coordeno, especializado em questão agrária. Fica claro que ela tem noção dos conflitos no campo. E que ouviu fontes adequadas. E que escreveu movida por empatia com os personagens despejados — famílias, um idoso que acabou morrendo.

    E, no entanto, um defensor incondicional de governos definidos como comunistas define todo esse trabalho de Sabrina Felipe como “uma pura peça de propaganda anticomunista e anti-China com estrutura narrativa e simbólica dos tempos da Guerra Fria”. Para Jones Manoel (que, é bem verdade, já tinha se declarado contrário ao despejo), trata-se de um “negócio porco e absurdo”. “Não é jornalismo”.

    Como eu entendo um pouco de jornalismo e um pouco de questão agrária, rebato: é jornalismo, sim. E sério. A narrativa está longe de ser binária. É rica. E posso garantir, sem ter participado da edição, que Sabrina passou no mínimo algumas semanas dedicada ao tema. Talvez meses.

    *****
    Da parte de Flávio Dino, nenhuma surpresa. Eis o que o governador disse: “Insistem em uma campanha difamatória contra mim por fictícia ligação com chineses. E dizem que sou responsável até por obras que aconteceram em décadas passadas. É realmente a ‘esquerda’ que a direita gosta, financiada com ‘grana’ oriunda dos Estados Unidos”.

    Era melhor que o governador tivesse contestado os fatos narrados na reportagem. (Houve alguma correção pontual, e o Intercept publicou as atualizações. Até aí, normal. Cotidiano de qualquer redação.)

    O despejo da comunidade do Cajueiro não tem nada a ver com o que se esperaria de um governador de esquerda. Méritos do governador Dino não anulam os fatos narrados por Sabrina Felipe, ocorridos na zona rural de São Luís. Ou por causa desses méritos outras faces de seu governo não devem se tornar públicas?

    ***
    Vamos discutir “grana”, governador? Sim, discutamos grana. No que se refere ao universo agrário, a grana (brasileira, estadunidense, chinesa) promove despejos e ameaças e mortes e destruição de famílias pelo país. O território de povos tradicionais e originários é sistematicamente ameaçado por fazendeiros, mineradoras, obras de infra-estrutura etc. Essa é a história do Brasil.

    Se o governador do Maranhão está disposto a mudar essa história, ótimo. Mas que apresente, então, outros fatos para serem narrados. O mesmo vale para cada comunista indignado com a reportagem.

    As empresas chinesas não são intocáveis porque vieram da China. Flávio Dino não é intocável porque pertence a um partido comunista. (Ah, o PCdoB vai mudar de nome? Ah, o PCdoB vai se chamar agora Movimento 65?)

    Fico com a narrativa da jornalista. Até prova em contrário.

    1. Achei a narrativa da jornalista infantil, vagarosa, seguindo um ritmo das narrativas de convencimento da grande mídia. Muito ruim, mesmo. E concordo com a frase “estrutura narrativa e simbólica dos tempos da Guerra Fria”. Jornalismo de condução e por isso panfletário.

      1. Em relação ao Flávio Dino e a reportagem do The Intercept: a RESEX DO TAUÁ-MIRIM é não dito, nem por ele e nem pelo sitie! Por que?

        Deixemos uma coisa bem clara logo de início. Para além das narrativas, Cajueiro está sendo destruído, sim! E Governo Dino é parte nisso. Não só Cajueiro. Quando Cajueiro cair, Taim, Rio dos Cachorros, Limoeiro… todas as comunidades da região, com suas milhares de famílias, cairão. E estamos falando de comunidades que estão naquele território desde pelo menos o século XVII.

        E o que está em jogo? Duas visões de Maranhão, que nada mais é do que duas visões de Brasil. Uma – a do Sarney, do Dino e das ELITES PAULISTAS que hoje governam esse buraco que ainda insistimos em chamar de país – que vê o território com um olhar de fora, a partir de interesses alienígenas, na qual interior serve para extrair natureza transformada em mercadoria (minério de ferro, soja, celulose), e o litoral serve como escoadouro. Outra, que foi hegemônica até as últimas formações tupis (1590-1617), que pensa o território a partir dos interesses locais, das necessidades da população.

        Refiro-me às formações tupis, pois embora essas comunidades consigam remontar suas origens ao século XIX, no processo de desagregação do sistema escravista, suas formações sociais remontam, muitas vezes, ao século XVII. Parnauaçu, no Cajueiro, por exemplo, foi territorializada em 1615, quando tupis do Rio Grande migraram junto com os luso-castelhanos no processo de Conquista do Maranhão. Taim vem de bravos Taínos – primeiros povos que entraram em contato com Colombo, considerados extintos pouco tempo depois. Rio dos Cachorros vem de Jaguareté (Jaguar Verdadeiro, Cachorro Grande), hoje esquecido, mas que foi uma das principais chefias tupinambás do Brasil, responsável pela guerra de resistência (1615-1619), cujo o modus operandi – destruir por dentro – deveria ser ensinado nas escolas para que os cidadãos aprendam a se defender de corsários que agem contra a própria terra.

        Enfim…

        Falo a partir do contato que tive com as comunidades da chamada Zona Rural II de São Luís nos estudos e nas lutas de que participei. Falo especialmente do contato que tive com as comunidades da autointitulada Reserva Extrativista de Tauá-Mirim (o xis da questão!), entre elas CAJUEIRO, que foi retirada da reserva em 2012, mas graças à ação de Clóvis, uma de suas lideranças, parte da comunidade, PARNAUAÇU, foi mantida.

        Para comparar os governos, lembremos o que ocorreu m 2010, depois que o então governador Jackson Lago permitiu a criação da Resex. O Lula, como um dos últimos de seus atos, iria assinar o decreto de criação da RESEX do Tauá-Mirim. No entanto, sumiu exatamente a carta de anuência do governador permitindo a criação da reserva. Roseana Sarney havia retornado ao poder, e como a região é de interesse do grupo Sarney… e da Suzano!!!, a carta “sumiu”. Quando Dilma entrou, a coisa estava resolvida: não sairia Resex alguma sem acordo entre todas as partes envolvidas. Detalhe: do Chico Mendes até aqui, reserva extrativista significa que, antes de qualquer coisa, não teve acordo entre o poder estabelecido (governos e empresas) e as comunidades DONAS do território. É do desacordo que surge a necessidade das Reservas Extrativistas.

        O ponto central da discussão, ao meu ver, é se o Brasil deve pautar seu desenvolvimento a partir desse Continum Colonial, que fará da região amazônica e do corredor Carajás (e também do Matopiba do Dino) zonas de sacrifício para o benefício de indivíduos das elites sudestinas, dominadas, também elas, pelos interesses do capital internacional, do qual nós, meros mortais, não temos qualquer controle. Será que as esquerdas brasileiras vão mesmo apoiar esse modelo? Ou será que vai aparecer algum representante político para colocar no cálculo os interesses dos pequenos?

        Jaguareté dizia que mesmo que morresse, o que lhe importava era que os que viessem depois dele lembrassem que ele viveu para destruir a dominação, por dentro. Pena… parece que, entre nossos representantes, falta “jaguar de verdade” nesse mundão de Deus.

        Cajueiro Resiste!

    2. Parabéns por sua postura! a matéria retrata fielmente o que tem ocorrido com a comunidade e a postura do governo estadual frente aos interesses do capital.

  3. Não foi só isso. Quando Demori foi falar com Reinaldo Azevedo pela primeira vez, aproveitou para tripudiar, em ao estilo do ex-colunista da Veja, o desembargador Favreto, por conta do habeas corpus a favor de Lula. Para o edito do The Intercept, estaríamos diante de um “episódio lamentável” do “juiz de cueca”, “amigo do Lula”, como se pode ver no vídeo, aos 51:43 minutos.

    https://youtu.be/2jJM5y5FkqY?t=3102

    Bom, ao notar que o próprio Glenn parecia ir no mesmo sentido caso não fosse interrompido no “Panico” (não tenho o vídeo), fiquei a duvidar do alcance da Vaza Jato. Não que o que foi revelado tenha sido pouco, pois não foi, mas esperava ver diálogos a respeito da armação que foi a condenação no TRF4. Em especial, esperava ver centenas de mensagens que certamente foram trocadas entre os lavajateiros no episódio do Hebeas Corpus, quando a gente sabe que Moro ligou para deus-e-o-mundo ordenando que se descumprisse a ordem.

    Mas não. Demori estava ali esculhambando com o desembargador, transformado “juiz de cueca amigo do Lula”. Enfim, estavam falando da única voz do TRF4 a se levantar contra a transformação da Lava Jato em TRIBUNAL DE EXCEÇÃO, inclusive avisando que utilizar as teses do Agamben a respeito do Estado de Exceção para legitimar que a lava-jato se sobrepusesse à Constituição consistia, na verdade, em utilizar a experiência NAZISTA.

    Hoje, comparam o presidente ao nazismo, mas onde esse sistema foi colocado em prática foi nesse braço judicial do golpe. No mínimo, falta seriedade nessa história. No mínimo!

  4. Tão engraçado e triste que capitalismo (não em sua fase mercantil, mas a fase industrial) e a ideia de jornalismo tenham nascido quase ao mesmo tempo (com os camelôs franceses pré 1789) tenham florescido juntos, e com certeza, morrerão juntos.
    Como o capitalismo, o jornalismo carrega em si a sua contradição fatal.

    Não falo da ação humana de relatar e contar fatos, versões e subversões dos fatos, mas o fim dessa indústria cretina que se autoelogia em busca de esconder sua verdadeira natureza.
    Ou servir a quem lhe paga ou não servir para nada.

  5. Tão engraçado e triste que capitalismo (não em sua fase mercantil, mas a fase industrial) e a ideia de jornalismo tenham nascido quase ao mesmo tempo (com os camelôs franceses pré 1789) tenham florescido juntos, e com certeza, morrerão juntos.
    Como o capitalismo, o jornalismo carrega em si a sua contradição fatal.

    Não falo da ação humana de relatar e contar fatos, versões e subversões dos fatos, mas o fim dessa indústria cretina que se autoelogia em busca de esconder sua verdadeira natureza.
    Ou servir a quem lhe paga ou não servir para nada.

    Já vão tarde?

  6. “Não falo da ação humana de relatar e contar fatos, versões e subversões dos fatos, mas o fim dessa indústria cretina que se autoelogia em busca de esconder sua verdadeira natureza.
    Ou servir a quem lhe paga ou não servir para nada.”
    Neandertal,
    nunca a palavra subversão teve tanta clareza quanto agora, nesse ato breve de filosofar a que você se propôs. Sub versão – a versão inferior de um fato, a imprestável, a inverídica.
    E pra arrematar, o retrato fiel do jornalismo e a sua serventia.
    Andou bem Lobsang!

  7. Não, na verdade tardam muitíssimo em ir para todo sempre. Revoltante como produzem tragédias fingindo-se paladinos da retidão, com uma canastrisse digna do público de sempre. Os estragos que deixam pra trás são de reconstrução improvável. Falta um “a” no codinome primevo que assina seu comentário (nos dias de hoje como confiar nesses corretores(sic) algoritmicos?), no entanto este resume bem a regressão que estamos sujeitos a depender dessa indústria da “informação”.

  8. Em que pese as alegações de Glenn serem verdadeiras quanto a editoria de seu site,ele não pode negar que ele é o astro que atrai gente para lá e,assim,deveria ter mais cuidado em participar onde a linha editorial parece querer seguir o trilho deixado pela mídia tradicional.
    É sempre bom lembrar que este editor foi discípulo daquele menino que fugiu para a Itália e que tem um site de ultra-direita golpista.

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