Pesquisadores falam sobre aquecimento global

É possível que as discussões sobre o Aquecimento Global sejam precipitadas? O planeta Terra realmente está passando por um processo de aumento de temperatura média? E se a resposta for sim, as altas temperaturas registradas são exclusivamente decorrentes de atividades humanas?

Entrevistamos dois especialistas brasileiros para ajudar a sanar essas dúvidas. Um deles é o primeiro glaciólogo brasileiro, Jefferson Cardian Simões. O professor introduziu no país a ciência glaciológica e a Geografia das Regiões Polares lecionada nos programas de pós-graduação em Geociências e Geográficas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Simões também coordena projetos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) e foi coordenador-geral de rede de pesquisas ‘Antártica, as Mudanças Globais e o Brasil’, no período 2002-2006.

O segundo especialista é o engenheiro agrônomo aposentado da Embrapa Pecuária Sudeste, Odo Primavesi. O professor é um dos 17 cientistas brasileiros signatários do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC, na sigla em inglês) que assinaram o documento da Organização das Nações Unidas, juntamente com outros 2.500 cientistas do mundo.

Aquecimento é fato

A especialidade do professor Simões é medir e monitorar as geleiras para reconstruir a história da temperatura do planeta. E ele afirma que as pesquisas apontam para o aumento consistente da concentração de gases de efeitos-estufa na atmosfera.

“Sejam da Groelândia ou na Antártica, os estudos permitiram remontar os registros de 800 mil anos antes. E as concentrações nunca estiveram tão altas se compararmos todo esse período com o que temos hoje”, conta. Logo, as atividades humanas seriam a resposta mais plausível para o aumento da concentração de gases de efeito-estufa, considera o pesquisador.

O professor Primavesi destaca que os principais gases de efeito-estufa são:
– O vapor de água, que representa entre 2% e 4% do produto que compõe a atmosfera;
– O dióxido de carbono/ CO2 – 0,035%;
– O metano/ CH4 – 0,00015%;
– E o óxido nitroso/ N2O – 0,000001% a 0,00001%.

Os gases de efeito-estufa permitem que os raios de ondas, vindos do Sol, entrem no planeta e impedem que a radiação de calor (ondas longas) cheguem a atingir a atmosfera, superaquecendo o planeta.

A segunda função desses gases é não deixar que o calor da Terra seja dissipado de modo veloz para o espaço. Parte do calor, tanto decorrente dos raios que chegam do Sol durante o dia como também produzido pelo próprio planeta, é mantido graças a esse fenômeno. Se não fosse assim, a temperatura da Terra subiria drasticamente durante o dia e cairia de forma não menos vertiginosa durante a noite tornando a vida, como conhecemos hoje, inviável. Ou seja, o efeito-estufa é importante para o planeta, o problema está na intensificação desse fenômeno.

O professor explica que o vapor da água é um gás dinâmico em relação aos outros responsáveis por esse processo, pois além de reter o calor, evitando que a Terra aqueça, pode também promover a queda de temperatura. Quando o calor é muito intenso o vapor se condensa formando nuvens que ao se precipitarem como chuva permitem o resfriamento local.

As áreas secas, sem cobertura vegetal e que não armazenam água, geram calor em excesso e dificilmente produzem nuvens. Logo o aumento de áreas degradadas estaria, ao lado da concentração de gases-estufa, contribuindo também para ao aumento da temperatura no planeta.

“Os gases de efeito-estufa na realidade agravam um problema gerado pelas áreas degradadas, semi-áridas, áridas, desérticas (maior parte produzida pelo ser humano), e que já ocupam 47% da superfície dos continentes”, e completa:

“Antigamente entravam 47% da radiação solar (53% interceptados), atualmente chegam 60% ou mais (menos de 40% da radiação solar interceptada) até a superfície terrestre”.

Era glacial

O glaciólogo Jefferson Simões lembra que o aumento da média de temperatura no planeta é fruto de vários fatores – além da concentração de gases-estufa e de áreas desérticas, não podemos esquecer da importância dos ciclos do Sol. O pesquisador explica que a estrela vive um período de baixa atividade, contribuindo menos para o aquecimento da Terra. Mesmo assim, levando em consideração os balanços entre atividade solar e as emissões de poluentes registradas desde o início do século, a temperatura tende a aumentar.

“Todo o conhecimento dos glaciólogos indica que a próxima era glacial deverá se iniciar entre 5 mil e 8 mil anos, e ao mesmo tempo não existem evidências de que esse processo seja acelerado agora”, conta.

Impacto de baixas concentrações

Os cientistas calculam que nos últimos 140 anos a média de temperatura no planeta subiu 0,8 graus centígrados. A previsão para 2100, caso as emissões de gases-estufa sigam no mesmo ritmo, é que a temperatura se eleve entre 2% e 4% graus. Pode parecer pouco, mas não podemos esquecer que essas são médias – algumas regiões irão registrar altas acima de 8 graus centígrados.

Primavesi conta que se a concentração de CO2 for reduzida de 380 parte por milhão, ou seja, 0,038%, para 350 partes por milhão (0,035%) os problemas apresentados pelos relatórios do IPCC sobre o aquecimento global “certamente serão reduzidos”.

O pesquisador diz ainda que apesar do dióxido de carbono ser um gás de baixa concentração na atmosfera, tem grande impacto na retenção de calor no planeta, assim como o gás metano (CH4, gerado pelo processo digestivo do boi, pântanos e arrozais) que é 25 vezes mais potente que o CO2, e o óxido nitroso (N2O), 250 vezes mais potente na retenção do calor.

Simões também destaca que a baixa concentração não significa a perda de importância desses gases no ritmo de evolução das temperaturas. “O caso mais exemplar é do ozônio. A concentração desse composto é muito baixa – sua camada é de 3 milímetros de espessura – mesmo assim é um filtro importantíssimo para a vida do planeta”, justifica.

Matérias relacionadas:
– Gases de efeito estufa atingem recorde (http://blogln.ning.com/profiles/blogs/gases-de-efeito-estufa-atingem)
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Redação

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