Prefeito vagabundo quer punir coveiro que fez greve e não enterrou defunto

Prefeito vagabundo quer punir coveiro que fez greve e não enterrou defunto

http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2011/09/06/kassab-quer-punir-coveiros-que-ganham-r44039/
Publicado em 06/09/11 às 13h22
Kassab quer punir coveiros que ganham R$440,39

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Homem valente é o prefeito de São Paulo. Por uma tripinha de pé de página publicada na “Folha” desta terça-feira, ficamos sabendo que “Kassab cria comissão para punir coveiros”.

Como se não tivesse nenhum outro problema para resolver na cidade de São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab agora dedica seu precioso tempo para, além de criar um novo partido, “descobrir quais funcionários do Serviço Funerário paulistano participaram da greve da semana passada e ameaça punição, inclusive com demissão”.

Kassab criou até uma comissão de inquérito para investigar “procedimento irregular de natureza grave”, ou seja, fazer greve para conseguir aumento salarial.

Que maravilha, quanta coragem, que espírito público! E os caros leitores deste Balaio sabem qual é o salário-base dos coveiros que entraram em greve para conseguir um aumento de 39%?

Pois fiquem todos sabendo que o salário-base de um coveiro é de estratosféricos R$ 440,39!

Vou repetir por extenso para evitar dúvidas: quatrocentos e quarenta reais e trinta e nove centavos!

Só para lembrar: isto acontece na mesma administração municipal onde procuradores estavam ganhando até R$ 70.000,00 por mês, e só agora o prefeito descobriu e resolveu tomar providências.

Como pode um servidor municipal em São Paulo, a maior e mais rica cidade do país, como a elite quatrocentona não se cansa de repetir, ter um salário-base menor do que o salário mínimo?

Se a Prefeitura de Kassab lhes concedesse o aumento reivindicado, em vez de ameaçar demitir os grevistas, eles passariam a ganhar algo em torno de R$ 600,00, ainda assim menos do que o novo salário mínimo anunciado pelo governo federal a partir de janeiro.

Enquanto isso, em Brasília, os meritíssimos ministros do Supremo Tribunal Federal, que já ganham mais de R$ 26.000,00 e querem receber R$ 30.000,00 por mês, reivindicam, sob o comando do líder classista Marco Aurélio Mello, aumentos para o Judiciário de até 50%.

Ao pedir o reajuste, os ministros do STF alegam que estão, na realidade, “pedindo uma reposição de perdas”, ainda segundo o noticiário da “Folha”. E os coveiros estão fazendo o que?

Mello resolveu ir à luta, no melhor estilo dos líderes sindicais de antiamente: “É preciso enxugar a máquina administrativa e não deixar que a arrecadação vá pelo ralo com administradores corruptos”.

Na mesma edição em que noticia discretamente a ameaça de Kassab aos coveiros, a manchete da página A10 do caderno “Poder” nos informa que “Judiciário, em guerra por aumento, lidera gastos com pessoal”.

De acordo com a matéria, o número de servidores ativos do Judiciário cresceu 48,8% no período entre 2002 e 2010, enquanto os poderes Legislativo e Executivo tiveram um aumento de pessoal da ordem de 22,5% e 18,3%, respectivamente.

Em valores nominais, a despesa do Judiciário com pessoal no período cresceu 154% _ e eles querem mais. O governo federal foi obrigado a recuar e incluir na proposta orçamentária para 2012 uma previsão de mais R$ 7,7 bilhões nas despesas, que é o que vão nos custar os aumentos do Judiciário, caso o Congredsso Nacional aprove as reivindicações dos meritíssimos.

Já escrevi aqui na semana passada, e nunca é demais repetir: o Brasil não é um país pobre, é um país injusto, profundamente injusto.

O tratamento dado às campanha salariais lideradas pelos ministros do STF e pelos coveiros de São Paulo, na mesma época e no mesmo país, é emblemático do profundo abismo de desigualdades sociais em que ainda vivemos, nestes primeiros anos do segundo milênio.

Redação

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