TV GGN: Especialista em Oriente Médio critica naturalização da violência em Gaza

Salem Nasser ressalta tentativa de apagamento da realidade e questiona falta de notícias sobre o assassinato de crianças palestinas na mídia.

Crédito: Agência Anadolu

Nesta terça-feira (24), mais de 50 países se uniram para apresentar na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) um projeto de resolução para a guerra entre Israel e Hamas, em que uma das solicitações é o cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. 

As manifestações pelo fim do conflito que já assassinou mais de duas mil crianças palestinas desde 7 de outubro partem não só de países, mas de comunidades, docentes, historiadores e intelectuais. 

O programa TVGGN 20H desta noite recebeu dois deles para comentar a escalada da guerra no Oriente Médio: Michel Gherman, professor de Sociologia e do programa de pós-graduação em História da UFRJ e pesquisador do Centro de Estudos sobre o Antissemitismo da Universidade de Jerusalém, e Salem Nasser, professor de Direito Internacional e especialista em Oriente Médio.  

Cancelamento

Nasser comentou no programa a perseguição que sofreu após a publicação de seu artigo no jornal Folha de São Paulo, em que criticou a decisão editorial do veículo para chamar o Hamas de grupo terrorista sistematicamente. 

“As palavras terrorismo e grupo terrorista há muito deixaram de significar alguma coisa que possamos compreender. A palavra é usada, sobretudo, para fins retóricos e traz consequências terríveis, porque uma vez que você cola sobre alguém a palavra terrorista, você automaticamente está autorizado a fazer com ele o que você quiser”, explica o professor de Direito Internacional. 

Descendente de libaneses, Nasser comentou que o Hezbollah destruiu o sistema de espionagem de Israel no país, o que pode fazer com que a guerra se amplie e atinja o Líbano também. 

Desconfiança

O especialista criticou ainda a cobertura da mídia tradicional em relação ao conflito, tendo em vista que pouco se fala sobre os ataques israelenses que já vitimaram mais de duas mil crianças. “A informação que está chegando e que a gente vai naturalizando é tão absurda que deveríamos desconfiar. Parece que estamos ouvindo uma história diferente e essa informação não está lá. Estamos diante de um esforço muito grande de apagamento da realidade.”

Em relação à participação dos Estados Unidos como promotor da violência de Israel à Faixa de Gaza, Nasser explica que os ingleses decidiram criar o Estado de Israel como um aliado e uma fonte de petróleo, aliança posteriormente assumida pelos norte-americanos.  

“No vídeo do [Joe, presidente dos EUA] Biden ainda jovem diz que se Israel não existisse, eles teriam de proteger os interesses na região. Então, Israel é visto pelos EUA como um posto avançado e a gravidade do ataque do dia 7 foi tal que eles sentiram a necessidade de correr em socorro de Israel muito rapidamente e intensamente. Nunca vimos um envolvimento tão forte dos americanos”, observa. 

O convidado do programa ressaltou ainda que esta guerra se explica também pela proximidade das elites ocidentais com os político e as fortunas israelenses, tanto é que, enquanto a opinião pública demonstra, por meio de manifestações em todo o mundo, repúdio aos ataques à Gaza, os governos seguem na direção oposta. 

Extrema direita

Historiador, Michel Gherman comentou que os dois grupos envolvidos na guerra saíram enfraquecidos. O Hamas, graças à barbárie ao assassinar, de forma quase ritualística, mais de 260 jovens em 7 de outubro, e o governo de Netanyahu, pelas falácias produzidas por ele que caíram por terra, como a ideia de patriotismo, de defesa e da negativa em negociar com os palestinos. 

No entanto, o conflito deu ao bolsonarismo combustível para uma guerra ideológica da qual a extrema-direita estava órfã. 

Antes do início do ataque, o professor observa que o discurso dos bolsonaristas estava reduzido à desmoralização da Lei Maria da Penha e à tentativa de ligar Lula, o PT e a esquerda ao Hamas. Ambos os discursos almejavam a criação de um pânico moral.

Confira as entrevistas de altíssimo nível de discussão na íntegra em:

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Camila Bezerra

Jornalista

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