Fernando Castilho
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
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17/10, enfim termina a CPMI, por Fernando Castilho

Quem não ficou revoltado com o deputado da 5ª série que a todo momento tumultuava a sessão, mas que nunca foi retirado da sala?

Geraldo Magela – Agência Senado

17/10, enfim termina a CPMI

por Fernando Castilho

A CPMI dos atos golpistas do 8 de janeiro prometia indiciar os vândalos, os terroristas, os financiadores, os mentores e o chefe.

No início, todas as terças-feiras (às vezes também as quartas) nos postávamos à frente da TV ávidos de ver, enfim, a justiça ser feita, já que o governo possuía ampla maioria e começava a convocar as pessoas certas para depor.

Mas o fato é que de um mês e meio para cá, a oposição golpista começou a quase virar o jogo. Não, os parlamentares de extrema-direita nunca conseguiriam provar que o recém-instalado governo Lula foi omisso naquele triste dia, porém, demonstraram força para transformar a sala da comissão num verdadeiro circo, que me perdoem os palhaços, trapezistas e mágicos.

Houve quem acenava e piscava para o bandido que tentou explodir uma bomba próximo ao aeroporto de Brasília, o que poderia, caso não falhasse, matar mais de mil pessoas.

Houve parlamentar que chegou a chamar o tenente-coronel Mauro Cid de herói nacional.

Houve muita estridência, grosseria e mentiras por parte da extrema-direita.

Quem não ficou revoltado com o deputado da 5ª série que a todo momento tumultuava a sessão, mas que nunca, apesar das inúmeras ameaças do presidente da comissão, foi retirado da sala?

Chamou também muito a atenção um ex-juiz, agora senador, que afirmou por três sessões consecutivas que a Força Nacional deveria ter agido para impedir as depredações. Por mais que os parlamentares da situação lembrassem que, pela Constituição, essa força só poderia entrar em ação se recebesse ordens do governador do Distrito Federal, o tal senador insistia, já que não é nada afeito às leis.

Ou seja, um circo com anuência do presidente da comissão.

Além disso tudo, ministros do STF concediam baciadas de habeas-corpus aos depoentes para que pudessem permanecer em silêncio. Teve até um que permitiu que um dos bandidos não comparecesse, ignorando o poder da comissão.

A CPMI prometia convocar o general Braga Netto, mas não o fez. Por duas vezes. A própria relatora chegou a afirmar em entrevista que o golpe só não se consolidou graças aos militares. É mole?

E, de repente, acaba.

O relatório da senadora Eliziane Gama provavelmente indiciará alguns golpistas, provavelmente o ex-presidente, mas não alcançará outros peixes graúdos. Talvez o único empresário “ouvido” pela CPMI e olhe lá.

Também não constarão do relatório os deputados e senadores que o tempo todo tentaram defender os golpistas que, na minha opinião, durante toda a CPMI participaram ativamente de uma segunda fase do golpe, qual seja, a tentativa de livrar os que serviram de bucha de canhão, chamados de velhinhas com Bíblias na mão, o homem da bomba, Mauro Cid, Augusto Heleno, Silvinei Vasques, Anderson Torres e o próprio ex-presidente. Mesmo que este último escapasse de ter seus sigilos telemático e bancário quebrados por manobra do presidente Arthur Maia, parece certo que será indiciado. E sem Augusto Aras na PGR, provavelmente esse indiciamento será aceito. Um ponto importante para a relatora.

Mas, apesar disso, Eliziane Gama ficará devendo o indiciamento de vários outros pesos pesados e um encaminhamento dos canalhas deputados e senadores que ajudaram a colocar o golpe na rua para as comissões de ética respectivas das duas casas parlamentares. Não poderiam ficar impunes!

Enfim, uma CPMI que serviu muito bem para que parlamentares golpistas pudessem lacrar em suas redes sociais.

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor

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Fernando Castilho

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

2 Comentários

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  1. É tudo muito difícil. Vivemos num mundo distorcido, onde o debate público é interditado pela imprensa golpista. Dessa forma, temos uma maioria de picaretas formando a bancada federal, As coisas não andam.

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