Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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1973, Parte II, por Felipe Bueno

Sinto-me impelido a escrever sobre o fatídico 1973, ano que teima em se manter na lista dos mais decisivos para a humanidade.

Chile, 1973

do Observatório de Geopolítica

1973, Parte II

por Felipe Bueno

Quem vive da História é passível de receber lembretes inesperados. Chegam em uma letra de música, uma frase na parede, uma foto, uma página de livro, uma cena de filme. Numa analogia com o punctum de Roland Barthes (aqui aproveito para recomendar A Câmara Clara, um livro para a vida inteira), de tempos em tempos aparece algum alerta, um aviso para que você olhe no calendário.

Nas minhas expedições pelo cinema latinoamericano, descobri recentemente Post Mortem, produção chilena de 2010 dirigida por Pablo Larraín.

E mais uma vez sinto-me impelido, como já havia acontecido antes nesse mesmo espaço, a escrever sobre o fatídico 1973, ano que teima em se manter na lista dos mais decisivos para a humanidade.

O filme mostra a vida de um funcionário de necrotério, ser humano comum e ordinário como todos nós, “quotidiano e tributável”, como diria Álvaro de Campos/Fernando Pessoa (ver Lisbon Revisited), numa jornada aparentemente sem atrativos e sem significado, pelo menos até o momento em que os idos de setembro se aproximam.

No Chile, 1973 foi o ano do assassinato, político e literal, de uma experiência. Sai de cena uma liderança eleita democraticamente, entra uma junta militar, composta, como em geral acontece, por um ditador, seu séquito e seus fantoches. Vem, na sequência, a anestesia social, ativa e passiva.

A História é repleta desses silenciamentos. Apaga-se um farol, a sociedade fica às escuras. Predadores que se movem sob pouca luz tomam o cobiçado poder ou se reúnem em seu entorno. Hora da família, hora dos “homens de bem”.

O sangue derramado de inocentes deveria chocar, mas a anestesia social é poderosa, violenta e contraditória: torna o ser humano empedernido e insensível. Mais que isso, e aí vem a grande contradição, o faz a partir daí regido pelo ódio, que no fim das contas não deixa de ser uma manifestação  – doentia – de sensibilidade.

Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

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