A isca do machismo quando a mulher paga menos, por Matê da Luz

A isca do machismo quando a mulher paga menos

por Matê da Luz

Se você tem uma vida social mais ou menos ativa, certamente já esteve presente em casas noturnas ou bares que cobram entrada anunciando valores diferenciados ou gratuidade para mulheres. “Uau, mas até disso vai reclamar? Mulher é chata mesmo!” 

Antes de mais nada, sim, até disso vou reclamar. Depois, vale saber que quem levantou a bola mais recente neste contexto foi um estudante de direito brasiliense menino, o Roberto Casali Junior que, em entrevista à TV, disse: “eles transformam a mulher em um produto e fazem o homem de trouxa, pois é ele quem deve pagar um valor maior. Dessa forma, o estabelecimento ganha mais com isso”. De novo: não tem problema algum estabelecimentos comerciais desejarem ganhar mais dinheiro, afinal, este é o intuito de todo e qualquer empresário, ou deveria ser. As questões aqui apresentadas são, basicamente, a que preço (quase que literalmente). 

Sob a visão do estudante de direito, esta prática viola as leis do consumidor, uma vez que o produto ofertado é o mesmo para homens e mulheres e, então, deve ser vendido pelo mesmo preço, uma vez que tanto homens quanto mulheres são vistos com igualdade pelas leis (são? ah, tá!). Na prática, quando foi comprar ingresso para um show, percebeu o valor diferenciado e solicitou a compra no valor mais baixo, argumentando que o produto é o mesmo. Após a negativa do estabelecimento em realizar a venda balizada pelo preço “de mulher”, o advogado entrou na justiça exigindo o direito a pagar o valor mais baixo. 

A resposta do judiciário foi rápida, concedendo uma liminar favorável ao pedido justamente embasada pelo argumento de igualdade de gênero do consumidor. “Não há dúvida de que a diferenciação de preço com base exclusivamente no gênero do consumidor não encontra respaldo no ordenamento jurídico pátrio. Ao contrário, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) é bastante claro ao estabelecer o direito à “igualdade nas contratações”, alega a juíza Caroline Santos Lima em sua decisão.

Mas não para por aí. A juíza expressa o uso da mulher como isca para atrair os homens para eventos: “Fato é que não pode o empresário-fornecedor usar a mulher como “insumo” para a atividade econômica, servindo como “isca” para atrair clientes do sexo masculino para seu estabelecimento. Admitir-se tal prática afronta, de per si, a dignidade das mulheres, ainda que de forma sutil, velada. Essa intenção oculta, que pode travestir-se de pseudo-homenagem, prestígio ou privilégio, evidentemente, não se consubstancia em justa causa. Pelo contrário, ter-se-á ato ilícito”, afirma a magistrada na liminar. Aplausos para o registro que, infelizmente, só dá conta deste evento em particular mas, de qualquer forma, abre precedente e levanta o questionamento para a ação feminista embasada e sólida neste mundo e arredores.

Quero só ver macho vir falar que é mimimi.

Mariana A. Nassif

14 Comentários

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  1. Tenho visto

    muita coisa sobre direitos de homens e mulheres juntos e isoladamente.

    Tenho visto mais que sempre o claro objetivo de nos verem para sempre inimigos, veja você.

    Tenho visto todo e qualquer filme, informação e publicidade fortalecer o ego masculino e canalizá-lo para a violência.

    Certa feita assisti a um filme com a Bete Midler, Goldie Hawn e Diane Keaton “The First Wives Club”, quase impossível de se achar em português,  e do qual me lembro apenas uma frase:

    ” Não fique com raiva, fique com tudo”

    Se a mulher pode se divertir economizando seu dinheiro, que o faça.

    Se o computador de primeira linha sobrou e  custa 50% mais barato porque é cor de rosa,  que se compre e ponha uma capinha.

    Se o barbeador rosa sobrou e é mais barato, beleza!

    Se o homem aceita pagar mais para ter a  presença feminina, podemos  traduzir que ela  seja uma  presença cara.

    Hoje os homens podem adotar o nome de suas esposas, conforme o Novo Código Civil, porque alguns homens, vejam vocês, interessados na condição econômica de suas esposas se viram prejudicados  quando da separação e impetraram ações judiciais com esse pleito.

    Tudo é uma questão de se saber lidar com prerrogativas.

    O rapaz que reclamou tem razão.

    A moça que entra de graça no baile ou paga menos também tem razão.

    A moça que paga menos ou entra de graça  só deverá ter o cuidado de saber onde frequenta.

    Se for dançar em forró risca-faca, deverá dançar obrigatóriamente com o primeiro cabra que convidá-la

    Em se negando poderá ouvir, – “Tu dança cumingo purquê entrô di graça”

    Mas isso é exceção.

    Eu também diria isso se tivesse no lugar dele (social e economicamente)

     

    1. Pink Tax

      Ano passado saiu uma pesquisa feita pelo Departament of Consumer Affairs (DCA) de Nova Iorque que concluiu que os produtos direcionados para as mulheres são em média 7% mais caros que os mesmos consumidos pelos homens. Essa diferença foi chamada de Imposto Rosa.

      Apesar do estudo ser americano eu, como mulher que vive no Brasil, percebo muito bem essa desigualde de preços e de gênero no que eu consumo. Apesar de não existir barbeadores rosa, existem aparelhos para depilar que são decorados com a famigerada cor. Até pouco tempo atrás, a Gillette fazia lâminas que encaixavam em qualquer aparelho, seja de barbear, seja de depilar (os aparelhos são diferentes em seu design pois são para objetivos um pouco diferentes). Só que isso acabou quando lançaram o Gillette Venus: os refis dos aparelhos de barbear não encaixam nesse aparelho. Muitas mulheres, assim como eu, compravam os refis para barbear e encaixavam no aparelho de depilar. Por que? Porque o refil para barbear era mais barato, assim como a espuma de barbear: ela pode ser ceca de 2/3 mais barata que a espuma de depilar.

      E essa diferença não pára nos barbeadores e depiladores. Minhas roupas eu só compro em liquidação e promoções pois é quando o tal Imposto Rosa é descontado. E a roupa não precisa ser necessariamente da cor rosa, só basta ser direcionada para as consumidoras. No caso do post, entende-se que as baladas e serviços de casas noturnas são de fato direcionados para o consumidor masculino e o tipo de entretenimento que esse público procura nestes estabelecimentos é totalmente influenciado pelos diferentes papéis impostos a homens e mulheres em nossa sociedade. Portando, não se pode ignorar esta questão, muito menos que as mulheres reclamam de barriga cheia ou que só mimimi de feminista.

      1. Mulheres ganham menos que os homens para fazer o mesmo trabalho

        Se mulheres ganham menos que os homens para fazer o mesmo trabalho, então é justo que elas paguem menos pelo produto de quem as explora mais, que são os empresários e empregados.

      2. O que serve para USA não serve para usar

        Ví essa pesquisa e comentários a respeito.

        Essa discussão é longa, Ivanise mas em vez de queixa, luta-se e aproveita-se.

        As mulheres também vão às baladas para se divertirem e se, por exemplo os homens forem tão escassos

        que elas tenham que pagar pelas suas presenças, elas não o fariam?

        E se aquelas com poder aquisitivo maior do que os homens à sua volta quiserem se impor para fortalecer o próprio ego?

        Tem gente pra tudo e tudo pra gente neste mundo e dinheiro não tem sexo.

        Eu também só compro em liquidação, acho moda, coisa rosa, especialidades para homens ou mulheres uma palhaçada.

        Acho que vender calça suja e rasgada por 1000 reais é um acinte.

        A gente rala a vida inteira pra poder comprar uma roupa legal e no fim, se quiser andar na moda vai ter que comprar uma roupa rasgada. “Dá licença, né?”

        Acho que um tenis vermelho com sola jacaré´vendido por 1000 reais somente para os jovens de comunidades porque lá  é moda e símbolo de status , um abuso. E mais,  aquele que não pode ter, rouba pra comprar ou rouba de quem tem pra usar

        E sim, existem barbeadores rosa , justamente da BIC, vem um monte num saquinho e custa uma merreca. A gente acha nas lojas de um real ou caixas de supermercado. Não valem nada. Os melhores são os azuis descartáveis básicos, que duram quase um semestre se usados uma vez por semana.

        Esticando o assunto, os homens quando fazem alguma coisa, pensam o mundo a partir de si, então, tudo o que nos seja adaptado, desde que não haja custo, é bem vindo.

        Veja a dificuldade quando você precisa usar uma ferramenta:

        Observe esse vídeo e veja o tamanho e o peso dos apetrechos

        :[video:https://youtu.be/11pwVuMpCp0%5D

         

        As poltronas dos ônibus, a altura das portas, as ferramentas comuns, a altura das pias, dos balcões, as pequenas coisas das quais não nos damos conta, tudo isso, era de um padrão que tornava mais difícil a já difícil vida das mulheres.Há lugares onde ainda não há banheiros para mulheres. São hoteis, repartições e outros redutos.

        A lindíssima Ellen de Generis deu os seus pitacos nos legou essa pérola,

        a BIC ESPECIAL PARA MULHERES

        [video:https://youtu.be/TFW5JsGPbt4%5D

         

         

  2. Eu não merecia essa estrela, mas de qualquer forma, obrigado

    Se um dia eu voltar a ser dono do bar, mulheres entrarão, é claro, mas lá será tudo pré-pago. Quanta dor não teria sido poupada se a boate kiss recebesse previamente o valor? Era o fogo se alastrando e os porteiros e seguranças impedidndo as vítimas de escaparem, porque lá era toma lá, dá cá.

    Quando o ganho material tiver menos valor do que a vida aí a vida será um bar ambulante na beira das mais ermas estradas

    Ou você ia querer entrar de grazie?

  3. A perigosa judialização do nosso cotidiano

    O que o povo normalmente faz, voluntariamente e em forma tradicional, devia ser a Lei. A Lei devia regulamentar e priorizar os usos e costumes do seu povo.Daqui a pouco um homem vai ser processado se abrir a porta do carro para uma mulher, ou se este insistir em pagar a conta num restaurante, por exemplo. Bares (ou supermercados) que oferecem coisas do tipo: leve três e pague dois serão demandados por consumidores que apenas querem uma unidade?

    Em tempos de aprovação da “vaquejada”, juizes estão judicializando o cotidiano do brasileiro. A Juíza devia ter falado para o autor da demanda de que aqui no Brasil isso é costumeiro e que era ele quem devia procurar uma melhor opção, aceitando a liberdade dos outros.

  4. ? ?

    E sobre o absurdo de se estender até os 30 anos de idade a meia entrada de estudantes ?

    Até os 21 anos já estava bom de mais ! A consequência são os preços exorbitantes dos eventos , em que os pagantes integrais na faixa dos 31 aos 60 anos têm suportar o subsidio dados aos estudantes até 30 anos e aos idosos a partir dos 60 . 

    1. O benefício que não se vê

      Você só vê seu prejuízo dos 30 aos 60 anos, mas não vê os seus benefícios antes antes dos 30 e depois dos 60 anos.

      Você deve ter mais de 30 e menos de 60 anos.

  5. cada dia dá mais preguiça ler

    cada dia dá mais preguiça ler a Matê da Luz… é uma futilidade pequeno burguesa atrás da outra…

    Que a coisificação da mulher como isca de dinheiro é reflexo do machismo não há dúvida. Que o machismo deve ser combatido ferozmente para termos uma sociedade melhor, acredito que também não há dúvida. Ou seja, acredito sim que é uma prática condenável, reflexo de uma sociedade tosca.

    agora, para que gastar energia de luta com algo que se conquistado não alterará ABSOLUTAMENTE NADA em relação ao machismo e ao patriarcado?

    Que porcaria de texto inútil, matê!!!

    de novo.

    E ainda acaba chamando a machaiada pra briga, como se tivesse descoberto a roda. Uau, matê, como você é brilhante e corajosa!! Clap, clap. clap. clap

    Patético.

  6. Lutar para viver mais um dia não nos trará a imortalidade

    Mas todo mundo luta para viver mais um dia, apesar dessa conquista não trazer a imortalidade.

  7. Minha opinião é que as mulheres sabem bem disso e também usufruem do lado feminino dessa história.

    Ou elas vão só pra dançar pra não serem incomodadas por nenhum homem?

    Que atire a primeira pedra a mulher que já foi a uma balada e nunca ficou esperando um cara chegar nela.

    Serem tratadas como “isca” é algo que torna a balada ingressante para ambos os lados, quando muito o homem ainda paga pelas bebidas que elas consomem e carona pra casa.

    Ao usufruir disso, a mulher demonstra claramente que quem comanda a diversão é ela mesma, se pondo como um troféu a ser disputado e conquistado pelos homens.

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