Fernando Horta
Somos pela educação. Somos pela democracia e mais importante Somos e sempre seremos Lula.
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Agora pode! Agora dá!, por Fernando Horta

Agora pode! Agora dá!, por Fernando Horta

Uma pequena amostragem é suficiente para a verificação do aumento de crimes de ódio, pelo país afora, após a eleição de Bolsonaro. Não que o Brasil não fosse uma sociedade preconceituosa, violenta e sem o mínimo respeito pelo “próximo”, pelo “cidadão” ou pelo “ser humano” (tanto faz aqui usar as designações oriundas de pensamentos distintos com mesmo interesse). Tenho escrito, aqui e acolá, que uma das características (e força) do fascismo é o compartilhamento do uso legítimo da força. Qualquer estudante de segundo semestre de um curso de humanas conhece a definição clássica de Estado de Weber como o “monopólio legítimo do uso da força”; pois o fascismo abre mão deste monopólio, a violência social é compartilhada com os “apoiadores”, “seguidores” ou “correligionários”. O fascismo encanta porque concentra poder ao dispersá-lo, e da forma mais perversa possível.

Uma das propostas-chave, e uma das únicas claras de Bolsonaro, era a ampliação do direito ao uso de arma de fogo. Uma parte dos analistas de esquerda têm, erroneamente a meu ver, estabelecido uma relação deste ponto com o “fracasso do campo progressista em propor algo para segurança pública” e os mais de 60 mil assassinatos por ano no Brasil. Há uma correlação lógica que parece explicativa: a esquerda supostamente não “abraçou” a causa da “segurança”, são assassinados mais de 60 mil pessoas por ano no Brasil (mais do que praticamente o resto do mundo somado) e surge um candidato que “capitaliza” este discurso.

A correlação não é, porém, explicativa e nem tampouco lógica. Bolsonaro, por exemplo, não foi mais votado em locais com alta taxa de criminalidade (na estratificação por bairros, por exemplo). Os gráficos das manchas (de voto e de crimes) não são conclusivos para afirmar que foi a questão da segurança pública a definidora. O movimento de extrema direita cresce no mundo todo, e em locais com baixíssimo número de mortes por cidadão, como na Europa, por exemplo. Parece mais lógico que a histeria da igualdade social, que acometeu a classe média brasileira ressignificou a questão da segurança pública, dando a ela o condão de ser justificativa para o aumento da violência de Estado e não sua causa.

Se pudéssemos definir o que é “Estado Mínimo” haveríamos de escolher quais os serviços ele deve ou não se responsabilizar. Para a direita e extrema direita Educação, Saúde, Previdência, proteção ao trabalho e controle econômico são áreas em que o Estado não deveria atuar. Entretanto, os mesmos grupos são ávidos por impor regras e sanções criminais a todo tipo de comportamento que divirja de suas concepções éticas. Fortalecem a polícia, o exército, a justiça e todo o aparato repressor do Estado, impondo padrões e leis até para o uso privado dos próprios corpos dos cidadãos. É ilógico defender “estado mínimo” e aumentar o jugo e controle deste estado sobre a vida e o comportamento dos sujeitos. É ilógico se não se observa que, por trás da retórica moralista ou da “segurança pública” está o interesse imediato na defesa da propriedade privada usando recursos públicos.

Se as populações mais pobres pudessem escolher quais partes do Estado seriam extintas para atender o ideal de “estado mínimo”, certamente a polícia, o exército, a diplomacia, a justiça e o controle do câmbio seriam áreas jogadas de lado. O custo-benefício destas áreas, para quem ganha até três salários mínimos é tremendamente negativo. Pobre só conhece a polícia na ponta da borracha, apanhando ou sendo morto “por engano”. Da justiça só sabe que só o auxílio moradia dos juízes é o sonho-patamar de ganhos para seus filhos e talvez netos. Exército, diplomacia e controle de câmbio, estas populações só enxergam em filmes ou em demonstrações abjetas de incompetência, como no estado do RJ.

Fica claro que a pauta da “segurança pública”, no Brasil, funciona como um gatilho social a reunir a classe alta e média contra os desaventurados e mais necessitados. Exatamente da mesma forma que a “imigração” nos EUA e na Europa ou a questão dos “judeus” na Alemanha nazista. É uma figura retórica que soa verdadeira e que esconde a ideia de fortalecer o Estado para proteger-se dos mais pobres.

O liberalismo fez isto durante todo o século XIX e XX com a construção e reforço das noções de “ordem”, “lei”, “crime”, “pena” e etc. Litros de tinta já foram gastos para mostrar que, se bem estas noções não são totalmente formadas pela percepção da luta de classes (em benefício das elites), elas assim são utilizadas. O exemplo do Brasil é eloquente. A maioria dos nossos presos é preta, moradora de periferia, jovem e homem com problemas com as leis referentes às drogas. Aquelas leis que dizem que helicóptero com meia tonelada de cocaína e filho (branco) de desembargadora com 130 quilos de maconha no carro são “circunstanciais” e não merecem atenção ou prisão do estado, mas um jovem negro com 30 gramas de maconha é preso, trancafiado desumanamente em nossos presídios e pode pegar, pela lei, de cinco a 15 anos de cadeia.

Da noção tosca de “individualismo”, juntando com a necessidade de “diminuir o Estado”, “preservar a moral e os bons costumes”, surge a ideia de compartilhar o uso da força com o “cidadão de bem”. O fascismo se diferencia de uma ditadura militar exatamente neste ponto. A liberação da posse de armas – que pode sair em forma de decreto presidencial nesta sexta feira – é a base para a formação de milícias fascistas pelo país, e vai nos colocar numa trilha sem volta de pesadelo e violência.

Desde a eleição de Bolsonaro o país vive o clima da liberalização da violência. Mensagens como “já tá liberado matar veado?”, “tem que meter bala em esquerdista, quilombola e índio” ou mesmo em professores e artistas, são comuns nas redes sociais e áreas públicas pelo Brasil afora. O sentimento é de que “agora dá, agora pode”. Tudo o que antes era proibido pelo Estado, agora é permitido e a extinção física das oposições é promessa corrente na boca do atual mandatário do Brasil e também de seus filhos, que não se sabe que cargo efetivamente exercem.

Se o controle da violência é uma característica essencial do Estado e se este controle tem efetivamente um viés de classe, a defesa das classes mais baixas é pela construção de uma racionalidade restritiva aos poderes de Estado. E isto, longe de ser uma bandeira comunista, é oriunda dos pensadores burgueses do século XVII. Locke, Rousseau, Montesquieu e etc. defenderam ferozmente a racionalidade sobre a violência e o Estado tendo como fronteira os direitos inalienáveis do cidadão. Isto é “liberalismo”.

Não têm o direito de usarem o adjetivo liberal os que criam braços do Estado para fiscalizar o corpo, as ideias, as práticas civis ou religiosas de cidadãos com a desculpa da “ordem”, da “moral” e dos “bons costumes”. O nome disto é FASCISMO e ele vem acompanhado de massas ensandecidas armadas e empoderadas por um líder que permite tudo aos aliados e não garante nem a vida dos opositores.

Se o decreto fascista sair na próxima sexta feira, sugiro que a esquerda compre armas. Bastante. E aprenda a usá-las.

Fernando Horta

Somos pela educação. Somos pela democracia e mais importante Somos e sempre seremos Lula.

13 Comentários

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  1. Democracia X Ditadura

    É absolutamente incongruente este discurso sobre POSSE DE ARMAS.

     

    Foi decidido no voto a vontade da maioria do povo brasileiro, e como em uma democracia se respeita a vontade da maiora, não há o que ser minimamente debatido até que esta vontade seja revista.

     

    Até o momento, desde 2005, ocorreu um desrespeito ao voto popular.

     

    Se o voto popular é igual ao meu é democracia, senão é é ditadura ?

    1. Tudo bem, faça mos outros

      Tudo bem, faça mos outros plebiscito então, já que o tema é banstante delicado e gralemente fazendo parte até de constituições. Não pode ser política de governo, e sim de estado.

      Em pesquisas atuais mais de 60% d apopulação são contra uam mior flexibilização de armas de fogo no país.

      E vale lembrar que ter arma já é permitido, desde que se tendam a certos requisitos.

      E que mais de 50 mil armas são vendidas no Brasil  anualmente e atualmeente no Brasil, sendo 15 mil para segurança privada e o restante para cidadãoscomuns.

      Então liberar duas armas e o porte nas ruas vai somente aumentar crimes passionais, roubos de armas e lucros das empresas de armas, semdo que a eficiência de uma arma de fogo como defesa é comprovadamente aqui, ou no exterior, é de somente 5%. Os outrso 95% da reação do cidadão é morte certa do inocente e que acha que vai se defender.

       

       

       

      1. O povo decidiu

        Primeiro devemos respeitar a vontade popular, sob pena de nunca mais respeitarmos a vontade popular, para nada, inclusive para eleições diretas.

        Depois podemos fazer quantos plebiscito desejarem, mas não se pode simplismente remover a vontade popular,

        Este é um tema que foi chamado para voto popupar, cada pais decide como proceder, aqui foi assim.

        Como eu votei, eu votei contra a liberação das armas, mas aceito a derrota.

        O que esta em jogo neste momento é muito mais respeito a democracia do que as armas em si.

        Alias já são 60.000 homicidios ao ano, se baixar 1.000 casos, falarão que foram as armas que deram mais segurança, olha o risco que corremos….

         

    2. Muito contra gosto…
      É…
      Foi 64 a 36, se não me falha a memória.
      Dureza. Como não levar tanta bola nas costas?
      Tenho pensado muito nisso.
      Lembra uma piada do advogado falando com o cliente que acabou de levar uma longa pena de prisão:
      -Mas a nossa tese de defesa era melhor que a da acusação!

    3. Papo furado, repetir bolsonarices é deturpar verdades

      NÃO É VERDADE que o resultado do referendo foi “desrespeitado”.

      A pergunta submetida ao voto popular foi: “A comercialização de armas e munições deve ser proibida no Brasil?” (sim ou não)

      O “não” foi vencedor e daí a comercialização se manteve, como já era antes, dentro das regras legais de posse e porte.

      Portanto, ficar papagueando bolsonarices é caracteristica comum aos bolsotários.

      “Mentira mole em verdade dura tanto bate até que fura”, como já dizia Goebbels (hehe)

      1. Recorde

        Obrigado pelo seu comentário 

         

        voce consegue lembrar quais eram os critérios praticados antes e depois para concessão da posse?

         

        eu só usaria a expressão se manteve, se os criterios tambem se mantivessem.

         

        nao se mantiveram, como ocorreu a derrota no plebicito, se dificultou o acesso alterando as regras de posse, que e um poder do Executivo 

        1. Flagrado em erro, continua insistindo na desinformação…

          Meu caro Campos, desde que eu nasci, há muito, a comericialização de armas e munições no Brasil sempre foi permitida, como ainda é até hoje: se vc solicitar o direito de porte, reunir os requisitos necessários, adquirir uma arma em revendedor autorizado e registrá-la devidamente, voce pode. Quanto às regras, em qualquer área, pública ou privada, elas mudam e se ajustam constantemente, pois as coisas mudam, como neste imenso atraso à que estaremos certamente condenados aqui nesta “pátria amada” (acredite, eu a amo mais do que os que usam este bordão, nunca esquecendo que pátria inclui pessoas).

          O que houve em 2005 foi o referendo citado, que foi RESPEITADO. As regras mantidas referem-se ao Estatuto do Desarmamento, então aprovado no Congresso, previamente ao referendo.

          Se voltarmos a discutir política, em vez de fulanizá-la ou pararmos de dividir o país em petê e não petê, poderemos reiniciar (de novo, lá atrás) o árduo processo de um dia transformarmos este país em nação, coisa que não terei mais tempo de ver.

           

  2. assustador…

    e não será a morte de brasileiros que vai provar que o Fernando Horta está certíssimo,

    será o aumento repentino e asssustador do número de brasileiros mortos

     

    vamos mostrar ao mundo civilizado que o fascismo brasileira se alimenta de cadáveres

  3. Lamento informar
    TUDO indica

    Lamento informar

    TUDO indica que o BRASIL não terá um ano, como informa o NYT, mas mais de DÉCADA fatídica ..e a razão pra essa conclusão é simples e esta à vista de todos, só não acredita quem ainda esta sobre o choque da NEGAÇÃO.

    Observem a VELOCIDADE com que trogloditas golpistas, autoritários e ignorantes, estão promovendo o DESMANCHE do Estado democrático de direito, e cidadão, que vinha sendo construído a duras penas nos últimos 20 anos – até 2014 – por esta Nação ?

    O realinhamento com o OPRESSOR do Norte ..a venda das ultimas estatais (detentoras de monopólios e tecnologia) ..a DESTRUIÇÃO de valores, de direitos fundamentais, como trabalhistas, sindicais e civis – constitucionais ..enfim

    Isso não é obra decidida no bate pronto (mesmo pra reconstruir o que estão destruindo demandaria dúzias de anos) ..é coisa digna de CONSPIRAÇÃO e de traição.

    ..mesmo esta virada de mesa levará anos pra se enraizar e transformar, pra se REESCREVER uma nova realidade e versão histórica, por exemplo, como querem os golpistas pras novas, insensatas, desinformadas, covardes e omissas, NOVAS gerações.

    Infelizmente, ceteris paribus, o GOLPE VEIO PRA FICAR  ..e não será com o porte de armas pequenas que se conseguirá deter esta FURIA revanchista e conservadora, esta horda de FANÁTICOS EVANGÈLICOS que ora se encontram escoltados por MILITARES FRUSTRADOS e PSICOPATAS que se atrevem, agora, a nos subjulgar.

    ..vai ficando claro que sem uma divisão e/ou o surgimetno de rupturas INTERNAS aquarteladas,  combinado a pressões internacionais, pouco ou nada nos restará de esperanças pra DEMOVER estes personagens do Poder. Poder, diga-se, que eles conquistaram amparados em FRAUDES e toda sorte de violência jurídico-institucional.

     

  4. O fascimo e a banalidade do mal

    No artigo da Eliane Brum para o El Pais “O homem mediano”, que teve boa repercussão entre a dita classe média não vi quem tenha feito referência à Hannah Arendt. Na minha leitura desse artigo a jornalista Eliane Brum fez uma analise à partir da obra de Hannah Arendt “As Origens do Totalitarismo”, não citado. Obra cuja Arendt trata do homem comum, o homem mediano ou mediocre como um ser supérfluo, sem profundidade, sem capacidade de reflexão mais aprofundada sobre todas as coisas e por isso mesmo pratica o mal sem se aperceber. O mal extremo em contraposição ao mal radical elaborado por Kant. O homem mediocre pratica o mal e a violência sem se dar conta ou sem querer pensar sobre seus atos. Essa é a banalidade do mal, que ela desenvolve nesse livro à partir do caso “Eichmann à Jerusalém”. No livro ela mostra também como os judeus tornaram-se bodes expiatorios desde o fim do século XIX na Europa e como a classe média – que é por momentos pueril, invejosa e/ou assustada – adere em boa parte a essas camapanhas ditas moralizadoras. Quando li a historia do crescente antisemitismo na Europa do fim do século 19 e inicio do século 20 vi claramente um paralelo com o PT do Brasil de hoje, que virou o bode expiatorio dos males do Pais. Em todas as épocas e lugares escolhem-se bodes expiatorios para desviar a atenção da massa da origem real de seus problemas e transferi-los para migrantes, violência, pobres, religiões ou ateismo, bruxas, comunistas etc. 

    1. Dr. Moro, por gentileza
      “Se o decreto fascista sair na próxima sexta feira, sugiro que a esquerda compre armas.”

      Antes será preciso combinar com o Dr. Moro, o chefão da PF, órgão que vai autorizar ou não a compra.

  5. O NOVO GOVERNO E A VIOLÊNCIA

    Boa noite a todos e todas

    Está correto o Fernando quando menciona o apelo que o discurso em prol da venda de armas, promovido pelo canditado eleito, tem junto a certa parcela do eleitorado.

    A grande massa da população sequer tem condições de comprar comida e pagar condução, quanto mais dinheiro para comprar pistolas e revólveres. Quem vai se armar, de fato, é a chamada classe média.

    Se é correto, como disse o Marcio, que milhaes de armas são vendidas no país, é correto também afirmar que as leis atuais dificultam a compra. São taxas, exames, e a palavra final fica com a autoridade policial. Com a polícia federal, salvo engano. Várias organizações sérias já demoonstraram que esses obstáculos e a diminuição de armas nas mãos das pessoas reduziram o número de mortes. Estudos feitos nos EUA mostram que a probabilidade de que uma pessoa que tenha arma em casa cometa suicídio é multiplicada por três.

    Se essa mudança ocorrer, o número de mortes aumentará. As pessas (principalmente brancas, com bons carros) não se limitarão a ter a arma em casa, sairão com elas às ruas.

    Não sei se o Fernando acerta quando fala da iminência da criação de milícias fascistas. Mas ele está bem perto do “alvo”.

    Seja como for, esse governo é um governo de DESTRUIÇÃO. Destruição de direitos, da cidadania, do respeito às minorias e de vidas. Não podíamos esperar nada diferente.

     

    Um abraço e vamos à luta.

     

    LULA LIVRE !

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