Antes que seja tarde: atentado em Curitiba pede união da esquerda, por Ricardo Kotscho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Adonis Guerra

do Balaio do Kotscho

Antes que seja tarde: atentado em Curitiba pede união da esquerda

por Ricardo Kotscho

Tinha acabado de ler a coluna do André Singer na Folha deste sábado _ “O desafio da esquerda” _ quando abri o computador e encontrei a notícia no UOL:

“Ataque a tiros em acampamento pró-Lula em Curitiba deixa dois feridos; polícia investiga”.

Foram mais de 20 tiros com arma de 9 mm disparados durante a madrugada contra o acampamento em frente ao prédio da Polícia Federal onde o ex-presidente Lula está preso numa solitária há exatas três semanas.

A polícia que vai investigar é a mesma que até hoje não conseguiu descobrir quem deu os tiros nos ônibus da caravana de Lula no Paraná, quatro semanas atrás.

Esperar qualquer providência das chamadas autoridades constituídas é pura perda de tempo.

Antes que seja tarde, o mais urgente no momento é a esquerda se unir em torno de um programa comum para enfrentar o avanço dos grupos fascistas de extrema-direita que agem livremente pelo país.

Escreve Singer em seu premonitório artigo:

“Enquanto o noticiário continua a girar em torno de acusações, processos e depoimentos, os setores interessados na mudança da sociedade têm obrigação de apresentar uma proposta séria e organizada para tirar o país do buraco”.

Tem toda razão. Está passando da hora dos líderes que sobraram no campo da esquerda se unirem para enfrentar o verdadeiro adversário, a direita que saiu do armário, em vez de ficarem se escondendo no armário que ficou vazio, discutindo questiúnculas pessoais à espera de tempos melhores para agir.

O fato mais importante da semana neste sentido foi dado por Ciro Gomes, do PDT, e Fernando Haddad, do PT, que se reuniram para conversar sobre os rumos do país.

Foi um primeiro passo para se reunirem mais à frente em torno da mesma mesa com outros presidenciáveis do campo da esquerda, como Guilherme Boulos, do PSOL, e Manuela D´Ávila, do PC do B.

“Por maiores que sejam as diferenças entre os citados personagens, todos fazem parte do arco que se opõe ao atual estado de coisas. Os seus partidos e, aliás, também o PSB, formalizaram uma frente pela democracia na Câmara dez dias atrás”, lembra André Singer, cientista político e jornalista que, assim como como eu, foi Secretário de Imprensa e Divulgação do governo Lula.

Urge que esta frente pela democracia parta da teoria à prática para evitar novos atentados como os do Paraná, em que um dos feridos desta madrugada, o militante Jeferson Lima de Menezes, de 38 anos, foi levado para o Hospital do Trabalhador com um tiro no pescoço e, às 9 da manhã, ainda aguardava uma vaga na UTI.

Nas redes sociais, a presidente do PT, senadora Gleisi Hofmann, denunciou que antes dos tiros os agressores passaram várias vezes gritando e se manifestando de forma violenta:

“Isso é resultado desse processo construído de perseguição contra Lula, o PT e os movimentos de esquerda”.

Constatado o fato, cabe agora a Gleisi e aos demais líderes dos partidos de esquerda, junto com as entidades da sociedade civil organizada, deixarem de lado suas diferenças e se unirem para evitar que a campanha eleitoral se transforme numa batalha campal, antes que seja tarde demais. A democracia corre perigo neste momento.

Bom feriadão a todos.

Vida que segue.

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. Palanqueira poderosa

    Ricardo Kotscho supostamente por razões óbvias evitou divulgar a acusação da senadora Gleisi: “Moro, que coordena essa força-tarefa, tem responsabilidade objetiva nisso, assim como a grande mídia, principalmente a Rede Globo”. 

  2. Fala-se em união das

    Fala-se em união das esquerdas, mas o pano de fundo dessa questão é de outra natureza..

    .. não existem – exatamente – 2 ou mais esquerdas que não se unem.

    O que existe é uma pequena parcela do povo organizada em partidos, movimentos, sindicatos, etc., com claras propostas ideológicas e programáticas, que deseja revolucionar a estrutura de poder no país, em contexto de luta por sobrevivência.

    E existe um outro grupo, que também é chamado de esquerda, mas, além da imprecisão do termo, é – na verdade – guiado por interesses privados.

    Esse segundo grupo é cria da política de conciliação do ex-presidente Lula.

    O mecanismo funciona assim: para conciliar, foi necessário eliminar os radicais e empoderar os moderados.

    O termo “moderado” é um enorme guarda-chuva que abriga até fundamentalistas cristãos, como o caso do deputado petista Luiz Bassuma da Bahia.

    Cada vez que um cara desses se aboleta no partido, ele traz um caminhão de assessores que ocupam espaços antes ocupados por petistas de raiz, que paulatinamente foram sendo afastados.

    Luiz Bassuma acabou sendo expulso, mas além de produzir enorme estrago, deixou sementes.. sempre deixa..

    .. e iguais a esse, existem milhares de casos semelhantes, porém mais discretos.

    É o caso de partidos que oferecem posições de olho nos votos que determinada celebridade pode atrair, numa espécie de “balcão de negócios”.

    Isso destroi o componente ideológico vital do exercício político legítimo.

    Vou citar 1 em vários exemplos: petistas sarneyzistas (parece inacreditável, mas existem) do Maranhão apoiam Waldir Maranhão (amigão do Sarney e do Cunha) para vice de Flávio Dino e paralelamente (?) apoiam Eduardo Braide, do PMN. Isso acontece hoje, ano 2018, com Lula na cadeia.

    No Brasil inteiro existem coligações de partidos “de esquerda”, PT e PC do B, por exemplo, com partidos de extrema direita, DEM, PSDB, PP, etc.

    Quando esses políticos convocam o povo para uma manifestação, via de regra é um movimento que atende primordialmente a necessidade eleitoral deles, ainda que disfarçado de luta pelos interesses do povo.

    Percebam esse processo, analisem quantos movimentos, comícios, encontros, caminhadas, etc., foram feitos nos últimos 4 anos, e que no final não deram em nada.

    Não há solução de continuidade.

    É apenas um oba, oba para levantar a candidatura deles.

    É um claro exemplo de mau uso das várias bandeiras legítimas..

    .. depois do evento, tiradas as fotos, dada a entrevista na globo, o movimento acaba, atingiu o interesses DELES.

    Eis o problema.

    As pessoas perceberam esse jogo e não querem mais participar.

    Não adianta, portanto, apenas falar em “união das esquerdas”.

    É preciso estabelecer uma linha ideológica clara, um conteúdo programático mínimo e SANITIZAR os chamados partidos de esquerda.

    Principalmente o PT.

     

    E a partir daí, trabalhar de forma transparente em torno de uma pauta comum, criando uma frente de esquerda na prática, com site único, apresentação de propostas, formação de comitês reais e virtuais, criar uns mecanismos do tipo “Fala Povo” e discutir as demandas da galera, criar uma agenda coletiva, enfim, fazer uma ação conjunta com forte viés ideológico.

    Como eu sou metido a besta mesmo, já deixo abaixo uns parpite de programa comum, do tipo que bomba:

    fim da guerra às drogas, com liberdade imediata de todos os presos exclusivamente por tráfico de drogas, além daqueles que estão presos sem serem julgados e também os que estão presos por pequenos delitos;

    descriminalização total do uso de drogas;

    fim da PM e municipalização da segurança

    programa emergencial de resgate da educação (a federalização que o Lula propôs – mas depois tem que municipalizar)

    fim da propriedade privada da terra, do ar e da água – colocar o agronegócio a serviço da nação

    além dos tradicionais reforma do judiciário, do sistema político, reforma urbana, etc.

     

    Ah, e Assembleia Nacional Constituinte em 2019, claro.

  3. Esquerdas unidas???

    Quem acredita que deixarão Lula ser  candidato está delirando.

    Não deixarão Lula ser candidato, nem que a vaca tussa. Nem mesmo se a população fizesse manifestações como as do ‘fora Dilma”. A dona Carminha já disse que não cede à pressão, com exceção da Globo, da Veja, da Folha, da Istoé e do Estadão, claro.

    Penso que as esquerdas deveriam abrir mão de lançar candidatos e se unir em torno de um só nome de centro esquerda, como por exemplo, o Roberto Requião.

    Caso contrário, com os votos pulverizados em 4 candidatos, estarão entregando irresponsavelmente o país à direita, ou pior, à extrema direita.

    Alguns vão de Manuela, outros vão de Ciro, outros vão de Haddad ou Celso Amorim , outros vão de Boulos e…

    Bolsonazi, ou Marina ou Geraldo Santo governará este circo de malucos.

    Está na hora (já está passando da hora) de as esquerdas colocarem os pés no chão e começarem a se articular.

     

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