As mulheres jornalistas e as mulheres vítimas do jornalismo, por Luis Nassif

Não seria a hora das Mirians, Patrícias, Veras, Mônicas, Julias, Danielas e tantas outras ampliarem o escopo da defesa de gênero?

(Fernando Frazão/Agência Brasil)

Fazem bem os colegas jornalistas que se erguem contra as agressões a mulheres jornalistas. De fato, há uma diferença enorme entre os ataques a homens e mulheres jornalistas. São alvos de ataques as colegas de maior visibilidade, maior projeção profissional.

Faço um desafio a elas, às Mirians, Patrícias, Veras, Mônicas, Julias, Danielas e tantas outras: porque não estender a proteção às mulheres vítimas de campanhas sensacionalistas da mídia?

Lembro de dois casos recentes.

O primeiro, o da jovem formanda em medicina que se apropriou da arrecadação da formatura. De família humilde, cursando escola pública, chegou ao curso mais concorrido da USP, a Medicina, e é tida pelos professores como aluna brilhante. Errou, sim, ao se deslumbrar com possibilidades que o dinheiro traz, e que estavam à mão de todos os seus colegas, maioria absoluta proveniente de famílias com posses. Merece ser castigada, sim, condenada a ressarcir o dinheiro assim que assumir um trabalho remunerado.

Mas sofreu mais que isso. Foi alvo de uma cobertura implacável, digna de uma mini-Lava Jato. Reportagens diárias em todos os veículos, sua foto repetida à exaustão, exposta à besta das redes sociais. Pediram em coro sua prisão, sua expulsão da faculdade. O sangue que brota da boca de linchadores não quer meios termos, não quer saber de proporcionalidade de castigo. Se possível, quer a sentença de morte, física ou moral. E a imprensa tem que ir aonde o povo vai. Nem que seja para o esgoto.

E o linchamento recorria a clichês pavlovianos: escapou por ser branca, como se linchamentos e injustiças não fossem cometidas contra alvos de todas as cores.

Para sorte do humanismo residual da nossa sociedade, procuradores responsáveis e diretores humanistas impediram a perpetração de mais um crime de imprensa, que traria uma condenação eterna a uma jovem que cometeu um desatino adolescente.

Que pague por seu erro da melhor maneira possível: entregando à sociedade trabalho, dedicação.

O segundo caso foi das moças que fizeram bullying com uma colega mais velha. O máximo que mereceriam seria uma suspensão de alguns dias e a obrigação de se desculpar publicamente pelo ato.

Mas a imprensa – cujo tema de maior expressão no momento é a exposição de intimidades no BBB – perderia um prato desses? E toca a transformar o caso em reportagens, conferindo uma dimensão desproporcional. Depois, é só deixar os restos para as hienas das redes sociais. Agora, as três moças foram ameaçadas e desistiram dos seus cursos.

Não seria a hora das Mirians, Patrícias, Veras, Mônicas, Julias, Danielas e tantas outras ampliarem o escopo da defesa de gênero?

Luis Nassif

7 Comentários

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  1. A caixa registradora da imprensa corporativa precisa continuar tilintando, Nassif. É somente disso que se trata, e não há porque esperar que não se utilizem os suspeitos de sempre, para isso. Desde o tempo dos gladiadores de Roma, tem sido assim: nada de pão e circo, basta o sangue, dos outros, naturalmente. Não há mais leões na arena, nem touros; restou quem? O pobre, o desvalido, o despossuído, principalmente aqueles que, via programas sociais, ousaram almejar posições mais elevadas, e frequentar os salões dos brancos de olhos azuis. Picadeiro ou arena, esta é a parte que nos cabe desse latifúndio.

  2. Nassif, num país de analfabetos funcionais que somos, ampliado ao cubo pelas tais mídias sociais, o que vende mesmo é “página 8”. E hoje temos um purrilhão de sub celebridades, todos alcunhados como YouTubers ou influencers. Tem até uma categoria “ex-bbb”. Também não dá pra esperar que penas alugadas dos tipos Mirians e Varas não sigam a pauta. Precisam da autorização dos patrões.
    Arghhh…

  3. Excelente texto. A maioria da imprensa brasileira precisa melhorar e muito para eu voltar a comprar jornal ou fazer assinatura eletrônica.
    Em muitos dos casos que essa imprensa trata de modo sensacionalista, basta uma investigação sem sair da cadeira e se encontra uma história bem diferente.
    Esta sanha insana de julgar os outros por qualquer opinião ou ação, que há 20 anos resultaria em investigação policial e olhar feio dos colegas para a aluna de Medicina ou provocaria uma reprimenda do professor nas três alunas de Biomédica, hoje resulta em linchamentos midiáticos.
    Grande parte da sociedade brasileira está doente e não percebe.

  4. Luis Nassif, como ja se faz usual, na vanguarda da defesa dessas “pobres” pessoas brancas de classe media desde sempre tao “injustiçadas”, “perseguidas” e “linchadas” pela “midia”. Artigo patetico, racista e machista, para dizer o minimo. No dia em que o sr. deixar de ser um porta-voz dessa classe social asquerosa (classe media) e parar de dar chiliques a cada vez que algum dos (muitos) privilégios que essa camada inventou para se “diferenciar” do “povo” – automovel particular com motor a comubustao (cuja produção e o combustível sao subsidiados com recursos PUBLICOS), plano de saude “privado” (bancado com recursos PUBLICOS deduzidos do IR), educacao “particular” (bancada com recursos PUBLICOS deduzidos do IR) – acho que o mundo acaba… O sr., com o talento e a competência que tem, bem que poderia ser um excelente analista da realidade social brasileira. Infelizmente optou por esse papel mesquinho e sujo de ser apenas um ideologo de uma classe media urbana e branca e surtar toda vez que algum dos seus (muitos e injustos) privilégios vem a baila. Escolheu ser um Olavo de Carvalho com sinal ideologico trocado… um final de carreira melancólico. Deprimente. Minusculo.

  5. Manoel…
    “motor a comubustao (cuja produção e o combustível sao subsidiados com recursos PUBLICOS), plano de saude “privado” (bancado com recursos PUBLICOS deduzidos do IR), educacao “particular” (bancada com recursos PUBLICOS deduzidos do IR)”
    Onde tem isso? Que país é? Quero declarar meu I.R., lá.

  6. Gostei Nassif. Só faltou voltar no tempo e lembrar o que algumas dessassenoras fizeram com Dilma Roussef. Aliás, no Roda Viva em que a entrevista foi a juíza Carmem Lucia, seria o caso de alguem ter a coragem de perguntar se a ministra do STF e a coordenadora do Programa não fariam autcrítica pela forma como agiram contra a presidenta na época. Foi um massacre covarde, eivado de deboche vil e de mentiras atrozes

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