Globo, Marielle e indicação para prêmio Emmy, por Gustavo Gollo

A burla incluiu a adulteração da imagem incriminatória do suposto assassino, com a omissão do horário em que o carro do acusado foi flagrado a sair de casa.

Globo, Marielle e indicação para prêmio Emmy, por Gustavo Gollo

Certas peculiaridades do mundo contemporâneo são bastante intrigantes; a forma com que os meios de comunicação comerciais constroem a imagem que fazemos do mundo, por exemplo, quando analisada com atenção, costuma revelar-se fortemente incongruente.

Há mais de um ano e meio, Marielle foi assassinada, mas apesar do imenso interesse mundial sobre o caso, o crime ainda não foi resolvido. Em nome da precisão, devo acrescentar que às vésperas do crime completar um ano, polícia e ministério público montaram um grande teatro para apresentar uma farsa na qual propuseram a elucidação do assassinato. A burla incluiu a adulteração da imagem incriminatória do suposto assassino, com a omissão do horário em que o carro do acusado foi flagrado a sair de casa. A apresentação em tribunal da prova forjada pela polícia, obviamente, seria suficiente para absolver o miliciano, sugerindo que a ação tenha sido plantada exatamente com esse propósito. Os meios de comunicação fingiram não perceber falsificação tão óbvia.

Nesse episódio, polícia e ministério público apresentaram a suposição de que o criminoso tenha sido tomado de ódio por uma pessoa pública – a vereadora Marielle Franco, virtualmente desconhecida, na época –, e resolvido assassiná-la, convencendo o comparsa preso com ele a ajudá-lo na execução. Providencialmente, a solução resolvia o caso por completo, eliminando a necessidade do desvendamento dos mandantes e demais executores. Lacuna ainda mais gritante que a da falta de motivação do crime na referida “solução”, no entanto, consistiu no desaparecimento sub-reptício do outro carro usado pelos assassinos no crime, quando um dos autos fechou o veículo ocupado por Marielle transformando-o em alvo fixo para o atirador, em um segundo veículo. Sabe-se, aliás, que o carro dos assassinos estava ocupado por pelo menos 3 pessoas, dedução perspicaz de um perito contratado pela Globo, dias após o crime, que nos mostrou o brilho do celular do ocupante do banco de passageiros do veículo, refletido no vidro lateral de outro carro. Mas como os meios de comunicação fingiram ter esquecido a utilização dos 2 carros captados pelas câmeras a perseguir o de Marielle, a redução do número de ocupantes parece banal.

A Globo

No dia 17 de novembro de 2018, uma reportagem da Globo foi censurada e retirada do ar, embora não revelasse nada relevante, exceto por deixar escapar imagens que atestavam a invasão das dependências policiais pela equipe da Globo que, de maneira escusa, teve acesso ao inquérito secreto, manipulando e filmando a documentação policial.

Atente que, embora a equipe da Globo tenha tido acesso ao inquérito secreto, a reportagem censurada nada revelou sobre ele, contentando em jactar-se de haver perpetrado a invasão.

A não revelação de informações sobre o inquérito tende a confirmar suposições prévias, reiteradas diversas vezes, de que a Globo tentava encobrir os assassinos. A omissão sugere que o delito tenha sido perpetrado com o propósito de informar os criminosos sobre o andamento das atividades policiais. Lembremos que as suspeitas sobre o crime recaem sobre as milícias, a maior organização criminosa do país, centralizada na própria polícia e com ramificações óbvias e tenazes tanto no judiciário quanto nos meios de comunicação. Dito mais claramente, o silêncio sobre o inquérito policial sugere que o delito cometido pela equipe da Globo tivesse como alvo desvendar o rumo que as investigações seguiam com o propósito de tomar as contramedidas para a proteção dos criminosos. A suposição de aparência extravagante coaduna-se com precisão às sucessivas cortinas de fumaça lançadas anteriormente pela Globo com o propósito de desviar as atenções sobre os criminosos.

Entre outros esclarecimentos, a Globo nos deve os seguintes:

1. Por que o segundo carro dos assassinos passou a ser esquecido desde a apresentação da solução oficial do caso, pela polícia?

2. Se não pretendia divulgar as descobertas encontradas ao bisbilhotar os inquéritos secretos, como não o fez, o que levou a equipe da Globo a perpetrar a invasão das dependências policiais?

3. Por que a Globo se calou por tanto tempo sobre o “Escritório do Crime”, e não voltou a tocar no assunto revelado na reportagem de 20 de agosto de 2018, por meses, até que o tema tivesse ganhado repercussão devido a ecos dessa denúncia na voz de um detento, acusado do crime?

A indicação da Globo ao prêmio Emmy

Apesar de fortes suspeitas de que a Globo tenha tido o propósito de proteger os assassinos, lançando sucessivas cortinas de fumaça sobre o caso, sua cobertura do caso foi indicada ao prêmio Emmy de jornalismo.

A premiação com certa repercussão mundial poderia auxiliar no desmascaramento da imensa organização criminosa, expondo o conluio com que a polícia, o judiciário e os meios de comunicação têm barrado a solução do caso.

Deve-se temer, no entanto, caso a Globo não se manifeste sobre suas sucessivas omissões, que a premiação ponha uma pedra sobre o caso, coroando a farsa que encobre as milícias – a mais poderosa fação do crime organizado no Brasil, com fortíssima participação nos meios de comunicação e tribunais do país –, lembrando que tanto o governo do estado do Rio de Janeiro, quanto a presidência da república se encontram em mãos de milicianos.

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Redação

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