Meu ódio será sua herança!, por Eduardo Ramos

Mas, antes do ódio, aquele que nos ensina a odiar tem que PRIVAR DE HUMANIDADE aos que se tornarão o objeto do meu ódio.

Meu ódio será sua herança!

por Eduardo Ramos

(sobre o artigo “As 7 pragas que acompanham o Brasil de Bolsonaro, por Luis Nassif”)

Lendo o artigo que o Nassif escreveu, que se inicia revelando a conversa com a jovem católica que, mesmo sendo contrária a diversas falas, ações e ideologias do bolsonarismo, votará no candidato devido ao seu “nojo do PT”, me veio à mente o quanto é perverso, hediondo, maligno, o uso do ódio como instrumento ideológico e político.

Imediatamente me vieram à mente os casos mais óbvios do que nos envergonha, nós, seres humanos, em relação à nossa História. E percebi que não é preciso raciocinar de modo muito elucubrado para concluir o óbvio:

TODO PROCESSO POLÍTICO E SOCIAL PERVERSO, COVARDE, CRUEL, DE DESTRUIÇÃO DE UM GRUPO SOCIAL, FOI PRECEDIDO DE UM MOVIMENTO EM QUE A SOCIEDADE FOI ENSINADA A ODIAR AQUELE GRUPO!

Mas, antes do ódio, aquele que nos ensina a odiar tem que PRIVAR DE HUMANIDADE aos que se tornarão o objeto do meu ódio.

“Judeus valem menos que baratas”, ou “Índios não têm alma, são como animais”, ou “Como acreditar que um negro pode valer o mesmo que um branco?”, frases absolutamente comuns, repetidas à exaustão por nazistas, por europeus escravagistas e colonizadores que dizimaram povos e povos inteiros no maior genocídio continuado da História humana, por racistas em qualquer lugar do mundo!

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn

Não é o objetivo desse texto tratar de um tema correlato, o comportamento de rebanho do homem comum. Qualquer um achará livros e livros que tratam do assunto. Mas o caso é, se alguém quer que uma nação aceite COM NATURALIDADE tudo o que se quiser fazer de injusto, cruel, covarde e perverso com uma pessoa ou grupo social, esses dois passos sempre estarão presentes: primeiro, ROUBAR SUA CONDIÇÃO HUMANA, um modo sutil de roubar seus direitos, mesmo os mais básicos, depois, ensinar a odiá-los!

Ora, nossa sociedade não aceitou como “normal” que uma juíza, Carolina Lebbos, sentenciasse Lula a ir para um presídio comum em São Paulo, ciente, ela e todos, que isso equivalia a uma sentença de humilhações, degradações, violências, inimagináveis a Lula, talvez até mesmo sua sentença de morte, no clima de nojo e ódio criado contra ele pela mídia?!? Mas, contra Lula e o PT, TUDO era permitido, porque já não eram vistos como “seres humanos normais”, cidadãos “iguais aos outros” – aquilo que muita gente JAMAIS aceitaria em relação às pessoas que respeita, passaram a aceitar EXCLUSIVAMENTE em relação a Lula e ao PT – porque desprovidos de sua humanidade pelo “novo olhar” da sociedade, um olhar com filtros de ódio, nojo, fanatismo, certeza absoluta de culpas diversas, de “merecedores” de todo o tipo de danação…

As frases monstruosas ditas com naturalidade pelos procuradores da Lava Jato, já lembradas pelo Nassif, atestam esse ódio, esse nojo, essa SATANIZAÇÃO DO OUTRO, em relação a Lula:

“o safado só quer passear” (em relação a Lula querer ir ao enterro de Vavá, seu irmão)

“Estão eliminando as testemunhas” (sobre a eminente morte de dona Marisa)

“Preparem para a nova ladainha ida ao velório” (sobre a morte do nato de Lula, o pequeno Artur, de apenas seis anos…)

AGIRIAM ASSIM ESSES PROCURADORES SÓRDIDOS, DESUMANOS, CASO SE TRATASSE DA ESPOSA E O NETO DE FHC, OU DE UM DOS SEUS COLEGAS PROCURADORES? EVIDENTE QUE NÃO!

É justamente quando PRIVO o outro de humanidade, de um olhar civilizado, humano, um “olhar normal”, e passo a enxergá-lo pelo filtro dos meus preconceitos, fanatismo, ódio e nojo, que ME TORNO CAPAZ DE PRATICAMENTE QUALQUER ATO PERVERSO E DESUMANO, porque ao roubar a humanidade do outro, ao roubar-lhe a dignidade de vida, roubo de mim mesmo a humanidade, roubo de mim mesmo a dignidade de vida. Um fato se segue inapelavelmente ao outro.

Essa foi a herança maldita deixada ao país pela Globo, Veja, Estadão, Folha, grande mídia em geral. Eles e os pitbulls que hoje pululam por aí, alguns ainda em seu discurso de ódio, outros como Madalenas arrependidas do que semearam, e alguns, hipócritas até a medula, agindo como se nunca tivessem ensinado o ódio à sociedade, como o Felipe Moura Brasil na CNN – e tantos outros.

O título do filmaço de Sam Peckinpah é perfeito para o que nos legaram essa mídia irresponsável e venal e os MBLs da vida, que fizeram de seus rebanhos humanos os zumbis do ódio que hoje votam no ser bestial.

Que sirva de lição para os que caíram na armadilha da Lava Jato e tiveram ao menos a lucidez de não trilharem o caminho do ódio a qualquer custo, a qualquer preço.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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Redação

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