O choque de indigestão do golpe, por Gustavo Conde

 
O choque de indigestão do golpe, por Gustavo Conde

O problema para essa casta de lorpas que sequestrou o poder é que o Brasil não era mais aquele brinquedinho de rico, aquele país para meia-dúzia de paulistas Nutella. O Brasil ficou diferente depois de 13 anos de democracia real. Só de consumidor, tinha uma Argentina a mais.

Esse pessoal do PMDB e do PSDB que estava acostumado a roubar o patrimônio público e empurrar o resto com a barriga, vai encontrado dificuldades para reconfigurar esse sistema. O Brasil pós PT era uma Ferrari – com a devida vênia aos céticos. Havia uma piracema de projetos em andamento – impossíveis de serem simplesmente parados, com todo o talento do PSDB para isso.

Eles pararam tudo que puderam parar, é verdade. Mas eram muitos projetos, muita gente envolvida. Se para um transatlântico fazer uma curva já é difícil, imagine para dar marcha-ré. Impossível não é, evidentemente, mas só agora, dois anos depois do golpe, é que o país realmente entra em estado de paralisação, a despeito do que a imprensa domesticada noticia em troca de alguns dinheiros.

De sorte que, mesmo com toda a expertise em corrupção aplicada, este governo Temer encontrou muitas dificuldades em paralisar o país. Em parceria com o PSDB, tiveram que colocar em prática um plano adicional de frenagem de emergência: febre amarela, malária, reforma trabalhista, interrupção de toda e qualquer fiscalização humanitária (daí, o genocídio de índios) e, basicamente, interrupção de toda e qualquer supervisão de políticas públicas.  

O debate interno foi assassinado. Nos governos do PT, havia congressos quase toda a semana para definir políticas para mulheres, negros, LGBTT, índios, idosos etc. O etc, inclusive, era também rico políticas econômicas anti-cíclicas, políticas educacionais, de saúde pública, de segurança e dá-lhe ‘et coeteras’.  

É quase uma covardia comparar. Tivemos – assim e portanto – um choque de indigestão: todo esse volume de ações democráticas, que serviam, inclusive, de indutor de políticas públicas para outros segmentos e esferas do poder público, foi drasticamente interrompido, deslocando contingentes imensos de pessoas, profissionais e ativistas que vinham agregando um valor sem precedentes para a sociedade brasileira, independente de partidos políticos.

É curioso observar, ao mesmo tempo em que é deprimente: o governo Temer, seguido de seus co-irmãos Alckmin e Doria, tenta sabotar o país diariamente, mas, não raro, depara-se com uma sociedade mais organizada, e são obrigados a recuar do recuo. É pura semiótica.

A sociedade brasileira trabalhadora – a despeito do ódio global platinado que se a inoculou – estava acostumada e gostando de trabalhar em conjunto pelo país. Era uma timia social inédita.

A gente lê nos grandes jornais que vão virando pequenos – menores que a Cármen Lúcia, talvez – que a sabotagem sistemática da estrututura econômica que se consolidou nos já saudosos 13 anos de democracia, vai encontrando dificuldades. É preciso competência também para destruir, convenhamos.

O próprio judiciário – talvez, a grande máquina destruidora, esta sim, competente – se vê agora encurralado pela imprensa que não “foi”, mas ainda “é” sua parceira e mantenedora. O golpe do auxílio-moradia é um divisor de águas. Decorre também – a notícia, bem entendido – de uma saturação do mercado de informação: se os jornais continuarem ignorando as redes sociais, eles virarão repartições de comunicação dos governos tucanos.  

Insisto: a bola está conosco. O golpismo se parece muito com aquele bloco carnavalesco paulistano que fez apologia à tortura: saiu nas ruas e levou porrada. E a realidade empírica já está espancando este governo faz tempo.

 

 

Redação

6 Comentários

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  1. Mas por enquanto os golpistas

    Mas por enquanto os golpistas estão vencendo, e de goleada.

    Só começarão a ser derrotados de verdade o dia em que ao colocarem a cara para fora tomarem porrada, de verdade, literal e não “digital”.

  2. Só uma retificação

    O bloco carnavalesco paulistano que faz apologia à tortura ainda não desfilou. Está marcado para sábado (10) às 14h. De outro lado, o grupo Antifa’s reivindicou a agressão ao membro do grupo direitista que se autodenomina “o maior grupo anticomunista do Brasil”. Há seis meses nos EUA, houve confronto com um grupo que potestava contra desfile de supremacistas brancos, com um morto e mais de 30 feridos. 

     

    https://www.revistaforum.com.br/2018/02/03/membro-de-grupo-que-faz-apologia-a-tortura-apanha-e-reclama-nas-redes/

     

    https://goo.gl/CvcY28

     

  3. Texto bastante objetivo e

    Texto bastante objetivo e otimista, muito bom para estas tristes horas. Só que minha ignorância pictórica enseja uma solicitação de esclarecimento ao autor do post: Lula monta um cavalo branco ou é um corpo estendido no chão ? 

  4. Só agora o judiciário está
    Só agora o judiciário está percebendo o tiro de escopeta que deu no próprio pé. Eles achavam que a reforma ia ser só para a peãozada e que ninguém ia questionar suas benesses.
    O FMI já mandou avisar que reforma sem judiciárii não vai adiantar nada…

  5. O golpe segue seu roteiro
    O golpe segue seu roteiro fielmente. Desmoralizar o PT, PT, PT; derrubar a Dilma; humilhar o Lula; controlar as eleiçoes de 2018.

    Estava la escritinho desde 2014, quando limitaram as “investigaçoes” à partir de 2002.

    Estava tudo no powerpoint (que muita gente viu só graça).

    O fato de a midia, agora, puxar o cabresto de juizes e promotores foi falado lá atrás por varios comentadores do blog.

    O acerto final entre os sedizentes “liberais”, o centrão e os mais escrotos da direita ainda não estabilizou totalmente. Falta a previdência, a conclusão da entrega do que resta, o cabo de guerra com umas nomeaçoes aqui e ali…

    A estrategia de estancar essa porra está mais lenta do que o centrao queria, por isso a pauta antissocial e entreguista também está.

    O fato é que o centrão tambem tem os projetos na agulha, nao sao só nomeaçoes. Se eles vao botar pra jogo ou não, sao as cenas dos proximos capitulos.

    No final das contas é só uma quesrao de quem fica por cima e quem fica por baixo (e quem fica de fora). Acertar, eles se certam.

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