O linchamento público a partir ou da divergência de um erro “sem dolo”, por Florisvaldo Ribeiro Júnior

Casos idênticos se espalham pelo mundo, e com terríveis consequências para aqueles a quem os censores, justa ou injustamente, criticam

Créditos: Comittee to Protect Journalists.

Comentário sobre a matéria “Sobre judeus e banqueiros, por Luis Nassif

por Florisvaldo Ribeiro Júnior

Prezado Nassif, na polêmica sobre as declarações do Paulo Nogueira a atitude jornalística do GGN, em reconhecer os equívocos, especialmente, por não formular uma consideração explicativa para as falas durante a entrevista do dia 16/12, é louvável e fundamental nestes tempos em que a violência absoluta dá o tom aos nossos contatos.

No entanto, penso que você, na entrevista com Lia Vainer Schucman e Michel Guerman, tocou no ponto que me parece sensível: o linchamento público a partir ou da divergência, de um erro “sem dolo”, como você observou, ou de um discurso que se possa criminalizar. Quando você questionou aos entrevistados se as instituições “progressistas” não deveriam usar outros meios para criticar e exigir retratação, não me escapou um estranho sorriso, discreto é bem verdade, da psicóloga e professora Lia. Havia no riso a preparação para a fala de não responsabilidades dos críticos, particularmente se os usuários do tuiter e outros aplicativos destroem as reputações e obscurecem a possibilidade de compreensão do problema – como a própria entrevista é exemplo ao contrário da barbárie que se instalou com muitos coautores nas redes.

Sob a aparência de diálogo se esconde um propósito dos movimentos sociais, das entidades que se classificam como democráticas-progressistas, homens públicos e líderes de corporações: mais do que desqualificar o interlocutor em potencial classificando-o como antissemita é fundamental silenciá-lo, destruir seu capital intelectual, retirá-lo para sempre da esfera pública. Penalização perpétua. Sem juiz.

23:52 = “ninguém é responsável pelo caos que vira depois”

A professora tenta estabelecer uma comparação, infeliz, entre o canal televisivo e o tuiter, certamente desconsiderando alcances e impactos diversos. O linchamento também me pareceu naturalizado pela consideração de que essas são as formas [de comunicação] do contemporâneo.

São muitos os exemplos que me levam a considerar  iguais acusações  proferidas pelos movimentos sociais via redes sociais como estratégias políticas que visam a destruição do interlocutor: recentemente, ainda em dezembro, Djamila Ribeiro foi classificada como transfóbica em face de um texto publicado naquele ex-jornal Folha de São Paulo. Tudo transcorreu de forma muito semelhante ao que vocês enfrentaram agora. Thiago Amparo formulou críticas fortes, mas que pareciam ter a intenção de abrir o diálogo sobre a questão apontada por Djamila, e que funcionaram como uma autorização para que a filósofa fosse achincalhada. Na mesma linha, a escritora Chimamanda Ngoze-Adichie – nigero-americana – foi classificada como transfóbica e houve uma tempestade duradoura de mensagem que visavam seu “cancelamento”.

Outros casos idênticos se espalham pelo mundo, e com terríveis consequências para aqueles a quem os censores, justa ou injustamente, criticam [atacam]. No fundo, quem vai ao tuiter vocalizar a sua discordância, ou denunciar um crime, não quer conversa, ou diálogo. Tampouco deveria ser rotulado de progressista por falar em nome das vítimas. Esses grupos, efetivamente, não querem pedidos de desculpas ou reparações. No fundo, querem a eliminação do Outro.

Nesse ambiente cacofônico, o alvo antevê uma única saída: não falar.

Que bom! Você e o GGN seguirão existindo.

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Redação

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  1. “Não há religião maior que a verdade”, segundo Blavastky. Quando qualquer grupo ou pessoa, sente-se ameaçado pela verdade, instaura-se o caos, a justiça nunca é alcançada e o mal impera. O império fundado na mentira engana a si mesmo. Paulo falou uma verdade simples e verificável. Se provocou essa reação brutal ao ponto do linchamento, algo muito grave se quer esconder dos sempre explorados goyim. Há grupos tão ousados que acham-se capazes de esconder o óbvio na presença de suas próprias vítimas. E depois se fazem de vítimas.

  2. Resumindo: judeu bom é judeu calado. Não podemos apontar quando for feita uma fala antisssemita porque hoje em dia tudo vira cancelamento. Aí, no lugar de atacar o discurso de ódio, nos atacam. Se a gente não falar o racismo antissemita acaba? O “dolo” não existe se a gente não apontar que a fala foi uma réplica do protocolos de sião? E se eu perguntar de porquê apenas a única mulher que esteve presente ter sido citada, a partir do que o autor imaginou que significava o que ele chama de sorriso, serei tachado do quê?
    Aliás, o único comentário além do meu aqui é bem emblemático.

  3. Durante a vida crescemos e nos desenvolvemos com conceitos que as vezes nem sabemos de onde veio. E assim com o machismo e com o racismo. Nassif acho que precisa atualizar os seus conceitos e a partir dai pedir desculpas sem justificativas. Eu convivo com meus preconceitos sem que meu ego atrapalhe tanto. Esse é um exercocio dificil e acontece de não conseguirmos reagir na hora. Pela sua trajetória, acredito que consegue fazer melhor do que jogar o conflito em quem se sentiu agredido. Abraço.

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