O virtual venceu a Eleição, por Alexandre Tambelli

O virtual venceu a Eleição, por Alexandre Tambelli

O que nos movimenta e orienta hoje está em uma pequena tela, onde de cabeça baixa olhamos o mundo para dentro, para dentro, para dentro, cada vez mais para dentro.

Ao nosso redor outro infinito é dominado por quem inventou a pequena tela que nos absorve por inteiro e por completo.

O tamanho da tela nos absorve a tão pequeno espaço infinito, mas, onde não cabe uma frase inteira, só microfrases e imagens, onde os detalhes precisam desaparecer, porque não cabem.

Desde o smartphone tudo virou preguiça mental, se apequenou na manchete, onde a letra, ainda é visível, no tweet, onde, só as poucas palavras cabem na tela… E tudo virou a fotografia das poucas palavras, que não são a síntese do poeta ou do escritor de Literatura, que não são o Poetrix, o Haicai ou a Aldravia, mas, a reprodução do mundo querido por aqueles que inventaram a tela pequena que nos faz abaixar a cabeça ao do lado, a não ver o sol nascer nem as nuvens nem a chuva que cai nem a lua e as estrelas no céu.

Antes, na tela grande cabiam as frases, cabiam os dedos, a fonte legível, as ideias completas, a não-síntese, a possibilidade de pensar além, a possibilidade de ler sem a vista cansar, o mundo não era o instantâneo, que chega pronto e chega para pegar ou largar, e chega para aderir ou repelir.

Hoje, venceu a tela pequena, o escuro de uma sala quase vazia e uma webcam, onde, dela, se traz ao ouvinte toda a verdade do mundo, ou, quem sabe, um simples click no áudio do ZAP a nos proteger da “mentira” ou nos informar tudo sem precisar as coisas, precisando apenas clicar.

A webcam, o meme, o tweet venceu a realidade e nos legou um Presidente que não precisa fazer comício, que não precisa juntar gente, tocar, cativar, precisa apenas associar-se a tela pequena e as suas ondas, as propostas de mundo dos que a criaram, a nossa individualidade, a meritocracia dos tempos solitários, dos homens-só.

Transeuntes do rosto caído, da melancolia do namoro (ao candidato) que começa e termina em um click (like e dislike), do voto que começa e termina em um click, que dura até a próxima onda, até outro programado substituir o que nos levou até ali e nos levará além dali para não sabemos onde.

O virtual venceu a Eleição.

Redação

1 Comentário

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  1. O sonho

     

    Aqui mesmo no blog foi dito que as redes sociais seriam a revolução social que destravaria a participação da sociedade desatrelada do pensamento restrito da grande mídia. Hoje sabemos que estamos com o bode dentro de casa , talvez indefinitivamente.

    “Algoritmos combinam com democracia?”

    “Após o fim da Guerra Fria, a sabedoria ocidental guiava-se por duas crenças: que a democracia liberal iria se espalhar pelo planeta e que a tecnologia seria o vento a empurrá-la”, escrevem Nicholas Thompson e Ian Bremmer em artigo neste mês na Wired. “O cenário atual da revolução digital é diferente”, dizem eles, mostrando como o regime ditatorial chinês se vale da computação.”

    https://www1.folha.uol.com.br/colunas/robertodias/2018/11/algoritmos-combinam-com-democracia.shtml

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