Qual o grau de doença da sociedade que permite, indiferente, chacinas genocidas como um hábito? Por Eduardo Ramos

Vimos a terceira ou quarta chacina nos últimos doze meses no governo mais impiedoso, covarde e violento entre todos, no estado do Rio de Janeiro

Corpos carregados em caçambas após chacina no Complexo do Alemão (Foto: Voz das Comunidades).

Por Eduardo Ramos

…qual o grau de doença da sociedade que permite, indiferente, chacinas genocidas como um hábito?…

Parece um número rotineiro, desses que ouvimos toda hora com pouco impacto nos sentidos: “engarrafamento de 20 kms. em São Paulo”, ou “gasolina sobe mais uma vez”, ou ainda: “inflação bate recorde e passa dos dez por cento ao ano…”

Se fosse só isso, nesse país monstruoso que sempre fomos, juro, eu comemoraria soltando fogos na rua… mas agora está demais, está além do insuportável, está além do intolerável, está além de um país tornado num Hospício vindo dos infernos, está “além do Bem e do Mal” – não há como classificar o estado de miséria que chegamos nessa fase de Lava Jato (apoiada pela sociedade), de golpe numa presidente digna e honesta (apoiado pela sociedade), de Temer no poder (apoiado pela sociedade) e, finalmente, o horror dos horrores, o ápice da insanidade, da selvageria, da violência em estado bruto, da incivilidade mais animalesca (apoiada pela sociedade), o Brasil de Dória Jr., de Guilherme Fiúza, de Constantino, de Bolsonaro e famiglia, o Brasil de Witzel governador, e um que é pior que ele, tem mais gosto pelo sangue que é derramado como um rio das favelas cariocas: Cláudio Castro! Mas tem mais, o esgoto é pequeno para tanta gente: é o Brasil das Zambellis, das Fonteneles e suas lacrações nas redes sociais, é o Brasil dos Malafaias, e é o Brasil do Judiciário e Ministério Público mais conivente do planeta, com o horror, o crime, a miséria do povo do país que deveriam servir e honrar com seus cargos e atribuições…

Por fim, é o país onde todos tremem de medo ao menor chilique de um militar. Somos esse país domado à força dos gritos, como disse um dos membros da famiglia, rindo, debochado: “Para fechar o STF, nem precisa de um jeep não. Basta um soldado e um cabo. Sem querer desmerecer o soldado e o cabo…” – complementa rindo, em seu desdém pela covardia nos ministros…

Somos o país miserável, que escuta isso sem reação. Porque pode ser verdade, talvez?

Somos então, esse país onde os militares depõem João Goulart, sem motivo justo ou legal, dão um golpe, matam, torturam, são perdoados, e poucas décadas depois, dão outro golpe, chafurdam-se em mamatas diversas, compram viagras e próteses penianas com dinheiro público, tomam conta dos serviços públicos, enriquecem, e avisam com cândida antecedência que um golpe dentro do golpe – para manter o ditador de plantão – está a caminho…

Somos o país que é desse feitio a tal “honra verde-oliva” (sic…) dos que lutam contra Goulart e Dilma e apoiam o genocida tido como demente por eles mesmos há algumas décadas. Que outro país do mundo teria militares capazes de se curvarem a Jair Bolsonaro e sua famiglia…?

Eu ia ilustrar esse artigo com a foto de dona Solange, a “Solange das quentinhas”, professora, brasileira (cidadã já é demais, não é mesmo? sejamos honestos com dona Solange ao menos na hora sua morte, chamemos apenas de “brasileira”…), assassinada porque um PM assustado confundiu o cabo de uma panela de pressão com uma metralhadora.

Morta, na prática, porque um governador mais genocida e sanguinário do que seu antecessor, “mais bolsonarista-raiz”, por assim dizer, não se importa com chacinas, com mortes às dezenas, de favelados que deram o azar trágico de nascer em favelas cariocas, justo no tempo do seu governo.

“20 mortos no Alemão” – diz a manchete.

Terceira ou quarta chacina nos últimos doze meses no governo mais impiedoso, covarde e violento entre todos, no estado do Rio de Janeiro.

Por isso a pergunta-título desse artigo: “…qual o grau de doença da sociedade que permite, indiferente, chacinas genocidas como um hábito?…

Nós! Nós, a sociedade que forma essa nação que nunca foi nação, nunca será, enquanto a impunidade, a omissão, a pusilanimidade das verdadeiras forças sociais – elites, classes médias, Judiciário, Ministério Público, grande mídia, Forças Armadas, etc. – que têm peso verdadeiro no nossos destino, forem assim, medíocres, perversos, covardes.

Não tive coragem de colocar a foto de dona Solange, brasileira, sorridente, como vi nas redes sociais. A “Solange das quentinhas”… M O R T A!

Pelo azar, coitada, de ter nascido no “Brasil errado”, o Brasil que não conta, o Brasil-carniça dos poderosos.

Somos esse país. Tragicamente! E eu não suporto mais viver assim…

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