Fragmentação do paradigma capital X trabalho dificultou representatividade

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Assis Ribeiro

Comentário à publicação “O PT e o movimento dos sem partidos”

O problema está na fragmentação, própria de um paradigma que dividiu o todo em partes para tentar entendê-lo.

Se antes o entendimento e o controle do poder efetivo da sociedade se dava na luta capital X trabalho, esse novo paradigma dilui um dos centros, criando inúmeros focos dispersos, o que dificulta a própria representatividade política da sociedade.

Por isso a sensação da sociedade ora representada pelo lado trabalho, que brada a cada momento “não nos sentimos representados”.

De fato, se antes a relação capital X trabalho simplificava o empunhamento de bandeiras mais claras, este modelo cultural atual fragmenta em diversas partículas individualizadas dificultando principalmente o lado que pensou que estaria mais beneficiado com o liberalismo pragmático.

Se antes a luta se dava por segmentos organizados por grupos, como o estudantil que se reunia para revindicar avanços no seu todo, hoje tal segmento se move de forma disforme levantando bandeiras bastante individualizadas e setorizadas. Recentemente, nas manifestações dos motoristas e cobradores de ônibus, onde o sindicato eleito queria uma coisa e parte dos seus representados queria outra.

Dessa forma, a fragmentação causa o enfraquecimento da política, dos partidos, das soluções coletivas e do próprio Estado, fruto dessa sociedade muito mais complexa e dividida, diluindo as relações de poder por inúmeros e distintos espaços da sociedade.

Esse enfraquecimento favorece que o setor mais organizado, o do capital, leve uma grande vantagem nas determinações de ações dos governos, exatamente o que objetivava a globalização neoliberal. 

Por estes motivos é que se pode observar que governos de esquerda estão sofrendo enormes dificuldades para se desgrudar das pressões em favor do mercado, colocando tais governos na defensiva exatamente porque não tem mais o apoio fechado da classe trabalhadora, tornando bastante desequilibrado  o jogo do poder, e por isso mesmo  é que se pode observar que parlamentares eleitos por grupos mais ligados ao trabalho terminem por representar o lado do capital não obstante as suas necessidades de captação de financiamento caro para as suas campanhas políticas.

Essa é a maior resistência da direita que mais uma vez consegue se apoderar, ou influenciar de forma quase hegemônica os ditames do país, com a força do sistema financeiro e do monopólio da mídia formando de forma organizada e unificada as suas bases atuais de sustentação.

Por isso o trânsito, usando a alegoria de Luis Nassif, parou. Não foi por causa da furreca que abalroou o carro do motorista de taxi e sim porque a furreca e o motorista de taxi não conseguiram tirar o “rabo de peixe” do lugar. E enquanto o dono da furrreca e o motorista de taxi discutirem o “rabo de peixe” continuará na frente atrapalhando o trânsito.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

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  1. A esquerda tem um dever histórico…

    … e abdicar de sua tarefa abre espaço para o avanço fascista.

    É preciso assumir um lado na luta de classes.

    Se a esquerda prefere a companhia e vive enamorada com a burguesia que financia eleições… os trabalhadores vão procurar outros representantes.

  2. Carrão ou fusquinha?

    É tão ultrapassado esta postura de luta de classes que desmotiva qualquer um que procura entender por que tudo parece mudar com o passar do tempo e que nada muda realmente.

    Os sindicatos de que provem muito dos atuais governantes, jamais serviram para os interesses da Nação, qdo muito serviram para os interesses da classe que representavam e para os lideres que chegaram ao poder.

    As leis trabalhistas seguiram o mesmo caminho, patrocinadas por politicos oportunistas, no primeiro momento deram a falsa impressão de que beneficiavam os trabalhadores, a bem da verdade trouxeram a informalidade e dificuldades para as pequenas e micro empresas.

    Os donos do carro rabo de peixe, sempre conseguiram se safar dos oportunistas e dos espertalhões, o povo sempre é o que paga a conta.

    Porque a pratica de tercerizar a mão de obra de todas as empresas de grande porte é hoje um conceito efetivamente difundido e realizado?

    A triste realidade é que a cooptação é algo inevitavel nas sociedades de consumo, mormente naquelas sociedades em que o conceito de democracia é tão fragil como em paises do terceiro mundo. 

     

    1. Os condes têm pavor da

      Os condes têm pavor da relação capital X trabalho.

      Eles tinham os dois em seus benefícios e em determinado momento da história ficaram abruptamente sem os dois .

       

      1. Porque as grandes empresas

        Porque as grandes empresas hoje tercerizam a mão de obra?

        A mão de obra ficou para as empresas de pequeno porte e com isto todo o onus da CLT.

        Os Barões focaram somente com a administração da produção e do lucro.

        Quem ganhou com a CLT?

        1. Senhor conde

          O senhor me faz esta pergunda  ao mesmo tempo em que afirma em seu comentário das15:07:  “É tão ultrapassado esta postura de luta de classes”?

        2. Essa pergunta só poderia vir

          Essa pergunta só poderia vir de um conde. Nobres não ganham 13º, férias, garantia contra demissão sem justa causa.

    2. É pra rir?

      Um conde falando que luta de classes é ultrapassada e deixando vazar seu sentimento ‘ennui’ com relação a modernidade. Beira o ridículo!

  3. “Fragmentação do paradigma

    Fragmentação do paradigma capital X trabalho dificultou representatividade

    Capital e trabalho não são combinação social. O capital, onde nada real acontece, vem ao país se exibir para tradução de giro de valor nos computadores dos bancos; funda a divida nacional nos títulos públicos e impede a transcendência real do valor da riqueza – as mudanças de “meio” do movimento da economia – para os tempos de organização da moeda do Estado.

    Daí as distinções de precedência da produção, como padrão de inserções de valor no terrítório nacional, entregamos para os estrangeiros.

    Precisamos, então, entender que paradigma mesmo seria terminar os preparativos de uma moeda para representatividade deste modelo (meio) público de acumulação de valor trabalhado, para redistribuição de valor em obras das relações da sociedade. 

    Capital fragmentado é paradigma de acumulação de dividas públicas.

  4. O INIMIGO É OUTRO

    Em primeiro lugar vamos deixar meu titulo de nobreza de lado e conversar seriamente, coisa que este País não é, como dizia Charles de Gaulle.

    Em segundo lugar digo que este papo de luta de classes é um ranço do passado, coisa da época romântica de Che Guevara, e seu amigão que tomou conta da ilha no caribe e a mantém até hoje impedida de exercitar alguma coisa parecida com democracia, como acontece com o Brasil, lá nem isto o povo possui. Aqui o arremedo de democracia faz perpetuar no poder os velhos coronelões de sempre.

    As lutas sindicais os políticos oportunistas que fizeram de tudo para favorecer uma pequena parcela da população em detrimento da Nação. Tudo isto é coisa do passado se quisermos realmente que este Pais se torne algum dia uma grande Nação que dispute com o primeiro mundo um lugar ao sol. Deveria haver apenas um sindicato para tosos os trabalhadores, porque por coerência sindicatos de classes obviamente vai lutar pelo interesse daquela classe, pouco se importando pelos outros. É uma política suicida que nos finalmentes se torna prejudicial para aquele beneficiado no primeiro momento.

    O Patrão não é o inimigo a ser combatido. È preciso que isto fique muito claro.

    O Patrão neste País é também vitima.

    Esta ai todo histórico jornalístico contando das agruras que o empreendedor sempre sofreu, vitimas dos políticos, administradores e fiscais corruptos, que sempre estiveram de tocaia para achacar aqueles que se propuseram a produzir alguma coisa neste País.

    O jeitinho brasileiro foi a maneira que o brasileiro encontrou de sobrevivência nesta terra de achaque. Até as grandes empresas hoje em dia que terceirizam a mão de obra merecem nossa consideração, porque fazem isto buscando a sobrevivência, culpados são os políticos que levam vantagem com a produção e o empreendedorismo daqueles que geram os empregos e mantém o PIB cobiçado pelo resto do mundo.

    Luta de classe hoje em dia somente é considerada aquela que luta pela moralização e eficiência da maquina administrativa. Todo o resto e saudosismo de um passado que não existe mais. Graças a Deus.

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