A gota que faltava veio do Governo Federal

Justa e tardia a onda de manifestações que tomou conta de diversas cidades brasileiras. Mas diferente do que tem sido dito, a “gota d’água” não foram os vinte centavos da passagem de ônibus, mas sim obra da omissão de áreas do próprio Governo Federal que permitiram que desinformação e mentiras, tantas vezes repetidas e veiculadas, fossem tomadas como verdades pela população e se tornassem a “gota d’água” que não transbordou o copo, mas sim que rompeu o dique.

A negligência, a omissão e a lentidão do governo do Partido dos Trabalhadores (PT) são os maiores inimigos do PT.

Alguns avanços

Embora a economia tenha crescido e avanços sociais tenham sido alcançados, o Brasil continua sendo um dos países de maior concentração de renda e de enormes desigualdades sociais.

Os mandos, desmandos e corporativismos dos três poderes atentam frontalmente com o interesse e bem comuns. As regalias, os salários e benefícios auferidos por magistrados, deputados, senadores, chefes dos executivos e muitos funcionários dos três poderes constituem uma afronta aos trabalhadores/eleitores brasileiros.

Leis e atos administrativos que passam ao largo do interesse público, que privilegiam apenas seletos setores ou classes sociais formam outro pilar da crise de representação pela qual passa nossa sociedade.

A catarse coletiva, a liberação de toda a indignação, revolta e fúria até então reprimidos na garganta vieram à tona indiretamente por causa da inação do próprio Governo Federal.

O fósforo que acendeu o pavio de pólvora não foram em si os aumentos das passagens de ônibus ou a violenta repressão policial dos manifestantes.

O aumento das passagens já havia sido anunciado fazia tempo em São Paulo e estava em vigor em diversas cidades; o Movimento Passe Livre (MPL) sempre fizera protestos na cidade; era costumeira a repressão violenta de manifestações populares pela polícia: vide os atos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), greve dos professores, manifestações dos estudantes da Universidade de São Paulo (USP), Pinheirinho etc. etc.

Também não foi, em si, a Copa do Mundo de 2014. Comemorou-se a Copa ser realizada no Brasil, país do futebol. Evento esportivo que em si é bom para promover a imagem do país lá fora e atrair turistas (antes, durante e depois da Copa), atrair investimentos e gerar empregos no país com os preparativos, investimentos em infraestrutura e demais áreas relacionadas ao evento esportivo.

A gota que faltava

Depois do clima de impunidade e falta de credibilidade gerado em torno da classe política (principalmente com as intermináveis novelas dos mensalões, daquele divulgado e do outro omitido pela mídia), do clima de instabilidade gerado pela “volta” da inflação (inflação, sempre sob controle desde FHC, que nunca deixou de existir e que era metade daquela do governo tucano) e de outros tantos “desastres” da economia nacional, só faltou a ajuda do Governo Federal.

Dia a dia era noticiado o atraso e o aumento dos gastos com a construção dos estádios da Copa. Quando a maioria dos estádios já estava pronta começou a ser difundida a ideia, e que estava presente nas manifestações, de que eles foram todos construídos com dinheiro público, somente com dinheiro público.

Era o que faltava.

O mote de toda manifestação passou a ser: como o governo não tem dinheiro para “isso”, se ele tem dinheiro para a Copa? Não tem dinheiro para transporte, mas tem para a Copa; não tem para a saúde, mas tem para a Copa etc. etc.

A imprensa não se preocupou em esclarecer o equívoco. Iniciada a Copa das Confederações, a emissora que detém os direitos de transmissão só exibia alguns jogos na TV aberta (os demais só disponíveis para clientes de TV por assinatura) – negado à maioria da população o direito de assistir aos jogos. Além disso, ainda que fosse a maior interessada no sucesso e audiência do evento, não procurava esclarecer a informação errônea presente nos protestos sobre os gastos públicos com a Copa.

Para jogar combustível na fogueira que ganhava corpo, funcionários de empresas de televisão pregavam insistentemente um boicote a Copa a ser realizada no Brasil.

Por inação do Governo Federal toda a população se levou por mentiras difundidas sobre os gastos da Copa.

Deu no que deu. Foi criado um sentimento generalizado de repúdio à Copa e os jovens ganharam as ruas.

O esclarecimento só veio a público num breve pronunciamento da presidenta, isso depois que o “circo já havia pegado fogo”. Os veículos de comunicação não se deram ao trabalho de tentar informar corretamente a população.

Cancelamento da Copa

Quando emissoras de televisão – empresas que exploram concessão pública e que por isso devem defender o interesse público brasileiro – permitem a veiculação de informações errôneas, difundem inverdades e apregoam o boicote à Copa do Brasil, pergunta-se:

Qual o interesse nacional, o que ganha o país com o boicote a um evento que o próprio Brasil está promovendo, no qual nossas empresas investiram bilhões de reais?

Investimentos realizados não apenas na construção de estádios, mas também em hotéis, serviços, contratação, treinamento de funcionários etc.

O que ganha o Brasil com o fracasso ou cancelamento da Copa no Brasil?

Ganham certamente os países que temem e são contra o fortalecimento e protagonismo internacional do Brasil. Podem ganhar adversários políticos do PT.

O Brasil, por sua vez, perde triplamente.

O país perde por conta de todo o investimento privado já realizado que não gerará lucro para as empresas – o que ocasionará demissões e insolvência, não tendo essas empresas condições de pagar os empréstimos contraídos junto ao BNDES (um banco público); perde por conta dos turistas que deixarão de vir ao Brasil para participar da Copa; perderemos a médio e longo prazo com a difamação e danos à imagem do país no exterior, que afugentarão novos turistas e investimento no país.

Prejudicar a imagem do país só fecha portas para o Brasil e para brasileiros no exterior – fato é que nunca o brasileiro foi mais bem tratado e valorizado no exterior quanto atualmente.

Interesse nacional

Já não se trata mais se é o governo desse ou daquele partido, da Copa realizada por esse ou aquele governo, mas sim do interesse nacional.

Depois de todo o dinheiro investido e estádios já prontos, trata-se agora de se cobrar as melhorias prometidas nas cidades sedes dos eventos, o BNDES receber as parcelas dos empréstimos concedidos e o país potencializar os ganhos previstos com o evento que aqui será realizado.

Este país precisa ser passado a limpo. Esperava-se que isso acontecesse espontaneamente por um governo progressista, mas como ele se alinhou com o que há de mais conservador e retrógrado na sociedade, restou à população iniciar esse processo de “por os pingos nos is”.

Isto, porém, sempre tendo em vista o interesse do país, não se deixando levar, todavia, por aqueles que distorcem informações e tentam derrubar o gigante que acabou de acordar.

Luis Nassif

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