Está na hora dos democratas de centro tomarem partido, por Cesar Monatti

Italian traffic signs – direzioni consentite a destra ed a sinistra

Há não muitos anos  se ouvia e lia aqui e acolá, no Brasil, referências a uma suposta dificuldade, daqueles que sobreviveram dos tempos da ditadura até a reconstituição de um ambiente nacional redemocratizado, de lidar com os vários matizes das opções políticas num país democrático.

Por via de regra, dirigida em tom crítico a intelectuais e militantes de esquerda, a atribuição de um certo saudosismo da época em que a luta política estava reduzida a um embate primário do tipo NÓS contra ELES, pretendia revelar alguma intransigência, falta de argumentos ou extremismo daqueles que continuavam a defender os mesmos ideais de construção de uma sociedade de caráter socialista.

Os argumentos usados, naturalmente, defendiam a validade de princípios políticos de centro que se refletiam na constituição de novos partidos ou na explicitação de novas alas em partidos antigos não tão “do contra” em relação ao poder econômico e social estabelecido.
Dessa forma, era preciso que as esquerdas entendessem que, aqueles defensores de posições centristas e, por isso, frequentemente conservadoras ao opor-se a reformas radicais, não eram, necessariamente, reacionários que se opunham à liberdade democrática. Pelo contrário, as novas nuances ideológicas eram justamente um dos indicadores da existência de um arcabouço político de democracia plena de opiniões.

Sem embargo, eis que chegaram as eleições presidenciais de 2014 e a resistência manifesta a aceitação dos seus resultados. Pior que isso, parte dessa rejeição foi manifestada nas ruas por alguns destrambelhados – e repercutida pela grande mídia – como um clamor de releitura da nefasta e comida pelas traças “página infeliz da nossa história”.

Somadas essas expressões da insânia de eleitores da candidatura derrotada com o fato de que a diferença do número de votos foi a que mais se aproximou de um eleitorado dividido em duas partes quase iguais, aparentemente teria se reerguido do passado uma rediviva conjuntura política da ordem NÓS contra ELES.

Mas há uma diferença que pode tornar totalmente improcedente este cisma: a tomada de posição dos democratas de centro, vedados de manifestação à época da violência ditatorial, mas agora, livres de vez e de voz para ocuparem todos os espaços disponíveis de expressão, desde as redes sociais, os aplicativos de mensagens, as reuniões de família e os ambientes de estudos e trabalho para se posicionarem de forma contrária contundente e inflexível quanto a qualquer “reinvindicação” de retrocesso da democracia no país.

É improvável que possa haver, num futuro próximo, melhor hora do que agora para que os democratas do centro tomem partido. Ainda que para muitos seja pela primeira vez, não causará receio por ser a favor da democracia como valor universal. Sob pena de, assim não o fazendo, exercitarem uma indesculpável neutralidade que os arrojará para o âmbito da mesma definição de “analfabeto político”, consagrada por Brecht.
 

Redação

5 Comentários

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  1. Tucano era nome de pássaro e

    Tucano era nome de pássaro e foi adotado pelos filiados do PSDB. No momento tucano é sinônimo de “sudestino cretino” que não aceita resultado de eleição presidencial. Num futuro plausível tucano será sinônimo de “terrorista”. Ha., ha, ha… Será um prazer ver as forças de segurança despedaçar a tiros de canhão estes canalhas engomadinhos. Ha, ha, ha… Os terroristas tucanos querem guerra, terão a guerra que desejam mas não sairão dela inteiros ou vitoriosos.

    1. Duvida

      Desculpe, voce esta sendo ironico, ou realmente é o outro lado da moeda dos que querem uma interfencao militar?

      Qual a diferença entre esta sua colocação e dos reacionarios de direita?

  2. Não saberia dizer se estou plagiando

    Eremildo, o idiota (criação do Elio Gaspari) ou a Maria Antonieta: 

    Ora, se querem “intervenção militar já”, basta ligar no 190 da PM, que intervém rapidinho, na base do vapt-vupt e só depois vai fazer perguntas. 

     

     

  3. “(…) esquerdas entendessem que (…)”

    Destaco “era preciso que as esquerdas entendessem que, aqueles defensores de posições centristas e, por isso, frequentemente conservadoras ao opor-se a reformas radicais, não eram, necessariamente, reacionários que se opunham à liberdade democrática. Pelo contrário, as novas nuances ideológicas eram justamente um dos indicadores da existência de um arcabouço político de democracia plena de opiniões”. Este é um desafio para todos nós (principalmente pq. é muito, mas muito recente termos saído do período ditatorial e pouco exercitamos a convivência democrática – concordem ou não, esta é minha opinião). Desde os debates eleitorais aos mais diversos espaços desde a vizinhança, local de trabalho, estudo, até em blogs, facebooks, cartas em jornais e revistas, etc., as esquerdas deveriam (fazendo um esforço…) pra deixarem que a direita ou o que não se identifica pelanmente com esquerda, deixemos eles com seus termos belicosos. A amostra mais próxima é o que, infelizmente, vemos no blog, em que palavras são “faladas” às vezes em tom agressivo – mesmo que provavelmente sejam isso ou aquilo – não gosto do termo troll ou infiltrado, ate´pq. pdoem ser pessoas que realmente têm ponto-de-vista destoante e, se apelarem, novamente deixemos usarem termos ofensivos – ontem, mesmo, vi “diálogo” em que era um “imbecil” pra cá, um “burro” pra lá – acho que foi, sem entgrar no mérito, Diogo e outro do qual esqueço o nome agora. Tenho meu lado intolerante, um defeito, mas tento me lembrar da frase final daquela entrevista com Carta Capital em que Lula diz que respeitava também os que não aderiam a greves. Um meu nem tão antigo professor de política (UFRGS), tinha um prazer estampado no brilho dos olhos, ao dizer provocando a turma que sabia tinah tendência de esquerda de manuais, que um não grevista não é um pelego, necessariamente, e sim pessoas que agiam raciocinando em termos de suas referências, de suas “balanças” entre perdas e ganhos, que se sentiam e se sentem sensatos (sim, a maioria, por ser maioria, não está, só por isto, mais sensata e mais correta, mais justa). Repíto que é difícil prar mim (intolerância assumidamente envergonhado). Mas como o texto sugere, a ou as esqaueredas deveriam atrair ao m´zximo, e não afugentar o centro, os liberais-democratas. No caso das últimas eleições, não há,nem haverá uma uniformidade: creio que há liberais democratas apoiando PSDB/Aécio, apoiando Marina/Eduardo/PSB/Rede/PV, assim comno na ultra esquerda provavelmente há os também indignados movidos mais por emoções. Lidar com emoções é o mais difícil. Outro defeito meu é ser prolixo, outros poderiam dizer numas poucas palavras. Descontemos isso também.

  4. não sei, não, mas acho que os

    não sei, não, mas acho que os movimentos populares

    deveriam ficar atentos e começar a a reunir forças

    para participar efetivamente da atual luta política do país,

    como já fizeram anteriormente……

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