EUA e França reafirmam opção por um ataque “restrito”

Sugestão de Assis Ribeiro

Correio Braziliense

Obama sobe o tom e Hollande apoia

Por Gabriela Freire Valente

Estados Unidos e França reafirmam opção por um ataque “limitado e restrito” que envie “mensagem forte” ao regime de Damasco. Relatório de inteligência aponta 1.429 mortos em ataque químico, entre eles 426 crianças

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, planeja uma ação “limitada e restrita” em resposta ao ataque químico do último dia 21 em um subúrbio de Damasco. Embora tenha admitido ontem que não tomou a “decisão final”, Obama reiterou que vê no episódio um “desafio para o mundo” e criticou a “incapacidade” do Conselho de Segurança das Nações Unidas de agir diante de uma “clara violação das normas internacionais”. “Não podemos aceitar um mundo onde mulheres e crianças são vítimas de gás. Se não houver ação militar contra esse ataque, estaremos enviando a mensagem de que as normas de segurança internacionais não têm sentido”, declarou. Minutos antes, o secretário de Estado, John Kerry, tinha apresentado um relatório da inteligência americana (leia o quadro) estimando em 1.429 o total de mortos no ataque — entre eles, 426 seriam crianças — e responsabilizando Al-Assad.

Obama descartou o envio de tropas à Síria, assim como um envolvimento de longa duração. Ele indicou que o ataque “limitado” não constituiria a “ação principal”, e que seu governo consultou o Congresso e os aliados. O presidente disse entender o cansaço da opinião pública com repetidas guerras, mas lembrou a responsabilidade dos EUA de garantirem punição pelo uso de armas proibidas internacionalmente. “Não queremos que o mundo fique parado. Parte do desafio é que muita gente acha que alguma coisa deve ser feita, mas ninguém quer fazer”, desabafou.

John Kerry, por sua vez, afirmou que a ação “seletiva” contaria com o apoio de França, Austrália e Turquia, além da Liga Árabe. O secretário prometeu que não se repetirá a experiência do Iraque, invadido pelos EUA em 2003, e ressaltou que a resposta a Al-Assad tem implicações que não se limitam ao que acontece em território sírio: “Trata-se de como o Irã, que foi vítima de ataques químicos, se sentirá alentado para obter a bomba atômica, diante da ausência de ações. Trata-se do Hezbollah e de qualquer grupo terrorista que contemple o uso de armas de destruição em massa”. 

O relatório apresentado por Kerry diz que o ataque químico partiu de áreas controladas por tropas leais ao regime e foi preparado com três dias antes de antecedência. Membros do governo sírio também teriam sido previamente orientados a usar máscaras antigás. O Ministério das Relações Exteriores sírio refutou as acusações como “histórias inventadas e difundidas por terroristas”. Fred Lawson, especialista em Síria da faculdade Mills College, na Califórnia, avalia que, apesar das provas indiretas sobre o comando do ataque em questão, Kerry apresentou uma nova postura ao fazer acusações contundentes a Al-Assad. Ele também observa que um ataque dissuasivo teria de atingir alvos simbólicos, mas que não comprometam a sobrevivência do Estado sírio. “Não estou seguro se isso impediria o regime de cometer futuras atrocidades.”

ONU apressada
Os inspetores enviados pela ONU à Síria vão acelerar a produção do relatório sobre o uso de armas químicasa, segundo um porta-voz da organização. O secretário-geral, Ban Ki-moon, que havia feito um apelo para que nenhuma ação militar precedesse a conclusão dos trabalhos, informou aos membros permanentes do Conselho de Segurança que os resultados finais das análises devem ficar prontos em duas semanas. Os 13 especialistas, liderados pelo cientista sueco Ake Sellstrom, devem deixar o país hoje e encaminhar as amostras colhidas para laboratórios europeus. A representante da ONU para o desarmamento, Angela Kane, teria deixado Damasco ontem.

Depois de defender “uma ação proporcional e firme” a partir da conclusão do trabalho dos inspetores, o presidente francês, François Hollande, teria falado por telefone com Obama, por 45 minutos. Os dois indicaram que enviarão uma “mensagem forte” a Al-Assad. O parlamento francês deve debater a ação na próxima quarta-feira. O premiê britânico, David Cameron, também telefonou para o presidente americano, a quem explicou a rejeição dos parlamentares a uma moção que autorizaria a participação do Reino Unido em um ataque contra a Síria. A Alemanha, onde a chanceler (chefe de governo) Angela Merkel enfrenta as urnas dentro de três semanas, distanciou-se de um ataque.

Reunidos no Suriname, os chefes de governo da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) discutiam um parecer conjunto sobre a situação na Síria. “Espero que desta cúpula saia uma declaração clara, frontal, sem medo. Ninguém quer uma ditadura, nem atentar contra os direitos humanos”, disse o presidente do Equador, Rafael Correa. Os governos de Brasil, Argentina, Venezuela, Equador e Bolívia já se manifestaram contra uma intervenção. A Argentina, que exerce a presidência pró-tempore do Conselho de Segurança da ONU, propôs “uma intervenção humanitária sem fins nem meios militares, e com mandato (internacional)”.

Tal avô, tal neto
O filho de Bashar Al-Assad, Hafez — que leva o nome do avô, iniciador da “dinastia” — parece ter se engajado via Facebook no prolongado atrito do regime sírio com os Estados Unidos. Um post atribuído ao garoto, de apenas 11 anos, afirma que as Forças Armadas americanas são “covardes”, por utilizarem armamento altamente tecnológico em vez de combaterem com tropas no solo. “Eu quero muito que eles ataquem, porque quero que eles se deem conta do grande erro de começar algo que não sabem como terminará”, dizia a mensagem, “curtida” por filhos e netos de outras autoridades do regime. Horas mais tarde, o perfil foi excluído. Hackers simpatizantes do presidente sírio tiraram do ar as páginas dos jornais The New York Times e The Washignton Post.


“Se não houver ação militar, estaremos enviando a mensagem de que as normas de segurança internacionais não têm sentido”

Barack Obama,
presidente dos Estados Unidos

“As armas mais hediondas do mundo jamais devem voltar 
a ser usadas contra o povo mais vulnerável do mundo”


John Kerry, 

secretário de Estado
  

Conclusões dos EUA

Os principais dados do relatório divulgado ontem por John Kerry, secretário de Estado americano

» Uso de armas químicas
O documento divulgado por Kerry sustenta que os EUA têm “alta confiança” de que o regime sírio usou armas químicas, em uma pequena escala e por várias vezes, no último ano. A avaliação se baseia em múltiplas fontes de informação, incluindo o relato sobre o planejamento e a execução dos ataques e a análise de amostras fisiológicas de vítimas, que revelou a exposição a sarin.

» Arsenal
De acordo com o relatório, o regime sírio mantém um estoque de inúmeros agentes químicos, incluindo mostarda, sarin, e gás nervoso. Ainda segundo o texto, o presidente Bashar Al-Assad tem a última palavra em relação ao programa de armas químicas — “o maior do Oriente Médio”. 

» Preparativos
Os serviços de inteligência dos EUA sustentam que, três dias antes do ataque, coletaram dados de inteligência geoespacial e humanos que revelam atividades do regime associadas aos preparativos para um ataque com armas químicas. Segundo o documento, funcionários do programa de armas químicas chegaram a Adra, subúrbio de Damasco, em 18 de agosto e permaneceram ali até o dia do ataque. “No dia 21, um elemento do regime preparou o ataque, inclusive utilizando máscaras antigás”, afirma o texto.

» Vítimas
Uma avaliação preliminar do governo dos EUA determinou que 1.429 pessoas foram mortas no ataque com armas químicas, incluindo pelo menos 426 crianças. 

» Autoria
Os EUA afirmam ter “alta confiança” de que o governo sírio realizou o ataque químico. De acordo com o relatório da inteligência, “é altamente improvável” que a oposição tenha executado o bombardeio químico.

» O ataque

O governo de Barack Obama afirma que o regime executou um ataque com foguete e com artilharia contra o subúrbio de Damasco, nas primeiras horas do dia 21. Os alvos teriam sido os bairros de Kafr Batna, Jawbar, Ayn Tarma, Darayya e Mu’addamiyah. As agências de inteligência americanas detectaram os lançamentos de foguete 90 minutos antes de o primeiro relato sobre o ataque químico aparecer nas mídias sociais.

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. …. senhores campeoes da

    …. senhores campeoes da espionagem cibernetica mundial, quiça do sistema solar – os senhores do norte estao provocando os povos do planeta esquecendo q foi muito facil derrubar as duas torres wtc.  muitas vidas americadnas ceifadas !

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