A perda da soberania da Grécia

Caro Nassif

Envio-lhe minha tradução de um artigo que o Le Monde acaba de publicar (http://www.lemonde.fr/economie/article/2011/07/03/pour-juncker-la-grece-devra-se-resoudre-a-perdre-une-grande-partie-de-sa-souverainete_1544220_3234.html#ens_id=1508090 ), a propósito da entrevista concedida pelo presidente do Eurogrupo (o coletivo dos ministros de finanças dos países da União Européia), o luxemburguês Jean-Claude Juncker, que regala o público europeu com uma pequena bomba (ou pequena pérola, como queira), afirmando que o programa de privatização grego, aprovado a pretexto da ajuda financeira emergencial, será análogo ao programa de privatizações da ex-Alemanha Oriental. O título do artigo é, por si só, elucidativo:

Para Juncker, a Grécia deverá se conformar em perder uma grande parte de sua soberania

LEMONDE.FR | 03.07.11 | 17h54  •  Atualizado em 03.07.11 | 19h17

Após o desbloqueio de uma nova parcela da ajuda internacional de 12 bilhões de euros para a Grécia durante o fim-de-semana, o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, previu que o país será confrontado com severas limitações de sua soberania, comparando a situação de Atenas à da Alemanha Oriental depois da reunificação.

Numa entrevista publicada domingo na revista alemã Focus, Juncker explica que “a soberania da Grécia será enormemente restringida” em razão da “onda de privatizações que virá”, e que montará 50 bilhões de euros. “Seria inaceitável insultar os gregos, mas é preciso ajudá-los. Eles disseram que estavam dispostos a aceitar o conhecimento prático [savoir faire] da zona do euro”, observou Jean-Claude Juncker.

No contexto das medidas de ajuda financeira por parte da União Européia e do FMI, o parlamento grego votou especialmente pela criação de uma agência de privatização. Essa agência, conduzida por experts europeus, será fundada, segundo palavras de Juncker, “sobre o modelo da ‘Treuhand’ alemã”, o organismo que vendeu 14.000 empresas alemãs-orientais de 1990 a 1994. As privatizações devem começar “imediatamente”, segundo o ministro das finanças alemão, Wolfgang Schauble.

“Os salários aumentaram 106,6% em 10 anos”

Supunha-se que a Treuhand venderia os ativos públicos realizando lucros, mas ela fechou suas contas com um enorme déficit de 270 bilhões de marcos (172 bilhões de dólares ou 118,4 bilhões de euros). Quatro milhões de alemães eram assalariados das empresas que passaram para as mãos da Treuhand em 1990. Somente 1,5 milhões de empregos perdurariam no momento em que a agência fechou em 1994.

Nas páginas de Focus, Jean-Claude Juncker sublinha, no entanto, que a Grécia é em grande parte responsável por sua crise. “De 1999 a 2010, os salários aumentaram 106,6%, ainda que a economia não se desenvolvesse no mesmo ritmo. A política de ganhos [salariais] estava totalmente fora de controle e não se sustentava de forma alguma sobre (ganhos de) produtividade”.

A partir de agora o Eurogrupo considera um segundo plano de ajuda à Grécia, cujas grandes linhas foram discutidas no sábado. O setor financeiro, através do Instituto Internacional de Finanças (IIF), deu a conhecer que estava prestes a se engajar num esforço “voluntário, cooperativo, transparente e amplo” para apoiar a Grécia através de um “rollover” da dívida grega. Juncker se disse convencido de que as medidas tomadas para ajudar a Grécia “resolveriam a questão grega”.

Luis Nassif

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