Itamar 7: o caso Eletrobrás

Não foi um governo limpo, como se apregoa. Assim como demais governos, tinha seus esquemas de financiamento e condescendência com algumas jogadas pesadas.

Uma das maiores jogadas foi a venda de ações da Eletrobrás a preço vil, articulada pelo Ministro das Minas e Energia Paulino Cícero e, principalmente, pelo presidente da Eletrobrás José Luiz Alquéres – parente de Hubert Alquéres, um dos arrecadadores das campanhas tucanas em São Paulo.

Tempos antes, o BNDES começou a negociar ações preferenciais da Eletrobrás, que tinha em carteira. Fiz algumas críticas e Alqueres – então diretor do banco – me procurou com as explicações.

Mostrou uma cronograma de episódios futuros que valorizariam bastante os papéis da Eletrobrás. Àquela altura, estava havendo um encontro de contas do setor elétrico, conduzido de forma competente por Elizeu Rezende.

Alqueres explicava que as negociações visavam dar liquidez ao papel, para poder valorizar a carteira do BNDES.

De repente, já como presidente da Eletrobrás, planeja uma venda indecente de ações. Os preços seriam fixados tomando por base a cotação média do mês de maio e o pagamento seria em junho, trinta dias depois, mas sem correção dos valores encontrados. Com os níveis de inflação da época, era uma queima de ativos óbvia.

Denunciei na minha coluna. Itamar ordenou a Paulino e Alqueres que me dessem todas as explicações.

Fui a Brasília, passei duas horas com ambos. As explicações eram claramente insatisfatórias. Alqueres pegou um relatório do BankBoston para tentar me convencer de que os papéis da Eletrobrás não tinham futuro.

Reagi. Disse-lhe que a principal fonte sobre Eletrobrás era ele próprio que, poucos meses antes, me convencera do potencial de valorização da empresa.

Voltei, escrevi outra coluna mostrando que as explicações não se mantinham em pé.

Em vão! Houve a venda indecente das ações. O principal comprador foi o Banco Bozzano Simonsen. Meses depois, Alqueres pediu demissão na Eletrobrás para assumir um cargo no banco.

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