Mais uma oportunidade de ouro para o Nordeste

“O Nordeste brasileiro parece viver numa permanente Síndrome de Estocolmo coletiva, ao se submeter a uma espécie de servidão perante o Sul maravilha. A Síndrome de Estocolmo (Stockholmssyndromet em sueco) é um estado psicológico que se apossa de vítimas de sequestro que passam a defender seus captores, sequiosas de ganharem sua simpatia, como ocorreu, em 1973, na Suécia, quando sequestrados passaram a defender seus sequestradores, mesmo depois de findo o sequestro. O antropológico sequestro de noivas, ao longo da história, que terminam por se apaixonar pelos seus captores, integra a tipologia da síndrome. O caso recente mais famoso foi o de Patrícia Hearst, neta do famoso homem de comunicação Randolph Hearst, que, depois de ser libertada dos seus captores, em 1974, voluntariamente se juntou a eles, participando de assaltos a bancos.

O processo ocorre sem que a vítima tenha consciência disso. A recente, decepcionante e pública manifestação de apoio de influente compositor baiano aos interesses do Sul, contra os da Bahia e do Nordeste, na questão da distribuição dos royalties  do pré-sal, é um modo de manifestação da síndrome, na medida em que, historicamente, as lideranças nordestinas têm sido a causa principal da crescente distância que separa a Região dos centros mais desenvolvidos do País. É como se a mente passasse a depender da vassalagem consentida.

Como já dissemos em outras oportunidades, durante os trabalhos da Constituinte, empreendemos intensa negociação para assegurar, via constitucional, que o Orçamento da União fosse elaborado, com o propósito de reduzir desigualdades inter-regionais, segundo critérios demográficos, daí resultando o § 7° do artigo 165, combinado com o artigo 35 das Disposições Transitórias. Para alcançarmos o elevado quorum, obtivemos o apoio dos senadores Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, dando, em troca, o apoio do Nordeste à elevação do número de deputados de São Paulo, de 60 para os atuais 70. Os votos da Região  Norte vieram em troca da manutenção da Zona Franca de Manaus, com o suporte do relator Bernardo Cabral e do coordenador da bancada do Norte, deputado José Dutra.

Quando defendemos o dispositivo, tememos por sua aprovação, porque precisávamos de 281 votos num plenário no momento reduzido a 327 constituintes. Mesmo assim, graças à incansável articulação, obtivemos 317 votos, com apenas 10 contrários. Observe-se que em encontro da bancada nordestina com o presidente Sarney, este afirmou, com toda ênfase, com base em sua experiência como deputado, senador, governador do Maranhão e, então, presidente da República, que nossa proposta era a única capaz de retirar o Nordeste do estado de inferioridade em que se encontrava.

No primeiro orçamento, pós Constituinte, trabalhamos com o saudoso Senador José Richa, relator da matéria, que elevou a participação nordestina no Orçamento de nove para onze por cento, conforme a gradação estatuída no artigo 35 das Disposições Transitórias. Daí em diante, como deixamos o Congresso em fevereiro de 1991, ninguém mais cuidou do assunto, apesar dos esforços que despendemos junto a vários parlamentares e governadores nordestinos que não se interessaram pela questão que Rômulo Almeida afirmou que seria a mais importante conquista da Região em toda a sua história, opinião com a qual concordou Franco Montoro, ex-governador de São Paulo, quando aqui esteve para prestigiar nossa posse como presidente regional do Instituto Teotônio Vilela.

No mês de dezembro último, participamos de um jantar na casa do deputado Artur Maia, em Brasília, com a presença de vários deputados baianos e de outros estados, quando fizemos um histórico do esforço desenvolvido para incluir o critério demográfico na elaboração orçamentária. Entre os presentes, o deputado Antônio Imbassahy, agora elevado a líder das oposições ao governo na Câmara dos Deputados, tomou notas, manifestando vivo interesse pela matéria.

No curso do ano passado, a vice-presidente da Associação Comercial, Rosemma Maluf, empreendeu inteligente articulação junto às várias associações comerciais do Nordeste, no sentido de convidar as respectivas bancadas estaduais para se unirem na exigência do cumprimento da norma constitucional que elevará em nada mais, nada menos do que cem bilhões de reais os valores orçamentários ora destinados à Região. Rosemma, porém, passou a ocupar uma secretaria municipal de Salvador. O ex-secretário da Fazenda da Bahia, Luís Fernando Queiroz, conselheiro da Associação Comercial, promete sustentar a luta redentora.

Haverá ocasião mais favorável do que esta, quando temos à frente das duas casas do Congresso um deputado do Rio Grande do Norte e um senador de Alagoas?

Se continuarmos inertes, é porque, de fato, somos algozes de nós mesmos”.

Fonte: http://www.metro1.com.br/-mais-uma-oportunidade-de-ouro-por-joaci-goes-3-4229,blog.html

Redação

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