Novo contexto para impeachment, Temer, Cunha, governo e ajuste fiscal

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Helena Chagas

No Fato Online

O ano acabou. Viva 2016

Contar com a possibilidade de um impeachment em março, novo discurso da oposição e de parte do PMDB, é vender lote na lua. É um cenário que pode vir a acontecer, mas depende de variáveis diversas, que vão da ruptura oficial do PMDB com o governo em sua convenção do ano que vem à sempre esperada, mas ainda não concretizada, ida das massas revoltadas às ruas para pedir a cabeça da presidente da República. Convenhamos que, daqui até lá, todo mundo tem mais o que fazer – e o governo ganha uma boa chance de mudar a pauta e empurrar esse assunto de impeachment para as calendas.

O que não quer dizer que, de posse dessa boa chance, o Planalto saberá usá-la. Não teve competência para isso em outras vezes. Mas o ano acabou, e as camadas tectônicas da política estão novamente em movimento, e, quando isso acontece, é hora de as forças políticas se reprogramarem. As últimas da Lava-Jato, as mudanças na correlação de forças no Congresso e no PMDB e, sobretudo, a necessidade de partidos e políticos se prepararem para as eleições de 2016 formam o novo quebra-cabeças. Algumas de suas peças:

1.   Fecha-se o cerco em torno de Eduardo Cunha.  Novas revelações são vazadas quase diariamente, e o enfraquecimento do presidente da Câmara tem sido galopante. Vem se segurando numa caneta, que poderá usar ou não para assinar um pedido de impeachment, mas o tempo corre contra ele. STF e Ministério Público trabalham celeremente para reunir elementos consistentes que provem que Cunha vem usando o cargo para atrapalhar as investigações, inclusive na Comissão de Ética, e afastá-lo da presidência da Casa. Por ser situação inédita, a do presidente de um Poder derrubado por outro, Teori Zavazcki e Rodrigo Janot estão se cercando de cuidados. Mas há interpretações que podem dar base ao afastamento quando a denúncia for aceita e Cunha virar réu. Isso se, até lá, não o convencerem a renunciar ao cargo para manter o mandato e o foro privilegiado. Nesse quadro, o impeachment fica em segundo plano ainda que, num gesto final, Cunha assine o pedido. O STF já mandou dizer que está de olho.

2.    Michel Temer deixou o cavalo passar selado e virou alvo no PMDB. O correto vice-presidente pode ter sonhado com o Planalto, mas, apesar das fofocas que o separaram da titular, hesitou em entrar de cabeça na articulação pró-impeachment e não se viabilizou como alternativa. Não se articulou com a oposição, seu discurso ficou com um pé em cada canoa e não estimulou seu partido na hora certa. Terminou “bypassado”  por Dilma na negociação com a bancada na Câmara e agora é alvo da bancada adversária do Senado, que quer substituí-lo na presidência do partido em março. Parece que agora o destino do vice é ficar no Jaburu esperando o imponderável. Mas louve-se sua decisão de não passar à história como traidor.

3.   O PMDB vai ficando.  O congresso do partido em novembro era visto como marco para o rompimento com o Planalto, mas foi desidratado pela nova aliança entre o governo e bancada do líder Leonardo Picciani na Câmara. Não há hipótese de esse pessoal largar o osso dos ministérios da Saúde, da Ciência e Tecnologia e de outros cargos novinhos em folha logo agora. Há razão para dúvidas em relação a março. Se um governo com péssima popularidade é mau companheiro na campanha eleitoral, a caneta que ele deu aos peemedebistas é ótima companhia para azeitar relações com prefeituras e cabos eleitorais. O mais provável é que, ao mesmo tempo, saia (no discurso) e fique (nos cargos), ginástica na qual o PMDB é um craque.

4.    Sem votação não há salvação.  Dez entre 10 observadores sensatos concordam: a única maneira de o governo sair da sinuca de bico e oferecer ao país um horizonte de superação da crise é reunir apoios em torno de uma pauta de ajuste fiscal e reformas estruturantes e aprová-la no Congresso. Fácil de falar, difícil de fazer. Nem tanto se o Planalto aproveitar a trégua para concluir a “operação toma lá dá cá” com os partidos da base (infelizmente, sua fragilidade não lhe dá outra saída) e investir no convencimento dos agentes econômicos e de setores da sociedade de que ainda é possível recuperar a credibilidade e, mais adiante, a economia.

5.   Mais jogo de cintura na nova articulação política.  A entrada do jeitoso Jaques Wagner em cena já rendeu resultados. A dupla que forma com Ricardo Berzoini ganhou crédito de confiança dos interlocutores no Congresso e vem sendo até elogiada. É fundamental que esse clima não seja azedado pelo Planalto com reações intempestivas e murros em ponta de faca. Por exemplo, no caso da CPMF. O governo tenta vender esse peixe, mas tudo indica que a emenda não será aprovada. Há enorme pressão da sociedade contra ela. Seria de bom tom que o governo chamasse as forças políticas – até de oposição – para discutir alternativas como a Cide e outras medidas. Sem arrogância, sem soberba, sem pressão.

6.   Lula e PT podem dar uma trégua a Dilma. No alvo dos acusadores da Lava-Jato, o ex-presidente passa da crítica aberta ao governo, passando pela cabeça de Levy, a declarações de lealdade em questão de horas. Nunca se sabe o que Lula vai dizer, e isso deixa o Planalto de cabelo em pé. Nos últimos dias, porém, há sinais de que ele poderá ter um comportamento mais cooperativo até a aprovação das medidas necessárias no Congresso.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

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  1. O país

    Inacreditável. O país precisa de trabalho, em meio ao momento internacional delicado. O problema: cada instituição tem o seu projeto pessoal, com governo próprio e até objetivo político. Se diante da circunstância atual não há nenhum esforço em comum, ou melhor, se as instituições não trabalham com o governo para o melhor do país, infelizmente, o que falar do Brasil? Cada instituição (cada função, parlamentar) com um projeto de Governo próprio. Cada agente do Estado com sua bandeira própria. O pior não é o aspecto político, nem o aspecto econômico, inacreditavelmente, é a falta de integridade. O engraçado seria pedir a ajuda de Deus, e receber o castigo da falta de integridade, recebido por Sodoma e Gomorra, afinal, se juntar tudo, não há 10 justos. 

    Para mim, é um mal-estar terrível todas as vezes que enxergo a matéria de derrubada do governo, por métodos esquisitos. Mas e daí: vivemos em um nazismo mesmo. Sacralizaram a vida existêncial, com fundamento na dignidade, mas encontraram um campo de concentração em que o resultado final é a distruição da pessoa de uma maneira  diferente. E não é o propósito de muitos, uma solução final? Como este país se converteu ao nazismo?

  2. Não concordo que defender a

    Não concordo que defender a CPMF seja dar murro em ponta de faca. E não gosto do tom de comentaristas que se sentem tão bem informados sobre o que o Congresso vai ou não fazer. Pelo contrário, é óbvio que a CPMF se transformou numa primeira trincheira de defesa para o Governo. Renunciar a ela será ceder terreno crucial ao inimigo, que ficará então frente a frente com um Governo já sem nenhuma linha de defesa. Estratégia é fundamental para que não sejam cometidos erros crassos, em nome da tática.

  3. E a mídia…

    … cínica, corrupta, demagógica e mercenária? Fica fora da análise? Eles vão dar trégua também?

    A mídia é o principal ator nessa história e foi deixada de fora?!?!?

    É como resolver f(governo, congresso, judiciario, midia) =  1 x governo + 2 x congresso + 5 x  judiciario – 100 x mídia e desconsiderar a variável mídia!!!

    Desculpa… depois dessa, essa análise não serve pra nada!

  4. Se essa Helena Chagas é a

    Se essa Helena Chagas é a criatura em quem estou pensando (a ex-responsável pela área de Comunicações do governo Dilma)

    não vale a pena perder tempo lendo o que ela escreve.

  5. Essa é a técnica da mídia
    Essa é a técnica da mídia técnica. Como se ela não estivesse até ontem no governo ajudando a alimentar as serpentes da mídia

  6. GGN ajudando Helena Chagas a arranjar emprego no PIG

    GGN ajudando Helena Chagas a arranjar emprego no PIG

    Olha só a crítica da Chaguinha ao governo: “O que não quer dizer que, de posse dessa boa chance, o Planalto saberá usá-la. Não teve competência para isso em outras vezes.”

    Nem parece a chefa da SECOM que aconselhou a Dilma a comemorar aniversário da Folha da Ficha Falsa em festinha com os Frias da Ditabranda e, não satisfeita, aconselhou Dilma a fritar ovos e fazer omelete com a NháMariaBraga, no antro dos Marinho, os eternos golpistas, de 64 e de hoje.

    Será que a Chaguinha Heleninha fez algum cursinho para ficar ‘mais esperta’ agora?

  7. Esta senhora não era aquela

    Esta senhora não era aquela que advogava critérios absolutamente técnicos tentando se justificar diante das críticas sobre a repartição do bolo imenso de publicidade federal em órgãos que atacavam noite e dia e dia e noite o governo federal de forma partidarizada? Não era a Ministra Chefe da Comunicação Social? Agora virou engenheira de obra (ou demolição?) pronta? É isso mesmo? Será que não vaticina minimamente que seus tais critérios técnicos foram também responsáveis pela tal “sinuca de bico”  em que o governo está atualmente?

    Realmente vivemos  tempos de cinismo jornalístico absoluto!

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