Reflexões sobre as intolerâncias dos “fashionismos” de esquerda

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Sou de esquerda! Costumava dizer isto. Coerente com minha opção fui  filiado do PT em Osasco-SP. Durante alguns anos estudei obras de Marx e Lênin e de outros autores comunistas e socialistas. Algumas delas publicadas pela saudosa editora Progresso.

Promovi a ideologia de esquerda na Faculdade que cursei e em congressos estaduais e nacionais de estudantes de Direito. Fui estagiário da FNT e atuei em ações possessórias em defesa dos sem terra em meados da década de 1980. Fiz trabalho voluntário no Centro de Assistência Jurídica dos Alunos da Faculdade de Direito de Osasco, associação de alunos que prestava assistência judiciária à população carente de Osasco e Carapicuíba. Durante quase 10 anos também atuei como estagiário e, depois, como advogado de sindicatos filiados à CUT. Ajudei a fundar alguns sindicatos.

Minha história e formação me fazem compreender a Política como fruto da atividade coletiva. Um partido, associação ou sindicato de esquerda organiza coletivos com base em unidade de interesses (reforma agrária, reforma urbana, melhorias das condições de trabalho e remuneração, etc…) e cria um impasse (invasão, ocupação ou greve) para forçar negociações políticas que podem resultar em conquistas concretas (acesso á terra ou moradia, aumento de salários, etc…). Os movimentos políticos podem locais, regionais e nacionais. Portanto, algum tipo de coordenação e liderança é sempre desejável e necessário.

Tenho notado, contudo, que a esquerda se fragmentou com o surgimento daquilo que chamei de movimentos fashionistas*. Refiro-me aos movimentos ecológico, gay, vegano, a favor da liberação da maconha, etc… Cada um destes grupos tem sua própria moralidade e que, salvo algumas exceções, conduz à intolerância, insulamento e impede ou dificulta algum tipo de unidade de ação política baseada na idéia de classe social (como ocorria no passado).

Os contatos que tive com os militantes da nova esquerda ou da esquerda fashionista, todos muito mais jovens do que eu (que já tenho 50 anos de idade) tem sido frustrantes. É impossível manter qualquer identidade com um vegano que o acusa de ser assassino porque você come carne. Se você disser que almoçaria com ele num restaurante vegano se ele almoçasse com você num restaurante em que você pode comer carne a discussão geralmente degenera em acusações e ofensas desagradáveis. Os ecologistas são refratários ao desenvolvimento do país e não querem compreender que a transformação do Brasil num paraíso ecológico não necessariamente sustentará uma população de 200 milhões de pessoas. Fui ameaçado de morte na internet por gays e simpatizantes por ter ousado dizer que o SUS não deveria custear operações estéticas para mudança de sexo.

Através do Facebook, um garoto de 23 anos que vi nascer e que participa de marchas em favor da liberação da maconha e é simpatizante do movimento gay, referiu-se a mim como “Petista homofóbico…” e complementou “Eu li um cara de esquerda falando de heterofobia? Marcos Feliciano e bolsonaro curtiram isso… qualquer semelhança cum beato reacionário é mera coincidência.” https://www.facebook.com/photo.php?fbid=851103001653893&set=a.111442552286612.16352.100002626049097&type=1&theater&notif_t=photo_reply . É óbvio que ele queria me ofender. E para falar a verdade não gostei muito de ser comparado a Marcos Feliciano e a Bolsonaro só por ter dito jocosamente que os óculos de um amigo comum era “Totally gay”, até porque tenho criticado os dois em textos que provavelmente já foram lidos por aquele garoto.

A rejeição violenta do outro em favor da própria moralidade é evidente. No fundo, aquele garoto (assim como os veganos que me chamaram de assassino porque eu como carne, ecologistas que me detestam porque não sou contra o desenvolvimento do país e gays que me ameaçaram de morte por ser contra operações de troca de sexo pelo SUS) não conseguem pensar senão em termos de COMIGO ou INIMIGO. A intolerância de alguns membros dos movimentos fashionistas de esquerda é evidente e, de certa maneira, semelhante àquela fomentada pelos evangélicos politizados (que também rejeitam o outro, o diferente, em favor de sua própria moralidade). Como construir ou manter um partido de esquerda com pessoas que possuem moralidades que se excluem mutuamente?

Os problemas enfrentados por Dilma Rousseff são colossais. Mas eles seriam menores se nossa presidenta tivesse um partido político de esquerda grande com uma forte identificação classista e uma vasta base sindical coesa.

Alguns consideram a fragmentação da esquerda brasileira e o crescimento dos fashionismos um indício de modernização política do Brasil. Impossível não perguntar o que este fenômeno causou na política dos EUA, país cuja classe média foi impiedosamente destruída justamente no período em que a esquerda se fragmentou. Nos EUA os fashionismos de esquerda apenas conseguiram uma coisa: reforçar o poder dos militares sobre a política externa norte-americana. Não gosto nem de pensar no resultado que este fenômeno pode produzir na política interna do nosso país.

Não sou jovem. Portanto, o futuro não me pertence. Em breve serei obrigado a dizer: “Não, não sou de esquerda! Tampouco sou de direita. Sou apenas um esquerdista old fashion!”

Fashionista: em inglês fashionist vocábulo derivado de fascist + fashion utilizado no filme Iron Sky (2012) 

Fábio de Oliveira Ribeiro

60 Comentários

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  1. Reflexões… chamo Walt Whitman

    A um historiador

     

    Você, que fala de coisas passadas, 

    tem explorado só o lado de fora,

    as superfícies das raças,

    a vida como ela se deixa ver,

    tratando o ser humano

    como uma criatura de políticos,

    agregados, governantes e sacerdotes …

    Eu, habitante dos Allesghanies,

    tratando-o como ele de fato é

    em seus direitos,

    tomando o pulso da vida

    que raramente se deixa entrever

    (o grande orgulho do homem consigo mesmo) :

    cantor da Personalidade, rascunhando

    o que ainda está por vir

    – o que eu projeto é a história do Futuro.

     

    Em: Folhas das folhas de relva,Ed. Brasiliense, 1983, p. 14.

        1. “Para o mundo atual tu és,

          “Para o mundo atual tu és, unicamente,

          A fonte do dinheiro, a máquina inconsciente,

          O ventre fértil que produz, a preço vil,

          A carne do prazer para os Dons Juans da terra,

          A carne do canhão para o pasto de guerra

          E a carne que o industrial devora em seu covil!”

           

          Poeta paulista operário e anônimo. Material apreendido pelo antigo DOPS por ser considerado subversivo. O autor provavelmente foi espancado pelos intolerantes policiais, isto se não amargou algum tempo na prisão. Texto recuperado por historiadores paulistas que estudaram a repressão política em São Paulo com base nos arquivos do DOPS.

           

          Leia mais: http://jus.com.br/artigos/25991/sao-paulo-metropole-das-utopias#ixzz3cb8HEpgF

  2. Falta de projeto

    Concordo, Fábio.

    Porém, acho que devemos creditar essa nossa desilusão com esses movimentos à falta de sistema que têm esses projetos de vida, filosofia ou seja lá o quê. Vejamos, quando aderimos à esquerda, você, eu e mais um grande punhado, eu lá no início dos 1980s, nós aderimos a um projeto geral, um projeto de país concebido como um todo, e ele incluía liberdade de expressão (não necessariamente de imprensa), liberalização dos costumes (mesmo o ‘desbunde’, que era como chamávamos, era um ato de libertação), liberdade política (eu queria me professar comunista na frente dos meus pais sem levar um pé d’ouvido), liberdades sexuais (a virgindade era um tabu não rompido…), e era por esse projheto que lutávamos, uma coisa meio coesa. Claramente havia divergências de estilos e de métodos, eu comunista cheguei a crer em revolução armada (sem saber como poderia ser, já que o Araguaia estava já distante no tempo), mas pregava o rompimento com a “classe burguesa”, que para mim representava algo a ser excluído, deixado de lado por ser a força reacionária e antirrevolucionária mais visível. 

    O que ocorre com essa meninada de hoje, os que você chama fashionistas e eu chamo de fragmentários? Sua luta é pequena, direcionada, só se importam com o que lhes vai entre as viseiras (sem ofensas), só lutam por uma liberdadezinha estreita, numa faixa restrita daquilo que tomávamos como projeto de país no século passado. Não querem as liberdades todas por que lutávamos, lhes basta um pequenino progresso naquilo que acham ser o centro de suas vidas. Assim, o público LGBTTTQ não acha válido, possível ou imaginável lutar contra a pobreza, o MST fragmentou-se e luta apenas por seu público de lavradores sem terra (é assim que vejo as manifestações até de líderes que  admiro, como Stédile), o MTST só tem em mente a moradia urbana (o mesmo para o Boulos), os grafiteiros querem liberdade para grafitar mais muros, os veganos só se importam em nos convencer a não nos tornarmos cemitérios de bichos para nos contertarmos em ser cemitérios de plantas, etceteras mil.

    Assim, por se deterem em minúcias, por lutarem pela infraestrutura sem sequer perceberem a superestrutura, os movimentos para mim se esfacelaram, um tanto por hiperbolizarem suas lutas, outro tanto por não conceberem ideologias  estruturantes e gerais capazes de contê-las.

    É aí que eu pergunto: não é o tal “pós-moderno” ou a sociedade líquida que nos estupefaz? Como poderíamos dar a eles uma ideia sequer de nossa visão estruturada, projetos gerais de vida e filosofia, se os maiores revisores delas fomos nós  mesmos? Será que não podemos fugir dos frutos da crítica que fundamos há alguns anos?

    1. Os frutos que todos nós
      Os frutos que todos nós colheremos desta fragmentação moralista/fashionista não serão doces. E certamente serão ainda menos doces para as gerações mais jovens. Em razão de sua obsessão pelo presente veganos, gays, ecologistas etc… prejudicarão menos a nossa geração do que aquelas que estão chegando. Milhões de criancas passam fome nos EUA na atualidade. Isto é um resultado da destruição da classe média norte-americana em razão da fragmentação da esquerda naquele país. Quantas passarão fome no Brasil se a esquerda enfraquecer e for derrotada pela mesma corja neoliberal-evangélica?

      1. Obrigado

        Obrigado pela atenção. Não é comum recebermos respostas tão prontas nem em direção a avanço no debate. Sinto falta disso, quando discutíamos em assembleias a discussão ia adiante porque nossas intervenções não eram afrontas, as respostas não eram conflitos. Hoje, temos de nos policiar (introjetamos a polícia do pensamento do Orwell?) para não ofender a uns e outros a cada palavra (eu fico preocupado até em escrever “viseiras” para a limitação do olhar desses movimentos, pois posso ser mal-interpretado) e não temos mais a possibilidade incrível de que nossos debates avancem, pois o debate é cada vez mais discussão ( em discussões não se ouve o que  o outro fala, apenas se pregam verdades unilaterais). Então, nossa conversa aqui é apenas nostalgia e diagnóstico de uma realidade desgostosa? Não é isso?

        1. O que é isto companheiro? Nem

          O que é isto companheiro? Nem pecisa agradecer. Esta conversa não é minha, é nossa. Seus comentários são bem vindos. 

  3. Ótimo texto. Era algo que

    Ótimo texto. Era algo que queria ler há tempos.

    O fato exposto pelo autor pode ser visto como uma consequência do encorajamento dado, há décadas, ao individualismo em detrimento do coletivo. É um processo que começou com o encorajamento dado às mulheres no pós-guerra para ingressarem em peso no mercado de trabalho, em tempo integral, e competirem com os homens em carreiras consideradas masculinas (chamaram isso de “feminismo” e “busca por direitos iguais”). E assim derrubar os salários e desmobilizar os fortes sindicatos de então.

    Deu certo. Tão certo que até desmontaram o welfare state e a desigualdade no mundo aumentou de maneira assustadora e ninguém chiou.

    Enquanto a “esquerda” se tornou uma representante das pequenas causas, os ricos nadam de braçadas.

    1. Não creio que o feminismo
      Não creio que o feminismo seja um problema. Direitos iguais é uma bandeira humanitária e não feminista. No momento em que as feministas passarem a rejeitar o classismo e a unidade na luta a fragmentação e a fragilização da esquerda começa.

  4. Chauí

    Numa entrevista há uns dez anos atras na revista Forum, a Marilena Chauí já fazia essa crítica a esse execesso de ONGs de quanto é tipo, que já naquela época pipocavam no Brasil, dizendo que isso só contribuia para enfraquecer e fragmentar o movomento maior da classe trabalhadora – mais ou menos isso, cito a entervista de orelhada, mas tenho o exemplar em casa, com ela na capa – .

    Imediatamente pus me de acordo com ela, pensando não poucas vezes que essa fragmentação em vários movimentozinhos seja uma ação orquestrada pela Direita Internacional para enfraquecer a nós esquerdistas. (Isso é coisa minha, não de Marilena). 

    1. Eu não sei se a Direita
      Eu não sei se a Direita internacional orquestra isto. Mas é fato que a direita norte-americana adora ONGs ecológicas que agem fora dos EUA. As que agem dentro dos EUA não recebem apoio ou fundos da direita gringa. Isto explica a virulência das ONGs de ecologistas no Brasil e o esquecimento da hecatombe ecológica produzida no Canadá pela exploração do xisto betuminoso?

      1. Não há omissão dos ecologistas em relação ao “tar sands”

        A direita canadense pretende enquadrar como “terroristas”, os ecologistas que combatem a depredação ambiental promovida na exploração das areias betuminosas canadenses, leia a manchete:Tar sands campaigners are Canada’s new ‘terrorists’

        Responda: Qual seria o motivo para a direita americana apoiar em nosso país a causa ambientalista? Somos provavelmente a economia mais internacionalizada da face da Terra, as corporações multinacionais recebem aqui tratamento favorável que desconhecem em seus países de origem. O agronegócio que promove a depredação na Amazônia é uma cadeia produtiva dominada por multinacionais, até a propriedade de latifúndios é estendida para cidadãos e empresas estrangeiras. Você se lembra do Projeto Jari?

        Existe essa lenda de que os países centrais do capitalismo são contrários ao “nosso desenvolvimento”, que não tem nada de nosso e é um conceito bastante questionável do que significa o real desenvolvimento. As multinacionais deitam e rolam com o desprezo ao nosso meio ambiente. E ainda existe gente de “”esquerda””, que assim se autointitulam e combatem os ecologistas, para apoiar o “progresso” trazido pelo imperialismo e suas multinacionais; vão contra as populações pobres ribeirinhas dos grandes rios, caboclos, quilombolas e índios, para afirmar o mesmo projeto de colonização da Amazônia promovido pela ditadura militar.

         

        1. Então está confirmado. A

          Então está confirmado. A “pimenta ecológica” das ONGs é produzida e financiada com uma única finalidade: arder no rabo do Brasil e dos brasileiros (no rabo dos demais latino-americanos, africanos e asiáticos também).

          1. Nada do que escrevi confirma sua conclusão.

            A “pimenta” da depredação do meio ambiente arde nos paises atrasados. Você foi incapaz de apontar uma razão sequer para a direita imperialista apoiar a defesa do meio ambiente,  em paises como o nosso.

            As multinacionias deles vêm aqui para depredar, não estão a fim de preservar nada, então espalham que os ecologista são contra o “nosso desenvolvimento” e  são financiadas por eles, alguns panacas de “”esquerda”” compram essa lenda e combatem os ecologistas de graça, no lugar e em favor das multinacionais. O futuro da humanidade depende da preservação do meio ambiente, é impossivel pensar num projeto emancipador sem considerar a defesa da causa ecológica, só uma “”esquerda”” caquética, esclerosada, caduca, para rejeitar pela ignorância os apelos em prol da ecologia; somente quem ainda “vive” nos 1950, como você demonstra “viver” com o conteúdo de sua postagem, para desconsiderar a agenda em defesa do meio ambiente. Ha uma “”esquerda”” que se mumificou, tem uma agenda atrasada e faz coro com posiçoes mais reacionarias da direita; você faz parte dessa “”esquerda”” atrasada.

            Repito a pergunta como desafio: aponte um único motivo consistente, para a direita americana apoiar em nosso país a causa ambientalista?   

            Se eles não apoiam a causa em seu território, por que viriam apoiar aqui?

        2. Falou e disse, o desprezo de nossas esquerdas pelo ecologismo ainda vai cobrar seu preço, o qual será, evidentemente, pago pelos trabalhadores e os mais pobres.

  5. Muito fácil desconsiderar os problemas alheios…

    Pimenta nos olhos dos outros é refresco, né? Negros, nao combatam o racismo, combatam apenas a opressao de classe. Mulheres, essa história de machismo é bobagem, façam luta sindical mas continuem oprimidas em casa e na rua. Gays, ora, ora, vcs sao uns divisionistas. Ecologistas entao… Querem atrapalhar o desenvolvimento do país, imaginem só! Haja cara de pau para defender isso.

    1. Na verdade, você está olhando pelo lado mais fácil….

      O que vejo em seus argumentos é que, pelo menos para você, nenhuma luta pode ser integrada a um projeto maior de sociedade ou de vida. Se luto contra o racismo, é só com ele que me ocupo e ele toma minha vida como obsessão. Se sou vegano, vegetariano ou ovíparo, minha vida toda se resume a isso, e nada do que um carnívoro deseja pode ser objeto de luta para mim, já que somos por natureza distantes. Não há possibilidade de reunir (re-, mesmo, essas lutas já foram bastante unidas) isso tudo numa concepção de vida, seja saudável, seja equânime ou unida? Devemos então ser monolíticos lutadores de única causa? 

      Ah, e é verdade, viu? Alguns dos ecologistas (não digo todos, pois há variedade entre eles) defendem que o país (ou os países) desistam, por exemplo, de explorar jazidas minerais ou petrolíferas, pois causam impacto; outros defendem que não se instalem usinas hidrelétricas por causarem impactos ambientais (remember Belo Monte); outros há que defendam que não nos alimentemos de plantas, pois estaremos produzindo metano além de exterminar as pobrezinhas da face da Terra  – estes são aqueles que vivem de sol… Olha, você não imagina a quantidade de louco com quem a gente topa por aí…  Então, querida anarco-ecologista, eu diria aos negros: que bom que vocês se juntam à luta, trazendo-nos mais uma bandeira, a da iugualdade racial para nos contrapormos ao status quo! Aos ecologistas: maravilhoso que possamos lutar juntos por uma sociedade mais justa e que também preserve nosso ambiente num país tão maltratado! E a vocês, anarquistas: ótimo que possam estar juntos conosco na construção de um lugar em que haja menos mandantes e menos regras, em que possamos construir uma sociedade mais igual!

      1. Interpretaçao tendenciosa

        Jamais disse que essas lutas nao podem ser integradas num projeto maior de sociedade ou de vida, nem que quem milita por uma delas deve militar exclusivamente pela causa escolhida. Apenas rebati a posiçao do texto, de que elas deveriam ser desconsideradas em nome de uma luta apenas de classes. Ninguém pode se dizer de esquerda se nao se solidariza com os problemas de todos. E nenhum projeto maior de sociedade ou de vida pode deixar de incluí-las. Vegetarianismo é talvez por demais particular; bastaria que os veganos assim continuassem sem problemas, mas isso nao poderia ser imposto a todos. E algumas posiçoes dos ecologistas podem ter aspectos problematicos, mas a exclusao delas tem mais ainda, sobretudo para os jovens que vao herdar o planeta. E a gente discute posiçoes problemáticas, nao as cham de “malucas” nem as desconsidera simplesmente. Um projeto maior de sociedade começa pelo respeito às diferenças.

        1. Só um aspecto a comentar…

          Sem polemizar, já que o objetivo é debater e não discutir. Mas minha interpretação não foi tendenciosa, apenas levei ao limite as conclusões do que você dizia. Chama-se escatologia hermenêutica. Eu realmente no momento não milito por causas ecológicas nem tento compreendê-las. Muitos perdem tempo e prejudicam o desenvolvimento por rotas migratórias de bagres que não conhecem, se é que me entende. Porém, não vejo oposição, como você coloca, entre a luta de classes, tradicional, e as causas dos movimentos fragmentários atuais, aliás, ainda creio que, se há superestrutura que embase uma reflexão generalizante sobre as causas da esquerda, ela só pode ser classista, embora em segundo momento e na realização possa englobar movimentos menos claramente “sociais”, como os culturais ou literários ou sexuais, mas esses se manifestam posteriormente à superestrutura e nunca em mesmo nível de profundidade. E pode me chamar de dinossauro esquerdista, é isso que estou me tornando mesmo.

          1. Mas jä disse q nao vejo oposiçao entr essas lutas e luta d class

            Se bem que acho que seu marxismo tem que ser um pouco renovado… Mesmo entre marxistas essas suas categorias já foram revisitadas, Marx escreveu no final do Séc. XIX, a sociedade era outra, a economia era outra, a própria classe trabalhadora era outra. E essa secundarizaçao do que vc chama de “superestrutura” já foi mais do que questionada, e por marxistas. Eu nem conheço os mais modernos, mas basta ler Althusser e Gramsci para ver isso. 

          2. Isso conclui

            Justamente o que eu levantei como ponto problemático em sua visão apresentada foi a falta de unificação, falta de orientação científica real para isso que você chama de “marxismo renovado”, mas que apenas recende a social-democracia sem rumo. Foi justamente a falta de atenção a que essa superestrutura que envolve e molda a sociedade foi relevada por vocês, e no mesmo movimento é aí chamada de “ultrapassada”, “questionada”, mas o que ocorre é que vocês não a querem ver, ela está aí e continua aí. O “meu marxismo”, que graças ao bom Marx é o dele também, critica justamente essa cegueira ao poder estruturante das ideologias na sociedade, e nunca será superado por nenhuma “realidade nova” como você argumenta. Eu, ou nós, não “secundarizamos” a atenção às superestruturas, visto que elas são, por conceito, estruturantes da sociedade. Ou seja, nós priorizamos a que se dê atenção a elas, pois ali está o centro da mudança e da revolução possível. E o que subsistiria se não fosse a superestrutura por sobre ou em volta da organização apenas econômica?

          3. Tá falando abobrinha

            O que chamei de marxismo renovado nao tem nada a ver com social-democracia! Pirou? Desde quando Gramsci e Althusser nao sao legítimos pensadores marxistas? E nao há nada menos dialético, e portanto menos marxista, do que querer que a teoria marxista fique “formolizada”, imutável em condiçoes diferentes.

            Quanto ao que vc está falando sobre falta de atençao à superestrutura nao entendi nada, é o tópico do Fábio, q vc está defendendo, que questiona que ela seja considerada, defendendo apenas a luta econômica.

          4. Não, mas deixa para lá…

            Olha, Anarquista. Eu leio, gosto e releio marxistas pós-marxianos como Althusser, Gramsci, Giulio Carlo Argan, Bakhtin… Talvez mais que você a Kropotkin, Bakunin, Godwin e Fourier. Mas nossa questão não é teórica, não. É de contradição no discurso. Primeiro você me acusou de “não dar atenção” aos novos teóricos marxistas, dos quais eu gosto e os quais tenho prazer em ler.

            Mas sua argumentação dizia, se não me engano, que eles foram capazes de superar a teoria marxiana (marxiano é de Marx, ele próprio; marxista, da teoria advinda de seus escritos, mas não escrita por ele), mesmo superando conceitos como “superestrutura, infraestrutura e estrutura”. Pode parecer inacreditável, mas não localizei na minha leitura e em pesquisas bibliográficas como poderia, por exemplo, Gramsci “superar” a superestrutura, se esse é um dos conceitos fundantes sobre o qual se apoia sua visão de educação, de hegemonia, de organicidade. Para tanto, basta dar uma olhada: <https://pt.scribd.com/doc/137105492/A-Superestrutura-Para-Gramsci&gt;. Ele tomava esse conceito da mesma maneira que Marx, como base ideológica, concretizada em instituições não econômicas sobre as quais se assentam as contradições dialéticas da vida econômica, e é assim que eu também tomei. E, ouso dizer, da mesma maneira que eu.

            Já para Althusser, os conceitos debatidos também são fundantes, na medida em que são o ponto de partida para ele propor que a tomada de consciência ativa do sujeito (o assujeitamento) seja feita em cima da tensão dialética entre a infraestrutura e a superestrutura. Se quiser olhar algo sobre o assunto, <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0675.pdf&gt;. Portanto, se ele também toma como base a tensão e contradição dialética desses dois conceitos fundantes, não seria o caso de dizermos que ambos os teóricos tinham visão bem clara sobre esses conceitos, mas não visavam à sua “superação”?

            Assim, prefiro crer que sua postura beligerante e discussiva seja apenas para colocar algo em discussão, e não para entrar num debate sério e responsável sobre essa questão. Mas prefiro creditar sua belicosidade à sua opção ideológica, uma Bakunin de saias…

          5. Vc extrapola o que eu digo, e depois discute c/ sua extrapolaç

            Eu nao disse que os marxistas mais recentes “superaram” Marx. Digo que eles completaram e algumas vezes reformularam aspectos da teoria dele, e pensaram questoes que só ocorreram depois (nem tanto esses que eu citei, mas já eles). Que nao se pode citar Marx fora de contexto, como se a sua obra fosse uma Bíblia, e nao tivesse que ser adequada às situaçoes concretas posteriores (em especial aplicar o que ele disse sobre o proletariado à classe trabalhadora de hoje, e pretender legislar sobre movimentos sociais, como fez o Fábio, como se a única luta fosse entre burgueses e proletários). Só isso. Nao sou nem pretendo ser marxóloga.

            Agora, minha “belicosidade”, “Bakunin de saias” etc., cuidado com sua imaginaçao… E vc simplesmente nao sabe qual a minha opçao ideológica. Anarquista Lúcida é um nick, e, no meu entender, nao há divergência nenhuma entre uma orientaçao marxista geral e o anarquismo (há entre LENINISMO e anarquismo, mas nao igualo marxismo com leninismo; embora o Marx líder de internacionais — por contraposiçao ao pensador —  tz possa ser considerado um pré-leninista, rs,rs, RS). E vc nao sabe por que pus Anarquista LÚCIDA, e nao só Anarquista… Nao é um auto-elogio, tentou ser uma ressalva ao que os outros entendem por anarquista. Só que nao funcionou, porque as pessoas nao costumam abrir mao dos seus conceitos pré-concebidos… Aliás, dos autores anarquistas que vc citou o único que amo é Fourier, que nem é classicamente considerado como anarquista, em geral é dito socialista utópico. Meu anarquismo se baseia mais nos neoanarquistas de 68 do que nos clássicos anarquistas. E me dou ao direito de compatibilizar pensamentos, e de criar minhas próprias categorias, embora com base em outras, claro, nao pretendo reinventar a roda. Posso me dar a esse luxo, porque para mim elas servem apenas como um “óculos” para enquadrar minha percepçao da realidade, nao sou cientista social (a nao ser muito indiretamente, na medida em que a Linguística nao deixa de ser uma ciência social), nao ensino ciência social, posso me dar a liberdade de usar critérios de vários pensamentos sem visar o “purismo” teórico. Para mim até Foucault é, pelo menos parcialmente, compatível com o marxismo, embora provavelmente vc considere isso uma heresia. E ele seguramente complementa os temas clássicos do marxismo.

      2. Estou de acordo, Emilson.

        Estou de acordo, Emilson. Talvez a forma bruta de Fábio escrever dificulte a discussão, mas não a impede. Aqui mesmo no blog já vimos como é o pensamento do movimento de uma pauta só.

        Tem uma autora chamada Nancy Fraser que alerta para esse tipo de disputa entre os movimentos e os direitos. Direitos de reconhecimento (na esfera cultural) tomaram a dianteira nos últimos tempos, com muita justeza; no entanto, os problemas distributivos persistem e a luta pela distribuição da riqueza não pode ser ignorada. Não é uma questão de primazia, mas de lutas que devem se completar sob pena de perderem os dois lados. Não são lutas excludentes, mas é difícil para os dois lados entender isso, de maneira tal que muitas vezes tais direitos entram em conflito. 

        Por exemplo, não é possível acreditar em defesa da ecologia que não envolva os trabalhadores de diferentes setores. Quantos empregos terão que deixar de existir para que possamos garantir um mundo sustentável? Milhares. Mas, então,  como sustentar os trabalhadores que perderão esses empregos? E como negociar com eles? Não dá pra ficar viajando no barco do Greenpeace e achar que isso funciona né?

        1. “Não são lutas excludentes,
          “Não são lutas excludentes, mas é difícil para os dois lados entender isso, de maneira tal que muitas vezes tais direitos entram em conflito.”

          A politização dos moralismos fashionistas acarretará inevitavelmente os conflitos e a fragmentação? Minha resposta é sim. Veja o que ocorreu nos EUA, país em que a classe média foi destruida durante o crescimento das novas esquerdas. Milhões de crianças passam fome nos EUA e nem isto consegue unir os gays, veganos, ecologistas e feministas norte-americanos. Os famintos dos EUA contam apenas com a generosidade de alguns ricos e a ação direta de religiosos, os quais obviamene não pensam em termos classistas e não organizam ninguém para combater o classismo dos ricos norte-americanos.

    2. Destaque no texto onde fiz

      Destaque no texto onde fiz referência ao movimento negro, please? Você é capaz de imaginar porque os negros não foram citados no meu texto? Acredita que eles não sabem que no Brasil o problema racial e a exclusão econômica são as duas faces da mesma moeda?

      Das feministas não falei por razões evidentes. A irracionalidade de algumas delas já atingiu paroxismos. Muitas não querem mais igualdade perante a Lei, outras já falam abertamente em “superioridade feminina”. E para mim, minha cara, quem almeja superioridade não é de esquerda e sim de direita.

      No mais seu comentário é previsível e embolorado. Você não quer entender meu ponto de vista porque não quer entender meu ponto de vista. 

      1. E vc desconsidera todos os outros pontos de vista

        Embora o problema racial esteja ligado à exclusao econômica ele nao se resume a isso. No que toca ao feminismo, vc só mostra seu lado machista e reacionário, e deturpa de proposito as posiçoes feministas, que jamais foram de defesa de superioridade feminina. Com relaçao aos gays, vc já mostrou várias vezes aqui seu lado homofóbico. Nao é o meu comentário que é embolorado, é o seu que exclui os interesses da maioria da populaçao (negros + mulheres + gays dá mais do que a maioria da populaçao).

        1. Você interpreta tudo o que eu

          Você interpreta tudo o que eu digo levando em conta apenas seu moralismo/fashionismo. No fundo você está repetindo o bordão COMIGO ou INIMIGO que, como eu disse, causa insulamento e inviabiliza a política e inviabilizará a esquerda.

          A sua tática dialógica não é sutil, nem muito inteligente. Você esmaga o interlocutor se ele não se transformar num espelho. No fundo você quer conversar com pessoas que reproduzam o seu moralismo/fashionismo. A sua compreensão da Política se resume em rejeição ou submissão.

          Sorry baby, não vou mais perder meu tempo com você. Fique a vontade para protestar, replicar, atacar, ofender, etc… você tudo pode sozinha. Mas não creio que chegue a algum lugar com tanta companhia.

          1. Macaco, OLHA O SEU RABO

            Essa tática de acusar o outro daquilo que faz já é tão velha… E um homofóbico machista como vc me chamar de moralista tem até graça.

          2. Não sei se o autor, no seu

            Não sei se o autor, no seu cotidiano, é machista, homofóbico ou qualquer coisa do gênero. No entanto, acho que você fez uma leitura equivocada do texto. Em nenhum momento ele propõe o fim de bandeiras como a luta contra o racismo, os direitos das mulheres, a preservação ambiental etc. Ele está apenas denunciando as graves consequências advindas de uma fragmentação dos movimentos populares de esquerda , seja no Brasil ou no mundo. Ele propõe um diálogo amplo e acolhedor desses segmentos e de suas propostas a fim de fazer ressurgir a força da esquerda. E com isso eu concordo.

          3. Desculp mas ele está sim denunciando a “fragmentaçao” como 1 mal

            Onde é que está a proposta de diálogo amplo e acolhedor? Ele desdiz de ecologistas e gays desde o início, disse inverdades sobre o feminismo, reduziu o problema negro à questao econômica. Quer limitar os movimentos populares àqueles que ele acha importantes, e que os outros todos se submetam a uma linha única que nao os considera… 

  6. A mutação da esquerda

    O fenômeno tem a ver com a mutação por que a esquerda vem passando desde os anos sessenta. Originalmente a esquerda era organizada em torno das demandas dos trabalhadores, principalmente os operários das fábricas, geralmente articulados em poderosos sindicatos. Era uma herança dos tempos da revolução industrial, quando o operariado urbano cresceu enormemente e havia poucas classes de trabalhadores, todos levando o mesmo tipo de vida, morando nos mesmos bairros proletários, trabalhando nas mesmas fábricas, recebendo os mesmos salários, etc. Da uniformidade das aspirações surgia a união.

    Mas o perfil dos trabalhadores foi mudando. O número de operários descresceu à medida em que se ampliava o setor terciário, os serviços. Apareceram novas classes de trabalhadores, e em consequência multiplicaram-se os sindicatos à medida em que decrescia o número de trabalhadores sindicalizados. Isso tudo levou os trabalhadores a se desinteressarem da pregação dos líderes esquerdistas, que tiveram que buscar um novo público. No Brasil esse processo foi mais agudo porque coincidiu com o malogro da luta armada dos anos setenta, que não teve o apoio dos trabalhadores – nos grupos guerrilheiros havia quase que só estudante, intelectual, líder sindical, ex-militar, proletário mesmo havia pouco. Desde então a esquerda brasileira tem procurado angariar seu novo público entre os marginais, aqueles a quem Marx denominava o lumpen-proletariado e afirmava, com razão, serem imprestáveis como revolucionários. A esquerda brasileira substituiu os trabalhadores dos bairros operários pelos marginais das favelas, bem como por tudo quanto é grupo de indivíduos desajustados e inconformistas. Chama-se isso marxismo cultural.

    A regra agora é: onde quer que exista no mundo um grupo que esteja insatisfeito com o establishment e em desvantagem em algum conflito específico, a esquerda vai lá e empresta seu apoio, ainda que a luta em que tal grupo esteja engajado não tenha absolutamente nada a ver com a luta anti-capitalista que foi o mote original da esquerda. Viraram gigolôs das frustrações alheias. Isso pode dar a curto prazo certa visibilidade aos militantes, já que muitos desses grupos são aguerridos e barulhentos, mas a longo prazo será fatal, pois não só a maioria desse pessoal não professa nenhuma luta anti-capitalista, como chegam a ser, de fato, hiper-capitalistas, a julgar por seu narcisismo e consumismo desenfreado. Sobretudo o apoio dado a bandidos pode tornar a esquerda alvo do ódio do populacho vítima do banditismo, que acabará elegendo o primeiro fascistazinho que aparecer aí prometendo descer o pau nos marginais.

  7. isso que você descreve tem um

    isso que você descreve tem um nome, Fábio. Chama-se multiculturalismo. Podemos chama-lo também de esquerda identitária. É um grande problema para a esquerda classista, que embora deva combater essa ideologia, não pode deixar de participar nas frentes de massa que representam as lutas das mulheres, dos negros, contra a guerra às drogas, contra a destruição do bem comum, etc. Temos que lutar para que os movimentos voltem ao tom dos anos 60 no que diz respeito à consciência de classe, sem cair nos mesmos erros que aquela esquerda cometia ao secundarizar questões que não dissessem respeito exclusivamente à tomada do poder estatal.

    1. Não creio que a esquerda
      Não creio que a esquerda classista deva combater outro grupo além da direita. Isto, porém, não é compreendido pelos adeptos dos moralismos politizados fashionistas. Ecologistas, gays, feministas e veganos tem suas próprias lutas e não se importam de enfrentar e enfraquecer a esquerda mesmo quando isto possa acarretar um fortalecimento da direita (que odeia e rejeita, por razões óbvias, todos os fashionismos).

  8. Intolerância da nova esquerda

    Concordo com o Fabio. O problema não está nos objetivos – louváveis e importantes – dos movimentos por ele citados (chamados de “fashionistas”), está na moralidade excludente deles. Ninguém disse que eles são intocáveis ou não podem ser discutidos de maneira inteligente e aberta, aceitando outros pontos de vista e problematizando as questões que eles levantam e a forma como eles a conduzem.

    Há uma dificuldade em entender quem é “companheiro” deles e está discutindo para melhorar, aprender e ensinar e quem é “inimigo” (se é que podemos usar essa palavra), como a extrema-direita representada por Bolsonaro e Feliciano. Não conseguem fazer a separação óbvia entre esquerda (mesmo que a critiquem) e a extrema-direita, obviamente coisa de outra ordem e que deve ser contraposta de maneira política. Essa dificuldade se dá porque enxergam o mundo exclusivamente pelos óculos de sua pauta (pauta LGBT, pauta ecológica, pauta do passe livre etc), caindo em extremismos do tipo “ou eu, ou eles”.

    Já também, ainda que não tenha a idade do autor (sou bem mais novo), tive reações violentas contra mim, quando expus os meus pontos de vista a respeito do feminismo e da ecologia, sendo que nem uma opinião fechada sobre o assunto eu tinha. Já aprendi muita coisa com feministas (pontos em que eu estava errado mesmo), mas ainda discordo de alguns pontos e simplesmente não há espaço para eu colocá-los. Sou taxado de machista e, quando falo que minha crítica se dá por um viés de esquerda e que aceito (obviamente) a mulher como o meu igual e reconheço o machismo brutal que existe na nossa sociedade (e que minha crítica não abala essas minhas convicções), isso soa aos seus ouvidos como desculpa e hipocrisia. É muito difícil.

    Os romanos já diziam: “dividir para conquistar”. Temo pelo futuro do Brasil e até do mundo com a fragmentação da esquerda e a intolerância e impermeabilidade da chamada nova esquerda. O exemplo histórico do avanço conservador, nos anos 80, é pertinente. Sim, somos unidos por uma classe social, e sim, lutamos por um mundo igualitário, fraterno, sem medo uns dos outros e que acredita piamente na capacidade do ser humano. Infelizmente observo traços opostos nos da chamada “nova esquerda”, com intolerância, maniqueísmo (“nós contra eles”, “maus e bons”) e um profundo traço pessimista (“o mundo é uma catástrofe ecológica”, “o ser humano não presta” etc etc).

    Alguém precisa explicar a esses jovens o seguinte: (1) ninguém disse que, para ser militante, você abdicou da sua inteligência, ou seja, você não precisa ser intransigente o tempo todo para passar os seus pontos de vista; (2) é preciso reconhecer quem é amigo e quem é inimigo, mesmo que ambos discordem de você; ou seja, achar que um cidadão com histórico de lutas na esquerda, hoje nos seus 50 anos, se equipara a um Bolsonaro da vida é pura miopia; (3) o objetivo é um futuro de convivência mais humana e fraterna, mais racional e todo o resto circula, em maior ou menors medida, de maneira mais direta ou indireta, em torno desses objetivos; não é excluir ou odiar o outro por ser homem, por ser hétero, por comer carne, por mais que condenemos suas práticas; (4) tal procedimento superficial de ódio aos que não seguem sua causa específica é duplamente contra-produtiva, porque afasta a velha esquerda e dá munição para a direita, pois vai aproveitar este flanco aberto para explorá-lo e dividir ainda mais, algo que eles já fazem.

     

    1. Grato pelo comentário. O
      Grato pelo comentário. O avesso da fragmentação da esquerda (por causa dos moralismos politizados) é a unidade centralizada, hierarquizada e sacralizada da direita. Você tem razão ao citar aos romanos: num conflito ganha quem divide o adversário e conserva sua unidade. A esquerda já não consegue nem unidade na ação. Vem da a atual paralisia do governo? Esta meu caro é a grande pergunta.

  9. Acertou na môsca Fabio. Essa
    Acertou na môsca Fabio. Essa turma a que você se refere, importa-se apenas com seus projetos de poder, a reboque tanto faz da direita, do centro ou da esquerda. É uma forma esperta de poder paralelo. Dane-se a democracia, o povo e o trabalhador brasileiro, desde que estejam sempre “por cima da carne seca”.

  10. Concordo com o autor

    E vou além pra dar nomes a alguns bois: era por isso que eu quebrava o pau com o Gunter. Do jeito que ele expunha as opiniões dele, a solução para todos os problemas da humanidade passava pela criminalização da homofobia e pelo comprometimento do governo (qualquer governo) em apoiar essa causa; mutatis mutandis, se as demandas da população LGBT fossem atendidas, ele não se importava muito com o caráter ideológico de quem as atendesse. Tanto que, certa vez, ele falou dos avanços que os governos PSDB implementaram no atendimento de saúde à população LGBT (o que não deixa de ser uma coisa boa, mas que está em contradição completa com o desmonte do Estado que o PSDB vem implementando – ver, por exemplo, o desmonte do HU da USP) e ainda adicionou, “pra mim está bom”. Como que para demonstrar o que você mencionou, ele disse essas coisas numa época pouco após o massacre de Pinheirinho…

    Outro exemplo disso vi no Twitter: Pablo Villaça e Cynara Menezes. Respeito e admiro a ambos, e acabou que divergiram sobre certo assunto – não vou postar o assunto aqui; quem quiser saber, se vire, não o considero relevante para a discussão. O que importa é que um puta rancor foi mutuamente destilado por causa da discordância em uma opinião entre pessoas que, de resto, pensam mais ou menos da mesma maneira. A discussão acabou com um pedindo que “a outra lhe esquecesse”. Ok, o tweet foi apagado, mas aparentemente o rancor permanece (“E pensar que defendi fulano/fulana de blá blá blá”). Puxa, não é mais possível discordar e continuar amigo? Como foi colocado, só o que nos agrada é o espelho? Viramos todos um bando de Narcisos? Só o que nos interessa é ganhar a discussão e arrebanhar o maior número de “followers” atrás de nós?

    Não é possível que ver que isso não passa de uma quimera, pois em algum ponto duas pessoas sempre discordarão, e essa discórdia – pelo zeitgeist de hoje em dia – bastará para que essas duas pessoas transformem-se de amigos fraternos para inimigos mortais?

    (Ah! Enquanto isso, os direitosos – que querem ver figuras como Cynara e Pablo pelas costas – riam-se entre si, comemorando mais uma divisão nas hostes esquerdistas.)

    As pessoas parecem-se cada vez mais com o poema de Cecília Meirelles, “Ou Isto Ou Aquilo” – com a diferença de que, enquanto a narradora do poema original simplesmente não conseguia se decidir, nos decidimos cada vez mais por isto, e, principalmente e majoritariamente, contra aquilo. Onde é que isso vai nos levar?

    Será que não deveríamos pensar mais naquilo que nos une, ao invés de dar tanta importância às nossas diferenças?

    1. Dos que você citou só conheci
      Dos que você citou só conheci através da internet a Cynara. Ela me bloqueou no Twitter por razões semelhantes às que você mencionou. Acompanho e leio os textos dela, mas quando o assunto é LGB nem me dou ao trabalho de abrir o link. Sei que ela é fashionista e o fashionismo dela não me interessa, exceto como fonte de reflexão ampliada (como a que fiz no texto).

      1. Ao fim e ao cabo, os nomes
        Ao fim e ao cabo, os nomes nem são importantes. Só citei essas pessoas porque tive entreveros diretos com uma e acompanhei a tertúlia via Twitter, por outra. E o denominador comum é que sempre alguém quer ficar com a última palavra. E confesso, humano que sou, muitas vezes eu mesmo comportei-me da mesma maneira.

        Enfim, acho que tem umas coisinhas de que nos esquecemos:

        1. Perdoar é preciso;
        2. Reaprender a calçar os sapatos do outr@ é preciso;
        3. “Together we stand, divided we fall”

        1. “Together we stand, divided

          “Together we stand, divided we fall”

          Algumas pessoas, porém, não sabem o que a queda significa. Há os que já nasceram e foram criados na fartura. Outros sairam das fraudas agora e não conheceram a penúria FHCiana, ou pior, a penúria violentamente silenciada durante a Ditadura. É fácil almejar tudo agora neste momento (o fim do comércio de carne, desejado pelos veganos; o fim da industrialização poluente, como querem os ecologistas; o respeito absoluto às novas sexualidades, pretendida por gays e lésbicas; a glorificação do princípio feminino, como desejam as feministas; a liberação da maconha, etc…) se esquecendo que muitos ainda tem tão pouco. E que muitos perderão o pouco que tem com a queda.

          A queda é psicológica para alguns, para outros a psicologia sempre foi e será um luxo. Mas enfim, somos todos humanos… naturalmente tendemos a ver apenas nossos próprios umbigos. Lutar junto para a direita talvez seja mais natural: quem defende algo tangível (o poder, o vil metal, a posição e, é claro, a exclusão) o faz porque tem medo da queda e sim porque quer subir mais e mais, nem que para isto tenha que pisotear os demais (esquerdistas, fashionistas e miseráveis, incluídos).

          Ao rapaz que inspirou o texto que escrevi, que tem apenas 23 anos tenho dito que talvez ele tenha que aprender na carne o que a queda significa. As palavras, sempre consideradas “recriminatórias” nunca são capazes de ensinar algo a quem não tem uma referência pessoal e histórica com os fatos.  

      2. O curioso é que a Cynara já é

        O curioso é que a Cynara já é uma senhora, embora os seus textos tenham um estilo jovial e caiam no gosto dos adolescentes, que gostam de pessoas mais velhas com postura radical. É uma parcela mais comum em São Paulo, mais exatamente nas regiões de Vila Madalena, Pompeia e PInheiros, o que caracteriza praticamente um gueto. Por serem majoritariamente de classe média alta, são pessoas viajadas e ultra conectadas, como se pode observar nas redes sociais. Uma ala mais engajada conseguiu espaço em orgãos públicos, principalmente aqueles ligados à cultura e ao urbanismo, mas dentro da máquina administrativa e dos conchavos políticos pouco podem fazer. Tanto a Cynara como outros, caso do Sakamoto, recebem verbas públicas para manter os seus espaços na internet.

    2. Meninos, eu vi!

      Eu estava em meio a essa bronca, caro Zarastro. Entrei lá pelo meio e realmente achei que o Villaça acabou exagerando, tanto é que não posso retuitá-lo ainda. Não acho que as viseiras da luta de uma causa só nos levem a algum lugar, mas tenho mais aversão a broncas que descambam para fora da razão simples.

  11. Como já dito aqui, essa

    Como já dito aqui, essa fragmentação da esquerda não foi mero acaso, não foi uma simples mutação das lutas populares e o fim natural da antiga classe operária. Foi algo devidamente orquestrado por gurus da direita liberal e da economia de mercado. Antes de Marilena Chauí, Michel Foucault já denunciava isso (e provavelmente outros antes dele). O filósofo francês explicou como é perniciosa essa compartimentalização do ser humano em gavetas, em rótulos, em tipologias artificiais: viado, negro, ecologista, nerd, mulher, maconheiro, prostituta, vegano etc. Isso opera uma separação das pessoas em frentes de luta enganosamente distintas. É a velha estratégia de desunir para enfraquecer. E quem ganha? Os que se arrogam a propriedade sobre o mundo. Os vampiros do capitalismo mais predatório e elitista, claro.

    1. A classe operária não acabou,

      A classe operária não acabou, pois bens e serviços continuam a ser produzidos e distribuídos para poderem ser consumidos. O que está acabando é a organização da classe operária. O golpe de misericórdia será a terceirização ampla, geral e irrestrita, que de um dia para o outro acarretará o desmantelamento dos Sindicatos, Federações e Confederações dos trabalhadores. Quando eles ficarem sem partido e sem entidades sindicais fortes e atuantes o próximo passo poderá ser adotado: a extinção da Justiça do Trabalho, que é detestada de maneira irredutível pelos empresários pilantras que são obrigados a pagar seus empregados e a indeniza-los pelos abusos que cometem. E então a única regra poderá ser o paraíso do liberalismo, em que o abuso do poder econômico será a única regra.

  12. Eles com seu fanatismo e você com seu anglicismo…

    O triste do seu texto é esse exagero ridículo de termos em inglês… deprimente…

    Parece um Publiciotário cult com sua bike no shooping  center fazendo um selfie…KK

    1. Ao fazer um ataque pessoal
      Ao fazer um ataque pessoal rasteiro você conseguiu apenas uma coisa: revelar que é de direita e da pior espécie.

      Com o inimigo eu não converso, apenas destruo. A sua forma de proceder é a única que pode ser utilizada de maneira eficaz contra você.

  13. Prezado Fabio
    Saudações

    Prezado Fabio

    Saudações Osasquense

    Insisto, no Brasil não há esquerda nem direita.

    Talvez “fashionismos” de ambos.

    Abração

    1. Discordo. Quem não vê

      Discordo. Quem não vê diferença entre esquerda e direita já está a um passo mais próximo da direita.

      1. Prezado
        No brasil….te

        Prezado

        No brasil….te plageio…..hahaha…

        Nosso povo é acéfalo, não possuem a menor ideia do que estamos discutindo.

        Logo, concordo com o teu “fashionismo”

        Abração.

  14. O problema é que o conceito

    O problema é que o conceito de esquerda se diluiu de uma forma tal que a maioria dos jovens o confunde com  uma série de demandas dispersas, mas não menos importantes. De forma geral, sobra superficialidade e gasto de energia. Ninguém fala da relação entre o objeto de suas querelas a partir de um determinismo material e questões de classe muito menos com  relações de poder.

    Se por um lado o captalismo teve a capacidade de absorver o espírito transgressor do jovem, herança maior dos movimentos de 68 e usá-lo para vender algum bagulho, as esquerdas avalisaram o capitalismo bonzinho do welfare state e caíram no sectarismo, achando que estava tudo bem. Ficar chorando o leite derramado não adianta. Ou se muda a forma de dialogar com o jovem, colocando as nossas cabeças pra pensar algo novo, ou o nosso futuro …

    1. Não crítico o desperdício de
      Não crítico o desperdício de energia. Bem sei que nem toda luta da esquerda classista resultou em vitória. Os jovens tem energia de sobra e devem gasta-la e irão gasta-la de uma maneira ou de outra. O que me preocupa é a fragmentação. Se já é difícil confrontar a direita com união, confronta-la sem união provavelmente é mais difícil. Veja o caso de Dilma… O que mantém o governo dela neste momento?
      O PT está em frangalhos, sob ataque cotidiano da imprensa e sem maioria no Congresso. A Câmara e o Senado são comandadas por dois bandidos procurados pelo MPF que tudo fazem para se livrar dos processos ou para arrastar com eles a chefe do executivo. O PSDB e o DEM batem panelas e exigem o Impedimento sob aplausos da imprensa. Depois recuam para ver como a população reage. Os comandantes militares rejeitam o golpe de estado e ao fazer isto se transformam em fiadores da República em última instancia (reocupando a cena política).
      Impossível não concluir que Dilma ficará mais e mais dependente de quem garante o mandato dela (os militares). E estes tem suas próprias demandas: aumentos de salários, gastos com modernização das Forças Armadas, etc… Ai vem a armadilha. O que ocorrerá se o Estado ficar sem dinheiro para atender estas demandas militares?
      Um governo que perde seu único pé de apoio desmorona facilmente. E o vácuo só poderá ser preenchido por um canalha que sacrificar o povo e os programas sociais para atender aos militares.

    1. Até que enfim tenho que

      Até que enfim tenho que concordar com o Gunter. Não se trata de ser velha esquerda, mas de ignorância sobre o assunto mesmo.

  15. confundindo liberalismo com esquerda, não é a toa que é PT!

    O texto faz uma enorme confusão entre posturas liberais e postura de esquerda frente as mesmas questões. Tratar de questões como homofobia e ecologia não significa não ser de esquerda, depende de como são tratadas. A questão ecológica, por exemplo, é uma questão relevante e serve para identificar o capitalismo como destrutor das forças da produção, o homem e a terra. Se relamente o autor tivesse lido Marx, lembraria que em o Capital ele escreveu: “a produção capitalista só desenvolve a técnica e a combinação do processo de produção social ao minar simultaneamente as fontes de toda a riqueza: a terra e o trabalhador.”

    E nada impede que questões do machismo e da homofobia sejam tomados por uma perspectiva de classes e não pequeno burguesa. O machismo e a homofobia dividem a classe trabalhadora e não atentar para essas questões é renunciar a perspectiva da classe concreta, a perspectiva de esquerda, trocando-a por uma classe idealizada. Os LGBT por exemplo em sua maioria estão em trabalhos precários, como telemarkting em que ficam invisíveis e com péssimas condições de trabalho. O autor deveria abrir os olhos para o mundo e não ficar repetindo os manuais que aprendeu nos falecidos PC’s da vida.

    1. Quem fez uma confusão foi o

      Quem fez uma confusão foi o comentarista. Se não for um “fashinista de esquerda” ele é apenas um nóia de direita que defende a fragmentação da esquerda para que a direita possa controlar tudo (Estado, política e mercado).

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