Serra, a pedra no caminho do PSDB

Com derrota nas urnas, PSDB terá
que se consolidar como oposição – Diário do Grande ABC

Com derrota nas urnas, PSDB terá
que se consolidar como oposição
Da AE

A derrota nas urnas do presidenciável do PSDB, José Serra, trouxe aos tucanos um desafio hercúleo para os próximos anos: se fortalecer como uma legenda efetiva de oposição. Apesar de o partido ter vencido o pleito em Estados estratégicos, como São Paulo (Geraldo Alckmin) e Minas Gerais (Antônio Anastasia), analistas políticos consultados pela Agência Estado destacam que antes de partir para se tornar, de fato, uma legenda de oposição, o PSDB precisa se estruturar internamente e abrir espaço para a renovação de suas lideranças

Nessa equação, os analistas avaliam que o maior obstáculo para a reorganização do PSDB pode ser o ex-governador José Serra, caso ele se imponha como candidato natural da legenda à disputa presidencial de 2014. “Serra ainda está em clima de campanha. Precisa parar, porque está começando a atrapalhar o partido, que desse jeito não terá chances”, resume o cientista político Fernando Abrucio, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Mesmo recolhido publicamente, já que Serra nega-se a dar entrevistas (até 15/12), o ex-governador é atuante nos bastidores do PSDB. Ao ser derrotado pela presidente eleita Dilma Rousseff no segundo turno da eleição, Serra anunciou: a luta continua. E essa postura do ex-governador pode tirar dos holofotes do cenário político o desejo dos governadores Alckmin e Anastasia de fazer de suas gestões as grandes vitrines do partido nos próximos anos.

O cientista político Humberto Dantas, conselheiro do Movimento Voto Consciente, acredita que seria positivo para o PSDB a ruptura da atual hierarquia partidária, centrada em poucos nomes do Estado de São Paulo – além de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é o grande expoente. “Isso não cabe mais; só funciona quando se tem poder na mão”, afirma. O caminho apontado é abrir espaço para a chamada “ala jovem” que reúne os governadores Alckmin e Anastasia, além de Beto Richa (PR) e o senador eleito Aécio Neves (MG). Afinal, estão mortos os grandes caciques que assinaram o manifesto de criação do PSDB, como Franco Montoro, Mário Covas e José Richa – pai do governador do Paraná. A exceção é FHC que tem quase 80 anos.

Quando o partido foi fundado em 1988, Aécio ainda era o tímido neto de Tancredo Neves, eleito dois anos antes deputado federal pelo PMDB. Passados 22 anos e três derrotas sucessivas dos tucanos para o PT na disputa pela presidência da República, o ex-governador de Minas está entre os que podem mudar o PSDB – ou sair do partido, hipótese que muitos especialistas não descartam, caso ocorra resistência à sua candidatura.

Ao falar na possibilidade de Aécio migrar de legenda, Humberto Dantas destaca: “O PSB tem aquilo que a oposição mais deseja: o Nordeste. E se Aécio conseguir flertar com os pessebistas, a eleição de 2014 será bem emocionante.”. Embora não descarte uma ruptura, o cientista político Carlos Pio, da Universidade de Brasília, acredita que apenas a ameaça de que ela ocorra pode ser suficiente para que o PSDB opte por Aécio. E pondera que a favor dele tem ainda o fator novidade, pois ainda não foi testado na disputa pelo Planalto.

Dantas acredita que o PSDB precisa jogar como partido – coeso, e não com interesses individuais. “Já está provado que São Paulo não ganha eleição sozinho”, afirma. “É bom o PSDB tirar olhos de São Paulo e despaulistar.” A derrota de Serra pode desidratar a força paulista no partido – ou ao menos, esvaziar o grupo de Serra, já que o mais provável é que ele fique sem mandato até 2014, porque não se imagina que ele dispute a Prefeitura de São Paulo.

REPAGINADA – Para o cientista político Sidney Kuntz, a mudança do PSDB passa por algumas vertentes. Em primeiro lugar, é preciso arrumar a casa, reestruturar o discurso e chegar a um consenso sobre quem será o grande porta-voz tucano para discutir os problemas do País e fazer oposição ao governo de Dilma. “Ter um discurso único é fundamental.” Mas ele adverte que o conceito de “refundação” é ruim porque está associado a algo que não certo ou até que fracassou. O ideal é propor uma “repaginação” que implica em manter a estrutura tradicional, mas buscar uma atualização política.

“O PSDB precisa de uma organização partidária para atrair novos eleitores e filiados”, reforça Abrucio. Ou seja, o partido terá de ampliar sua base política que, desde o começo, sempre teve forte apoio entre os setores mais organizados da sociedade, mas não entre o eleitorado mais popular. Ao contrário do PMDB e do PT, o PSDB nunca foi um partido que se espalhou pelo Brasil. Em 2002, foram eleitos 72 deputados federais. Na eleição seguinte, 65. Neste ano, os tucanos conquistaram 53 vagas na Câmara dos Deputados.

Dantas defende que a oposição precisa aprender a ser oposição. “Primeiro a oposição precisa existir, se continuar a ser feita com base nas pesquisas de opinião pública e no medo de se posicionar contra elas não dá. Oposição não se faz por meio de pesquisa, você pode até não dizer o que povo quer, mas tem que bater”, sustenta.

Naturalmente, a ação do PSDB vai estar estritamente ligada ao desempenho do governo Dilma. “O PSDB poderá voltar ao centro do palco como alternativa de poder ou ainda ficar em situação mais difícil”, pondera Pio, referindo-se ao sucesso ou fracasso do novo governo. Mas o cientista alerta para o risco de se atrasar decisões até que se tenha um quadro consolidado da gestão Dilma.

Independentemente do caminho que decida trilhar, os analistas concordam que o desafio do PSDB para se consolidar como uma referência de oposição, assim como foi o PT nos governos de José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, não será tarefa fácil. Mas, a favor dos tucanos tem o fato de que o popularíssimo presidente Luiz Inácio Lula da Silva não estará mais no centro dos holofotes.

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Luis Nassif

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