Vídeo da reunião de 5 de julho comprova protagonismo de Bolsonaro no plano de golpe

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
[email protected]

Imagens mostram Bolsonaro liderando reunião ministerial onde plano de atentar contra a democracia é escancarado

Foto: Marcos Corrêa/PR

A gravação de uma reunião ministerial, feita em 5 de julho de 2022, comprova o protagonismo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no plano de golpe, que culminou na invasão criminosa das sedes dos Poderes seis meses depois, em 8 de janeiro de 2023. 

Conforme trechos do discurso de Bolsonaro, aos quais o GGN teve acesso, o ex-presidente previu que seria derrotado nas urnas por Lula e afirmou que não esperaria chegar 2024 para se arrepender de ter tomado alguma providência para evitar a mudança de governo, mas que essa não seria umaprovidência de força”. 

Agora, vídeo da reunião, publicado em primeira mão pela jornalista Bela Megale, no O Globo, mostra o então presidente visivelmente alterado na tentativa de convocar seus ministros para agir contra o Estado democrático. Como previsto, uma das estratégias principais era o ataque contra o sistema eleitoral.

De acordo com a gravação, Bolsonaro defendeu que todos os integrantes da Comissão de Transparência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fizessem uma nota conjunta, afirmando que “a lisura das eleições são simplesmente impossíveis de ser atingidas (sic)”. O ex-presidente ainda afirmou que a nota precisava ser subscrita pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), para dar credibilidade.

A partir disso, Bolsonaro fala abertamente que o TSE “errou” ao chamar as Forças Armadas para integrar o comitê de transparência eleitoral da corte, mas admite que se beneficiou disso.

O TSE cometeu um erro [inaudível] quando convidou as Forças Armadas para participar da comissão de transparência eleitoral. Cometeu um erro. Eles erraram. Pra nós, foi excelente. Eles se esqueceram que sou o chefe supremo das Forças Armadas?”, declarou.

Outras evidências, essas surgidas no final de 2023 com a delação de o premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, ilustram o raciocínio do ex-mandatário.

Segundo Cid, em uma outra reunião, essa no final de 2022, após a vitória eleitoral de Lula, Bolsonaro teria se reunido com a cúpula das Forças Armadas para discutir um novo plano de golpe, numa tentativa desesperada de permanecer no poder.

Neste encontro, o Exército teria negado adesão ao golpe e não se sabe qual teria sido a conduta da Força Aérea. Mas o almirante Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, que tem cerca de 80 mil homens e mulheres em seu corpo, embarcou prontamente na empreitada golpista.

Já nesta quinta-feira (8), as mensagens apreendidas a partir da delação de Cid, na Operação Tempus Veritatis, apontam ainda que Bolsonaro apresentou sua versão de um decreto de golpe de Estado aos comandantes no encontro de novembro de 2022.

Além disso, as provas mostram que os militares que se opuseram ou não se manifestaram a favor do intento de golpe foram pressionados pelo general Braga Netto, então ministro da Casa Civil, que afirmou que ofereceria a “cabeça” daqueles que não se posicionassem à favor da iniciativa criminosa.

Ministros na mira

Voltando para a reunião de junho de 2022, Bolsonaro atacou também sucessivamente os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e TSE, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, dizendo que “os caras estão preparando tudo” para que Lula – a quem chega a se referir como “satanás” – ganhe as eleições no primeiro turno, mas por meio de “fraude”.

Alguém acredita em Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes? Se acreditar levanta braço? Acredita que são pessoas isentas?”, todos permanecem em silêncio diante do questionamento de Bolsonaro.

“Se reagir depois, vai ter um caos”

Em uma das frases mais impactantes dadas na reunião de junho, Bolsonaro incentivou os ministros a agirem antes das eleições, sob o alerta que o Brasil enfrentaria um caos.

Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições“, afirmou Bolsonaro.

Operação Tempus Veritatis

As imagens vieram à tona um dia após a Polícia Federal (PF) cumpriu nesta quinta (8) a fase da operação Tempus Veritatis, que apura a organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para manter Bolsonaro no poder.

Ex-assessores de Bolsonaro foram presos. Outros aliados, inclusive membros do primeiro escalão de seu governo, como os generais Braga Netto e Augusto Heleno, foram alvos de busca e apreensão.

Bolsonaro foi alvo de um pedido para entregar passaporte e evitar contato com outros investigados.

Leia também:

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Os Ogros queriam golpear de morte a democracia mas queriam fazê-lo jogando de forma inconstitucional, digo, condicional, dentro das quatro linhas da constituição.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador