“Uma criança não pode ouvir que ela pode ser qualquer coisa”, diz pastor que cuidará de secretaria LGBT

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Nomeado para a Secretaria da Proteção Global, Sergio Queiroz parece entrar na esteira do projeto Bolsonaro de criar “anti-ministérios”, ou seja, repartições que atuam de forma contrária ao que é esperado

 
Jornal GGN – Ele diz que não está na “cota” da bancada evangélica junto ao governo Bolsonaro e tampouco é amigo pessoal de Damares Alves, mas o pastor Sergio Queiroz, bacharel em Direito e servidor público há 25 anos, assume a Secretaria de Proteção Global – setor responsável por elaborar políticas de combate a qualquer tipo de discriminação – em total sintonia com as polêmicas da pastora-ministra.
 
Questionado pelo UOL sobre a frase “menina veste rosa e menino veste azul”, Queiroz começou com o pé esquerdo e justificou a fala de Damares como interesse em ensinar “padrões” às crianças.
 
“Na fala do azul e rosa, a ministra diz que os pais vão ter o direito de ensinar padrões mais facilmente compreensíveis nessa idade [cinco anos]. Ela usou a metáfora do azul e do rosa”, defendeu ele, ignorando que as críticas à Damares ocorreram justamente porque uma parte da sociedade já não compactua com a insistência de setores ultra-conservadores em empurrar padrões de gênero às crianças, obstruindo debates que evitariam a perpetuação de preconceitos e desigualdades.
 
Queiroz parece entrar na esteira do projeto Bolsonaro de criar anti-ministérios e anti-secretarias, ou seja, repartições atuam contra sua própria existência – ou, no mínimo, bem distante do que é esperado.
No início de novembro, depois da vitória de Bolsonaro, Queiroz conduziu um culto evangélico exclusivamente para propagar a ideia de que aos perdedores do processo eleitoral não cabe a resistência meramente “ideológica”.
 
Um bom cristão, ensinou ele, deve honrar qualquer governante e trabalhar pela prosperidade da Nação. A resistência só cabe em situações em que a ética ou os dogmas cristãos sãos afrontados. E citou um exemplo curioso para quem acaba de assumir um setor que combate a discriminação contra homossexuais:
 
“Se um dia nesta Nação – espero que nunca aconteça – os pastores tiveram a obrigação de celebrar um casamento religioso fora dos padrões monogâmicos e heterossexuais da bíblia, se houver uma lei nacional, se for constituição brasileira, eu vou resistir a cumpri-la, e sei que posso ser preso por isso. (…) Resistirei a tudo aquilo que for contrário à ética de meu rei”, disse, colocando a mão sobre a Bíblia.
 
Assista aos 28 minutos:
 
https://www.youtube.com/watch?v=iu5mvUFdWLs width:700 height:394
 
Apesar de ser contra o casamento religioso entre homossexuais, Queiroz disse na entrevista ao UOL que a ideia de que Bolsonaro ataca minorias foi “construída” por interesse eleitorais e que que o presidente não vai retirar “direitos adquiridos”.
 
Ele também garantiu que a estrutura da secretaria está como foi herdada de “governos anteriores”.
 
Não significa que as políticas do setor não possam ser esvaziadas.
 
Um exemplo está na resposta do novo secretário à pergunta sobre se a discussão de gênero será feita nas escolas. “O meu entendimento é que as famílias é que devem ensinar às crianças o respeito à diversidade.”
 
E continuou: “Não podemos dizer que uma criança, com quatro ou cinco anos, tem aparato psíquico para ouvir que ela pode ser qualquer coisa.”
 
Segundo o secretário, há “vulnerabilidade na tenra idade” que deve ser “preservada”. “Não é o momento ideal para que ela receba informações que não tem condições de ponderar.” O momento ideal será ditado pelo MEC e Ministério da Saúde.
 
Queiroz reconhece, por outro lado, que “a discriminação começa em casa”, mas acredita que “quando você municia a família brasileira a ensinar os filhos a ter respeito com os diferentes, isso muda.”
 
É com fé nesse pensamento que ele diz que “a estatização do ensino contra a discriminação precisa ser revista. O Estado precisa atuar de maneira complementar, e nós vamos fortalecer a ideia da família ensinar sobre respeito a identidade.”
 
Leia a entrevista completa aqui.
 
 
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. A questão do azul e rosa é besteira
    Alguém já protestou contra as campanhas outubro rosa e novembro azul? Se sim, sorte, não vi meia.

  2. Um não acontecimento

    Eh de um primarismo lamentavel. Lamentavel que estejamos tendo que ler coisas como essas ainda hoje. Conversando com uma jornalista francesa que esteve diversas vezes a trabalho no Brasil, ele me disse que achava curioso que ao perguntar ao brasileiro o porquê de suas posições em geral ele não sabe responder… Não sabe responder, disse a ela, porque não tem base para tal.

    E a historia de que a ministra Damares pegou um vendedor de uma loja pelo pescoço e o ameaçou apos ele ter provocado sobre a questão de gênero? Isso seria verdade? Se for, da o tom de cinza, roxo e a escuridão que vem por ai. 

  3. As informações sobre este homem são as melhores possíveis, é só dá um Google aí ver o projeto social que ele está envolvido. Concordo plenamente quando ele diz que não se pode dizer a uma criança de 5 anos q ela pode ser o que quiser. Ficam recortando pregações em igrejas para causar com a galera que não se informa sobre nada. Isso é a resistência. Fico feliz por não fazer parte dela.

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