Uma explicação com análise psicológica para a crise do governo Dilma

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por André de Oliveira

No Estadão

Desconstruindo Dilma

Na semana em que as contas do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União, a temperatura política do País aumentou significativamente. Pela primeira vez desde o início do segundo mandato, o impeachment apareceu no horizonte como uma possibilidade real. O calor do momento, contudo, representa para o psicanalista Tales Ab’Sáber o instante mais necessário e ideal para se discutir o Brasil e seus rumos.

Com o livro Dilma Rousseff e o Ódio Político, editado pela Hedra e disponível para venda em formato digital e pré-venda em papel, Ab’Sáber busca traçar um perfil psicológico da presidente – coisa que já tinha feito com Lula em Lulismo, Carisma Pop e Cultura Anticrítica, no fechamento dos oito anos de governo do ex-presidente. A ideia é explicar como as características de Dilma, somadas às conjunturas do País, a conduziram ao estado de isolamento político em que se encontra. 

Para o psicanalista, o livro faz uso de um aspecto pouco explorado pela sociologia política – a personalidade dos governantes -, que pode ajudar a ampliar a discussão, oferecendo diferentes perspectivas. A seguir os principais trechos da entrevista.

Quais traços da personalidade da presidente são identificáveis no modo de ela governar?

A presidente tem uma posição singular na esquerda brasileira. Ela não participou da dinâmica de formação do PT, veio do PDT de Leonel Brizola, e sempre teve o perfil de uma pessoa técnica agregada à política. Isso significa que, de algum modo, desde a origem, a presidente sofre de certo isolamento político. O problema é estrutural e anterior à crise que o governo está vivendo agora. O jeito dela governar é tomando decisões a partir do gabinete. Ela manda mais do que negocia. É uma tecnocrata de esquerda com um traço extremamente controlador, que fica claro na sua dificuldade de liderar negociações. Dentro e fora do governo. Aliás, nesse ponto ela é semelhante ao José Serra, seu adversário original em 2010. Os dois descendem de uma longa tradição originária do discurso positivo, técnico, científico. Fazem parte de uma “região” simbólica, subjetiva e sociológica bem brasileira. São tecnocratas, descendentes de um positivismo que acalentava a fantasia da existência de um sentido racional capaz de botar ordem no País. E que, por isso, é também muito autoritária. No caso da presidente, sua formação é completamente de oposição aos militares, mas, curiosamente, ela carrega esse traço de tecnocrata que eles também tinham.

O Lula, então, é o oposto dela nesse sentido?

Sim. O Lula, como o grande negociador que é, era muito mais flexível e carregava menos certezas. Ele deixava as forças sociais agirem através dele, organizava os poderes reais, mas não impunha uma forma a eles. A Dilma, por sua vez, não tem a experiência da negociação. Esses elementos não eram uma garantia do seu isolamento, mas são traços que poderiam levá-la até ele. No começo do primeiro mandato até existiu uma fantasia marqueteira em que ela aparecia como uma espécie de rainha, uma matriarca que conseguiria organizar a política de forma dura. Mas uma faxina no segundo mês de governo nunca é uma coisa saudável. É uma catástrofe política. Mesmo porque faz-se a faxina, mas se mantêm os mesmos partidos, o mesmo modo de operar.

A aprovação de Dilma era alta. Houve a reeleição e, depois, uma queda abrupta. O que explica essa queda?

São duas coisas. Em 2012, quando o governo trabalhou fortemente para diminuir os juros, aconteceu um racha com parte da riqueza nacional. A partir daí, setores até contraditórios, como financistas e industriais, se uniram em torno de um discurso geral contra o governo. Foi a quebra de um pacto estabelecido pelo lulismo. Depois teve junho de 2013, o grande mistério da política brasileira. Num primeiro momento, foi a batalha de jovens da esquerda independente por um ponto específico: transporte público gratuito. Num segundo momento, depois de uma repressão violentíssima, principalmente da polícia paulista, em que a vida cidadã foi reprimida, virou um movimento pela democracia. Por fim, num intervalo de poucos dias, a crítica à esquerda caiu no colo da direita. Em junho de 2013, já com o discurso do grande capital contrário à política econômica do governo, que começara a ser forjado em 2012, a direita descobriu a rua.

Por que todas essas questões confluíram para aquele momento?

Foi quando o “keynesianismo de consumo” dos governos Lula e Dilma estava deixando de ser viável. O governo não podia mais bancar isso, inclusive por causa de uma crise mundial do capital. O governo não soube manejar, não soube evoluir com as novas condições. E é justamente nesse momento de ruptura de um pacto muito bem resolvido com o alto capital, que as críticas econômicas liberam as forças antipetistas na vida social. É um movimento político complexo que acabou por também liberar muitas vozes diferentes, inclusive a da arcaica tradição antipopular e antidesenvolvimento social brasileira. O preocupante é que essas vozes têm aparecido, muitas vezes, na forma de um anticomunismo alucinatório, que joga bomba e folheto em funeral. E como explicar um movimento anticomunista em pleno 2015? Entre outras coisas, isso é fruto de um conflito não resolvido. Não resolvemos direito nossa transição democrática, porque os nossos homens de negócio estavam envolvidos com a ditadura e isso é constantemente esquecido, escondido. Mas o pior é que parte da oposição tem se escorado nesse ódio alucinatório, buscado forças nele para bater no governo e, assim, também acaba alimentando-o. Isso é muito ruim, porque distorce as coisas. A crise econômica é grave? É. Mas a politização torna o problema maior do que é. O Brasil já esteve muito mais quebrado do que agora. E a política do primeiro mandato, de segurar o mercado interno aquecido, em um momento de crise mundial, conseguiu segurar o desemprego em 4,5% até o ano passado. No entanto, agora essas ações foram jogadas no lixo como se elas nunca tivessem existido.

Por que o sr. acha que, além abandonar essas ações, o governo nem sequer fala mais delas?

Isso é um enigma. Existia uma política orientada para um sentido e essa política, de algum modo, se tornou derrotada e inviável. Mas foi por isso, e não por outro motivo, que a Dilma foi reeleita. O efeito favorável daquela política se esgotou. Mas por que ninguém sequer fala dela? A política manteve o País animado até o ano passado! É nesse ponto que falta a força da voz esclarecedora da governante. Ela deveria falar, mostrar para a vida pública o que e por que está fazendo. Essa voz não veio nos momentos em que foi mais necessária.

E qual será o desenlace dessa crise?

Com a liquidação política da ação da presidente, o Lula entrou em cena. E, como ele é muito hábil, em 15 dias costurou um acordo com o PMDB. Só que a partir daqui tudo é imprevisível. Existe um grupo tentando forçar um impeachment desde o primeiro mês de governo. Quer dizer, ela tinha acabado de ser eleita com 54 milhões de votos e já se falava em impedimento. Isso demonstra uma falta de maturidade democrática imensa, que acabou por fornecer muito poder para quem detinha apenas pequenos fragmentos de poder. O Tribunal de Contas da União, por exemplo, que é um órgão de assessoria da Câmara, totalmente político, constituído e escolhido por políticos, agora tem o poder de fazer com que um processo de impedimento siga em frente. A minha suposição, contudo, é de que o processo de impeachment não interessa a ninguém sério, nem à oposição, porque entregaria o país ao incerto. Em um determinado cenário, até o Eduardo Cunha, denunciado ao STF por corrupção e lavagem de dinheiro, com contas secretas descobertas na Suíça, assumiria como presidente do Brasil. A quem interessa isso? No entanto, a tática da oposição parece ser a de manter o governo na corda o tempo inteiro, sem espaço para governar. Só que isso, somado à fragmentação das forças políticas, pode acabar por sair do controle e não seria nada bom para a nossa democracia se esse precedente fosse aberto.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

20 Comentários

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  1. “Mas a politização torna o

    “Mas a politização torna o problema maior do que é. O Brasil já esteve muito mais quebrado do que agora”

    De fato esteve, principalmente durante o reinado de FHC II.

    O problema, para o governo e o PT, é que ambos perderam a sustentação de influentes setores que antes lhe eram aliados, como a classe média urbana ilustrada, o funcionalismo público, o meio academico.

    E perdeu por culpa, principalmente, das políticas de Dilma, que virou as costas e distribuiu sopapos para todos esses setores, bem como do PT em geral, que colocou essa turma no pacote da tão odiada “classe média”.

    Nassif há de se lembrar que desde 2012 eu venho avisando que isso era um erro, pois o governo e partido deliberadamente trataram a pontapés esses setores acreditando que teriam para sempre a gratidão (e o apoio e os votos) da Classe C. Eu já dizia lá atrás que essa turma não era politizada e na primeira crise viraria as costas para o governo.

    Dito e feito, diante de uma economia em recessão, da queda de renda, do aumento do desemprego, o apoio polular a Dilma despenca. Sete por cento de aprovação significa que a tão cortejada Classe C abandonou o governo.

    Em outros tempos, os setores que mencionei acima defenderiam o governo, como fizeram em 2005, no auge do mensalão.

    Hoje, não há mais quem se disponha a tanto (à exceção dos próprios filiados ao partido e dos militantes de carteirinha que frequentam o blog. É pouco.)

     

  2. “Depois teve junho de 2013, o

    “Depois teve junho de 2013, o grande mistério da política brasileira.”

     

    Não houve “misterio” algum.

    O que houve entre nos foi o inicio de uma “primavera” tropical, usando as mesmas novas armas virtuais, que derrubaram pelo mundo governos inconvenientes.

    A artimanha foi a mesma aplicada, anteriormente, no Egito, na Tunisia, no Libano.

    So não foi utilizada ate o fim porque perceberam, que num pais tão desigual como o nosso, com as grandes cidades circundadas por favelas gigantes, seria muito arriscado continuar plantando incendios pelas ruas.

    O fogo poderia sair fora de controle.

    O pessoal da Rocinha começou a descer do morro para acampar na Vieira Souto.

    Nesse momento, os articuladores do plano, la de longe, viram que a manobra, por aqui, poderia ser mais arriscada do que imaginavam.

    Deram um tempo e so voltaram a promover grandes manifestações, em São Paulo, no bairro mais caro do pais, e dessa vez so com ricos, usando uniformed da seleção. Qualquer um de camisete vermelha, ou mesmo laranja, era colocado para fora.

  3. Ecelente reflexão. Mas não

    Ecelente reflexão. Mas não citou os escândalos de corrupção que foram levantados – não por acaso – durante os governos petistas. O povo foi à rua em 2013 contra a corrupção, especificamente contra a corrupção das obras da copa. Existia a idéia que essa fatura viria futuramente. E é assim que se interpreta a crise atual: a corrupção do governo esvaziou o caixa. E é o povo que paga a conta da corrupção..

    A grande maioria da população está convicta que Dilma é corrupta. Segundo os boatos, Dilma e Lulinha teriam fazendas espalhadas – enormes – por todo o Brasil. Tenho gravada entrevista de dirigente de cooperativa em Goiás afirmando com todas as letrass, que segundo informação do presidente da câmara de vereadores de Ribeirão Cascalheira no Mato Grosso, Dilma seria proprietária de fazenda lá …. Quanto a Lulinha, ele é dono de quase todo no Pará, existindo sempre  alguém em alguma cidade que teria afirmado categoricamente.que existem provas quanto a isso.

    Acho que o Tales Ad’Saber desconhece os virais que correm na interent, ridicularizando Dilma. O prestígio dela é tão baixo, que, na minha opinião, a maioria dos jovens hoje estaria disposta a fazer panelaço, passeata, etc. contra ela.

    Situação perigosa que pode ter desfecho tanto positivo quanto negativo. Uma salutar renovação das esquerdas, ou, o mais provável, a ascensão do autoritarismo e o caminho do retrocesso político.

     

    1. resposta a margot riemann

      Margot:

      “(…) segundo informação do presidente da câmara de vereadores de Ribeirão Cascalheira no Mato Grosso, Dilma seria proprietária de fazenda lá …. Quanto a Lulinha, ele é dono de quase todo no Pará, existindo sempre  alguém em alguma cidade que teria afirmado categoricamente.que existem provas quanto a isso.”

       

      Aguardo ansioso a narração de suas conversas com o Saci Pererê, Papai Noel e Aécio Neves, para citar só três personagens de fábulas fabulosas… Amanhã é Dia das Crianças… Aproveite! Balas e pirulitos para você!

      1. Peço desculpas se não fui

        Peço desculpas se não fui clara. A intenção era apontar a extensão desses tantos testemunhos e como se reportam a supostas evidências e provas. Evidentemente não tem porque Dilma se enfiar no Vale do Aragauia matogrossense e comprar fazenda lá. E não é crível que  o Lulinha seja o maior pecuarista do Pará. Mas é assim que corre na boca do povo.  

        Citei a gravação porque se algum dia tiver oportunidade de encontrar com o tal presidente da camara de vereadores de Rebieirão Cascalheira gostaria de interpelá~lo.

  4. O primeiro que viu as tais

    O primeiro que viu as tais “jornadas” como realmente foram, após a violenta repressão da policia do alkmin o povo tomou as ruas no dia seguinte contra a repressão policial, como os caras são profissas e queriam um clima de terror no país desde o cansei se aproveitaram do momento, meteram uma pec que ninguem sabia pra que servia no meio, apareceu black block não se sabe de onde, agitadores violentos e estava formada a “revolução”.

  5. Basta entrar num presídio e perguntar quem é culpado…

     O doa a quem doer da Dilma incomoda muitos e agrada a muitos.

    Falar que ela está isolada é uma mentira sem tamanho.

    Como não vão conseguir interromper o seu mandato, os que estão sentindo a dor começam a procurar alívio.

    Mas uma limpa será feita e mais importante do que isto, a inibição para os mal feitos está num patamar muito mais elevado agora.

    Sobre qualquer parâmetro que se avalie ou meça, a corrupção está menor hoje no Brasil do que antes da Dilma.

    Ninguém é unanimidade. Na verdade não existe maior erro do que tentar agradar a todos, nem Jesus Cristo foi unanimidade, muito pelo contrário, morreu na cruz.

  6. Ninho de cobras

    Na entrevista, Tales não discutiu o mais importante: a presidente deixou as instituições exercerem suas competências com autonomia, e isso nunca, nunca tinha acontecido. Só os tecnocratas de verdade sabem fazer isso, e os políticos não apreciam, não entendem e não aceitam.  

    O poder é o que está por trás da verdadeira análise psicológica destes e te todos os governos latinos americanos e outros que não bem firmaram-se como democraticos. E políticos não lidam bem com falta de poder, inclusive, e especialmente, daquele que os braços, que entendem tornaram-se longos com a eleição, podem alcançar: o Judiciário, a Polícia, transportes, aviões, jatos, etc. Houve um tempo em que até o gabarito de concurso público os políticos tinham direito de alcançar.

    Principalmente se esses políticos não representarem autenticamente quem os elegeu e que não tem uma proposta genuína de crescimento e bem estar de nação.  

    E, dessas cobras compridas, o congresso está abarrotado, tornando a presidente Dilma uma estranha nesse ninho.

     

  7. Criação de ‘realidades’

    Não descarto a interessante psicologização do poder.

    Mas ressinto na análise a ausência de consideração sobre a virtual ‘criação de realidades’ operada pela mídia.

    A pluralidade de opiniões viabilizada pelo advento da revolução cibernética das comunicações multiplicou ao paroxismo as descrições de realidade. Não fomos, evidentemente, educados para essa configuração de pluralidade opinativa.

    Hoje, para construir uma visão crível do ‘real’ temos à disposição uma multiplicidade de fontes por primeira vez disponível nessa escala.

    A guerra de informação e contra-informação deixou de ser institucionalmente clandestina e começou a vazar relatos sobre fatos históricos que emprestaram credibilidade assombrosa a descrições antes consideradas fantasiosas.

    Hoje, por exemplo, podemos ouvir audios de JFKennedy recomendando a intervenção militar no Brasil em 64… 

    As ‘revoluções coloridas’ já merecem uma nova interpretação quando nos chega a informação que a deflagração destas pode ter sido financiada pela ultra-direita norte-americana que é circunstancialmente oposição à presidência de Obama.

    As análises mais críveis me parecem ser aquelas baseadas em números.

    O que explica que a dívida  mundial seja cerca de 100 vezes maior que o a massa monetária mundial, após décadas de restrição à produção de papel moeda (que perdeu a tangíbilidade do lastro ouro e passou a ser lastrada pelo PIB) ?

    Há várias interpretações que atribuem ao financismo a ‘fabricação de moeda’ através do crédito sem lastro.

    O laureado Picketty produziu uma delas.

    A ‘crise’ que vivemos no país não tem as mesmas características das crises de dívida anteriores (temos reservas suficientes segundo o FMI).

    A verdadeira crise que vivemos – nacionalmente – é informacional. A solução mais premente é a democratização da informação pela fragmentação dos meios de comunicação, com extinção de conglomerados jornalísticos monopolizadores que fabricam ‘realidades’ a serviço de interesse próprio. 

    A crise econômica que nos ameaça está em desenvolvimento mundialmente: é a hegemonia do capital fictício financeiro que se vê ameaçada pelo surgimento de um concorrente de peso, o Banco dos Bricks, capitaneado pela China que detem a maior reserva da representação de valor em dólares no mundo, hoje.

    A crise mundial atual não deriva de ‘incapacidade produtiva de bens úteis’, mas sim da concentração da representação de valor fictício em mãos do capital financeiro. É uma crise política e não econômica.

    Há que se recuperar para os Estados o controle sobre a representação de valor.

    Talvez assim o capitalismo tenha uma sobrevida. Ou as previsões marxistas se concretizem.

    Por enquanto o que existe é a barbárie financeira.  Descrita como decorrência lógica do sistema desde o século XIX.

  8. Análise política por meio de psicologia é puro senso comum

    E em especial nenhum psicanalista está autorizado a fazer análises psicológicas fora do consultório, o sujeito está indo contra a ética da profissao.

  9. livro tales

    Prezados amigos, a discussão ficou animada. Agradeço o interesse e o bom nível da conversa, o que nem sempre é possível na net. Apenas escrevo porque algumas questões foram colocadas que a entrevista, embora correspondente exatamente ao que eu disse, não dá conta de responder sobre o livro, o que é natural em meia página de jornal. O aspecto da personalidade do político como fator de política, que venho tentando estudar dede o episódio único da política lulista com forte apoio em sua personalidade carismática, está presente no livro apenas em duas sessões, das doze que compõem o texto. No restante do livro eu me dediquei a indicar todos os fatores envolvidos na crise do segundo mandato da Presidente Dilma, até onde eu pude ver e enteder o processo. Nestas sessões, falo por exemplo, do juíz Sérgio Moro e o sentido de sua ação política, de Eduardo Cunha e da nova direita, das manifestações de rua e sua ação de ódio como política, do problema da corrupção na Petrobrás, e das ambivalências petistas sobre o tema, e, enfim, da própria dinâmica política da crise, envovendo todos estes elementos e movimentos. O aspecto psicológico, de certos traços da personalidade da presidente, é apenas uma pequena força, mas que existe, em meio a um conjunto forte de problemas, todos contribuindo para a crise limite a que o governo foi levado. Assim, para a compreensão mais precisa do que escrevi, se houver interesse, convido todos a darem uma olhada no próprio livro, que é bem mais amplo do que pode aparecer na entrevista correta do Estadão. Muito obrigado pela boa discussão, Tales Ab´Sáber

  10. “Em 2012, quando o governo

    “Em 2012, quando o governo trabalhou fortemente para diminuir os juros, aconteceu um racha com parte da riqueza nacional. A partir daí, setores até contraditórios, como financistas e industriais, se uniram em torno de um discurso geral contra o governo.”

     

    Não é para me gabar, mas já havia comentado isto aqui antes de qualquer outro.

    O que vemos hoje é a rebelião dos rentistas, consequência daquelas políticas adotadas até 2012.

    Afinal, em que outro local do mundo os rentistas nacionais e internacionais faturavam um merreca sem fazer força ou correr riscos?

    Só aqui. E não poderiam tolerar perder a boquinha.

    A Dilma achou que poderia acalmá-los colocando o levy na fazenda. parece que não funcionou.

    Como não querem correr o risco de as coisas se estabilizarem e novamente o governo Dilma colocar em risco seus ganhos fáceis, agora querem ela fora e a destruição do PT.

    Aliás, acho que o PT vai acabar antes do DEM. Infelizmente, porque o PT é o único partido de verdade que temos neste país.

  11. Concordo com a análise, mas

    Concordo com a análise, mas acrescento que a força da oposição golpista, assim como a força que sustenta as pedaladas do TCU do Nardes, que mantém Cunha na presidência da Câmara, mesmo com as denúncias e as provas contra ele apresentadas pelo MP da Suíça, a força que levou um protesto corriqueiro contra aumento de tarifas de transportes a virar uma mobilização nacional contra uma lista de problemas seculares do país, que nem os manifestantes sabiam bem do que se tratava, mas que acabou dando ânimo à direita, essa força chama-se oligopólio de mídia, a mídia golpista e sonegadora de imposto. Quando os banqueiros se posicionaram contra a redução de juros, forçada pelo governo, foi pela mídia que mostraram os dentes. A mídia desregulada é a força principal com que o poder econômico manipula a opinião da população. Por várias semanas antes de junho/13, a Globo (SP/TV) fez campanha diária contra o serviço de ônibus da cidade de SP, numa série de “reportagens” que atacava o serviço municipal do prefeito recém empossado do PT, mostrando de forma sensacionalista os problemas antigos de superlotação, como se fossem uma novidade recente. No dia do protesto do tal MPL, que deu início a outros,  houve a ação violenta e aparentemente estabanada da polícia paulista, que espalhou manifestantes pelas ruas. Imagens aéreas de programas sensacionalistas da TV  passaram a fazer propaganda pró-manifestação e chamamento da população às ruas. Os telejornais, quase todos, e as rádios, manipulando o que seriam os motivos dos protestos, levaram o público a acreditar que eram contra Dilma, e continuaram insuflando a população a protestar. Pesquisas indicaram queda de popularidade de Dilma, que até então era bem alta. A campanha da mídia contra o governo Dilma e contra o PT, que já ocorria antes dos protestos, intensificou-se a partir de então. Mas, mesmo com toda a força da mídia de oposição, Dilma conseguiu se reeleger em 2014, porém por margem pequena de votos. Os derrotados no voto (poder econômico nacional e internacional/ mercado financeiro/ banqueiros / mídia / partidos de oposição / políticos fisiológicos e achacadores / membros tendenciosos e politiqueiros do Judiciário e MP), por terem tido relativo sucesso ao conseguir tirar muitos pontos percentuais da popularidade do governo, resolveram, mesmo a custa de expor seu golpismo mais claramente, manter a estratégia de atacá-lo continuamente, usando o poder de influência do oligopólio de mídia, contestando a legitimidade da eleição e do mandato dado pelo povo, usando para tanto o próprio combate que o governo faz contra a corrupção ao dar liberdade às instituições federais de fiscalização e de investigação, e também usando a crise econômica, e até ajudando a aumentá-la, num momento em que a crise externa dificulta a recuperação do crescimento econômico do pais.

     

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