Algumas questões sobre violência e segurança pública

Por Fred Montero

Comentário ao post “Conte comigo – um relato da violência urbana

Recentemente eu passei por uma situação que me colocou diante da cruel realidade do momento. Não chegou a ser tão dramático quanto o assalto narrado pelo senhor Luiz Seixas. É uma dessas situações em que nós agradecemos por ter sido apenas um furto à residência, sem envolver ninguém da família. É irônico termos de agradecer por apenas termos sidos furtados. Mas a verdade é que a violência não deixa só as marcas financeiras. Nem todos os bens materiais podem ser readiquiridos, pois foram oriundos de muitas horas-extras e sacrifícios aos quais a idade já não permite. Além do que alguns destes bens materiais carregam muitas lembranças nossas, como fotos e vídeos dos filhos pequenos, já que nossa vida cada vez mais passa a ser digital. Mas ainda assim eu acho tudo isso um mal menor.

Também não me falo da insegurança que trouxe para a nossa família, que passou a vive em clima de pavor diante de qualquer ruído no quintal ou traseunte na rua, quando me refiro às mais profundas marcas. Hoje em dia, as marcas mais profundas estão relacionadas à minha própria consciência ao ver que vivemos em uma sociedade em que o valor à vida física, familiar e sentimental dos outros vale tão pouco.

Eu não pago a “guardinha” que ronda o bairro por uma questão financeira em primeiro lugar. O nosso apertado orçamento não dá conta de pagar pela segurança particular. Mas para além disso, há também um problema de princípios. Depois de médicos e professores, eu acredito que os policiais deveriam ser os profissionais mais bem pagos do país. Assim não haveria a necessidade de fazerem bicos para complementar a renda. Mas há vizinhos que pagam e através deles eu soube que os seguranças do bairro conhecem quem provavelmente invadiu minha casa. E é aqui que a situação começa a ficar dramática na minha opinião. Segundo os vizinhos, os vigilantes garantiram que se pegarem esses rapazes, eles lhes darão uma surra de quebrar pernas e braços. E assim a bola de neve rola a montanha abaixo causando mais destruição no seu caminho. Já imagino que depois de apanharem, os pequenos ladrõezinhos passem a andar armados para se protegerem e que depois de praticarem furtos às residências passem aos assaltos à mão armada, até que um dia matem alguém ou morrem. Então eu me pergunto é neste tipo de sociedade em que eu me vejo criando os filhos? Para mim, a vontade de vingança cruel é pior do que qualquer furto. Isso não resolve nenhum problema.

Antes dos governos de Lula e Dilma, eu imaginava que a violência era uma questão de falta de oportunidade profissional e falta de perspectivas de futuro para muitos jovens carentes. Ainda acredito que haja um pouco deste componente na equação que gera os números da violência no Brasil. Mas com o nível de desemprego tão baixo quanto o que temos agora e também com o aumento do poder aquisitivo da famílias, eu me pergunto se a violência atual não é resultado de um problema moral generalizado. Ou seja uma mistura de excesso de zelo materialista com falta de respeito pela vida do próximo. Pode ser que esse problema moral tenha como origem a herança de exploração da população carente e da falta de alternativas para resolvermos nossos problemas além do uso de medidas violentas, mas a verdade é que talvez a violência atual tenha algum fundamento  em uma certa deterioração moral da sociedade, além dos problemas sociais e econômicos ou justamente derivados destes. Pode parecer uma visão conservadora de toda a questão, mas acredito que é preciso incluir a observacão dos problemas morais e eticos na nossa sociedade para entender o porque dos níveis de violência em que se encontra o país.

Luis Nassif

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